- A dona Eliana, ela disse que precisa muito falar com você!

 

Bruna e Cristina se entreolharam preocupadas.

 

- O que a mãe do Eduardo está fazendo aqui? 

 

 

- Não sei, filha, mas logo vamos descobrir. Libere a entrada dela, Nina! - Cristina ordenou, mas estava tão receosa com aquela surpresa quanto Bruna.

 

A mãe de Eduardo não era uma mulher ruim, Bruna até gostava dela, entretanto, Dona Eliana era uma senhora fútil, que ligava mais para status social e dinheiro do que para outras coisas. A senhora vivia no Estados Unidos, longe do marido e do filho, poucas vezes aparecia no Brasil para visitar a família, então Bruna já não a via por um longo tempo.

 

Cristina dispensou Nina, dizendo que ela mesmo receberia a visitante surpresa, e Luciana resolveu acompanhar Nina enquanto conversavam sobre os interesses culinários em comum. Lívia também ameaçou se afastar, preservando a privacidade da conversa que aconteceria ali, mas Bruna segurou sua mão e impediu que ela saísse do seu lado. A ruiva a olhou e ela sorriu, concordando em ficar.

 

Quando a campainha tocou, Cristina foi até a porta receber Eliana.

 

- Eliana, querida! Não sabia que havia retornado ao Brasil, seja bem-vinda de volta! - a mãe da ruiva a recebeu.

 

- Cristina, que prazer revê-la! Cheguei há pouco, vim para resolver alguns assuntos urgentes! E onde está minha nora? - perguntou entrando e olhando em volta.

 

Bruna e Lívia perceberam o olhar desdenhoso da mulher quando viu as duas juntas e com as mãos unidas. Lívia deu um leve aperto na mão da ruiva, lhe mostrando que estava ao seu lado.

 

- Bruna, minha linda nora! - Lívia revirou os olhos quando escutou a mulher chamando a ruiva daquela forma e Bruna sorriu sem jeito. - Estava mesmo com saudades de você!

 

- Como vai, dona Eliana? Não esperava vê-la por aqui! - abraçou a ex-sogra e voltou-se para Lívia. - Essa aqui é a Lívia e, Lívia, essa é a dona Eliana, mãe do Eduardo!

 

A senhora deu apenas um sorriso amarelo, não fazendo questão de cumprimentar a morena, e foi respondida da mesma maneira.

 

- Bom, sente-se e nos conte o que te trouxe até aqui. - Cristina indicou o sofá e Eliana sentou-se de frente para o casal, que mantinha as mãos unidas, sem se importar com os olhares que recebiam por isso.

 

- Bruna, eu já estou ciente de tudo que aconteceu e da crise que você e o Dudu estão passando, - dessa vez foi Bruna quem sentiu vontade de revirar os olhos - e também fiquei sabendo da história por trás da morte do bebê. E é por isso que estou aqui!

 

Bruna e Cristina se olharam preocupadas, sabendo que viria bomba a seguir.

 

- Cristina e Bruna, eu quero garantir a vocês que não sabia de nada disso! Eu nunca me intitulei a melhor mãe do mundo, mas ninguém pode duvidar do meu amor pelo Dudu. Eu jamais faria algo contra uma criança, ainda mais um filho do Dudu, sangue do meu sangue.

 

- É até bom você tocar nesse assunto, Eliana. Eu me lembro que você estava em Nova York na época, passou apenas alguns dias aqui depois do ocorrido. Você não se recorda de nenhuma atitude suspeita do Rogério? Sei que estamos falando do seu marido, mas o que ele fez foi muito grave e nós precisamos entender tudo que aconteceu.

 

- Não, eu realmente não me lembro, faz muito tempo e o tempo que passei aqui foi muito curto. Enfim, o que me trouxe até aqui foi justamente o meu neto, eu sei que vocês já acharam o menino e que você estava resolvendo tudo para ficar com ele, Bruna. Tudo que eu peço é para ver o meu neto, conhece-lo e poder passar um tempo com ele. Ele é tão meu neto quanto seu, Cristina, então, por favor, não me neguem isso, pois estou disposta a buscar a justiça se for preciso!

 

Cristina olhou para a filha, ambas muitos preocupadas e sem saber o que falar. Antes que dissessem qualquer coisa, escutaram a voz de Afonso se aproximando enquanto conversava com Marco Antônio.

 

- É verdade, vovô, a Nina disse que vai fazer muito brigadeiro para mim!

 

Escutaram o menino dizer e logo em seguida viram ele e Marco entrando na sala de mãos dadas. Os dois pararam no momento que as encontraram, Marco pela surpresa de ter encontrado Eliana ali e Afonso olhando desconfiado para a senhora desconhecida que lhe sorria.

 

- Então, é ele? - Eliana perguntou sorrindo - Não imaginei que iria poder conhece-lo hoje mesmo!

 

- Eliana, como vai? - Marco Antônio perguntou se aproximando, enquanto Afonso foi para perto da mãe. - Que surpresa agradável te rever aqui!

 

A mãe de Eduardo cumprimentou Marco rapidamente, sem tirar os olhos do menino, agora sentado no colo de Bruna.

 

- Oi, Afonso, tudo bem? - perguntou se aproximando e abaixando para falar com o menino - Eu queria muito te conhecer, sabe? Mas não sabia que você era um menino tão lindo!

 

- É porque eu sou a cara da mamãe Bruna! -  Afonso respondeu e arrancou risos de todos, diminuindo um pouco a tensão. Ele já havia escutado os mais velhos falando aquilo algumas vezes.

 

- É verdade, você é lindo igual a mamãe, mas esse cabelo loirinho ai você puxou da minha família, sabia?

 

O menino olhou para a mãe um pouco desconfiado, não sabia do que a senhora estava falando. Bruna apenas observava a mulher, não sabia como agir naquele momento, mas não iria sair correndo com o garoto dali.

 

- Eu vim de muito longe só pra conhecer você, tive que pegar avião e tudo mais, não é legal? - ele confirmou, voltando a prestar atenção nela - Você sabe quem eu sou, Afonso?

 

Afonso balançou a cabeça em negação, olhando para todos em volta. Estava muito desconfiado, mas sabia que podia confiar em sua nova família.

 

- Eu sou sua avó, Afonso. Igual a Cristina.

 

- É verdade, mamãe? - o garoto perguntou com os olhos arregalados de surpresa.

 

- Sim, filho, é verdade. Essa é a vovó Eliana! - Bruna não se arrependeu de confirmar, ainda mais quando viu os olhos do pequeno brilhando, ela sabia que ele era muito pequeno para entender muitas coisas e que para ele quanto mais carinho recebesse, melhor seria.

 

- Que legal, agora eu tenho duas vovós igual todo mundo!

 

O garoto abraçou Eliana, pegando ela e todos os presentes de surpresa. Bruna ficou feliz ao ver o sorriso e a lágrima que escapou dos olhos da mãe de Eduardo, acreditando que a senhora jamais faria mal ao seu filho e que realmente estava ali por amor a ele.

 

 - Bom, agora eu preciso ir, ainda tenho umas coisas para resolver. Bruna, será que posso falar com você um instante? - Eliana questionou.

 

Bruna confirmou e levantou-se, deixando Afonso junto de Lívia. Se afastaram dos demais para que ninguém escutasse o que conversavam.

 

- Eu sei que você deve estar estranhando meu aparecimento repentino e, por favor, acredite em mim, eu reconheço todos os erros do meu filho, mas não estou aqui em prol de ajuda-lo ou crucifica-lo. Eu só quero ter o meu neto na minha vida! - ela falou segurando as mãos da ruiva. - Você é mãe, Bruna, sabe o tanto de amor que cabe dentro de nós, agora imagine todo amor que você vai sentir quando o seu filho te der um presente como esse?

 

Bruna assentiu, sabia que apesar de toda futilidade Eliana não era uma pessoa ruim e para ela ter vindo de tão longe, devia estar realmente desejando ter o neto por perto, afinal, nem pelo filho ela permaneceu no Brasil.

 

- Eu não vou impedir a senhora de ver o Afonso, dona Eliana, é um direito seu e você pode vir visitar ele sempre que quiser, as portas estarão abertas.

 

Eliana sorriu e se despediu da ex nora, quem visse de longe realmente acreditava que Afonso havia despertado algo de bom na avó paterna.

 

Um mês se passou desde o dia que Afonso foi definitivamente para casa, o garoto já estava completamente habituado a casa e sua nova rotina, inclusive estava frequentando a escola, como sempre quis. A mãe não poderia estar mais feliz, Bruna fazia questão de se virar em duas para estar presente em todos os momentos mesmo tendo seus compromissos, queria levar o filho para a aula, para a natação, futebol etc, tudo para estar perto do garoto e compensar o tempo que passaram longe um do outro. Quando a ruiva não podia estar presente, era uma verdadeira disputa para ver quem ficaria com o pequeno, seus pais, Lívia e até a mãe a mãe da morena, que o pequeno já chamava de vovó Luci, estavam sempre solícitos e disponíveis.

 

Eliana aparecia quase todos os dias da semana para ver o neto, algumas vezes aparecia com presentes ou brinquedos para ele. Afonso gostava da avó, perto dele Eliana parecia outra pessoa, estava sempre disposta a brincar do jeito que o menino quisesse, deixando todos de boca aberta ao vê-la jogando bola com o menino. Ainda estavam todos com certo receio quanto a ela por causa de Eduardo, mas a mulher não falava nada sobre o filho, nem mesmo comentava, o que deixava Bruna um pouco mais tranquila por acreditar que Eliana entendia a situação e não iria misturar as coisas.

 

Lívia e Bruna estavam tão felizes juntas que contagiava quem estivesse por perto. A morena dormia quase todos os dias na casa da namorada, uma vez que Rafaela ainda morava em seu apartamento, o que ainda causava alguns atritos entre as duas.

 

Era sábado de manhã e, enquanto Lívia dormia, Bruna havia descido para dar café ao filho, que iria para o futebol acompanhado do avô.

 

Quando voltou para o quarto, o celular da morena começou a tocar com várias mensagens seguidas chegando. Para não acordar a morena e, também por curiosidade, Bruna pegou o celular e não gostou nada do que viu.

 

"Vem pra casa hoje!"

 

"Tenho novidades, vamos comemorar"

 

"Vou preparar sua comida preferida para o almoço, não deixa de vir, beijo"

 

Todas eram de Rafaela. Com raiva, a ruiva jogou o celular na cama de qualquer jeito e foi para o banheiro. Quando saiu do banho, encontrou Lívia já acordada e olhando alguma coisa no celular, não conseguiu evitar um revirar de olhos.

 

- Bom dia, meu amor!

 

- Bom dia. - Bruna respondeu ríspida enquanto procurava algo para vestir.

 

Resolveu não falar nada em relação as mensagens, e esperar para ver como a morena iria agir. A verdade é que Bruna já não estava mais aguentando aquela situação depois de tanto tempo.

 

Lívia levantou da cama e se aproximou da ruiva, que estava nua por baixo do roupão, a abraçando por trás e sentindo o perfume do banho recém tomado.

 

- Nem precisa vestir roupa porque não vou te deixar sair desse quarto! - a morena falou provocante enquanto beijava o pescoço da namorada.

 

- Agora não, Lívia!

 

A ruiva tentou se desvencilhar de Lívia, que a prendeu em seu abraço.

 

- Eu quero curtir minha namorada um pouquinho antes de ter que ir pra casa.

 

- E por que você precisa ir pra casa? - Bruna perguntou irritada, afinal, já sabia a resposta para aquela pergunta.

 

- Quero dar uma geral na casa, amor, depois do almoço eu tô de volta!

 

Bruna revoltou-se ao ouvir a resposta mentirosa da morena e se afastou bruscamente, pegando ela de surpresa.

 

- Vai pra sua casa, Lívia! Pode ir - a ruiva praticamente gritava, não contendo sua raiva - Vai lá comemorar e comer sua comida preferida com sua amiga, eu jamais iria atrapalhar! - falou carregada de deboche.

 

- Bruna? - a cara de Lívia não escondia sua surpresa - Você leu minhas mensagens? Por que não me falou nada?

 

- Não falei exatamente porque eu queria ver como você agiria, mas não estava esperando que você mentisse para ir ficar com ela!

 

- Ei, amor - tentou segurar as mãos de Bruna, mas ela puxou com raiva - me perdoa? Eu não quis falar pra gente não brigar! Eu não sei o que ela quer me contar, pode até ser que ela tenha encontrado um apartamento pra ela, quem sabe?!

 

Dessa vez foi o celular de Bruna que começou a tocar, interrompendo as duas. A ruiva atendeu a ligação e observou Lívia sentando na cama cabisbaixa.

 

- Bruna, minha querida, como vai? - era Eliana quem estava do outro lado da linha - Estou sabendo que o Afonso está em um jogo de futebol no clube agora, queria saber se você me dá permissão para busca-lo e passar a tarde com ele? Pensei em levar meu neto para passear no parque, o que acha?

 

Afonso nunca havia saído sozinho com a avó, mas ela esteve tão presente e carinhosa naquele mês que Bruna não viu problema em dar uma oportunidade para que os dois se divertissem juntos.

 

- Tudo bem, dona Eliana, pode buscar o Afonso sim e qualquer coisa é só me ligar. Avisarei ao meu pai que você passará lá para buscar ele!

 

Despediram-se e Bruna voltou a prestar atenção na morena sentada na cama a encarando. Sentou-se ao lado dela e suspirou, tentando se acalmar.

 

- Sinceramente, eu não aguento mais essa situação, você sabe o quanto isso me incomoda, o quanto me deixa tensa e insegura essa mulher vivendo dentro da sua casa. Já tem mais de um mês, Lívia, não é possível que ela não tenha achado nenhum lugar para morar nesse tempo. Ela sequer deve estar procurando!

 

- Amor, olha pra mim! - Bruna obedeceu e dessa vez permitiu que a morena segurasse suas mãos. - Eu sei que estou exigindo compreensão demais da sua parte mas, por favor, não vamos brigar por isso outra vez. Eu vou conversar com ela, sondar isso, mas também não posso expulsar a Rafaela de lá, ela é minha amiga.

 

Bruna pensou por um tempo e sorriu, tendo uma ideia.

 

- Eu já sei como resolver isso!

 

A ruiva levantou e foi até sua cômoda, procurando algo dentro de uma gaveta.

 

- Sabe, eu comprei isso logo que a gente se acertou, mas achei cedo demais para entregar, só que agora parece o momento certo!

 

Lívia não estava entendendo absolutamente nada do que a namorada estava falando.

 

- Eu também não queria fazer isso dessa forma, mas devido as atuais circunstâncias, é o melhor a ser feito!

Quando a ruiva sentou na frente de Lívia e ela notou a caixinha preta em sua mão, sua boca abriu em reação, tamanha surpresa.

 

- Já que a Rafaela gosta tanto do seu apartamento, ela pode ficar lá. E eu não vejo a hora de dormir e acordar todos os dias do seu lado, então é como juntar o útil ao mais que agradável, certo?

 

Lívia não respondeu, ainda não estava conseguindo processar as atitudes da ruiva. Os olhos das duas estavam cheios de lágrimas. Apesar do clima não muito agradável, aquele momento seria inesquecível para as duas.

 

- Lívia, casa comigo? Vem morar aqui nessa casa que já é tão sua quanto minha, a nossa cama já tem o seu cheiro, o meu armário já foi tomado pelas suas roupas e até os seus livros já estão no escritório. - ela ajoelhou-se e abriu a caixinha, mostrando as alianças - Eu te amo e quero que você seja minha mulher, você aceita?

 

 

Enquanto isso, no futebol, Marco estranhou quando viu Eliana chegando ao clube. A mulher lhe explicou a situação e disse ter autorização de Bruna para levar o menino. Marco estranhou pois não tinha recebido nenhuma ligação da filha, mas não se opôs.

 

Afonso ficou feliz por ver a avó e gostou da ideia de passar um tempo com ela. Depois que saíram de lá, dentro do carro, o menino acabou pegando no sono, pois havia acordado muito cedo.

 

Se aproveitando do descanso do garoto, Eliana pegou o celular e discou o número do filho.

 

- Dudu? - perguntou assim que a ligação foi atendida.

 

- Oi, mamãe. E aí?

 

 

- O Afonso está aqui comigo, como você pediu, já estou chegando aí! 

Fim do capítulo