Capítulo 45
Entre Lambidas e Mordidas -- Capítulo 45
-- Fala Yasmin! -- Paula estava irritada -- Você vai fazer o que aquela bruxa pediu?
Yasmin hesitou antes de responder, sabendo que os amigos não aprovariam a sua decisão.
-- Eu decidi que vou retirar as queixas contra o Pedro -- ela emitiu um suspiro longo e sofrido -- Não por ele, mas por causa das crianças -- Yasmin encheu uma caneca com café e sentou-se ao lado de Matias.
-- Sinceramente, estou tentando entender, e sei que Matias e Débora também estão, mas há um limite para tudo e você acabou de ultrapassar esse limite -- a voz de Paula soava extremamente aborrecida.
-- A Dani não vai gostar nada, nada, disso -- Débora acrescentou, balançando a cabeça.
-- Concordo com você -- os olhos de Matias revelaram preocupação.
-- Com a Dani eu me entendo. Ela... -- Yasmin calou-se no meio da frase e estreitou os olhos -- Tenho certeza de que ela vai compreender os meus motivos.
Matias encarou-a como se não a reconhecesse mais.
-- Você enfrentou o Pedro com tanta coragem, passou por tantos perigos... -- um instante se passou, antes que ele continuasse -- Para agora, simplesmente perdoar tudo?
Claramente zangada, Paula respondeu, na mesma hora.
-- Ela não está perdoando, ela está deixando um bandido impune. Isso sim -- inconformada com a decisão de Yasmin, a loira, assumiu uma expressão suplicante -- Por favor, Yasmin! Pense bem antes de fazer isso.
-- Não quero que meus filhos, no futuro, me acusem de ter colocado o pai deles na cadeia -- Yasmin pegou a caneca e bebeu um longo gole de café -- Se Pedro tiver que ir para a cadeia, que vá por assassinato.
-- Isso se a polícia conseguir provar que ele foi o mandante do crime -- a voz de Débora estava calma, mas percebia-se que isto era um sinal de que ela estava deprimida por não conseguir lembrar do acidente -- Queria tanto poder ajudar nas investigações.
Paula ficou calada, olhando no fundo dos olhos de Débora. Depois disse, com calma:
-- Não fica assim Débi -- falou com carinho e sentou-se na cadeira de frente para ela -- Não se torture dessa forma. No momento certo, você vai lembrar de tudo.
Débora baixou os olhos, tentava esconder a angustia que sentia. Estava apavorada com a ideia de não se lembrar do acidente. Sabia que para a polícia, ela era testemunha chave.
Paula respirou fundo. Sofria junto, vendo-a naquele estado. Seus olhos azuis tornaram-se melancólicos, quando ela começou a pensar que estava perdidamente apaixonada pela morena.
Uma boa noite de sono faz maravilhas. Apesar de o dia anterior ter sido de tristeza pela morte do pai, Roberta, acordou bem-disposta e alegre. Estava num estado de espírito totalmente diferente. Abriu as janelas e aspirou o ar fresco da manhã.
Vestiu as primeiras roupas que achou, prendeu os cabelos num rabo-de-cavalo e foi para a cozinha. Colocou água para ferver, apanhou o bule e o filtro de papel. Depois, quebrou ovos numa tigela, e misturou com bacon e tomates.
Daniela e Bianca entraram na cozinha falando alto e rindo:
-- Não é porque deixo a barata branca de tanto Baygon que eu tenho medo dela... -- Daniela parou de falar ao ver a tia em frente ao fogão -- Quem está querendo impressionar, Beta? A Lavínia não está aqui.
-- Vocês me assustaram -- disse Roberta ofegante -- O que fazem acordadas a essa hora?
-- A Dani cismou que tem uma barata no quarto -- Bianca fez uma careta -- Que coisa né? Enfrenta o Pedro e morre de medo de uma baratinha.
-- O problema não é a barata, o problema é ela ser voadora -- disse Daniela desanimada, colocando uma fatia de pão na torradeira -- Até hoje não entendo porque Noé deixou entrar um casal de baratas na arca.
-- Pois eu mato a barata e ainda dou estratégias a ela de como escapar de mim na próxima reencarnação. Sou cruel, né?
-- Você não tem jeito, Bianca -- Roberta a olhou de esguelha.
-- Põe mordaça e joga no hospício que é mais fácil -- disse Daniela, passando geleia na torrada.
-- Aonde vai vestida com tanta elegância? -- indagou Roberta, sentando-se a mesa.
Daniela ficava bem com quase todas as roupas, mas aquele terninho, tom de azul caia-lhe muito bem. Daniela adotava um estilo mais maduro, precisava acabar com a imagem de menininha romântica e inocente
Yasmin fazia o possível para ajudar a companheira a se comportar como adulta. Por isso, Daniela procurou escutar os conselhos que ela lhe dava de como ser mais sofisticada.
-- Vou fazer uma visita surpresa a empresa.
-- O que você pretende fazer? Está planejando alguma coisa?
Daniela ficou em silêncio por um instante.
-- Em cada silêncio uma estratégia nova! -- disse Bianca rindo -- Eu vou na frente anunciando: Minha mestra e senhora está chegando para uma visita surpresa.
-- Eu vou direto ao ponto -- o rosto de Daniela tinha uma expressão preocupada, mas ela forçou um sorriso -- Quero acabar com essa vergonha de usar animais em testes de laboratório. Isso é inadmissível.
Ao sentar-se em sua cadeira, na empresa, uma onda de enjoo invadiu Yasmin e ela correu para o banheiro vomitar.
-- Droga! Logo hoje que tenho uma reunião importante -- a última coisa que queria era passar mal naquele dia. A reunião foi a pedido de Daniela. Ela queria que a, Vargas fechasse uma parceria com a prefeitura de Canoinhas para a realização de obras de saneamento básico e asfalto. Teria que adiar a reunião mesmo que fosse por algumas horas. Seria difícil conversar com o prefeito, nauseada o tempo todo. Yasmin deu um suspiro enquanto acionava a descarga do banheiro.
Voltou para a mesa, ligou o interfone e falou com a secretária: -- Mari, por favor, conversa com o prefeito de Canoinhas e pede para ele retornar as dez horas?
-- Sim, senhora! Vou telefonar para ele.
A resposta foi tão educada e cerimoniosa que Yasmin sorriu.
-- Obrigada! -- passou a mão pela barriga e fechou os olhos começando a ficar nauseada novamente -- Ai meus filhos, desse jeito vocês vão acabar com a mamãe.
Uma batida na porta chamou a atenção de Yasmin e ela levantou a cabeça.
-- Entre -- autorizou.
A porta se abriu e Matias enfiou a cabeça para dentro da sala.
-- Está muito ocupada?
-- Entra, Matito -- Yasmin fez uma careta e colocou a mão sobre a barriga.
-- Você está bem? -- perguntou sentando-se na cadeira em frente a mesa -- Está pálida.
-- Estou bem, apenas os vômitos matinais que voltaram. Felizmente não são tão terríveis como os do primeiro trimestre.
-- Não acha melhor procurar o hospital? -- Matias perguntou preocupado.
-- A médica já havia me alertado sobre a possibilidade das náuseas e vômitos retornarem nas últimas fases da gravidez devido ao tamanho dos fetos. Neste momento é mais comum sentir náuseas imediatamente após uma refeição, muitas vezes acompanhada de azia. Enquanto o bebê cresce, o útero exerce mais pressão sobre o estômago causando azia e náuseas quando o estômago está cheio. Neste ponto, a capacidade do estômago é ainda menor.
-- Hum, isso deve ser horrível. Estou pensando seriamente em desistir da ideia de ter filhos.
-- Seu bobão! -- deu um tapinha na mão dele por cima da mesa.
Matias sorriu. Depois ficou sério.
-- Você falou com a Dani?
-- Ainda não. Ela estava dirigindo, na hora em que liguei. Deixei um recado com a Bianca.
-- Entendo. Ela vai retornar a ligação?
Yasmin hesitou.
Aquela conversa tinha tomado um rumo que estava irritando Yasmin.
-- Não estou gostando do seu tom de voz, Matias.
-- Desculpe-me -- ele disse, e estava sendo sincero -- Só gostaria que você falasse com a Dani antes de retirar as acusações contra o Pedro.
-- Esperava que você me desse algum apoio, afinal, Pedro é o seu irmão.
-- Ele é o meu irmão, Yasmin, mas não é por isso que vou ficar cego diante de todas as crueldades que ele cometeu. Você entende isso, não é?
Yasmin demorou um pouco para responder.
-- Entendo, sim -- admitiu -- Porem, como vou explicar isso para os meus filhos?
-- Será que você vai conseguir explicar para os seus filhos que, apesar de ter sido vítima de agressão física e verbal e mantida em cárcere privado, preferiu deixá-lo impune? Será que eles não vão pensar que a mãe é uma fraca? É justamente pensando no "bem da família" que muitas mulheres parecem deixar de denunciar seus agressores. Esse é o exemplo que quer dar aos seus filhos?
Yasmin baixou a cabeça e apoiou as mãos na mesa. Percebeu que ele tinha razão. Ela estava claramente envergonhada.
-- Estou sendo uma boba, não é mesmo?
-- Está sendo, sim. Sabe por quê? Porque meus sobrinhos vão ser inteligentes o suficiente para saber que violência não leva a nada...
-- Eu vou dar um de esquerda na cara do Lauro -- Daniela deu um soco na palma da própria mão -- Um de direita no estômago, uma rasteira, um puxão de cabelo...
-- Puxão de cabelo? Que florzinha! -- Bianca balançou a cabeça não aprovando o método.
-- Tem que ter um toque feminino, Bia.
Cuidadosamente, e em baixa velocidade, o Duster vermelho abriu caminho entre os operários que passavam pelo portão, dirigindo-se para o interior da empresa.
Quando atingiram o pátio, Bianca parou o carro na única vaga que encontrou desocupada.
-- Será que o senhor Valdir vai ficar bravo se estacionarmos no espaço reservado a ele?
-- Não acho legal estacionar em um lugar reservado. Principalmente se tem o nome da pessoa escrito -- pensou alguns segundos antes de estender o braço para o banco de trás e pegar um pincel atômico da mochila -- Espera um pouco.
Daniela saiu do carro, foi até a plaquinha, riscou o nome do seu Valdir e escreveu o seu.
-- Não ficou lindo?
-- Magnifico!
Daniela arriscou um olhar para os fundos da propriedade. O passado parecia ter voltado diante de seus olhos.
O verde da vegetação, o azul da água, a minúscula ilha, no centro do lago. Os cisnes? Onde estarão os cisnes?
-- Vamos, Dani!
A voz alta e ansiosa de Bianca lhe tirou de seus devaneios, fazendo com que a loira virasse de volta para ela.
-- Vamos!
Subiram a escada que levava às portas de vaivém, de vidro. Pararam do lado de dentro, no hall espaçoso, e olharam em torno.
-- Caramba Dani, isso aqui é gigantesco -- disse Bianca, entusiasmada.
-- Esse chão parece uma bandeira de fórmula 1, coisa chique! -- o chão era de ladrilho hidráulico quadriculado preto e branco, que dava um toque sofisticado ao ambiente.
-- Posso ajudar?
Um sujeito com a voz grossa e ameaçadora parou ao lado delas. Estava vestido com o uniforme de uma empresa de segurança terceirizada.
-- Posso ajudá-las? -- ele perguntou novamente. A voz soou alta e ecoou pelo enorme saguão.
-- Meu nome é Daniela Pauly, eu quero falar com o senhor Lauro, diretor da empresa.
-- Hum, entendo -- o homem resmungou, com um olhar desconfiado -- Você tem sotaque Canoinhense.
-- Sou daqui -- respondeu friamente, como se isso não tivesse nada a ver com ele -- Então?
Enquanto o segurança falava num celular, o olhar de Daniela vagava pelo enorme saguão distraidamente.
O segurança desligou o telefone e olhou para Daniela.
-- O senhor Lauro ainda não chegou.
-- Quando chega?
-- Geralmente as nove.
Daniela olhou para o relógio de parede, faltava uma hora.
-- Vou esperar -- falou decidida. Havia muita coisa que queria saber e estava determinada a descobrir.
-- Podem aguardar nas cadeiras -- o segurança avisou, indicando uma sala próxima a entrada do prédio.
-- Obrigada -- ela disse, num tom ligeiramente debochado, indicando que não estava nem um pouco feliz com a ideia de esperar.
Assim que o homem afastou-se, Bianca torceu a boca num sorrisinho divertido.
-- Você vai mesmo ficar esperando sentadinha, bonitinha, quietinha?
-- Lógico! -- o tom debochado agora era mais evidente -- Vou até tomar um cafezinho.
-- A senhora fez isso? -- perguntou o advogado olhando sério para Anita -- O que ela falou?
-- Que pensaria no assunto e me daria a resposta o mais breve possível -- Anita tomou um gole do chá, depois colocou a xícara sobre a mesa -- Tenho certeza que ela vai retirar a queixa. Yasmin é uma boboca.
O advogado balançou a cabeça num gesto que fez os sedosos cabelos grisalhos dançarem de um lado para o outro.
-- Sinto muito, senhora Vargas, mas o seu empenho de nada adiantou.
-- Por quê está dizendo isso?
-- A senhora sabia que 90% das mulheres agredidas, voltam para os homens que elas denunciam? "Algumas até visitam o cara na cadeia e engravidam deles lá". De fato, muitas se arrependem de levar o caso à polícia, até mesmo quando é tentativa de homicídio, ou porque fazem as pazes, ou porque, quando a raiva passa, pensam nos filhos. Mas, após a Lei Maria da Penha, que desde 2006 criou mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher, a queixa de agressão, uma vez feita, não pode ser retirada. O objetivo é evitar que as mulheres sejam forçadas pelos agressores a recuarem da decisão de processá-los. Somente em casos de ameaças, a denúncia pode ser arquivada. Nos outros, um inquérito criminal tem que ser aberto. Portanto, Yasmin, nada poderá fazer para livrar o senhor Pedro da justiça.
Anita arregalou os olhos, tentando entender a situação descrita por ele.
-- Quer dizer...
-- Que a senhora humilhou-se inutilmente.
Jorge estacionou no acostamento de uma estrada de chão, desligou o automóvel e olhou para Pedro.
-- É esse o lugar, patrão?
-- Sim, é aqui -- andou até a cerca de madeira que limitava o território que pretendia examinar.
Encostou-se à cerca, vendo cavalos pastando e um homem que estava tão concentrado no que fazia que nem percebeu a sua presença.
Ele pulou a cerca e caminhou em direção ao senhor de meia idade.
-- Bom dia, homem!
Corado devido ao sol quente, espantado ele virou-se para Pedro.
-- Quem é você? -- ele perguntou, sentindo-se ameaçado levou a mão ao revólver que estava na cintura.
-- Sou Pedro Vargas, filho de Luiz Carlos Vargas -- ele se apresentou ao homem, que rapidamente tirou a mão do revólver.
Créditos:
Fim do capítulo
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NovaAqui
Em: 05/05/2017
Pronto, d. Anita, agora a senhora sabe que ele vai ser preso de qualquer jeito. acho que Dani vai surtar com Yasmin quando souber que ela iria, iria e não vai mais, tirar as acusações contra o ex marido.
Dani vai mesmo ficar lá esperando sentadinha, bonitinha, quietinha? Dúvido. Poderia apostar que não, mas minha aposta é pornográfica...kkk deixa para lá..
Bom final de semana procês, Meninas!
Abraços fraternos!
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Mille
Em: 05/05/2017
Hummmmmm Vandinha
Será que teremos mais um membro dos bandidos nesse final???
Logicamente que a Dani não irá esperar o Lauro ate as 9h e isso se ele não chegar mega atrasado. A Vargas vai levantar poeira com essa dupla aí em canoinhas vai acabar com muitas atrocidades que estão fazendo.
Ah Yasmim pelo amor filha, nada de tirar as queixas Pedro merece se ferrar e vai cair com assassino e outros delitos, é só sentar e aguardar que a Vandinha está aprontando para ele.
Bjus e até o próximo, um ótimo final de semana
Resposta do autor:
Olá Mille.
Você conhece a Dani. Com certeza ela já deve estar bolando um plano mirabolante para invadir a Vargas. Se bem que, agora ela é a dona, será que perdeu a graça?
Um ótimo fds pra você também, meu anjo. Até.
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