Viviane chegou e lhe enviou uma mensagem, mas levou três dias para que Laura a respondesse, a conversa por Whatsapp não rendia, por mais que Viviane tentasse, enviasse memes, trechos de músicas não emplacava. Pediu o contato de Laura pelo Facebook, mas isso não ajudou muito, nem foto do perfil ela tinha, nenhum status de relacionamento, poucas fotos e todas em grupos, nunca estava online, a impossibilidade de stalkear a sua crush cansava Viviane, apesar de gostar do mistério. Um dia as respostas monossilábicas de Laura a desanimaram a tal ponto que ela resolveu arriscar tudo, pela última vez. Enviou:

“Vamos tomar uma cerveja juntas?”

Eram 19:55, conferiu o celular uma, duas, três. Sempre que vibrava, grupos... grupos... grupos... Ás 22:03, quando já havia esquecido, chega a resposta:

“Pode ser esse domingo no Bar do Quintal, o que acha?”

Viviane não conseguiu se controlar, caiu no riso, respondendo: “Quer dizer que eu podia ter sido direta esse tempo todo”, foi a única coisa que lhe veio a mente.

“Prefiro conversar pessoalmente, sei que sou um fracasso nas redes sociais kkkk”.

A resposta bem humorada de Laura a tranquilizou. Desde esse diálogo Viviane passou a andar pela casa, sorriso no canto do rosto se perguntando como seria o domingo, colocou um dos seus discos favoritos para tocar:

“De franja na testa

Tentava esconder o pensamento

Que só pensava em mim

Ela pensava em nós

Meu cigarro clareando

A madrugada

Nosso quarto, nossa vida, nossa casa”

Porque se enganar? Pensava em Laura, aquela estranha, talvez estranha até demais, e agora sorria desconfiada, pois achava que Laura também andara pensando nela...

E ela não estava errada, ali perto em seu apartamento Laura tentava ler em sua rede, mas os pensamentos escorregavam entre as letras para lembrar um dia de chuva. Viviane a atraía, seu jeito espontâneo, seu sorriso, a vontade de viver que Laura enxergava ao olhar para ela, enchia o peito de Laura de vontade de vida, vontade de vida ao lado dela.

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Final de semana se aproximava e na sexta-feira Viviane resolveu sair com algumas amigas Júlia, Gabriela e certamente a maior parte da cidade, foram para um show de Josyara em uma das casas de show mais famosas do Rio Vermelho. Viviane a amava, se deliciada com cada acorde de seu violão, no meio da multidão encara o palco, justamente quando uma de suas músicas favoritas começou a tocar, a cantora anunciava “Eu quero gente pra fazer da madrugada um samba” e ao olhar para o lado, seu olhar encontrou o de Laura, percebeu então que já estava sendo observada há algum tempo. Laura caminhou em sua direção, ao se aproximar, segurou o rosto de Viviane com ambas as mãos lhe dando um beijo em cada face, nunca estiveram tão próximas, a surpresa atravessou Viviane como um raio, a deixou sem palavras, apenas sorria encarando aquela estranha tão familiar.

Lado a lado ouviram algumas músicas, seus corpos às vezes encontravam um ao outro balançando na multidão, Viviane não conseguia tirar os olhos de Laura, ela então sugeriu, vamos fumar um cigarro lá fora? Viviane concordou com a cabeça, a garota então segurou sua mão e foi lhe guiando até a saída. A área de fumantes era uma varanda bem larga situada na parte de cima da casa de show, palmeiras em grandes vasos e bancos de concreto eram a composição do lugar que tinha vista para a rua. Ambas sentaram em um banco mais escondido, Viviane sacou uma carteira de cigarros, mas Laura preferiu preparar o seu, fumaram em silêncio. Com o show acontecendo havia apenas as duas, o cigarro acabou, ambas levantaram, Laura caminhava na frente, repentinamente ela se virou, encarou Viviane que sorriu, novamente segurou seu rosto com ambas as mãos afetuosamente, se olharam por mais um instante, então Laura lhe beijou delicadamente os lábios.

- Desejei fazer isso desde o primeiro momento que te vi no show.

- Desejei fazer isso desde o primeiro momento em que te vi – respondeu Viviane.

Viviane pegou a mão de Laura e a levou em direção ao muro a encostando na parede, os beijos começavam a ficar cada vez mais intensos, Viviane pressionava seu corpo contra o de Laura que a puxava firme pela cintura, ao beijar seu pescoço, Laura gemia baixinho e sussurrava seu nome, o que a excitava, provavam a boca uma da outra com certo desespero, os dentes por vezes se chocavam, mas elas paravam, riam e continuavam, acertando cada vez mais o seu encaixe, até mesmo esse desencontro de línguas na boca lhe acendiam o desejo.

Separaram o corpo ofegante por um momento, e assim que os seus olhares se cruzaram riram novamente, Laura segurou a mão de Viviane e a puxou para si novamente, a beijou suave e lentamente entrelaçando seus dedos nos dela, o prazer percorria seu corpo, os lábios de Viviane eram tão macios, não resistiu e distribuiu uma série de mordidas leves em sua boca, o corpo de Viviane lhe correspondeu com um arrepio.

Viviane separou seus corpos novamente.

- Vou pegar uma cerveja para a gente, você me espera? -  perguntou Laura, já caminhando em direção ao acesso ao palco.

- Sim, vou ficar aqui e fumar mais um cigarro, se você não se importa... Gostei muito de conhecer essa parte sua, pela internet você não me dá nenhuma ousadia.

- Sou péssima na internet, mil perdões, para te compensar pagarei uma cerveja e podemos conversar sobre o que quiser saber... Qual você gosta?

- Pode escolher, mas volte logo...

 - Já volto! – E lançou um beijo para Viviane se dirigindo até a entrada.

Dentro da casa de show o som continuava acontecendo, quando estava na fila, Roberta uma amiga de Janaína abordou Laura bruscamente. Janaína estava passando mal, não se sabe ao certo o que estava acontecendo, provavelmente bebeu demais. Laura largou tudo e foi ao seu encontro, após conferir o estado da amiga a acompanhou até o táxi, ela não podia voltar sozinha, esperava que Viviane conseguisse compreender... Viviane continuava a aguardar fumando já o seu segundo cigarro...

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Viviane chegou em casa sem entender o que havia acontecido, embriagada após ser “largada” por Laura, ela parecia tão legal, esse truque de ir buscar cerveja e desaparecer é antigo, o que será que aconteceu? Ela não conseguia parar de se questionar, tomou um banho demorado e ao sair do banheiro já havia se decidido, mandaria uma mensagem bem grosseira para Laura, ela não pode sair abandonando pessoas assim, que desrespeitoso, ao abrir o Whatsapp deu de cara com uma mensagem dela.

“Precisei ajudar uma amiga que passou mal, acabei voltando para a casa, desculpa sair sem me despedir. Espero te ver domingo, adorei te encontrar”...

Fim do capítulo