Eu não cansava de me impressionar com aquela mulher que eu havia decidido compartilhar todos os dias da minha vida. Era incrível como a gente "encaixava", sabe?

O nosso encaixe ia desde o amor e carinho que uma tinha pelos filhos da outra, até a sintonia na cama. Nossa, como eu passei tanto tempo sem aquela mulher na minha vida!

Era inevitável comparar o que eu estava vivendo naquele momento com o meu casamento com a Andressa. E na comparação era tudo completamente diferente.

Acho que eu sempre gostei mais da Andressa do que ela de mim e nunca tive vergonha disso. Minha ex-esposa compartilhava da mesma opinião. Meu sentimento meio que sustentava as duas e a relação, principalmente quando as nossas diferenças eram evidenciadas em alguma crise.

Já com a Bah o lance é todo diferente. Ela tem todo o jeitão meio seco dela, sabe? E apesar dessa agrestia "espirrar" em mim quase sempre, ela sempre dava um jeito de se superar e cuidar da gente como se o que possuímos na nossa relação fosse a coisa mais importante do mundo. Nossa, eu tinha mesmo tirado a sorte grande no amor.

Contei pra vocês que ela tinha mania de escutar as nossas músicas favoritas e daí gravar pequenos vídeos dela cantando e me mandar as gravações no meio do expediente? Volta e meia viajava com meus fones na minha sala ouvindo e vendo ela cantar pra mim, pra nós, ela fazia isso de um jeito tão intenso. Era como se ela estivesse comigo em cada vídeo que chegava, cantando ao pé do meu ouvido, ou então segurando a minha mão e olhando no fundo dos meus olhos.

Falando em sorte, a Bah disse esses dias que quer ser mãe de novo. Foi numa conversa informal, no meio de um almoço. Mas mesmo assim o olho dela brilhou tanto. E meu coração? Eita, bateu igualzinho bateria de escola de samba.

Tenho óvulos congelados desde meus 32 anos. Mas ninguém sabe. O meu desejo de ser mãe com tudo o que tem direito é um desejo secreto, mas depois daquele dia, eu resolvi dividi-lo com a minha futura esposa.

Mas sabe que... nossa, e se ela quiser inseminar também? Caramba, a Minha Bah ficaria ainda mais linda grávida de um filho nosso. Olha o coração batendo forte de novo, nossa e isso é porque a gente nem conversou sobre esse assunto ainda.

O lance do conselho querer a minha cabeça estava a cada dia mais exposto na empresa e eu decidi tomar uma postura diferente. Com a ajuda da minha assistente reuni todos os principais dados da empresa desde que assumi a presidência. Juntamente com todas as intervenções realizadas de maneira inovadora.

Com os dados convoquei uma reunião extraordinária com os membros do conselho e com os principais acionistas. Nunca me dediquei tanto a uma apresentação. Foram alguns dias e noites que eu mal falei com a Bah. A gente só não brigou porque ela também estava agoniada atrás de uma nova empresa de engenharia que prestasse serviços ao escritório dela.

Chegado o dia da reunião, estavam todos lá. Soube mais tarde que a maioria pensou que eu fosse pedir demissão, e por isso queriam assistir a cena da minha desistência. Mas eles não perdiam por esperar.

– Caros senhores e senhoras, primeiro é uma pena que sejamos tão poucas senhoras no recinto, ocupando cadeiras do conselho e possuindo ações na empresa. Isso torna tudo mais difícil. Soube que parte de vocês está insatisfeito com o meu trabalho e os motivos são pessoais. O que eu julgo ser de uma falta de profissionalismo tremenda. – disse molhando a boca com um gole d’água antes de continuar.

Eles se entreolharam, alguns poucos pareciam surpresos, principalmente a minha Bah. Respirei fundo e continuei:

– No entanto, eu prefiro trabalhar com fatos. Reuni para vocês os principais dados comparativos desde que assumi, vou apresentá-los e se ao termino vocês acharem que meu trabalho não está a altura da empresa é só me dizer que abro mão do cargo e nunca mais piso nessa empresa. Caso contrário espero ser tratada com respeito no meu ambiente de trabalho. – bati com o copo de água na mesa.

Do meu ângulo via alguns deles suando de nervoso. Acho que se pudessem escorregariam para debaixo da mesa. Já a minha Bah era só sorrisos agora. Seu olhar orgulhoso me deu ainda mais forças para concluir.

– Sou sim uma mulher que assumiu a presidência e alcancei esse cargo com muito trabalho e dedicação. Sou sim noiva da senhorita Bárbara Pacheco – olhei pra ela sorrindo – e tenho muito orgulho disso. Vocês não são obrigados a gostar, mas são obrigados a respeitar. Então, espero mesmo que se decidirem pela minha permanência que respeitem a mim e ao meu trabalho, que independem do meu gênero ou da minha opção sexual.

Ufa, que difícil, mas como foi importante ter colocado tudo pra fora e cara a cara com toda a corja de cobras que queriam a minha cabeça. Mas quando o assunto era dinheiro, até o machismo e o preconceito perdem espaço, e eu havia multiplicado os números da empresa em muito pouco tempo e quanto a isso dava pra ver o quanto estavam satisfeitos com os resultados.

Ao final da apresentação, o presidente do conselho pediu a palavra e disse:

– Boa tarde a todos, acho que falo por mim e por todo conselho que você tem feito um trabalho incrível por aqui. Talvez você tenha razão quanto a falta de postura nos corredores da empresa e imagino o quanto isso deva ter te irritado. No entanto, espero que continue no cargo fazendo a empresa funcionar e lucrar, em contrapartida prometo cuidar diretamente dessas fofocas sobre a sua vida pessoal e profissional. Isso não vai mais se repetir.

Ele foi sincero e parecia extremamente constrangido por aquilo tudo e foi até aplaudido ao final do discurso. Ufa, deu certo e nem precisei pesar na da Bárbara. Que logico me deu um sermão imenso por eu não ter revelado o lance das fofocas pra ela. Oh mulher controladora. Nossa.

Estávamos na copa tomando um café quando ela disse:

– Por isso que você estava estranha né, dengo? Passando por essa barra toda sozinha e aposto que não me disse porque achou que eu acabaria perdendo a cabeça com os machistas homofóbicos daqui. – ela falou serrando os dentes.

– Calma amor, eu também fiquei muito brava quando soube e refleti muito sobre a minha resposta. Sim, eu não contei porque você ia querer "causar", rs... e já andava super pilhada por causa do Paulo. – confessei.

– Tudo bem, eu entendo você e fiquei muito orgulhosa com o rumo que deu pra história. Você respondeu covardia e falta de caráter com profissionalismo e competência. Eu te amo. – ela disse me dando um beijo estalado na bochecha.

– Hummm... eu só consegui ir até o final hoje mantendo a calma porque toda vez que me sentia insegura eu olhava pra você. Te amo. – respondi abraçando a minha Pequena Linda.

Voltei pra minha sala e ela para o escritório. Adorava essas reuniões no meio do expediente. Eu sempre ganhava um abração e ela ia embora deixando o cheiro dela em mim. Resultado? Passava o resto do dia suspirando pelos corredores da empresa.

Dias depois recebi um e-mail do Lourenço, nele o caçula dos gêmeos dizia que aceitava morar aqui com a mãe e a irmã e que por incrível que pareça Carla não fez jogo duro. Fiquei super feliz com a notícia, louca pra contar pra Bah, mas Lourenço pediu pra fazer surpresa. Ele chegaria no início do próximo mês, já com o pedido de transferência e equivalência da outra faculdade.

Suspeitei demais da passividade da Carla nessa história. Mas ela não era mais um problema pra mim e pra Bah, eu estava muito segura e muito apaixonada para me deixar levar por uma ex sem noção da realidade. E eu confiava muito na minha mulher, mesmo com toda a fama que ela tinha no passado.

A Anna deu uma relaxada boa depois do almoço de apresentação. O Beto era mais velho, tinha 29, 10 anos a mais que a portuguesinha. O que fazia a Bah "marcar em cima". Quando o Beto dormia lá nos finais de semana, era num colchão no chão ao lado da cama da Anna e acreditem vocês ou não, de porta aberta. Que tortura para o casal.

De vez em quando eu acordava de madrugada e encostava a porta deles. Eu ganhava um belo bico da minha noiva pela manhã, mas que eu desmanchava em pouco tempo enchendo aquela boca carnuda de beijo.

Falei pra vocês que voltaríamos a visitar minha mãe no aniversário dela, lembram? Fomos nós quatro dessa vez, a Minha Portuguesinha nos acompanhou. Chegamos lá no sábado pela manhã e só passamos no hotel pra deixar as coisas.

Passamos em uma padaria a caminho da casa de recuperação e compramos bolo confeitado, refrigerante, brigadeiros, salgados e acreditem, até aqueles chapeuzinhos de aniversários. A festa foi maravilhosa, minha mãe estava bem melhor, parecia uma nova mulher já. Me dava uma alegria imensa vê-la daquela forma. A dona Margarida amou a Aninha, chamou a portuguesinha de neta e tudo mais.

O restante do tempo levei as minhas acompanhantes e o Ju para conhecer um pouco mais da cidade em que cresci, não tinha muito atrativos como em Natal que vez ou outra descobríamos um lugar novo para ir, mas tinha uns poucos lugares muito belos.

Três meses já se passaram desde que falamos em nos casar. Caramba, precisamos conversar sobre os detalhes da cerimônia. Mas ela não fala no assunto, poxa. Será que só foi mesmo graça dela por ter pego o buquê? Será que ela vai querer festão ou algo mais simples? E lua-de-mel? E onde a gente vai morar?

Muita coisa pra resolver. Agora que as coisas normalizaram no serviço vou focar nisso e na volta do Lourenço. Preciso deixar tudo pronto pra ele aqui, já que a Bah só saberá que ele veio pra ficar quando ele já estiver aqui. Fico imaginando o quão feliz e emocionada ela ficará. Ah... estou louca pra ter um filho com essa mulher... nossa.

Fim do capítulo