Capítulo 33
O Jardim dos Anjos -- Capítulo 33
Lorraine não demorou em escolher o que vestir. Fez de propósito. Vestiu-se no estilo profissional. Colocou um terninho preto e uma blusa verde clara por debaixo do casaco e prendeu os cabelos num coque alto. Para um jantar com Andras seria o apropriado. Maquiagem básica sem muito capricho.
Nada de marca de estilista famoso, sapatos italianos feitos à mão, joias e perfume extremamente caro. Andras não fazia jus a nada disso.
Olhou para o relógio que trazia no pulso, uma peça despretensiosa, presa a uma simples pulseira de couro.
-- Nove horas! -- Pegou a pequena bolsa de veludo de cima da cama, saiu do quarto e tomou o rumo da rua.
Andras estava na portaria, sentada em uma poltrona de couro vermelho com as pernas cruzadas enquanto olhava atentamente uma revista. Sentiu sua presença e elevou o olhar, sorrindo.
-- Por que o sorrisinho? -- Lorraine perguntou passando direto por ela.
-- Nosso primeiro encontro -- sua voz tinha um tom provocador -- Isso a aborrece?
-- Muito -- O que realmente me aborrece é a sua presença, ela pensou. Andras parecia um animal selvagem e totalmente imprevisível.
Andras aproximou-se lentamente dela como se fosse uma pantera prestes a dar o bote em sua presa. Seus passos pareciam cautelosos e perigosos e seu olhar fixos no dela.
Caminharam lado a lado até o carro, Lorraine sentou no banco da frente e, assim que Andras começou a dirigir, perguntou:
-- Qual a razão do encontro? Negócios?
A risada estridente de Andras a fez sentir um calafrio.
-- Vamos deixar o assunto para durante o jantar, pode ser?
Não perguntou mais nada, nem mesmo para onde iriam. Enquanto Andras dirigia, não houve diálogo. Lorraine pensava em que ela teria a dizer que não pudesse ser dito no hospital.
Andras entrou no pátio de um restaurante suntuoso em uma colina na parte mais luxuosa da cidade.
-- Imaginei que fosse um simples jantar de negócios -- disse Lorraine enquanto Andras estacionava o carro -- Existe alguma coisa que eu deva saber antes de entrar nesse restaurante?
Andras olhou-a fixamente.
-- Calma, doutora! Em breve saberá -- saíram do carro.
Em minutos, foram recepcionadas por uma moça vestida impecavelmente e levadas a uma mesa afastada do salão principal.
O interesse dos demais presentes em torno das duas era evidente. Elas podiam perceber os olhos de admiração e curiosidade sobre elas.
Dois garçons logo aproximaram-se da mesa trazendo o cardápio e ofereceram-lhes bebidas. Andras não escondeu sua surpresa quando Lorraine pegou uma taça de água mineral.
-- O vinho daqui é de excelente safra -- ela umedeceu os lábios e deu um pequeno sorriso.
-- Prefiro não ingerir bebida alcoólica. Quero estar bem sóbria para ouvir o que têm a me dizer! Não entendo que tipo de jogo você está fazendo e confesso não confiar nenhum pouco em você -- Lorraine falou com a voz baixa e controlada, quando na verdade o sangue lhe fervia nas veias -- Mas seja lá o que for, fale logo.
-- Ainda nem jantamos -- ela disse em um tom que não prometia uma conversa amistosa -- Mais tarde conversaremos. Por favor, escolha o seu prato.
Andras abaixou a cabeça para ler o cardápio, o que enfureceu ainda mais Lorraine.
-- Não estou com fome -- respondeu ela jogando o cardápio sobre a mesa -- Você me causa náuseas. Se é que você me entende?
Quando Andras levantou a cabeça, um sorrisinho cruel apareceu em sua boca.
-- Não seja tão maldosa, Lorraine. Enquanto você não fizer o seu pedido, não falarei sobre o motivo desse jantar -- fechou o cardápio e colocou em cima da mesa.
-- Está bem -- ela concordou afinal, esforçando-se para manter a calma ao pegar novamente o cardápio para escolher o prato.
Ela ainda não sabia, mas esta noite seria decisiva.
Quando Alisson chegou a lanchonete, todos os amigos já estavam sentados ao redor de uma mesa circular repleta de garrafas e pratinhos com petiscos.
O ambiente era bem decorado, réplicas de pintores famosos estavam por toda a parede, uma lareira, mesas de madeira e dezenas de velas espalhadas, todas em castiçais de vidro, iluminavam o salão.
Alisson não usava maquilagem e tinha os cabelos alourados esparramados pelos ombros. Vestia um casaco comprido e escuro que chegava quase até seus joelhos e uma bota preta de cano curto. Seu rosto delicado e os olhos azuis, brilhantes, eram muito expressivos.
Nádia ergueu o braço e chamou-a em voz alta.
Alisson era realmente linda; a presença dela era notada em qualquer lugar que fosse.
-- Finalmente, loira! -- comentou Fael.
-- Acho que vocês é que chegaram cedo demais -- cumprimentou a todos com um sorriso amável -- Tudo bem? -- perguntou para Nádia.
-- Não muito -- ela respondeu sem hesitar enquanto Felipe pedia mais uma garrafa de vinho e uma taça.
-- E por quê? -- perguntou Alisson, surpresa -- Não gostou do bar que escolhemos?
-- Esse local é perfeito para mim. Ambiente calmo e aconchegante.
-- Então?
-- É que não imaginava que fosse ficar tão frio. Estou congelando.
Alisson sorriu.
-- Não ria de mim! -- Nádia disse, fingindo estar chateada.
-- Não estou rindo de você -- Alisson levantou a mão e chamou o garçom.
-- Pois não?
-- Por favor! Poderia acender a lareira? Minha amiga está com frio -- pediu gentilmente.
-- Claro! Em um instante.
-- Se você não fosse quase minha irmã eu casaria com você, Alisson -- Beca mordeu um salgadinho delicioso -- Preocupada com o friozinho da cunhada. Você é fofa demais.
-- Não casaria com você nem pintada de ouro, carregando um pote de Nutella -- Alisson apanhou uma azeitona e levou-a a boca.
-- Porquê não? -- Beca perguntou indignada.
-- Eu lhe conheço muito bem Beca. Você sempre foi extremamente possessiva.
-- Assim você queima o meu filme, Alis -- Beca olhou para Agnes e deu um sorriso sem graça.
-- Bom saber -- Agnes levou a taça aos lábios e tomou todo o vinho que restava.
-- Desculpa, foi mal. Não sabia que você estava arrastando as asas para o lado da Agnes.
-- Alisson! O que é isso? Coitada da Beca! -- Nádia deu um tapa no ombro da loira -- Preciso de uma bebida -- disse com as faces vermelhas. Muito perto do fogo, ela já estava com calor. Sua saia subiu até o meio das coxas, e ela cruzou as pernas, sem jeito.
Alisson entregou-lhe uma taça de vinho e olhou para ela divertida.
Nádia levou a taça aos lábios. Alisson continuou a observá-la, nesse momento um pouco pensativa.
-- Você é hétero? Lésbica? Bissexual? Até agora não consegui descobrir o seu time -- ela ficou à beira do suspense, esperando a resposta da morena.
-- Meu Deus, Alisson! -- Felipe balançou a cabeça -- Tenho medo de você.
-- Não foi nada demais. A Nádia é uma princesa -- o olhar dela a percorreu de cima a baixo -- Deve ter centenas de pessoas babando por ela.
Nádia caiu em um silêncio profundo enquanto a cabeça dela girava. Teria sido um elogio? Ela achava mesmo isso?
-- Nunca fiquei com uma mulher -- o vinho irradiou por seu corpo, não sabia o que dizer. Balançou o líquido vermelho intenso na taça antes de olhar para ela novamente -- Mas, na minha opinião o amor não tem orientação sexual. Mesmo que os moralistas e religiosos discordem, nós racionais não nos relacionamos, ou buscamos "parceiros" com o intuito único de procriar, queremos, mais que isso, queremos segurança emocional, carinho, um cantinho gostoso, uma pessoa amável e quando encontramos essa cara metade, não importa que seja do mesmo sex*.
As palavras de Nádia foram dignas de aplausos.
-- Mandou bem, mana! -- Felipe levantou sua taça de vinho ao alto -- Conto com você para ficar de olho nela, Alisson.
-- Não acho uma boa ideia -- disse Fael -- Talvez fosse melhor você mesmo ficar de olho nela.
Alisson fez uma careta.
-- Engraçadinho! Olha o respeito! Sou uma pessoa comprometida.
Nádia deu um sorriso forçado ao se lembrar da conversa com Lorraine. Nunca seria capaz de perdoá-la. Como ousava tratar sua amiga querida de forma tão desprezível?
O garçom trouxe os pratos, mas Lorraine mal tocou na comida. Perguntas fervilhavam em sua mente. Precisava entender o que estava acontecendo. Estava jantando com a pessoa que mais odiava, que estava transformando sua vida um inferno.
Quando o garçom ofereceu o cardápio para escolherem a sobremesa, Lorraine recusou.
-- Por favor, Andras -- ela se recostou na cadeira com a testa franzida -- Você está me deixando nervosa -- disse ela com voz rouca -- Diga logo o que quer de mim -- Lorraine piscou os olhos descontroladamente, assim como os batimentos de seu coração -- Sei que me detesta, e por mais que pergunte a mim mesma o motivo, não encontro uma resposta.
Um brilho divertido surgiu nos olhos de Andras.
-- Quem disse que eu lhe detesto, minha deusa. Muito pelo contrário -- Andras se divertia percebendo que Lorraine estava com vontade de atirar a garrafa de vinho em sua cabeça -- Acho que esse é o momento...
Andras abriu a bolsa e retirou uma caixinha de veludo vermelha, com graciosos detalhes prateados que ela abriu para mostrar um belíssimo anel de noivado. O brilho da joia fez Lorraine piscar.
Em silêncio, Lorraine observou tudo com um terrível nó na garganta e uma sensação de desespero e pânico. Não moveu nem um músculo. Parecia que nem respirava.
-- Você vai casar comigo, Lorraine -- falou fria e mortalmente calma.
O coração de Lorraine saltava dentro do peito. Estaria ouvindo direito?
-- Você está louca? -- a médica vivia um autêntico pesadelo. Os olhos arregalados, e o ódio causando-lhe náuseas -- Nunca! -- disse tão alto que todos no restaurante pararam e olharam para elas.
-- Não há necessidade disso -- Andras fulminou Lorraine com o olhar -- Não estou obrigando você a aceitar o meu pedido de casamento. Estou dando-lhe duas opções -- Andras colocou a caixinha com o anel em cima da mesa -- Casar comigo e permanecer ao meu lado como uma esposa feliz, por um ano, ou, passar os próximos vinte anos atrás das grades? O que acha? Estou descrevendo a situação corretamente? Você entendeu?
-- Um ano casada com você? -- a voz de Lorraine transparecia dor. Os olhos embaçaram-se com a lembrança de seu grande amor -- Eu amo a Alisson -- Ela se lembrou das noites de amor e paixão, dos beijos ardentes, as trocas de carinhos, das promessas, e não conseguiu evitar as lágrimas.
-- Estou impressionada -- disse Andras zombeteira, inclinando a cabeça para frente -- Seu amor por ela não livrará você da cadeia -- Andras deu um gole no vinho.
-- Por quê um ano? -- sua voz soou amargurada.
-- Um ano é mais que suficiente para mim -- Andras lançou um olhar brilhante, demonstrando que estava se divertindo com o desespero dela.
-- Me diga o que pretende com tudo isso? Destruir a Alisson? Vingar-se de algo que eu ou alguém de minha família lhe fez no passado? Por favor me diga.
-- Você será a destruição da Alisson, e não eu -- ela riu e os olhos negros se acenderam em triunfo -- Eu mal posso chegar perto dela... Um dia você entenderá isso. Por hora... -- segurou a mão de Lorraine por sobre a mesa e beijou-a -- Quero ouvir o seu sim.
Lorraine tentou libertar a mão que Andras segurava, mas ela prendeu com tanta força que a médica foi forçada a continuar na posição, como se nada estivesse acontecendo.
-- Você não sabe o significado da palavra amor e muito menos é capaz de ter qualquer sentimento! -- Lorraine umedeceu os lábios, nervosa -- Eu te odeio.
-- Ambas sabemos que para mim, pouco importa os seus sentimentos -- falou com uma frieza implacável que deixou Lorraine paralisada -- Vamos! Diga logo esse sim.
Fim do capítulo
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patty-321
Em: 22/04/2017
Puta. Não creio q ela vai aceitar isso. Lo precisa deixar na covardia e enfrentar essa chantagem. Não pode ser tão idiota. Raiva.
Resposta do autor:
Olá Patty!
Será que não Patty? Ela está bem propensa a aceitar.
Daqui a pouco já vamos saber.
Beijão garota!
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NovaAqui
Em: 21/04/2017
Fui ler novamente para ver se era isso mesmo
Vontade de chorar com essa chantagem que Lô está sofrendo.
Pobre Alisson
Por isso a linda menina Priscila disse que a namorada de Ali era a Nádia, acho que a pequena pressentiu que alguma coisa estava por vir
Abraços fraternos procês!
Resposta do autor:
Olá NovaAqui!
É muita maldade né? O sofrimento da Alisson vai ser enorme, com certeza.
Até daqui a pouco. Paz e Luz.
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Mille
Em: 21/04/2017
Oh Vandinha que isso cara amiga.
Lorraine casando com a Andras, sei não isso vai destruir o coração da Allison quando souber.
Espero que o Felipe ajude e conte a verdade a Aly e todos que amam possam ajudar a sair das garas da Andras.
Bjus e até o próximo, um ótimo final de semana
Resposta do autor:
Mille, minha querida!
É isso mesmo. Lorraine está prestes a cometer o maior erro de sua vida.
Daqui a pouco tem mais.
Beijão amiguinha!
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NovaAqui
Em: 21/04/2017
Casar? Meu Deus
Agora ferrou tudo. Estou passada aqui
Não acredito que Lorraine vai fazer isso, mas o medo está deixando ela cega.
Que situação triste.
Não aceita Lozinha. Conte para sua amada, para seu pai, pro papa, mas não aceite.
Triste com esse capítulo
Resposta do autor:
Será que ela não aceitará?
Já estou lhe dando a resposta no capítulo 34. Vai lá.
Abraços fraternos!
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