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Even if we're not friends por asuna

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Palavras: 4437
Acessos: 6239   |  Postado em: 21/04/2017

Capítulo 12

 

12.

 

Claire POV

            Ibiza era uma ilha fascinante. As paisagens encantadoras, as praias de areia dourada e o mar azul infinito faziam qualquer um perder o fôlego. Mas, para os meus "amigos", o verdadeiro encanto do lugar estava na vida noturna. E, pela primeira vez desde que comecei a sair com eles, percebi o quanto éramos diferentes. Sempre gostei de sair, de sentir a energia da noite, de me perder na música e no ritmo. Mas, ao contrário deles, havia outras coisas que me interessavam, outros prazeres que me preenchiam. Para eles, a diversão resumia-se a boates intermináveis, álcool sem limites e prazeres fugazes.

Ali, sentada na areia, ouvindo as ondas quebrarem contra a praia, os meus pensamentos estavam em apenas uma pessoa. Olhei à minha volta. O grupo estava reunido num círculo, rodeados por garrafas de cerveja, cigarros de erva a serem passados de mão em mão, rindo descontroladamente de algo que provavelmente nem sequer tinha piada. A irritação cresceu dentro de mim.

O que raio estava eu a fazer ali?

Por que razão tinha vindo?

Desde quando eu me encaixava nesse tipo de ambiente?

Estava ali, junto de pessoas que, na sua perspetiva distorcida, acreditavam que "diversão" precisava de incluir drogas, álcool e sex* sem significado. Garotos da alta sociedade, mimados, que esbanjavam o dinheiro dos pais sem qualquer perspetiva para o futuro.

E o que eu tinha em comum com eles?

Talvez apenas o facto de também viver à sombra da fortuna dos meus pais, gastando sem pensar.

Mas havia uma diferença. Eles nunca quiseram ser mais do que o sobrenome que carregavam. Eu queria ser alguém. Queria provar que era mais do que apenas "a filha de". Queria construir algo meu, conquistar um espaço onde o nome dos meus pais não determinasse o meu valor. E, no entanto, ali estava eu. Fazendo parte de um grupo que vivia no vazio absoluto. No início, fui-me deixando levar. Achei que essas novas amizades poderiam preencher o que eu sentia. Afinal, eles também tinham problemas com os pais. Também conheciam a solidão. Também carregavam feridas invisíveis. Mas agora, olhando para eles, percebia que estávamos em direções opostas. A falta de amor e atenção que sofreram servia-lhes de desculpa para se entregarem ao excesso, como se os pais tivessem a obrigação de compensar cada ausência com dinheiro e permissões ilimitadas. Eu também me senti esquecida. Mas nunca quis usar isso como justificação para me destruir. A morte da minha avó, o afastamento dos meus pais e a partida da Bih deixaram-me perdida. E foi assim que me envolvi com essa gente.

No momento em que precisei de apoio, no instante em que a dor se tornou insuportável, agarrei-me ao primeiro grupo que me aceitou. Quando o vazio me consumiu e a minha saúde começou a falhar, tornando-se num quadro de anemia e depressão, os meus pais não hesitaram em encontrar a solução mais conveniente para eles. Contrataram um psiquiatra. Recebi uma receita de antidepressivos, e os meus pais continuaram a viver as suas vidas ocupadas, satisfeitos por terem encontrado uma forma de resolver o "problema" sem serem incomodados.

Afinal, aos quinze anos, eu já devia ser uma jovem capaz de enfrentar a vida, certo?

Era assim que eles viam as coisas.

O problema?

A educação que me deram nunca me ensinou a ser essa adolescente madura e forte que tanto esperavam. Se a minha avó não tivesse adoecido, talvez… Talvez, com o tempo, ela tivesse conseguido moldar-me para me tornar alguém diferente. Contudo não foi o psiquiatra nem os comprimidos que me salvaram daquele estado. Foi Mari. Com o seu entusiasmo genuíno, com a sua forma leve de ver o mundo, conseguiu puxar-me de volta para a superfície. Mari iluminou-me num momento em que tudo parecia escuridão.

Conheci Michelle e Alex, filhos de um promotor de justiça influente, durante um evento chato para o qual fui arrastada pelos meus pais. Eles apresentaram-me ao resto do grupo e, sem que me desse conta, a este tipo de vida. No início, pareceu uma oportunidade para afastar a névoa que me consumia. As festas, as saídas constantes, as bebidas que queimavam na garganta… tudo parecia um escape perfeito. Uma distração para o vazio. Mas agora, sentada na areia, olhando para o mar, apercebia-me de algo inquietante. A Beatriz. Ela era o oposto disto. Se a Bih estivesse aqui, se visse o que eu estava a fazer da minha vida, provavelmente ficaria em choque.

Engoli em seco ao imaginar o seu olhar dececionado.

— Em que estás a pensar, Claire?

A voz de Michelle arrancou-me dos pensamentos. Senti-a sentar-se ao meu lado, a proximidade do seu corpo quente contrastando com a brisa fria da noite.

— Desde que chegámos que estás distante. Não participas nas conversas, não sais connosco à noite…

Continuei a olhar para o mar.

— Estou apenas a apreciar a paisagem…

Michelle riu baixinho, como se soubesse que eu estava a mentir.

— Queres voltar para o hotel? — Perguntou, e quando virei o rosto para olhá-la, percebi a intenção oculta na sua pergunta.

Os seus olhos brilhavam num misto de desafio e provocação. Quando percebeu que eu não responderia, inclinou-se ligeiramente e sussurrou:

— Terminar aquilo que começaste na sexta…

O arrepio que percorreu a minha espinha não foi de desejo, mas de irritação. Levantei-me de imediato, sacudindo a areia das pernas.

— Eu disse-te para esqueceres o que aconteceu. — Respondi friamente.

Michelle suspirou, levantando-se logo a seguir.

— Bem, eu não esqueci. — A sua voz era firme, como se acreditasse que podia virar o jogo a seu favor. — Eu gostei e quero continuar.

Soltei uma risada seca, sem qualquer humor.

— Então vê se também te recordas do que te vou dizer. — Virei-me para ela, os olhos cortantes. — Não vai acontecer nada entre nós.

Michelle cruzou os braços, mas o seu sorriso não vacilou.

— Isso tem alguma coisa a ver com a loira que te arrastou para fora da boate?

O meu sangue ferveu instantaneamente.

— A loira tem um nome. — Disse, a voz saindo mais ríspida do que planeava.

Os seus olhos brilharam com malícia.

— Ah… então tem mesmo a ver com ela.

— Vou regressar ao hotel. Mas sozinha. — Cortei a conversa ali, virando-me para sair.

— O meu irmão sabe disso? — A sua voz carregada de insinuação fez-me parar de imediato.

Cerrei os punhos antes de me virar devagar para encará-la.

— O teu irmão não tem nada a ver com a minha vida.

Ela inclinou a cabeça, estudando-me.

— Não sei se ele e outras pessoas pensam da mesma forma. — Murmurou, sorrindo cinicamente.

O desejo de revirar os olhos foi imediato, mas segurei-me. Ela não merecia mais do meu tempo. Apenas encarei-a por alguns segundos antes de lhe virar as costas definitivamente e seguir na direção do hotel.


            Já no quarto, sentei-me na cama e acedi à internet, os dedos movendo-se automaticamente no teclado enquanto procurava voos de regresso. Definitivamente, não iria continuar nesta ilha. Esta viagem tinha sido uma perda de tempo. E se a presença da Bih aqui faria tudo ser diferente, a sua ausência tornava tudo insuportável. O facto de ela não me procurar, não me enviar sequer uma mensagem, estava a enlouquecer-me. Tinha acreditado, por um breve instante, que aquele beijo seria o suficiente para fazê-la admitir o que sentia. Porém tinha-me esquecido de um detalhe importante.

A sua teimosia.

Suspirei, frustrada, e fixei os olhos na tela. O próximo voo disponível era no sábado. Sem duvidar, comprei a passagem. Fechei o computador, larguei-me na cama e peguei no celular.

"Estou a voltar."

Enviei a mensagem para Mari sem rodeios. Agora só restava saber como a Bih reagiria quando me visse novamente.


O relógio marcava 16h30 quando o avião aterrou.

Como já esperava, a notícia do meu retorno não foi bem recebida pelo meu "grupo de amigos". No entanto, não me importei. Não estava a aproveitar a viagem, e os dias em Ibiza custavam a passar. Beatriz tinha pedido tempo, e eu prometi a mim mesma que respeitaria isso. Mas preferia esperar por uma decisão o mais perto possível dela. Peguei no telefone e digitei uma mensagem para Mari.

Eu: Já cheguei. Onde estás?

A resposta veio quase instantaneamente.

Mari: Atrás de ti.

Virei-me de imediato e dei de caras com ela, que sorria levemente.

— Obrigada por me vires buscar. — Disse, cumprimentando-a.

— Não tens de agradecer. — Respondeu, enquanto começávamos a caminhar para fora do aeroporto. — E então, como foi em Ibiza?

Suspirei.

— É uma ilha incrível… — murmurei. — Mas não estava a conseguir aproveitar.

Mari analisou-me por um momento antes de fazer a pergunta que eu sabia que viria.

— E o resto do pessoal?

Eu sabia que ela não gostava do meu grupo, e também sabia que não fazia o mínimo esforço para esconder a sua opinião. Não a censurava. Ela tinha razão.

— Não ficaram satisfeitos.

— Azar o deles. — Respondeu simplesmente.

Seguimos em silêncio por alguns instantes, até que Mari perguntou, de forma direta:

— Vais falar com a Bia hoje?

Balancei a cabeça.

— Não. Vou para casa e esperar até quarta-feira.

Esta parou abruptamente, olhando-me boquiaberta.

— Não acredito que vais esperar até quarta-feira!

— Eu vou respeitar o tempo que ela pediu.

Bufou, claramente irritada.

— Tu é que sabes… — Disse, encerrando a conversa num tom desagradado.


Mais tarde naquela noite O celular vibrou ao meu lado na cama. Abri os olhos, ainda sonolenta, e estendi a mão para pegá-lo.

Mari: A Beatriz arrastou-me para uma boate gay. Tens a certeza de que vais ficar em casa?

Franzi o cenho, sentando-me lentamente. Olhei para o relógio. Já passava das 22h.

Eu: O que queres que eu faça?

Mari: Que venhas para cá e fales com ela.

Suspirei.

Eu: As coisas não são assim, Mari. Eu não posso simplesmente aparecer do nada. Tu não viste o estado em que ela ficou na sexta-feira.

Mari: Sexta já passou. O importante é o agora. E, para ser honesta, não estou com disposição para fingir ser namorada dela a noite toda. Ainda tenho esperança de ficar com alguém.

Não consegui evitar a gargalhada que escapou.

Eu: Está a correr assim tão mal?

Mari: Estamos numa mesa com quatro mulheres que não sabem disfarçar. Elas devoram-na com os olhos.

O meu corpo enrijeceu de imediato.

Eu: Se a devorarem apenas com os olhos, não tem problema… A Beatriz é linda, não posso fazer nada quanto a isso…

Mari: Claire, deixa-te de brincadeiras e vem para aqui agora!

Suspirei profundamente, debatendo-me internamente. Levantei-me e caminhei até à janela. A lua brilhava intensamente, quase como se zombasse da minha indecisão. Peguei no celular e tirei uma foto, enviando-a de seguida. Enquanto trocava mensagens com a Bih, tentava decidir se devia ou não ir até lá. O local não me agradava, isso era óbvio. No entanto eu não tinha o direito de interferir na vida dela. Além disso, Mari estava com ela. Sabia que, se Beatriz cometesse um erro, Mari não hesitaria em intervir. Eu não achava justo, contudo não podia negar que isso me trazia um certo alívio. Foi durante aquela troca de mensagens que percebi. A Bih não estava bem.

Bih: Sinto a tua falta.

Li a mensagem uma, duas, três vezes. O meu coração disparou. Sorri, sentindo o peito aquecer pela primeira vez em dias. Levantei-me e fui até ao guarda-vestidos. Vesti uma camiseta branca e uns shorts jeans.

Eu: Passa-me a morada daí, Mari.

Mari: Finalmente!


Na boate O ambiente vibrava com a batida forte da música. Passei pelos seguranças sem dificuldade e entrei no local, os olhos varrendo a multidão. Antes de me misturar entre as pessoas, fiz um desvio e dirigi-me ao DJ.

— Posso pedir uma música para tocar a seguir?

Ele torceu o nariz, visivelmente entediado. Retirei uma nota do bolso e mostrando-lhe.

— E se acrescentar isto ao pedido?

O DJ sorriu e estendeu o braço.

— Irei tocá-la quando esta terminar.

— Obrigada.

Afastei-me, caminhando entre as pessoas, os olhos atentos a cada detalhe ao meu redor. Foi quando avistei Mari. Ela estava sentada numa mesa com três mulheres e a sua expressão demonstrava o quão descontente estava com a situação. Contudo os meus olhos procuravam outra pessoa.

Peguei no telefone.

Eu: Onde está a Beatriz?

A resposta veio rápida.

Mari: Na pista de dança.

Abri a mensagem e franzi o cenho, levantando imediatamente o olhar para a pista. E quando finalmente a vi, soltei um suspiro frustrado. Beatriz movia-se ao ritmo da música, os seus cabelos loiros caindo levemente sobre os ombros enquanto dançava. O corpo dela movia-se com uma facilidade que desmentia a sua suposta aversão à dança. Os seus olhos brilhavam com algo indecifrável. Encostei-me a um canto e cruzei os braços, observando. A música que escolhi estava prestes a tocar. E quando isso acontecesse, ela iria notar-me.

Ela teria de notar.

            No instante em que a mulher se aproximou da Beatriz, algo dentro de mim explodiu. O meu corpo moveu-se por instinto. Os olhos dela arregalaram-se ligeiramente quando a vi afastar-se no momento certo, evitando o toque daquela desconhecida. Porém eu já não conseguia pensar racionalmente. Assim que a batida de "Despacito" preencheu a boate, avancei determinada, empurrada por uma força incontrolável. Beatriz parou, como se tivesse sentido a minha presença antes mesmo de me ver.

Aproveitei esse segundo de hesitação e apareci por trás dela, sentindo o calor do seu corpo antes de sequer tocá-la. Foi quando a desconhecida esticou a mão para agarrar-lhe o braço. Sem pensar, entrelacei os meus dedos nos seus e puxei-a com força, arrancando-a daquele instante antes que fosse tarde demais. Os meus olhos encontraram, por um breve momento, a expressão perplexa da morena que tinha tentado agarrá-la. E então, encontrei os olhos azuis da Beatriz, confusos, ansiosos, presos nos meus.

O jogo começara. Os primeiros acordes da música envolviam-nos, como um convite irrecusável. Comecei a dançar para ela. O meu corpo movia-se ao ritmo da música, cada gesto carregado de intenção.

Ela não desviava o olhar. Os seus olhos agora escuros, intensos, percorriam-me sem pudor, e isso fez um arrepio delicioso percorrer-me a pele, aquecendo cada parte de mim. Cada movimento meu era para ela. Cada olhar, cada sorriso, cada rebol*r dos quadris era uma provocação. E ela estava a ceder. Sabia disso pela forma como o seu peito subia e descia num ritmo acelerado. Sabia porque a sua língua deslizou pelos lábios inconscientemente. De tempos em tempos, olhava para a mulher que ainda estava ali, irritada, à espera de uma oportunidade. Sorri por dentro. Ela nunca teve hipótese.

Quando percebi que já a tinha deixado desconfortável o suficiente, aproximei-me de Beatriz e rocei o meu corpo contra o dela, sentindo-a enrijecer por um segundo antes de se render ao contacto. Olhei diretamente nos olhos da outra mulher e comecei a cantar. O desafio estava lançado. Os olhos dela estreitaram-se, e eu soube que tinha vencido. Ela torceu o nariz, cruzou os braços e, finalmente, virou as costas, desaparecendo na multidão.

Só então, olhei para Beatriz. E soube, naquele momento, que não podíamos ficar ali por mais tempo.


— Vamos para outro lugar? — Pedi, com mais esforço do que gostaria de admitir.

Agarrei a sua mão e começamos a andar pela multidão, a minha mente apenas focada em encontrar um canto isolado onde pudéssemos continuar o que tínhamos começado. Contudo, antes de conseguirmos sair, um puxão fez-me parar abruptamente. Virei-me e dei de caras com Mari, de braços cruzados e uma expressão furiosa no rosto.

— Vocês não estão a pensar ir embora sem mim, pois não?

Beatriz respirou fundo e respondeu, tentando manter-se séria:

— Claro que não, Mari… Nós estávamos à tua procura.

Mari arqueou a sobrancelha, desconfiada.

— Imagino… — Murmurou, batendo o pé. — Esta noite foi um desastre, Beatriz. Eu não me diverti nada!

Ri, sabendo que o seu drama estava longe de ser verdadeiro.

— Prometo que da próxima vez correrá melhor… — Disse Beatriz, tentando acalmá-la.

Porém Mari não estava disposta a perdoar tão facilmente.

— Não! Eu não saio mais contigo!

Antes que pudéssemos responder, virou-se na minha direção.

— Claire, vamos dançar?

A sua súplica apanhou-me de surpresa. Abri a boca, mas não encontrei palavras. Olhei para Beatriz, que suspirou frustrada e cruzou os braços.

— Agora? — Perguntei, esperançosa de que ela mudasse de ideia.

— Sim, agora. Por favor, só uma música. — Disse Mari, já me puxando pelo braço.

Voltei a olhar na direção de Beatriz uma última vez. Ela apenas encostou-se à parede, observando-nos. A minha vontade de dançar naquele momento era inexistente. O que eu realmente queria era sair dali com ela e deixarmos tudo o resto para trás. Mas Mari não me deu escolha. A música começou, e ela começou a mover-se, incentivando-me a acompanhá-la. Suspirei e tentei entrar no ritmo, no entanto os meus olhos procuravam outra coisa. Procuravam por ela. Ela estava ali, encostada à parede, com um pequeno sorriso nos lábios enquanto me observava.

Mas então, o seu sorriso desapareceu. Segui o seu olhar e vi a mesma mulher de antes a aproximar-se dela. Senti o sangue ferver. Os seus olhos encontraram os da morena, e uma troca de palavras começou entre as duas. O desconforto que subiu pelo meu corpo foi quase insuportável.

— Mari… vamos embora. — Supliquei, sem tirar os olhos de Beatriz.

Mari seguiu o meu olhar e soltou um suspiro pesado.

— Tu és impossível, Claire…

Porém eu já não a ouvia. Sem trocarmos mais palavras, caminhámos na direção da Beatriz. Assim que chegámos, ambas nos olharam, e inevitavelmente, os meus olhos encontraram os da morena que me avaliava com atenção.

— Vamos embora, Bia. — Disse Mari, quebrando o silêncio.

— Vamos. — Murmurou Beatriz, a sua voz mais baixa do que o normal.

Antes de sairmos, virou-se para a mulher ao seu lado.

— Até uma próxima.

As suas palavras foram educadas, contudo o gesto seguinte não deixou espaço para dúvidas. Entrelaçou os seus dedos nos meus e puxou-me para a saída. O toque da sua mão era quente, firme. Meu peito apertou, sabendo que, desta vez, não iria deixá-la escapar.


O Audi aproximou-se, e Beatriz abriu a porta para nós.

— Para a casa da Mari, por favor. — Pediu ao motorista.

A viagem decorreu em silêncio. Mari foi a primeira a sair do carro, despedindo-se apressadamente. No banco ao meu lado, Beatriz parecia perdida nos próprios pensamentos, os seus olhos presos em mim. Mordi o lábio antes de perguntar, indecisa:

— Bih, vamos para minha casa?

Os olhos dela brilharam de surpresa. Demorou um segundo a reagir, mas acenou com a cabeça antes de falar com o motorista. Assim que chegámos, saí do carro primeiro, apressando-me a abrir a porta da entrada. Fiquei algum tempo ali, observando-a enquanto dispensava o motorista.

Ela caminhou até mim, e entrámos juntas.

— Queres comer alguma coisa? — Perguntei, tentando ignorar a tensão que se instalava entre nós.

— Sim, por favor.

— Espera um pouco.

Fui para a cozinha, preparando algo rápido, tentando acalmar o ritmo acelerado do meu coração. Ao regressar à sala, carregava um tabuleiro com dois copos e duas sanduíches.

Beatriz olhou-me por um instante antes de perguntar, num sussurro:

— Os teus pais estão em casa?

— Não…

— Quando chegaste?

— Hoje…

Ela mordeu o lábio, pensativa.

— Aconteceu alguma coisa que te fez apanhar o avião antes do tempo? — A sua voz estava reticente, desconfiada.

Desviei o olhar.

— Não aconteceu nada. — Respondi, tentando tranquilizá-la.

Não pareceu totalmente convencida, contudo decidiu não insistir. Um silêncio instalou-se antes desta murmurar:

— Não sabia que a garota ruiva também iria nessa viagem…

Pisquei algumas vezes, surpresa pela mudança súbita de assunto.

— Não se passa nada entre nós. — Disse com sinceridade. — O que se passou na sexta não se voltou a repetir.

Ela abaixou a cabeça e, num tom quase inaudível, perguntou:

— Vocês partilharam o quarto?

Inclinei-me no sofá, cruzando os braços.

— Eu partilhei o quarto com outra menina. Éramos quatro. — Fiz uma pausa, observando-a. — Estás com ciúmes?

Beatriz baixou ainda mais o olhar, claramente envergonhada.

— Eu estava insegura… — Admitiu num murmúrio.

Sorri, achando graça à sua hesitação. Aproveitei o momento para mudar o foco da conversa.

— Aquela mulher com quem estavas a dançar… Ela pareceu-me familiar. Quem era?

            Levantou a cabeça, os olhos cautelosos.

— Emma. É amiga da minha mãe.

Recordei-me vagamente de tê-la visto em alguns jantares organizados pela família da Beatriz.

— Parecia interessada em ti… — Comentei num murmúrio, tentando esconder o incômodo que isso me causava.

Esta encarou-me com intensidade.

— Mas eu não estou interessada nela. — A sua voz era suave, mas firme.

Engoli em seco. Ela levantou-se lentamente, e eu continuei sentada, observando-a. A sua presença era magnética. A forma como caminhava na minha direção, vagarosa e segura, fez o meu coração acelerar. Parou diante de mim, ajoelhando-se para que os nossos olhos ficassem à mesma altura. A sua proximidade fez o ar rarear.

— Diz-me qual é a tua decisão. — Pediu num sussurro, a voz carregada de emoção.

Sorri levemente, abaixando a cabeça por um breve momento antes de voltar a encará-la.

— Tu pediste tempo. Então, tu irás falar primeiro. — Respondi, desafiando-a.

Os seus olhos faiscaram, e um pequeno sorriso surgiu nos seus lábios. Segurou as minhas mãos com força, entrelaçando os dedos.

— Eu tenho pensado em ti o tempo todo. Independentemente da distância, do tempo que passámos afastadas… Eu nunca consegui esquecer-te.

Suspirou, fechando os olhos por um breve instante antes de continuar:

— Eu não quero só a tua amizade. — Murmurou.

O seu tom era carregado de vulnerabilidade, e isso fez com que o meu coração se apertasse.

— Eu preciso de mais…

Levantou a mão hesitante, e percebi que os seus dedos estavam a tremer levemente. Acariciou o meu rosto com delicadeza, e eu estremeci sob o seu toque.

— Eu quero beijar-te, tocar-te…

A sua voz falhou no final. Antes que pudesse dizer mais alguma coisa, interrompi-a.

— A minha decisão.

Ela ficou tensa, esperando. Respirei fundo antes de continuar:

— Nós precisamos de voltar a aproximarmo-nos, de nos conhecermos outra vez. Passaram-se dois anos, Bih. Tu mudaste, eu mudei.

Os seus olhos encheram-se de um brilho indefinível, e percebi que ela não gostava do rumo da conversa. Toquei o seu rosto, obrigando-a a olhar para mim.

— Mas isso não significa que eu não sinta o mesmo que tu.

A sua respiração ficou presa na garganta.

— Eu também quero algo mais do que a tua amizade… Então vamos tentar. Mas com calma. Vamos ver o que acontece?

Ela ficou alguns segundos em silêncio, assimilando as minhas palavras. Então, num gesto espontâneo, segurei o seu rosto e beijei-a com ternura. Foi um beijo lento, carregado de emoção. Deslizei os dedos pelo seu rosto, sentindo a sua pele quente sob o meu toque. Quando nos afastámos ligeiramente, os seus olhos estavam semicerrados, a respiração entrecortada. E então, sem pensar muito, murmurei:

— Dorme comigo…

Os seus olhos arregalaram-se de imediato, e o nervosismo instalou-se no seu rosto. Ri baixinho, achando graça à sua reação.

— Acalma-te, Bih. Eu pedi para dormires comigo, nada mais do que isso…

Ela relaxou visivelmente, mas, mesmo tentando ignorar, não pude evitar sentir uma leve ponta de deceção. Porque, no fundo, eu sabia. Com ela… nada nunca seria só isso.

Suspirei, tentando afastar os pensamentos que ameaçavam tomar conta de mim. Caminhei até à cômoda, abrindo gavetas à procura de algo que ela pudesse vestir. Depois de alguns segundos de indecisão, escolhi uma t-shirt larga e entreguei-lha. Os nossos dedos roçaram-se por um breve instante, e o toque simples fez um arrepio percorrer a minha espinha. Afastei-me rapidamente, pegando nas minhas próprias roupas e dirigindo-me à casa de banho. Fechei a porta atrás de mim e encostei-me a ela por um momento, respirando fundo.

O silêncio do pequeno espaço amplificava a turbulência dentro de mim. Troquei de roupa rapidamente, vestindo um top e uns shorts leves. Lavei o rosto, tentando apagar qualquer evidência do caos interno que me dominava. Passei a escova pelos cabelos, na tentativa inútil de ocupar a mente. No entanto nada funcionava. O meu coração ainda estava acelerado, e a antecipação deixava-me inquieta. Antes de sair, olhei-me no espelho, encarando-me como se pudesse encontrar uma solução para o que sentia.

Mas não havia solução.

Era Beatriz.

Sempre foi Beatriz.

Soltei um suspiro e abri a porta. No instante em que saí, senti o peso do olhar dela sobre mim. O calor intenso da sua atenção queimava-me a pele, mesmo sem a sua mão tocar-me. Fiz um esforço para ignorar e deixei-a entrar na casa de banho sem dizer nada. Fui até à cama, subindo para debaixo dos lençóis, mas o meu corpo estava em alerta, incapaz de relaxar. Ouvi os seus movimentos no interior da casa de banho, o som da água correndo, o farfalhar das roupas sendo trocadas. Fechei os olhos, tentando forçar-me a adormecer, mas tudo parecia amplificado.

O som da porta a abrir.

Os passos suaves no chão.

O toque leve do colchão cedendo sob o peso dela quando se deitou ao meu lado. O cheiro inebriante da sua pele, misturado com o sabonete que acabara de usar. O silêncio absoluto entre nós, carregado de algo que não ousávamos nomear. O tempo passou, porém eu continuava acordada.

O meu corpo fervia.

O ar parecia mais pesado, mais denso.

O meu coração martelava dentro do peito, e por mais que tentasse manter a respiração controlada, falhava miseravelmente. Desviei os olhos para o lado, observando-a de canto. Beatriz estava ali, deitada ao meu lado, tão perto e ao mesmo tempo tão inacessível. Apenas alguns centímetros separavam-nos, mas a distância parecia imensa. Eu queria sentir o calor do seu corpo. Os meus pensamentos começaram a descontrolar-se, perturbando-me, deixando-me ainda mais inquieta.

Imagens dela, da forma como os nossos corpos se encaixaram na pista de dança, do seu toque na minha pele, da maneira como os seus lábios moveram-se contra os meus…

Mordi o lábio com força, tentando afastar as sensações que ameaçavam consumir-me. Mas era impossível. O desejo queimava, intenso e insuportável. Concentrei-me no teto numa última tentativa desesperada de controlar os meus instintos, contudo já não tinha controlo algum. Beatriz estava ao meu lado. E a única coisa que eu conseguia pensar era em tocá-la.

Fim do capítulo

Notas finais:

Boa tarde

 

Sinceramente eu não tinha planeado escrever este capitulo no ponto de vista da Claire, contudo aproveitei o comentário da Júlia (obrigada pela sugestão) e utilizei este POV para ajudar a prosseguir com a historia.

 

Bom fim de semana para vocês

 

Beijos

 


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Comentários para 12 - Capítulo 12:
FahSwanMills
FahSwanMills

Em: 26/04/2017

Ei leitora nova! :) 

Acabei de ler todos os capítulos e simplismente me apaixonei pela fic, não sem antes sofrer junto com a Bih, ficar magoada como a Claire mais acima e tudo ficar imper mega feliz com a aproximação delas novamente. Quero dizer que concordo com Claire, elas tem que se aproximar, realinhar esse tempo de dois anos perdidos, afinal elas não sabem de si nesse tempo, então isso pode gerar conflitos se ambas não conversarem sobre, precisam se reconectar como amigas e se conhecerem como mulher uma para a outra e nada como um tempo juntas que não ajude! Mais Claire deixa eu te falar amiga, abraça tua mina de conchinha que vc vai dormir confortavelmente rapidinho kkkkk 

Obs: Parabéns Asuna pela minha história. Seguirei aguardando mais capítulos ansiosamente. Bjs até a próxima.:))))


Resposta do autor:

Obrigada pelo comentario

Hahaha ri muito "Mais Claire deixa eu te falar amiga, abraça tua mina de conchinha que vc vai dormir confortavelmente rapidinho kkkkk "

Espero que gostes de proximo capitulo...

beijos

 

 

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ik felix
ik felix

Em: 26/04/2017

Estou gostando bastante da sua estória e irei acompanhá-la. E o próximo capítulo promete! Abraço.


Resposta do autor:

Muito obrigada fico feliz  :)

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Manuela
Manuela

Em: 25/04/2017

No Review

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Val Maria
Val Maria

Em: 24/04/2017

O está muito massa. 

Achei a Clarie muito centrada, porém passou por muitas coisas ruins. Essa MMichaele vai nos encher ainda, mas por enquanto espero que a Bia e Clarie fiquem juntas. 

Aí, essa noite promete, as duas na mesma cama e o melhor, se amam. 

Beijos autora. 

Volta logo. 

Val castro. 

 


Resposta do autor:

Ela passou sim por muito e essa Michelle ainda vai aparecer novamente...

Vamos ver como as coisas correm

Beijo

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Jauregui
Jauregui

Em: 22/04/2017

E eu achando que não era a Claire que ela estava beijando kkk 

Agora quero só ver o que vem pela frente...

Bjoos


Resposta do autor:

Claro que era... quem mais seria? kk

Beijos

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Julia_Sz
Julia_Sz

Em: 22/04/2017

Sofia, fico feliz em contribuir na história de alguma forma, acompanho desde o início e acho as duas um amorzinho.

Adorei ver o ponto de vista da Claire ela passou por várias barras mas foi forte, espero que se entendam logo, mas essa Michelle e Emma ainda vão aprontar..

Beijo 


Resposta do autor:

Agradeço muito a sugestão Julia e fico feliz por não ter desiludido 

Ainda bem que continuas acompanhar e a gostar da historia

Vamos ver se alguma delas apronta...

Beijo

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Lili
Lili

Em: 22/04/2017

Agora sim, um passo de cada vez.


Resposta do autor:

:):)

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lay colombo
lay colombo

Em: 22/04/2017

No Review

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