Capítulo 02 - Playground
Camila
Já se passavam das três da manhã e não conseguia me concentrar mais no trabalho da faculdade. O sono não era mais apenas um coadjuvante e meus olhos tão cansados não tinham mais capacidade de diferenciar sonho de realidade. Tudo que entrava na minha visão já estava em segundo plano, embaçado. Sentia-me em uma realidade alternativa, um universo paralelo, talvez. Em algum momento eu poderia confundir as coisas e me jogar pela janela achando que fosse a cama. Se eu sou exagerada? Não. Apenas mais uma aluna perdida dentro de um curso de filosofia. Se bem que perder-se pode ser estar se encontrando. Na filosofia, tudo pode ter dois ou mais lados. Se encontrar, se perder. A ideia de que a loucura é relativa e a normalidade é uma ilusão. E nesse momento confuso entre sonho e realidade, dormir ou não dormir, ser ou não ser, decido ser possuída pelo espírito de Nietzsche. Mas ao invés de Deus, vou matar o sono e dormir profundamente.
Fui ao banheiro antes me preparar pra dormir. Já era tarde e precisava acordar cedo. Escovei meus dentes e tirei a roupa. Não fazia tanto calor, mas sempre gostei de dormir nua. Não gosto de roupas me segurando, me sinto sufocada e acabo não dormindo bem. É coisa minha. Sempre me senti melhor sem roupa, mais livre. Queria andar pela casa nua. Checar a correspondência nua e andar por aí totalmente nua. Mas algumas coisas são mais complicadas do que outras, então continuo pelo menos dormindo nua.
Deitei na cama, abracei o travesseiro como de costume e fiquei pensando um pouco antes de apagar. Dizem que dormir abraçado com o travesseiro é sinal de carência, não sei se essa teoria funciona pra maioria das pessoas; no meu caso acertaram em cheio.
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Enquanto meus olhos não se fechavam totalmente, eu olhava em direção ao chão. Minha roupa intima jogada, uma pra cada canto. Como se alguém tivesse tirado de mim e arremessado para os lados antes de tocar e beijar suavemente meu corpo. Comecei a imaginar qualquer cena semelhante a uma noite acompanhada de alguém. Qualquer um que me fizesse sentir leve, mas não de sono e sim de prazer. Alguém pra moldar com a língua cada detalhe da minha pele quente, macia, enquanto eu fechasse os olhos e mordesse quase que de forma cênica o meu lábio inferior. Uma mão deslizando pelos meus seios e a outra apertando meu quadril. A boca molhada descendo, já com um caminho arquitetado e sensualmente previsível. Aos poucos meus dedos adormecendo e o clima se aproximando e... E... Não, não, era apenas eu, meu quarto, minhas roupas e a carência esculpida no meu rosto sonolento. Meu corpo formigava, mas eu não entendia tão bem.
Todas as minhas lembranças sexuais – apenas três – não foram tão marcantes. Nunca conheci o ápice da “coisa”. O revirar dos olhos. Sinto-me perdida quando o assunto é “subir pelas paredes”, “flutuar” e pra ser mais objetiva, nunca tive um orgasmo. Estranho? Não! Totalmente plausível. A lembrança que tenho das minhas atividades sexuais – não vou chamar de experiência sexual – é pintada de desconforto, de dor e de algum homem goz*ndo, balbuciando enquanto deita em cima de mim – eles sempre goz*m – e só isso importava pra eles.
De todas minhas lembranças, tanto sexuais quanto apenas de algum amasso no banco de trás de um carro na saída da faculdade, a mais marcante foi com uma garota. Não chegamos até a “terceira base”, mas eu lembro sempre que vou deitar, tomo banho ou me toco. Cada detalhe daquele dia ainda molda meus pensamentos. Quando estou em publico e lembro-me dela, solto um terço da felicidade com um sorriso tímido no canto da boca. Preciso ser discreta pra não atrair perguntas. Quando me pego sozinha no banheiro, meu banho se torna mais demorado do que o normal e meu rosto, meu corpo e minha mente respondem de forma muito mais sincera e direta, exatamente da forma que me sentiria se tivéssemos ido até o fim!
Penso nela quase todos os dias. Imagino como seria se tivéssemos continuado. Como seria se os pais dela não tivessem chegado naquele exato momento. Aquele estudo complexo e infundado sobre a caverna de Platão já havia seguido outros rumos até menos obscuros, menos complexos e muito mais interessantes – a filosofia sempre estará ligada ao sex* – e eu me deixei levar. Depois de um beijo suave e com pausa pra olhos nos olhos, a criatividade da língua dela dentro e fora da minha boca já me fazia molhar e suspirar de leve. Quando eu já sentia seus dois dedos macios descendo e quase dentro de mim, levantei um pouco assustada. Encostei-me à parede e não conseguia dizer nada. Ela caminhava devagar até mim e me pegou – ela tinha uma leveza própria misturada com um toque sutil de agressividade – e me virou de costas pra ela. Sua boca quente e banhada em saliva tocou forte e aterrisou os dentes na minha nuca. Eu parada; olhos fechados, inofensiva. Deixando-me levar por aquele momento de prazer. Sentia-me toda dela. Inteira. Eu queria que ela me tomasse por completo. Quando me virou e mais uma vez esculpiu minha boca com um beijo encharcado e começou o caminho de maestria com seus dedos até o melhor propósito da noite, ouvimos porta abrindo, pessoas falando, gente chegando e paramos por ali. Uma inconveniência inaceitável! Como uma interrupção sem necessidade. Uma parada desagradável. Eu precisava do resto... Ver qual o limite daquilo. Até onde eu iria? Como seria a sensação? A necessidade de querer mais veio junto com a decepção do quase e eu me sentei na cadeira olhando pra baixo, ao mesmo tempo em que me via assustada com aquilo. Com um receio dentro de mim. Uma adrenalina. Uma aventura. Eu me sentia sexy. Tímida. Meu sex* molhado. Minha nunca mordida. Meu corpo formigando e meu caminho interrompido. Mas a certeza de que naquele dia algo maravilhoso aconteceu...
Dei mais algumas reviradas na cama e antes que qualquer outro pensamento pulsasse na minha mente, adormeci.
Acordei já era quase dez horas da manhã, o sol entrou pela janela em contato direto com meus olhos me fazendo saltar quase que instantaneamente da cama. Tomei um banho longo. A outra vantagem de dormir sem roupa é não ter todo o trabalho de se despir pra entrar no chuveiro. É só ligar e entrar. A preguiça e o sono eram nítidos em meu rosto amassado. Mas eu precisava levantar, ia ser uma sexta feira corrida. Alguns trabalhos de faculdade pra terminar e havia prometido pras amigas que essa noite eu sairia com elas. Acredite em mim quando digo que gostaria de passar o final de semana todo em casa, mas dessa vez me rendi a elas e também não tinha mais nenhuma desculpa que pudesse usar para que me deixassem em paz. Ninguém fica doente por três finais de semana consecutivos.
Demorei no banho. Deixei a água cair por um bom tempo sobre mim enquanto pensava. Tenho pensado muito; em tanta coisa... Algumas vezes em nada. Cada banho é um pensamento diferente ou o mesmo de outro aspecto. De outra visão. Mesmo a visão sempre sendo minha. Em algumas eu nem penso, só me toco. Tenho me tocado muito... Eu gosto. Queria que alguém me tocasse. Queria muita coisa. Penso demais! E a água cai.
Saí do banho depois de algum tempo. Vesti-me – detesto roupa – e desci. Preparei um café forte. Gosto muito de café, me ajuda a concentrar. Comi uma fruta, um pão e me preparava pra estudar. Meu dia iria ser só isso já que a noite hoje seria a noite das meninas – Não estou animada – Mas prometi!
Antes de voltar ao meu trabalho de faculdade, uma das amigas com quem irei sair – Julia – ligou pra conversar. Ficamos um bom tempo no telefone. Ela veio me contando sobre um último lance dela com um cara. Um louco. Ficaram juntos uns quatro meses e ela descobriu que ele era meio obcecado por ela – ela tem uma tendência forte em conhecer caras com um passo da psicopatia, o famoso dedo podre – eles terminaram. Ela terminou – quando Julia descobriu que ele sempre estava seguindo ela. Aparecia em lugares que ela estava e ficava escondido olhando pra ela, tirando fotos. Coisas que psicopatas fazem.
Ela me contou que uma vez ele estava do lado de fora da janela da casa dela em cima de uma árvore. Eram histórias pesadas. Eu perguntava o porquê dela não chamar a polícia e ela sempre inventava algo ou dizia que ele não era uma pessoa ruim. Só era incompreendido – Isso me irritava – e ia melhorar. Até que ela me ligou pra dizer que ele passou do limite. Seguiu ela até a casa do irmão e agrediu um dos amigos dele depois de um abraço que ela deu. Gritava dizendo que não queria que ela o deixasse e que não suportaria viver sem ela. Ela chamou a polícia. Ele fugiu. E hoje ela quer sair pra beber e colocar a cabeça no lugar. Sério? Sair depois de algo assim? Eu ficaria em casa sem dúvida alguma. Vai que ele ta por aí. Aguardando e esperando cada passo dela. Credo. Isso inclusive poderia até ser uma desculpa pra tentar convencer de que melhor não fazermos nada e nem sair por aí, mas mantive a promessa e ainda assim iríamos pra noite.
O dia passou numa rapidez que me assustou. Depois de cinco horas de tortura filosófica eu me rendi a um cochilo de quarenta minutos que virou duas horas e percebi que precisava me arrumar, pois logo mais tinha que sair. Tinham várias mensagens e ligações delas, todas perdidas. Eu realmente apaguei! Confesso que foi bom. Precisava dormir depois de uma noite se revirando na cama e de uma tarde regada a conceitos Aristotélicos e pirâmides do Egito. Parecia história da arte. Sentia meu corpo embalsamado e no espelho via a minha cara de múmia. Mas estava mais animada. Decidi tomar um banho mais rápido e me focar em ficar bonita para aquela noite. Sentia-me bem, descansada e sexy. Precisava aproveitar isso.
O relógio marcava exatamente 22hrs quando elas apareceram pra me buscar. Eu decidi sair mais “solta hoje”: coloquei um salto médio, um vestido preto aberto nas costas e caprichei na maquiagem, cílios postiços longos e bem delineados. Eu estava me sentindo confiante e realmente descansada. Esqueci um pouco os problemas que existiam, os quais me atormentavam e desanimavam horas atrás e agora queria aproveitar a noite. Beber com elas, sorrir e esperava por coisas boas.
Chegamos ao barzinho e sentamos perto da calçada. Eu não me sentia bem em lugares muito fechados e lotados. Tomamos todas. Ou melhor, todas as doses de tequila possíveis. Eu já via tudo meio embaçado quando decidimos dar um tempo. Roberta não saia do celular. Julia ria bastante e contava piadas divertidas. Eu só bebia para acompanha-las, pra não ser chamada de chata. Sempre fui uma maria-vai-com-as-outras.
Fui ao caixa acertar minha comanda e quando voltei, Julia estava branca e suas mãos tremiam. Ela tinha acabado de atender uma ligação.
- O que foi Ju? – Roberta perguntou preocupada
- Era o Bruno. Meu ex.
Ela olhava para frente fixamente, eu ainda estava de pé e me sentei no mesmo instante ao seu lado.
- O que ele queria? – perguntei nervosa
- Disse que me viu aqui bebendo com vocês e que precisa falar comigo pessoalmente.
- Meu Deus, esse cara não se enxerga? – Roberta disse revoltada
Saímos de lá bem rápido. Julia disse que viu o carro dele passando por nós antes de entrarmos no carro. Ela estava fria e trêmula. Tentamos acalmá-la, dizendo que o nervoso só piorava as coisas. Não adiantou muito pois tivemos certeza de que era ele nos seguindo. O taxista compreendeu a situação e mudou o caminho, tentando nos ajudar. Eu estava assustada, um pouco bêbada e confusa. Entramos em uma vicinal que nos levou em um bairro mais afastado do centro. Eu nunca tinha ido lá, nem as meninas. O homem barbudo que dirigia o carro e parecia se preocupar com a nossa sobrevivência disse que seria melhor nós trocarmos de carro para poder despistá-lo. Ele já tinha se perdido de nós, mas realmente, era uma opção mais segura.
Julia tremia menos quando descemos do veículo. Eu carregava minha bolsa em um braço e com o outro, segurava em sua cintura. Ela tinha razão em ficar daquele jeito. Cara doido.
- Ta... E agora a gente faz o que? Não tem táxi nenhum nesse fim de mundo! – Roberta gesticulava depois de pagar a corrida
- Eu não sei... – Julia respondeu olhando para os lados
- Tem uma boate ali. Quer dizer, parece ser uma boate. – comentei fechando os olhos para enxergar o nome do local em Neon
- A gente precisa sair daqui... – Julia nos alertou – Ele pode passar aqui e nos ver... Não tem ninguém nesse lugar pra nos ajudar.
Ela tinha razão. Alguns carros passavam, poucos. Roberta tentava sinal no celular.
- Porque não vamos até aquele lugar? Tem um segurança na porta. – apontei
- A gente nem sabe que tipo de lugar é esse, Camila. – Roberta falou irritada – Pode ser que esteja tocando funk lá dentro!
Fiz uma cara feia pra ela. Eu só estava querendo ajudar.
- Vamos lá. Não tem outro jeito. Aí perguntamos pra alguém sobre algum ponto de táxi aqui perto. – Julia disse já andando
- Vocês vão mesmo? – Roberta gritou ao ficar um pouco pra trás
- Vem logo! – chamei
Roberta se juntou a nós e chegamos à frente da boate “Freedom”. Era estranho, nunca tinha escutado falar desse lugar. Apresentamos o RG, pagamos a entrada – barata – fomos revistadas por uma mulher de cara fechada e entramos. Fomos direto para o bar, estávamos com sede.
Ao olhar ao redor, percebemos que era uma boate um pouco diferenciada. Tinha algumas garotas de lingerie e purpurina dançando no palco – bem sensuais – e ganhando dinheiro nas calcinhas e meias. Quando eu vi que mulheres também davam dinheiro para elas, meu coração acelerou. Talvez seria uma balada gls. As meninas acharam graça daquilo tudo e riram dizendo que se tudo desse errado, virariam dançarinas. Pra mim não era nada engraçado. As meninas tinham um corpo maravilhoso e sem pudor algum. Comecei a me excitar ao ver uma delas tirando a parte de cima exibindo os seios.
Julia já estava mais calma e fazia brincadeiras. Roberta até deixou o celular de lado. Eu comecei a reparar mais e mais nas pessoas ao nosso redor. A maioria era mais velha e alguns usavam – que coisa mais estranha – uma máscara. Eram parecidas com essas de carnaval, só que todas pretas.
“Devia ser uma festa temática naquele dia ou algo assim.” - Pensei com meus botões.
Por isso que eu odeio cerveja: da uma vontade insana de ir ao banheiro. E eu fui, mesmo sem saber o rumo. Segui algumas placas e ao entrar, estava vazio. Respirei aliviada. Queria poder fazer meu xixi em paz. Existe coisa pior do que ter que fazer as necessidades com pessoas ao redor? Eu sei que existe. Mas no momento, naquele, era a pior.
Resolvi – não sei por que, me pergunto até hoje – retocar a maquiagem antes de ir ao reservado. Meu delineador estava borrado, talvez por causa do momento tenso no táxi. E então, nesse exato instante, toda minha vida mudou. Se foi pra melhor ou pior, eu ainda não descobri.
Ela entrou no banheiro. Ela, a mulher mais sedutora e enigmática de todo o meu universo. Morena, alta, com um sobretudo – aberto – até os calcanhares. Pelo espelho eu me atrevi a olhar o seu despudor. Ela vestia um corselet de couro que fazia volta em seu pescoço e um short preto muito curto. Com um sorriso desconcertante e uma máscara que tapava a parte dos olhos, ela olhava – todo meu corpo - pra mim e mordia o lábio inferior. Eu estava em um estado de clímax visual, não soube como reagir. Voltei a realidade quando quase derrubei o rímel. Ela se aproximou – bastante – e fez perguntas. Propôs que eu passasse a noite com ela. Sexo? Ela me propunha isso? Um calafrio subiu pela minha espinha, junto com toda a lubrificação que me encharcava embaixo da calcinha.
Não houve esquiva. Ela se aproximou e fez o que queria, como queria. Eu me sentia mole, podia desfalecer a qualquer momento. Fui beijada. Retribui. Sentia o corpo dela junto ao meu, quente, fervendo. Segurei em sua cintura, meus cabelos foram puxados – com força, muita força – e eu gemi. Sua boca descia por meu pescoço e meus olhos já não conseguiam ficar abertos. Eu me apertava contra ela, queria mais contato.
Fomos interrompidas. Tive vontade de esganar aquelas duas! Mas o caso era sério. O Bruno voltou, aquele infeliz filho de uma puta! Além de atrapalhar a vida da Júlia, atrasava a minha. Quis morrer. Saí atrás delas cumprindo meu papel de amiga, de companheira. Senti uma mão me puxando o braço e disse meu nome. Orei – naquele momento – pra que ela não esquecesse as letras.
Cheguei em casa duas horas depois. Fomos embora com um táxi chamado pelo segurança. Caríssimo! Bandeira dez, eu acho! Meu sono foi interrompido pela vontade de ser possuída. Eu nunca desejei tanto fazer sex* em toda minha vida! Masturbei-me e g*zei algumas vezes, não contei quantas. Dormi com os dedos enrugados, cheirando a tesão.
A semana foi difícil por conta da minha possível mudança de faculdade. Eu estava apreensiva com o resultado, ele sairia em poucos dias, mas não tinha uma data. Desisti de tentar achar o endereço da boate. Passei três noites na internet procurando pelo nome Freedom e o máximo que eu encontrei foi um puteiro. Não fazia sentido... E eu precisava voltar lá, eu queria repetir, queria mergulhar nela. Seus olhos eram brilhantes como duas jabuticabas lavadas. E o sorriso malicioso, cheio de vontade de me engolir.
Cheguei ao ponto de pouco me importar com a transferência. A vontade de vê-la de novo ultrapassava minha sanidade. As aulas entravam por um ouvido e saiam pelo outro. Passava a maior parte do tempo mordiscando a tampa da caneta, lembrando.
Na quinta, resolvi usar a inteligência que ainda me restava e liguei para a empresa de táxi que nos levou embora. Com uma descrição detalhada, consegui o celular do homem que nos cobrou os olhos da cara. Ele me passou o endereço, era longe, muito longe. A cidade era grande, consideravelmente. Mas eu voltaria lá e estava morrendo de medo – e ansiedade – de não encontra-la.
Como se minha vida já não fosse difícil o suficiente, fui barrada na portaria. O segurança veio com umas perguntas estranhas, cheias de entrelinhas. Que diabos era aquele lugar?
“Você conhece as regras?” – ele disse. Regras do que, cidadão? Entrei depois dele rir da minha cara e me chamar de novata. Era um insulto? Desconsiderei. Entrei, peguei uma cerveja – a minha preferida – e fiquei perto da pista, notando que algumas pessoas ainda usavam máscaras. Fiquei receosa. Que tipo de lugar era aquele? Se eu parasse pra pensar, com certeza acharia estranha aquela intimidação no banheiro, tão solta, desinibida. E a roupa que ela vestia?
Enquanto me questionava, passeava os olhos sobre todas as pessoas que curtiam a noite. Não eram muitas e com certeza todas elas tinham o mesmo guarda-roupa.
Meus pensamentos tumultuaram-se assim que eu a vi. Como era linda! E gostosa... Ela pôs os olhos em mim de um jeito canibal. Fiquei vermelha e excitada, como se um botão tivesse sido apertado. Tinha muita luz ali e eu queria conversar com ela, conhece-la, saber seu nome. Não era justo só ela saber o meu. Caminhei para um local mais vazio e ela me seguiu.
Fiquei próxima a parede, com a garrafa na mão. Ela chegou, se aproximando do meu ouvido. Usou uma mão para afastar meu cabelo. Arrepiei inteira!
- Preciso terminar o que comecei. – ela disse rindo. Seu hálito era de álcool, mas não desses desagradáveis.
Eu sorri ainda tímida. Não sabia como reagir, não tinha um plano arquitetado, nem frases ensaiadas.
- Camila... – ela disse colocando o dorso da mão na minha bochecha, acariciando de leve
- Prazer. – eu disse, tentando ignorar a sensação
- O prazer é realmente seu. – ela voltou a dizer
- Porque a máscara? – perguntei me aproximando do seu ouvido
- Você não sabe? – ela perguntou surpresa
Eu deveria saber alguma coisa em especial? – pensei
Fiz que não com a cabeça e tomei o último gole.
Ela sorria com uma alegria imensa e eu comecei a achar que era por eu não me dar conta de onde estava realmente me enfiando.
- Eu vou te mostrar!
Ela pegou minha mão e começamos a andar por entre as pessoas, até chegarmos ao corredor dos banheiros. Realmente, eram muitos banheiros... Ou depósitos. Tinha muitos cômodos aquela boate.
- Nós não podemos entrar, mas podemos ver. – ela disse com o dedo indicador nos lábios, sinalizando um pedido de silêncio
A maçaneta girou. Uma pequena fresta se abriu e ela deu espaço para que eu espiasse. Meus olhos se encantaram com o que viram. Era praticamente um quarto de motel luxuoso e cheio de fantasias eróticas penduradas em uma armação de aço. A cama era grande, redonda e com alguns botões do lado direito. Notei também um banco com – dildos? – objetos acoplados. Um armário grande e negro fazia parte da decoração também, com seis gavetas todas com fechaduras.
- O que é isso? – perguntei sorrindo, incrédula
Ela mordeu os lábios, me olhou de cima abaixo sem disfarçar e aproximou sua boca da minha.
- Um tipo de... Playground.
Antes de eu poder entender a resposta e ter a chance de escutar seu nome, colamos nossas bocas. A porta fechou-se e ela me encostou em uma parede vermelha a frente. Suas mãos encontraram a abertura traseira do meu vestido, nas costas, e as unhas me arranharam. Era muito dolorido, sentia minha pele rasgando.
- Quem é você? – perguntei sem ar algum nos pulmões
- Emma... Emmanuelle.
Fim do capítulo
Obrigada a todas as meninas lindas que se despuseram a comentar o primeiro capítulo! Se não houvesse esse feedback, certamente eu desanimaria de alguma forma. Como eu sempre digo, o reconhecimento é o segredo para mover as entranhas da inspiração.
Voltem sempre, por favor!
Comentar este capítulo:
Vanessaduda
Em: 03/07/2020
Moça...por favor volta a escrever essa história 😅ðŸ™
ðŸ˜ðŸ˜˜
Cristiane Schwinden
Em: 27/04/2017
Que gostoso ver a história pela visão da mocinha "inocente", adorei!
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Lary_ferreira
Em: 20/04/2017
Aiii mds isso é demais pra mim kkkkkkk
Encantada no primeiro capítulo, apaixonada pelo que acabei de ler
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