Capítulo 18 - Benefício da dúvida
Carol estava até aquele momento com um dos braços envolta da minha cintura em um abraço, mas ao perceber o olhar da
cantora, senti o contato se afrouxar e o seu corpo se enrijecer. Furtivamente lancei um olhar para ela e notei que ela me
observava, como se estivesse procurando por um sinal de que eu havia reparado no que estava acontecendo. Eu não sabia o que fazer, não queria ser o tipo de namorada neurótica que cria intrigas por causa de conversinha de ex, eu sabia que minha percepção poderia estar sendo influenciada por aquele papo de mais cedo. Mas pela reação de Carol, eu sabia que algo estava acontecendo ali.
Resolvi dar a ela o benefício da dúvida.Botei em meus lábios o melhor dos sorrisos e me virei lhe presenteando com um
beijo caloroso que foi prontamente retribuído. Ao desfazer aquele contato, pude ver que a tal ex nos observava com um
misto de desprezo e curiosidade no olhar.
A partir dali, decidi colocar de lado as neuras e apenas aproveitar aquela noite junto de Carolina. Ela havia acabado de
dizer que me amava, não tinha porque eu desconfiar assim.
****
Chegamos em casa já com o dia quase amanhecendo, depois que decidi curtir a noite, acabei me divertindo muito com Carol e
seus amigos. Levemente alterada pela bebida, Carol havia libertado dentro de si um fogo até então desconhecido para mim.
Assim que fechamos a porta daquele quarto, ela grudou seu corpo ao meu e, sem nem ao menos se dar ao trabalho de tirar
minhas roupas, subiu uma de suas mãos por minha perna a levando até sua cintura onde ficou apoiada, sem nenhum aviso
prévio, afastou minha calcinha de lado e penetrou meu sex* com voracidade. Me senti desfalecer em seus braços e mais uma
vez me entreguei a ela. Nos amamos com ardor e somente quando a exaustão tomou conta de nossos corpos, nos permitimos
dormir. Os corpos colados, emaranhados um no outro.
****
Aquele final de semana passou bem mais rápido do que eu esperava e naquela noite de domingo fui forçada a encarar a
realodade do tal namoro â distância.
Carol me levou â rodoviária e eu podia ver claramente que ela odiava aquele momento tanto quanto eu.
-- Você não pode mesmo ficar um dia ou dois mais? - estavámos em pé na plataforma de embarque esperando a chegada do
ônibus, ela me abraçava fortemente como se nao quisesse deixar que eu fosse embora.
-- Infelizmente não, uma realidade chamada trabalho me aguarda. Mas nem ficaremos longe por tanto tempo assim, volto daqui
a dois finais de semana, nem vai dar tempo de você sentir minha falta. - havíamos combinado assim, nos veríamos de 15 em
15 dias, quem estivesse com a menos carga de trabalho iria para a cidade da outra. Como eu não trabalhava aos finais de
semana e naquele momento a faculdade estava tranquila, caberia a mim a próxima visita.
-- Você não está entendendo, eu já estou sentindo sua falta. Estou com saudade antecipada - Ela falava com uma voz dengosa
que me fazia sorrir por dentro e por fora.
O ônibus chegou e nos despedimos com um beijo carinhoso e cheio de saudades, entrei, me acomodei e ao olhar pela janela,
pude ver Carol do outro lado, ela estava cabisbaixa observando a movimentação dos passageiros e por fim a partida, ela
ainda acenou um tchau que retribuí com o coração apertado. Encostei minha cabeça na janela e senti uma lágrima solitária
escorrer por meu rosto, só então percebi que não seria tão fácil.
****
Cheguei em casa passando de meia noite, assim como Carolina havia pedido, a informei de minha chegada e fui tomar um banho
para dormir, eu estava exausta e no dia seguinte sabia que teria que acordar bem cedo.
Eu estava passando pela cozinha em busca de um copo de leite com bolachas quando encontrei Fernanda.
--Onde você se meteu, mulher? - perguntou escandalosa.
-- Menina, nem te conto! - narrei a ela todos os acontecimentos daquele feriado, falei inclusive sobre a conversa com a
tal ex e o acontecido com a cantora. Ela também concordou que eu talvez estivesse tendo uma visão meio distorcida das
coisas e me aconselhou a dar o benefício da dúvida à Carol.
Aquela semana se seguiu tranquila, eu sentia uma paz gostosa, era maravilhoso. Mas é como puvi dizer em algum lugar, toda
calmaria atrai uma tempestade. Minha tempestade começou na sexta à noite. Eu havia acabado de sair da aula, passei no
posto de gasolina em frente à faculdade, comprei uma latinha de cerveja e descia a rua distraidamente quando fui abordada
por um rosto conhecido: Juliana.
--Diana, podemos conversar? - Ela perguntou se aproximando de mim.
-- Não temos mais o que conversar. - Respondi sem nem mesmo parar de andar.
--É assim que você me agradece por todo o tempo que passamos juntas? Diana, eu sou louca por você, só quero a chance de
poder te mostrar isso.
-- Juliana, nós não temos mais nada e isso já tem um tempo! Mesmo enquanto vivíamos juntas aquele relacionamento já estava
acabado! Nunca percebeu que eu não te suportava mais? Não notou que há muito tempo nem mesmo permitia que você tocasse meu
corpo? Você se tornou uma pessoa bem diferente daquela que eu conheci, uma pessoa que eu aprendi a ter nojo! Então apenas
esqueça que eu existo, segue a tua vida! - falei aquilo tudo de uma vez só, estava cansada desse papo furado de Juliana.
-- Pelo visto você já seguiu a sua, não é mesmo?
-- Sim, eu segui! Encontrei alguém que realmente me ama e me quer bem! Então me deixa em paz e siga sua vida!
Tudo aconteceu muito rápido, ouvi quando Juliana gritou um "vagabunda" e em seguida me lembro de suas mãos me empurrando.
Ouvi a buzina do carro e senti meu corpo batendo no que depois descobri ser o capô, estilhaços de vidro cortaram a minha
pele e então eu senti o asfalto contra o meu rosto.
Depois disso tudo se tornou um borrão, me lembro de ouvir sirenes, vozes que falavam em possiveis fraturas. Eram muitos
ruídos misturados. Apaguei.
Acordei com uma luz branca que incomodava meus olhos, tentei mexer meu braço mas senti uma dor terrível e senti que puxei
algo com aquele movimento. Olhei para o lado e encontrei a imagem de Fernanda sentada em uma cadeira, avistei também o suporte do soro. Só então me dei conta de onde estava e comecei a me recordar do que havia acontecido.
Fernanda percebeu que eu estava acordada e veio em minha direção.
-- Como você está? - perguntou visivelmente preocupada.
-- Estou bem! O que aconteceu? Quando vou poder ir embora?
-- Calma mulher! Você está aqui somente há algumas horas, vai ter que passar a noite em observação porque bateu com a abeça durante a queda. Você também teve algumas escoriações, uma fissura em um osso da face e do punho. Mas fique tranquila, daqui a pouco vamos para casa. - eu não havia me dado conta do meu real estado até Fernanda me situar, nem mesmo noção de quanto tempo estava ali eu tinha.
-- E o que aconteceu com Juliana?
-- Algumas testemunhas viram o que aconteceu e não permitiram que ela saísse do local, ela foi para a delegacia prestar esclarecimentos. Provavelmente alguém virá falar com você em algum momento também.
-- E Carol? Ela me ligou ou algo assim? - perguntei pois sabia que ela estaria preocupada, já que era um costume nosso conversar todos os dias após eu chegar em casa.
-- Na verdade não chequei! - respondeu Fernanda indo até minha bolsa, pegando meu celular e me estendendo.
Notei que não havia nada, porém ela estava online no WhatsApp. Mandei um "oi" e esperei que ela respondesse, eu me sentia meio carente, queria um colo de namorada. Ela não respondeu e eu conclui que ela estava ocupada com algum trabalho de edição ou algo assim. Botei o celular de lado quando o médico passou explicando meu quadro e só fui pegá-lo de volta na manhã seguinte quando fui para casa junto com Fernanda. Me decepcionei ao perceber que não havia nenhuma resposta de Carol.
Como Fernanda havia previsto, antes de eu receber alta policiais vieram falar comigo. Relatei os fatos e fiquei à disposição para prestar maiores esclarecimentos caso se fizesse necessário. Mas tendo em vista a expressão desinteressada dos oficiais, logo concluí que nunca mais os veria. Provavelmente depois dessa Juliana seguiria seu caminho feliz, como se nada tivesse acontecido.
****
Somente quando cheguei em casa fui me olhar no espelho e me dar conta do estrago. Meu rosto estava inchado do lado direito embaixo do meu olho e havia uma marca roxa. Meu punho esquerdo estava imobilizado com uma faixa que só seria retirada na próxima quarta-feira e eu tinha vários ferimentos pelos braços, ombros e pernas, já que quando aconteceu eu estava usando um vestido.
Fernanda se ofereceu para me ajudar com um banho, mas eu neguei. Precisava ficar um pouco sozinha e não queria lhe dar trabalho. Assim que ela saiu do quarto, me despi, com certa dificuldade e tomei um banho demorado. Só naquele momento permiti que as lágrimas corressem. Chorei pensando na furada que tinha me metido ao me relacionar com alguém como Juliana. Eu me sentia estúpida por ter passado por aquilo por todo aquele tempo e por estar ali naquela situação.
Saí do banho e me vesti com uma roupa confortável. Olhei meu celular e percebi que não havia nenhum retorno de Carolina, tentei ligar, mas ela não atendeu. Frustrada, me joguei na cama e perdi algum tempo ali passando de canal em canal na TV.
Acabei adormecendo e quando acordei já passava das três da tarde. Entediada, fui navegar pelo Facebook e me surpreendi ao ver uma foto de Carol em uma festa à beira de uma piscina cercada de amigos. Agora estava explicado o porquê de ela não ter atendido! A decepção só aumentou quando vi uma outra foto dela com ninguém mais, ninguém menos que a talzinha que conheci na festa. As duas apareciam sorrindo e abraçadas de lado. Novamente me pus a questionar a seriedade deste relacionamento. Não que eu me importasse por ela ter saído, nunca fui o tipo de mulher que regula cada passo da namorada. O que me chateava era a ausência dela.
Me limitei a desligar o aparelho celular. Voltei minha atenção novamente para a TV e me esforçei ao máximo para prestar atenção ao que estava vendo. Meu esforço funcionou. Quando dei por mim já estava anoitecendo. Fernanda entrou no quarto trazendo um lanche que comemos juntas mas em silêncio. Eu não precisei dizer que havia algo errado, ela simplesmente percebeu e respeitou aquele momento.
Estávamos terminando de comer quando a campanhia tocou. Fernanda foi atender e voltou para o quarto trazendo consigo Luíza.
Era evidente que ela estava completamente sem graça, mas ainda assim eu podia notar o seu olhar preocupado percorrendo meus ferimentos.
-- Oi... eu.. eu estava passando por aqui... bom, eu vi o que aconteceu ontem, precisava saber como você estava... - ela falou transparecendo um carinho enorme naquela voz grave.
-- Eu não quero te incomodar... se você preferir, eu posso ir embora... - só então percebi que eu não havia dito nada ainda, eu estava ocupada admirando aquela mulher maravilhosa que estava ali diante de mim.Eu não a olhava mais com olhos de mulher, mas com olhos de admiração e carinho.
-- Você não incomoda Lú, nunca. Entra! - Ela entrou e se sentou na beirada da cama.
-- Bom... como você está se sentindo?
-- Estou bem, na medida do possível. A dor já melhorou consideravelmente! Na quarta tiro essa coisa do braço e na quinta mesmo volto ao trabalho.
-- Que bom! Eu... eu fiquei muito preocupada quando te vi lá no chão. Eu queria ter ido com você naquela ambulância, mas só permitiram aquela sua amiga que estuda com você e eu nunca lembro o nome.
-- Não precisa se preocupar, eu estou bem agora! Foi só um susto!
Um silêncio constrangedor tomou conta do quarto, mas Luíza fez questão de quebrá-lo com aquele jeitinho que era só dela.
-- Estava pensando aqui, sabe do que você precisa? Um balde gigante de pipoca, refrigerando, um monte de chocolates e uma maratona daquelas comédias românticas que você adora! Fica aqui que eu já volto! - Sem nem me dar tempo de responder, ela saiu do quarto para voltar cerca de quarenta minutos depois com tudo aquilo que ela havia prometido e Fernanda a tiracolo.
Passamos boa parte da noite ali, as três rindo e se empanturrando de guloseimas, eu me senti leve, finalmente leve depois de todo aquele caos.
Não percebi quando ao certo peguei no sono, mas acordei em um determinado momento e percebi que Fernanda não estava mais ali. Luíza cochilava com a cabeça apoiada em meu ombro.
Fazendo o possível para não acordá-la, a acomodei da melhor forma possível, me deitei na metade livre da cama e nos cobri. Senti que ela me abraçou pela cintura, mas eu sabia que não havia maldade ali, apenas um carinho enorme.
Na manhã seguinte quando acordei, encontrei somente um bilhete deixado por Luíza agradecendo a noite e dizendo que saiu cedo demais para me acordar, mas que se precisasse de algo podia ligar para ela.
Ainda fiquei ali fazendo hora por algum tempo, até ter coragem de me levantar e cuidar da vida.
Já era de tarde quando liguei novamente meu celular. Haviam várias mensagens e ligações de Carolina. Ela se desculpava por não ter me atendendido antes e pedia para eu atender.
Resolvi que não queria responder, eu não estava disposta a ser um brinquedinho que estava sempre disponível quando ela bem queria. Deixei o telefone no silencioso e voltei a ver os filmes que selecionamos na noite passada.
Somente no final da noite quando resolvi atender Carolina. Ela estava extremamente doce e tentava se desculpar de todas as formas por não ter atendido.
Eu resolvi continuar com o benefício da dúvida e deixar para lá novamente, mas no fundo eu sabia que ali estava acontecendo algo de muito errado.
Decidi não contar do ocorrido com Juliana, não queria que ela pensasse que eu estava usando de algum tipo de vitimismo para chamar sua atenção.
No final das contas, apesar daquele final de semana terrível, acabamos por nos entender e já trocavamos carinhos e saudades por telefone.
Fim do capítulo
Boa tarde, meninas lindas!!!
Mais um capítulo de Apenas mais uma! Espero que gostem!!!
Beijos!!!
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Lerika
Em: 20/05/2017
Diana tem que acordar e perceber logo que essa Carolina é uma fria.
Como que ela se acidenta, interrompe o contato por tantos dias e essa namorada não demonstra nenhuma preocupação com o sumiço?? Indignada com esse protótipo de Shane.
Manda o whatsapp dessa ruiva linda pra mim.
Beijos
Val Maria
Em: 14/04/2017
Garota sua estória é perfeita, não pare mais de postar.
Quando uma autora deixa de postar,quem perde somos nós leitoras. Gostei da sua estória desde o início.
Volta logo autora e não deixa de postar.
Bjssss de uma fã apaixonada por sua estória e suas personagens.
Val castro.
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