Fiquei paralisada encarando Carolina por um tempo que não pude mensurar, prossessei perfeitamente cada palavra dela, o sim de sorriso em sua voz... Senti minha pele se arrepiar, sorri de volta mas não conseguia devolver aquelas palavras. Eu gostava dela, estava apaixonada,  mas ainda não era o suficiente para retribuir aquele "eu te amo".
Percebi o sorriso de Carolina mudar, mas ele ainda estava ali.
-- Eu sei que depois de tudo aquilo que fiz, você talvez não consiga ou não queira retribuir minhas palavras e, eu não me importo em não ter uma resposta clara. Me basta saber que você está aqui e nos permitiu ao menos a chance de tentar - lentamente ela se aproximou e tocou meus lábios com os seus. Toda a necessidade de resposta se foi naquele momento. Ela entendia e aquilo me dava a certeza de que valia a pena tentar.
Aquele beijo calmo foi ganhando intensidade, suas mãos passaram a percorrer meu corpo com voracidade, mas ao mesmo tempo com cuidado, novamente fomos nos amamos... Com entrega e ardor, como se ali não houvessem barreiras. Embora eu não houvesse proferido palavra alguma, meu coração estava entregue a ela, ambas sabíamos.
Perdemos a noção de quanto tempo ficamos ali, nos curtindo. Perder a noção do tempo era um fato que acontecia com frequência quando estávamos juntas, percebi. Entre beijos e carícias, nos aprontamos e saímos. Carol tinha um compromisso naquela noite, uma das festas que organizava.
O tal evento aconteceria em um bar não muito distante de sua casa. Fomos andando mesmo, de mãos dadas, curtindo a paz daquela cidade, nos curtindo.
Minha namorada estava linda! Vestia uma calça jeans levemente rasgada nos joelhos com suspensórios e uma camisa branca que contrastava com uma gravata borboleta vermelha que lhe dava um ar bem charmoso.
Enquanto andávamos percebia que ela me lançava olhares.
-- Que foi? - perguntei meio encabulada depois de algum tempo.
-- Você está linda. Consegue ser mais linda ainda assim, de perto - respondeu galante.
Naquela noite eu havia me arrumado com esmero, não costumava ligar muito para essas coisas, mas me senti inspirada. Meus cabelos vermelhos estavam cuidadosamente penteados, meus olhos castanhos bem destacados pela maquiagem e eu estava vestida com um vestido preto soltinho,  curto o suficiente para despertar o ciúme de Carol e destacar minhas tatuagens.
Achei tão fofa aquela resposta de Carol que não resisti, abri um sorriso encantado e lhe beijei os lábios.
Chegamos ao local e logo Carolina avistou seus amigos em uma mesa. Nos aproximamos e ela me apresentou a  cada um, eram muitos e, infelizmente, não consegui memorizar o nome de todos. Eles foram extremamente simpáticos comigo e pareciam me conhecer de longa data, como se Carol falasse muito de mim. Fiquei encantada e ao mesmo tempo envergonhada.
-- Minha linda, eu preciso checar algumas coisas ali dentro, você se importa de ficar um pouco aqui na mesa com o pessoal? - perguntou me beijando os lábios.
-- Claro que não! Vai lá!
-- Eu não demoro... Já já volto pra você - ela disse e em seguida a observei atravessar o salão.
Fiquei ali meio deslocada, meio sem saber o que fazer, onde botar as mãos, até que um dos amigos de Carol, que mais tarde descobri se chamar Gê, veio em meu socorro.
-- Menina, vem cá! Senta aqui do meu ladinho! - disse ele apontando um banquinho ao seu lado. Gê parecia ser um amor, fez questão de me botar ali do seu lado e me incluir na conversa.
Depois de uma hora ou mais desaparecida, Carol me mandou uma mensagem no celular pedindo desculpas pela ausência e dizendo que havia acontecido um pequeno problema com a atração que aconteceria naquela noite, mas que ela já estava resolvendo e que logo estaria ali. É claro que eu queria ficar com ela, mas entendia que aquele era o seu trabalho. Decidi então aproveitar aquele momento e conhecer melhor os seus amigos e curtir aquele que ela dizia ser o seu local preferido na cidade.
Levantei da mesa com a intenção de ir até o bar pegar mais um drink já que o meu já estava no final. Estava voltando para o meu lugar quando uma garota me abordou. Ela era extremamente bonita e estranhamente familiar. Eu não sabia de onde, mas eu conhecia aquele rosto.
-- Então você é o novo 'cazinho' da Carolina - isso mesmo, ela me chamou de 'cazinho' - muito bonita você, mas não vai durar, você não é o tipo dela. - demorei alguns segundos para assimilar o que aqueça garota dizia.
-- E quem você pensa que é para me dizer isso? - perguntei com ironia na voz.
-- Eu sou a ex e aquela para quem Carolina vai voltar assim que você dançar! - Agora eu estava entendendo, aquela devia ser a tal ex para quem Carolina voltou.
-- Olha, eu não sei quanto a você, mas eu tenho mais o que fazer além de ficar aqui discutindo com ex da minha namorada, então se você me der licença... - disse isso e ia avançando quando senti ela me segurar o braço.
-- Ela te deixou na mesa sozinha com os amigos, não foi? Depois te pediu desculpas e disse que logo voltaria? Isso vai acontecer muitas vezes, depois ela vai aparecer com um sorriso safado nos lábios e uma long neck nas mãos e, toda vez que isso acontecer, você vai desconfiar que ela não estava mesmo trabalhando, você conhece o histórico dela não é mesmo? - Sem responder desfiz o contato e retornei para a mesa.
Tentei voltar meu foco para a conversa, mas não obtive sucesso. Carol voltou para a mesa mais de duas horas depois que havia saído e, como a outra havia previsto, com um sorriso safado nos lábios e uma cerveja na mão.
--Demorei amor? - Ela perguntou me beijando os lábios.
-- Só um pouquinho - respondi tentando sorrir e abafar as neuras que a outra havia colocado em minha cabeça.
--Desculpe... parece que perderam uma peça da mesa de son do DJ que vai se apresentar com a cantora essa noite... precisei resolver - ela explicou.
-- Não tem problema... Você voltou - respondi sorrindo e lhe beijando os lábios. Eu estava determinada a não deixar as neuras que a outra plantou me afetarem.
Minhas tentativas foram frustradas quando a tal cantora subiu ao palco. Ela era tipo uma versão loura da Cléo Pires, com o corpo escultural, usava um vestido que evidenciava isso e as tatuagens de um dos braços e das pernas. Ela era linda e percebi claramente o momento em que ela lançou um olhar no mínimo maldoso para Carolina.

Fim do capítulo