Capítulo 5
- Não, er... você ouviu alguma coisa? Desculpa te acordar. – ela estava totalmente sem graça
- Quem é burra?
- rs... nada não... eu que tava falando sozinha.
E mais uma vez aquele silencio constrangedor pairou na sala e nossos olhares não se desgrudavam.
Sua mão se pôs em meu rosto novamente e todas aquelas sensações voltaram.
Camila, FOCO!
É carência, só carência, você não pode ficar com a sua amiga e pôr sua amizade em risco.
Sai dai... AGORA!
- Er... eu... eu...
- O que foi? - Natacha
- Eu... eu preciso.. é... eu preciso ir ao banheiro.
- Mas agora?
Ela me olhava com aquele olhar doce, irresistível.
AGORA, CAMILA!
- Er... eu preciso muito ir ao banheiro. Vou la, boa noite, até amanha.
Sai dos braços dela com muito custo e fui quase correndo pro meu quarto e fechei a porta.
MEU DEUS, O QUE EU TO FAZENDO?
Eu to me deixando levar pelo momento, eu tenho que me controlar. Ainda bem que eu sai a tempo.
Não posso fazer isso com a Natacha, ela é muito especial e não precisa de uma pessoa problemática e com amores maus resolvidos como eu.
Tomei um banho e fui pra cama e já que na noite passada eu não havia dormido, nessa eu nem tive como não dormir, capotei.
Acordei no outro dia e fui pra cozinha.
Cheguei la e estava a Natacha tomando café sozinha.
- Bom Dia. – eu
- Bom Dia, dormiu bem?
- Dormi sim e você? Parece cansada.
- Acho que estou com um pouquinho de insônia, nada de mais.
- Se você quiser, eu tenho um remédio que é tiro e queda.
- Não precisa não. Obrigada.
- Errr... Você ta bem?
- To sim. – forçou um sorriso
- Não ta não, eu te conheço muito bem mocinha, o que ta acontecendo?
- Ai Cah, eu não quero falar nisso agora.
- Tudo bem, não vou te forçar a nada, mas se eu puder te ajudar em alguma coisa me avise.
Ela deu um sorriso, balançou a cabeça negativamente e disse baixinho:
- Você nem imagina.
- Como? – fingi não ter ouvido
- Nada não. Senta ai, vou colocar o café pra você.
Me sentei e começamos a conversar.
- Tenho uma noticia boa. Amanha mesmo começamos a trabalhar.
- Sério? Mas que ótimo! Onde?
- No hospital que eu trabalhava antes, liguei pro meu chefe ontem e ele já sabia que eu estava no Rio e já ia me ligar pra me contratar de novo, ai falei de você e ele já tinha ouvido falar de você, que é uma referência na Neurologia do Brasil e quer muito conversar com você, seu emprego já esta garantido.
- Nossa, nem sei como te agradecer. – me levantei e fui abraça-la
Ficamos nos abraçando por um longo tempo, até ela pôr as mãos nos meus ombros e nos afastar.
- Não precisa me agradecer. Você vai adorar trabalhar la.
- Com você junto não tem como não gostar de estar em algum lugar.
Ela deu um sorriso lindo, mas parecia triste.
Depois de tomar café fomos dar uma volta e aproveitar o lindo dia de sol no Rio. Afinal com todos os plantões, sabe-se la quando eu teria a oportunidade de aproveitar um dia assim.
Fomos a praia e no final da tarde ficamos em um quiosque tomando agua de côco e conversando.
- Cah, desculpa tocar no assunto, mas... Você não esqueceu nem um pouquinho a Beatriz desde que vocês terminaram?
- Enquanto eu estava na África eu achei que tinha esquecido. Fato de que toda vez que eu penso nela meu coração bate mais forte e vê-la naquele dia me matou. Com certeza eu ainda não a esqueci, se você a conhecesse melhor veria que ela não é uma pessoa que se esquece fácil.
- Mas você não pode viver assim, dependente desse sentimento. A vida esta passando na frente dos seus olhos, você não pode deixar as coisas passarem.
- Mas eu não consigo.
- Desde que te conheci você só se envolveu com a Julia, você merece alguém pra te fazer feliz.
- A Julia foi um caso a parte, eu não sei o que aquela mulher tem sobre mim, mas nunca passaria daquilo, uma atração e mais nada. E você me conhece, não consigo sair ficando com todo mundo por ai. Prefiro esperar a pessoa certa.
- Ela parecia gostar de você.
- É impressão sua. Mas e você, ta falando de mim, mas desde que eu te conheço, você nunca ficou com ninguém.
- Eu sou quase como você.
- Ta esperando conhecer a pessoa certa?
- Não, eu já a conheci. Estou esperando ela me notar.
Toma Camila, ch*pa essa manga agora.
Fiquei visivelmente sem jeito. Por mais que eu soubesse que ela estava falando de mim eu tentei disfarçar.
- Hummm, então já tem alguém em vista?
- Er... mas acho que não vai rolar. Acho que ela é areia de mais pro meu caminhãozinho.
- Ta maluca? Você é linda, muitas pessoas fariam fila pra namorar com você.
- Pena que nenhuma das pessoas da fila é a que eu quero.
Gente, é uma direta atrás da outra, melhor eu mudar de assunto.
- E nós vamos fazer o que hoje a noite?
- Cah, hoje é segunda, não tem muita coisa pra fazer hoje e amanha estaremos cedo no hospital.
Fomos pra casa e as meninas já estavam la, tinham preparado o jantar.
Comemos conversando e rindo bastante e logo fomos dormir.
Acordei no outro dia bem cedo e super disposta a trabalhar. Eu realmente ama o que fazia, e voltar a essas rotinas de hospitais, por mais cansativas que fossem eu adorava.
- Bom Diiia. – eu disse entrando na cozinha
- Você é a única pessoa que acorda de bom humor na face da terra. – Luisa
- Ai que deprê minha gente, ainda é terça feira, estou louca pra começar a trabalhar.
- To vendo que alguém dormiu muito bem. Pronta pro batente Drª Camila Toledo? – Natacha ia entrando na cozinha
- Prontíssima. Estou ansiosa, acho que essa pode ser a oportunidade de mudanças.
- Como assim? – Thais
- Ah, trabalho novo, conhecer pessoas novas, tudo novo, sabe como é.
- Já ta querendo pegar uma médica? Nossa, mas é muita tara por jaleco – Thais
- Não é isso.
- Não?
- Quem sabe, não sabemos o que vai acontecer não é mesmo? Acho que preciso conhecer alguém mesmo.
O silêncio pairou pela cozinha.
- Com licença, vou terminar de me arrumar no quarto. – Natacha disse saindo com uma cara péssima
As meninas se olharam parecendo entender o comportamento da Natacha e só ai me toquei da mancada.
Parabéns Camila, sua melhor amiga gosta de você e você diz na frente dela que quer conhecer alguém.
- Vou terminar de me arrumar também.
Sai da cozinha e fui terminar de me arrumar, alguns minutos depois a Natacha chegou no meu quarto.
- Esta pronta?
- Estou sim, já vamos?
- Uhum.
Ela estava estranha, triste, chateada, sei la. Eu queria pedir desculpas pelo que eu disse, mas pensando bem, não faria sentindo eu pedir desculpas pra minha amiga por ter dito a ela que queria conhecer alguém.
Não tínhamos nada, por mais que eu soubesse dos seus sentimentos, nunca tivemos nada e seria estranho eu pedir desculpas por uma coisa dessas.
- Err... Ta tudo bem? – eu
- Ta sim. Então... vamos?
- Vamos.
E então fomos em direção ao hospital. Ao chegarmos la fiquei espantada com o tamanho do hospital. Era gigante, nem dava de comparar com o hospital improvisado que trabalhávamos na África.
Fiquei ainda mais ansiosa para começar.
Fomos direto falar com o diretor do hospital.
- Com licença, Dr Sérgio. – Natacha
- Drª Natacha, que bom vê-la. – ele disse se levantando da cadeira
Ele era um homem que aparentava ter uns 45 anos, alto, magro, tinha o cabelo preto, com algumas partes tomadas pelos cabelos brancos que o deixavam com um charme elegante.
- É bom vê-lo também. Essa é pessoa de quem eu lhe falei.
- Drª Camila Toledo, é um prazer imenso tê-la em meu hospital. – Sérgio
- O prazer é meu. Esse hospital é maravilhoso, não o conheci todo ainda, mas já tenho muitas ideias e planos.
- É disso que eu gosto, ideias novas, pessoas com vontade de mudar e vindo de uma profissional como você, tenho certeza que esse hospital vai crescer cada vez mais.
- Eu agradeço muito pela oportunidade Dr. Tenho certeza que não vai se arrepender.
- Eu tenho certeza também. É um prazer ter vocês duas em meu hospital, com a experiência que adquiriram na África, sei que vão revolucionar muitas coisas por aqui.
- Estamos preparadas pra isso. – Natacha
- Camila, nosso antigo neurologista saiu do hospital para trabalhar em outro país e você caiu do céu aqui, então você será a nova chefe do departamento de Neurologia. Nosso hospital é um hospital escola, então temos os internos, residentes. Todos vão te ajudar no que precisar e vão querer sugar toda informação de você.
- Eu darei o meu melhor, vou ensinar tudo que eu sei da melhor maneira a todos.
- Ótimo.
Nos despedimos e a Natacha foi me mostrar o hospital.
Primeiro ela foi na ala Pediátrica, claro, ela estava com saudade de todos que trabalharam com ela ali e só de ver o brilho em seus olhos vi que ela estava em casa.
Depois fomos conhecer a ala da Neuro. A Natacha estava me acompanhando, mas foi chamada pra uma emergência e então fiquei sozinha.
Uma das enfermeiras chegou até mim.
- A senhora deve ser a Drª Camila Toledo.
- Sou eu mesmo, como se chama?
- Jéssica, é um prazer conhece-la pessoalmente Drª.
- Imagina, o prazer é meu Jéssica, como é meu primeiro dia aqui eu estou meio perdida, você poderia me mostrar a ala?
- Claro, me acompanhe.
Primeiramente ela me levou para conhecer os internos.
Fui atenciosa com todos, e todos me olhavam com um olhar de medo. Sei exatamente o que é isso. Internos são como crianças, prontos para absorverem informações novas e quando veem alguém que sabe mais já ficam com medo.
Todos foram muito gentis e depois fui conhecer os residentes. Já estavam ali mais tempo e tinham mais experiências e estavam a um paço para se tornarem Neurologistas.
Como era cedo, os residentes do turno da manha estavam esperando para que os do turno da noite saíssem para que eles entrassem. Estavam todos na sala dos residentes conversando.
Entramos na sala e todos pararam e ficaram me olhando.
- Essa é a nova Neurologista. E chefe do departamento de Neuro. Muitos já devem conhece-la, Drª Camila Toledo. - Jéssica
- Drª, esses são os residentes e vão lhe ajudar no que foi preciso. – Jéssica
- Muito prazer em conhece-los. Eu sei que o antigo Neurologista saiu e vocês gostavam muito dele, mas eu vim com vontade de fazer o melhor e como esse é um hospital escola, quero ensinar tudo que eu sei a vocês. Qualquer duvida, não hesitem em me perguntar.
Todos ficaram me olhando e uma das residentes veio falar comigo...
- É um prazer enorme ter a senhora aqui Drª. Já conheço a sua trajetória e sua experiência na África. Eu a admiro muito, quero um dia poder ser a metade da Neurologista brilhante que a senhora é.
- Ora, mas não fale besteira. Você pode ser muito melhor que eu. É um prazer estar aqui e trabalhar com pessoas determinadas como você. Como você se chama mesmo?
- Laura, se precisar de alguma coisa é só me chamar.
- Muito obrigada Laura. Agora eu preciso ir, tenho que conhecer os negócios do hospital e ver minha rotina. Com licença.
A Jéssica me acompanhou para me mostrar mais alguns lugares e alguns médicos e depois fui para a minha sala.
Fiquei parada olhando a sala gigante que eu tinha e comecei a pensar em várias coisas.
Nossa, como eu cheguei aqui? De uma simples interna teimosa, para Neurologista chefe.
É Camila, você chegou onde queria, alcançou o objetivo profissional que sempre almejou. Olhei pro lado e não tinha ninguém, ninguém para me dar os parabéns, ninguém para eu ligar e contar a novidade. Eu estava sozinha. Venci na vida, mas estava sozinha. No frigobar que havia na sala, tinha uma garrafa de champanhe, me servi e brindei a minha conquista com a minha solidão.
Foi uma cena triste, deprimente. Eu ali sentava bebendo sozinha, pensando no que eu havia errado para chegar tão longe sem ninguém comigo. Talvez por eu sempre ter colocado o trabalho em primeiro lugar, talvez até, se eu não tivesse ido pra África a Bia teria ficado comigo. Talvez...
Fui tirada dos meus pensamentos com a porta se abrindo...
- E ai Drª chefona. Que lucho essa sala heim, ta bebendo e nem me convidou pra brindarmos esse momento maravilhoso? – Natacha
- Eu estava pensando agora. Consegui tudo que eu queria, mas não tenho muitas pessoas para dividir isso.
- Hey, para com isso. Você tem a mim, eu estou me transbordando de orgulho de você, mais feliz do que se fosse comigo. Eu estou ao seu lado e sempre vou estar. Hoje e em todos os próximos momentos bons e ruins da sua vida, eu vou estar ao seu lado. – Natacha
Não pude deixar de me emocionar com as palavras dela. Em pouco tempo era realmente se tornou a minha única família, único refugio, meu porto seguro. Fui até ela e a abraçei.
- Obrigada por tudo, com certeza eu não teria nada disso se não fosse por você. Desde a África, eu não suportaria tudo aqui sem você e agora esse emprego que você conseguiu pra mim.
- Você conquistou tudo isso, eu não tenho nada haver, você é a vitoriosa e pare de ficar triste, hoje é dia de alegria.
Ela pegou mais uma taça, se serviu e brindamos. Dessa vez foi diferente, eu tinha ao meu lado alguém e com certeza era a única pessoa que eu queria que estivesse ali naquele momento.
Um pouco depois ela teve que voltar para a sala dela e eu voltei a ficar sozinha. Me afundei no trabalho e quando era umas 14:00 hrs fui ao restaurante comer alguma coisa.
Me sentei sozinha em uma mesa e pouco tempo depois a Laura chegou.
- Licença Drª, posso me sentar aqui? – Laura
- Claro, sente-se.
- O que esta achando do hospital?
- Maravilhoso, estou muito animada pra começar meus projetos aqui, todos são muito dedicados e com vontade de trabalhar, isso me motiva ainda mais.
- Tenho certeza que a senhora vai mudar esse hospital.
- Com a ajuda de vocês, claro.
- Tem uma pessoa que eu queria que a senhora conhecesse, é uma das residentes, mas ela é a mais apaixonada por neurologia daqui, muito dedicada, tenho certeza que ela vai amar conhecer a senhora.
- Nossa, falando assim bem dela, fiquei curiosa, onde ela esta, estava na sala dos residentes quando eu passei la essa manhã?
- Não, ela chegou logo depois e já foi apressada ver os pacientes. Ah, falando nela, ó ela ali.
Ela se levantou e acenou para que a pessoa viesse até a nossa mesa.
Eu terminava de tomar o meu suco quando a tal residente aparece ao meu lado.
Ao vê-la me afoguei com o suco, tentava me recompor, mas minhas pernas já estavam bandas, o coração descompassado e então consegui emitir algum som.
- Beatriz?
Fim do capítulo
Oi Meninas, como estão?
Primeiro post da semana, espero que estejam gostando e se estiverem ai de bobeira, deixa um comentário aqui do que estão achando =D
Boa Semana a todas, até mais
Beijos
-LF
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