Por mais que tivesse me doído eu entendia bem o porquê da Bárbara não ter aceito as alianças naquele meu pedido aos pés dela. Eu tinha sumido, sabe? Nem passou na minha cabeça confiar nela e ainda deixei meu filho com a minha ex. Eu fui egoísta com ela e com a relação que estávamos formando.

Fora que foi um pedido desesperado, apelativo, de uma mulher exausta, cheia de grilos e inseguranças na mente. Ela estava certa, definitivamente não era o nosso momento.

Eu guardei as alianças no bolso falso da bolsa que uso sempre. Sem pesar ou rancor. Mesmo porque, apesar de não aceitar usar as alianças ela cuidou tanto de mim. Tanto naquela noite como nos dias que se seguiram.

A Bárbara me superprotegeu e me cercou dos mais variados mimos. Ela me fez contar a ela tudo sobre o meu passado com os meus pais e me fez jurar que jamais voltaria a encontrar minha mãe sem a companhia dela. Disse que dividiria esse e todos os outros fardos comigo. Tão linda... nossa.

Ela também assumiu de vez a "maternidade" do Ju. Ia buscá-lo na escola, pagava as sessões de terapia e na semana que vem ele até irá fazer uma aula experimental de judô na companhia dela. Segundo a Bah isso trabalharia a concentração e canalizaria a energia dele pra algo bom. Eu sempre tive um pouco de medo dessa história de luta, mas confiava no taco da minha namorada.

Esse carinho e essa proteção dela vieram num momento muito importante. Acho que sem a companhia dela, sempre alerta, sempre disposta, eu não teria suportado passar por aquilo tudo.

Mas finalmente parecia que as coisas estavam voltando a seguir seu rumo normal. Por exemplo, minha mãe voltou a corresponder bem ao tratamento na clínica mas deixou claro que não queria me ver. Segundo os cuidadores isso era normal após uma recaída.

Na empresa continuava tudo muito corrido, mas a Bah volta e meia dava um jeito de me sequestrar. Ela usava e abusava do fato de estar no poder... ah... a filha da mãe adorava estar no poder. Esse cargo de acionista era muito divertido pra ela.

Outro dia eu quase perco a cabeça e/ou arranco a cabeça dela. Estávamos ambas numa reunião com todos os acionistas, principais diretores e seus respectivos assistentes, quando chegou um SMS da minha namorada com os seguintes dizeres:

"AMOR, ESTOU USANDO AQUELA CALCINHA QUE VC TIROU COM A BOCA NA SEMANA PASSADA. HUMMM, BEM QUE VC PODERIA SER BOAZINHA E REPETIR O GESTO. NÃO, É MESMO?"

Meu corpo inteiro queimou ao ler aquilo e justamente no momento onde fui questionada sobre o desempenho mensal de um dos nossos novos fornecedores.

Eu me perdi na resposta, suei, gaguejei e ela só fazia rir. Depois que recobrei o juízo e respondi aos demais presentes sobre os questionamentos, respondi a mensagem da Bah:

"FILHA DA MÃE! VC ME PAGA!"

Os temas da reunião seguiram cada vez mais chatos e eu perdendo cada vez mais a concentração por conta daquela mulher e as suas mensagens.

"OH AMOR, NÃO GOSTOU DA CALCINHA QUE EU ESTOU USANDO. É ISSO? SEM PROBLEMAS. POSSO TIRÁ-LA PRA VC. VC QUER?"

Minha nossa, eu não sei o que ela ia fazer com a calcinha dela, mas definitivamente ela já tinha conseguido molhar a minha. Respondi:

"QUERO. AGORA!"

Nossos olhares se cruzaram e mordi os lábios. Aquela moleca me enlouquecia demais.

Alguns instantes depois a luz baixou para que todos se concentrassem nos gráficos mensais de desempenho financeiro que estavam sendo mostrados na tela a frente.

A apresentação foi dinâmica. Realizada pelo nosso diretor geral e durou uns 5 minutos. Quando a luz voltou eu quase enfartei. Não me perguntem como, mas a calcinha da Bárbara estava no meu colo!

Puta que pariu, aquela mulher era louca demais e eu estava pirando também com aquilo tudo. Escondi o pequeno pedaço de pano com as mãos e dei um jeito de enfiá-lo na bolsa. Ah... detalhe... a peça estava molhada... gostosa demais a minha Bah, nossa...

Fui questionada pela minha assistente sobre a minha impaciência durante a reunião.

– Senhora Clarice, tá tudo bem? A senhora mudou completamente desde que pegou no celular para conferir as mensagens. É algo com seu filho? – ela perguntou preocupada.

– É sim. Mas nada grave. – menti descaradamente.

– Ufa. Ainda bem que estamos terminando aqui. Logo você poderá sair e resolver o seu problema. – ela concluiu satisfeita.

– Eu não vejo a hora! – disse com a mente viajando naquela calcinha molhada na minha bolsa.

Imaginar a Bárbara molhada, sem calcinha e fazendo pose de acionista séria em meio àquele monte de gente era... nossa... eu já estava queimando por dentro. Era tentação demais pra mim. Eu rezei para que aquela tortura acabasse logo e em meia hora minhas preces foram ouvidas.

O que eu fiz? Chamei a minha namorada pra almoçar comigo. E sim, almoçamos. No motel mais luxuoso da cidade, depois de fazermos amor loucamente bem no meio do dia.

A Bah tinha um fogo, nossa, e me acendia com a mesma facilidade. Sempre questionava se ela havia sido daquela maneira e segundo ela isso começou depois que nos conhecemos e encaixou. Eu sei lá, mas adorava me encaixar nela qualquer que fosse a situação.

Falando em encaixe foi uma barra ajustar 10 dias de agenda livre de nós quatro para o tal passeio para o Chile.

Depois que terminei com a Andressa e foquei no trabalho era raro até emendar os feriados. Mas conseguimos.

Fomos pro Chile mostrar neve ao Juninho. Ele tinha melhorado muito na escola e estava respondendo bem a terapia. Fora os golpes de judô que ele insistia em mostrar em uma de nós três, era hilário. Com tudo isso, nada mais justo do que fazermos esse mimo a ele.

Além disso, eu e a Bah fizemos dessa viagem nossa primeira lua-de-mel. Enquanto a Anna cuidava de curtir ao lado do seu irmão caçula (era assim que ela chamava o Juninho agora) os passeios mais radicais, eu e a Bah dávamos um jeito de nos curtirmos um pouquinho naquele friozinho gostoso.

Na nossa última noite, fomos jantar num restaurante indicado pelo dono do hotel.  Estava tudo perfeito música, comida, vinho. E eu aproveitei pra tentar fazer o que já estava com vontade fazia tempo:

– Amor, a um tempo atrás eu tentei definitivamente laçar você pra mim. Eu estava sem rumo, com medo, desesperada. Estava sem comer, sem dormir, sem certezas. A minha única certeza era que eu queria você pra mim. Mas naquele momento você fugiu do meu laço. – disse segurando as mãos dela.

– Dengo, me ajuda, sou meio lerda, você sabe. Esse lance de "laço"... é das alianças que você está falando, não é? – ela respondeu meio encabulada.

– É sim, linda. E eu só queria que soubesse que sou muito teimosa e muito boa de laço e vou tentar mais uma vez – abri a caixinha que estava na bolsa. – Você aceita dar mais esse passo junto comigo?

– Cléo...  eu... – as mãos dela gelaram repentinamente.

– Péra, agora não, eles estão tocando a música que eu pedi. Levanta, dança comigo, você me responde depois da dança, pode ser? – eu disse me levantando.

– Amor, sabe que meus pés vivem brigando um com outro até pra andar, né. Tenho dois pés esquerdos, nossa, dançar será um desastre. – ela disse tentando permanecer sentada.

– Bora Bárbara, a gente não conhece ninguém aqui, então não tem porque ficar com vergonha. Fora que eu que te tirei pra dançar, então deixa que eu conduzo você e seus dois pés esquerdos. Tudo bem? – disse finalmente convencendo-a a levantar e dançar comigo.

Nós dançamos ao lado da mesa, bem lentamente e aquele contato com a minha namorada me fez flutuar. Não tinha mais ninguém ali, pra mim éramos só nós duas e o nosso encontro de almas.

Só o repousar da cabeça dela no meu ombro naquele momento pra me fazer esquecer a ansiedade pela resposta do meu segundo pedido. Será que era a hora dessa vez ou a Bárbara iria fugir de mim de novo?

Fim do capítulo