Capítulo 31
O Jardim dos Anjos -- Capítulo 31
-- Andras está rodeando o orfanato.
Alisson tirou a jaqueta e colocou sobre o sofá, jogou as chaves na mesa do canto da sala e foi em direção a Beca e Fael.
-- Mas essa mulher é o próprio demo. O que ela tem que mexer com quem está quieto -- Beca bateu na própria coxa num gesto de impaciência e olhou para Alisson -- Precisamos dar um basta nessa megera.
-- A Beca está certa. Essa mulher já passou dos limites -- Fael disse e Alisson balançou a cabeça não concordando -- O que estamos esperando para dar um "se liga", nela?
-- E qual seria o motivo? O que ela fez de concreto que nos faça tomar uma atitude mais drástica? Não podemos tirar conclusões baseados apenas em meras conjecturas.
-- E o fato dela rondar o orfanato, não é um bom motivo? -- Fael insistiu na ideia.
-- Ela pode estar procurando a Patrícia -- Alisson disse com calma, sem alarmes ou deixar transparecer sua própria preocupação, tentando convencer a si mesma que esse era o motivo -- Ficaremos de olho nela, falarei para a mamãe e a Patrícia, tomarem cuidado.
-- Ela anda pelos corredores do hospital como se fosse a dona de tudo. Como a Lorraine sendo chata e exigente do jeito que é, permiti isso? -- Beca disse em um misto de raiva e surpresa.
-- Ela não quer arrumar confusão com o pai -- Alisson suspirou -- Ela está trabalhando no marketing da campanha dele.
-- Espero que ela termine logo esse trabalho dentro do hospital. Aquela mulher me causa arrepios -- Beca sentiu um nó na garganta, durante o breve silêncio que se seguiu.
-- Mudando de assunto -- Fael virou-se e ficou de frente para Alisson -- Semana que vem é Páscoa. As crianças estão esperando ganhar chocolates.
-- A Simone me ligou oferecendo ovo de colher. O que vocês acham? -- Beca sorriu e esfregou as palmas das mãos.
-- Eu nem sabia que colher botava ovo.
-- Mas tu é burro né Fael -- Alisson balançou a cabeça, em seguida, fez uma pausa e olhou para Beca -- O que é ovo de colher?
-- Ah... É um ovo recheado... Acho melhor esquecermos o ovo de colher -- Beca cruzou os braços e deu um suspiro cansado -- Pensando bem, o ovo de Páscoa está muito caro, vamos dar caixinhas de bombons.
-- Ah tá! Esse ano vou chegar no orfanato e falar assim: Queridas crianças: devido ao alto preço dos ovos de Páscoa serei obrigado a confessar que o coelhinho da Páscoa não existe, era tudo mentira da mamãe Helena -- Alisson sorriu para a amiga -- São crianças, Beca. Ainda não compreendem o verdadeiro sentido da Páscoa. Estão esperando ganhar ovos de chocolate.
-- Tem adulto que não sabe, imagina uma inocente criança -- disse Fael.
-- Falar em crianças... quero que você peça um favor para o seu amigo policial.
-- O Rui? Sem problemas! -- Fael abriu um largo sorriso -- Ele não vai negar.
Alisson levantou-se indo até a estante, pegou papel, caneta e voltou a sentar-se ao lado de Fael.
-- Quero que ele descubra quem é o proprietário de um veículo. Vou anotar o número da placa para você passar para ele.
Alisson escreveu o número e entregou para ele.
-- Esse é o número da placa. Não esqueça de falar com ele ainda hoje, é urgente.
Fael pegou o pedaço de papel e leu o número.
-- Quanto sete! -- disse admirado -- Tenho uma dúvida: Porquê as pessoas fazem esse traço horizontal no meio do sete?
-- Fael e suas perguntas sem pé, nem cabeça -- disse Beca, sem paciência -- Que diferença isso faz?
-- Conta a lenda que uma multidão estava reunida aos pés do Monte Horeb para ouvir os dez mandamentos proclamados por Moisés, quando ao chegar no sétimo mandamento, ele disse em alto e bom som: " Não cobiçarás a mulher do próximo!". A multidão instantaneamente gritou, num sonoro coro: "Corta o sete, corta o sete".
-- Poxa! -- Beca e Fael olharam-se sem palavras.
-- Estava olhando as fotos que peguei lá do orfanato em que a Priscila foi deixada. Vou mostrar para vocês.
Alisson tirou as fotos da mochila e espalhou sobre a mesa de centro. Pegou uma delas e entregou para Fael.
-- Essa é Priscila. A foto foi tirada no dia em que ela chegou no orfanato -- Uma expressão de tristeza passou pelo rosto da pediatra -- Linda, né?
-- Uma princesinha! -- respondeu Fael.
-- Porém o que quero que vocês vejam é essa foto aqui. Estão vendo esses carros ao fundo? Esse azul, é o da madre. Esse branco é o que fazia serviços para o orfanato e... esse preto é o que quero saber.
-- Você acha que a pessoa que levou Priscila até o orfanato, estava dirigindo esse carro?
-- Talvez, quem sabe? No orfanato ninguém soube me dizer de quem era esse carro. Inclusive o porteiro, que é o mesmo de cinco anos atrás -- Alisson balançou a cabeça um pouco desanimada, mas estava sorrindo -- Sei que é pouco, mas é o que tenho para começar as investigações.
-- Cara, eu não acho pouco -- Beca falou com entusiasmo -- Vai que esse carro seja da pessoa que levou a Priscila até lá? Você terá dado um passo gigantesco até a mãe da garota.
Alisson sorriu. Sabia que ela tinha razão. Quem sabe a dona do carro fosse a própria mãe da Priscila?
-- Liga agora para o seu amigo, Fael. Vai que ele consiga nos dar uma informação agora? Estou muito ansiosa para esperar.
-- É pra já! -- Fael procurou o número dele, ligou-lhe, e passou o número da placa do carro.
Os saltos dos sapatos de Lorraine batiam contra o chão formando um eco que enchia o local. Enquanto atravessava a ampla recepção do hospital, Lorraine refletia sobre a atual situação. Tinha vivido a maior parte de sua vida, infeliz. Primeiro com a morte da filha recém-nascida; segundo com o abandono da mãe; terceiro com o casamento desastroso com Silvana e quando enfim a felicidade surgiu... Ela sorriu ao lembrar do anjo loiro em forma de mulher que atravessou o seu caminho. Já fazia muito tempo que ela havia desistido de encontrar a sua alma gêmea, e não estava em seus planos namorar, por mais maravilhosa que essa mulher pudesse ser. Porém, quem manda no coração? Incendiava só de pensar em Alisson, o cabelo encaracolado, os seios de encontro a ela. Os beijos intensos. Queria aquela mulher loucamente.
Entrou no elevador, e a porta se fechou atrás dela, apertou o botão do décimo andar e encostou-se à parede jogando a cabeça para trás. Tudo estaria perfeito se Andras não tivesse aparecido.
As portas do elevador se abriram e Lorraine deu um passo à frente.
-- Impressionante como a mente é poderosa! -- Andras parou diante dela encarando-a com os olhos cinzas -- Estava pensando justamente em você -- Mordeu o lábio de forma provocante.
Lorraine piscou diversas vezes antes de bufar irritada.
-- Impressionante como você tem o poder de estragar o meu dia com tanta facilidade -- disse secamente caminhando em direção a sua sala.
Andras foi atrás dela.
-- Não me dê as costas quando eu estiver falando com você -- disse em voz alta -- Não deveria tratar tão mal a pessoa que a está protegendo da polícia.
Lorraine virou-se para ela.
-- Você não está falando, está gritando comigo, e outra coisa, você não está me protegendo da polícia. Você armou para mim com a nítida intensão de me chantagear. Não sei o motivo, o objetivo disso tudo. A única coisa que sei é que você não presta -- disse e abriu a porta parecendo enfurecida, mas sorriu quando viu Nádia sentada na poltrona folheando uma revista.
-- Estou atrapalhando? -- ela perguntou, sorrindo muito de leve, mas com sinceridade.
-- Lógico que não, minha querida -- Lorraine jogou a bolsa sobre a poltrona e abraçou a irmã -- Estava dizendo para a senhorita Andras que o setor de cardiologia merece ser citado na campanha de nosso pai. Ele é o mais avançado em tecnologia cardíaca da América Latina.
-- Méritos dele e de toda a equipe -- Nádia completou, fechando a revista e colocando-a sobre a mesa.
-- Bem, vou aceitar a dica -- Andras deu uma piscadinha para a cardiologista e caminhou até a porta -- Vou deixar as irmãs conversarem a vontade. Até à noite, Lorraine.
Assim que Andras saiu e fechou a porta às suas costas, Nádia encarou Lorraine.
-- Você convidou ela para sair com a gente?
Uma sombra de tristeza passou pelos luminosos olhos verdes de Lorraine.
-- Eu não vou sair com vocês hoje -- levou a mão à cabeça, num gesto de extrema tristeza -- Vou sair com a Andras -- Parou de falar, quando sentiu a voz embargada.
Nádia a observou, viu tristeza e culpa em seu rosto.
-- Não estou entendendo o que você está falando -- disse ela, lançando um olhar hostil para a irmã.
-- Tenho um assunto muito importante a tratar com Andras.
-- Imagino que tenha conversado com a Alisson a respeito, não? -- Levantou as sobrancelhas.
-- Falei para Alisson que tinha uma reunião de negócios com o Afonso.
-- Você o quê? Ficou maluca? -- Nádia ficou pálida de raiva e decepção - Você é melhor atriz do que eu pensava.
-- Ah, pelo amor de Deus! Não seja exagerada, Nádia. Meu assunto com Andras é apenas sobre negócios -- Ela deu um suspiro profundo e em seguida sentou-se atrás de sua enorme mesa.
-- Então porquê não contou para a Alisson? -- perguntou, enfim, com voz tensa.
-- A Alisson e a Andras vivem em pé de guerra. Se eu falar para ela que vou sair com a Andras, ela vai surtar.
-- E com razão. Você está sendo uma canalha com ela -- Nádia encarou-a com revolta.
Foram necessários vários segundos para Lorraine entender o que Nádia queria dizer. Lágrimas vieram aos olhos dela. Não eram lágrimas de tristeza. Eram lágrimas de raiva, de ódio. Ódio de Andras, de si própria, de sua covardia.
Nádia estudou o rosto da irmã. Estava confusa. Lorraine era uma incógnita.
-- Você está bem? Quer falar sobre isso?
-- Não! -- A voz de Lorraine soou como se fosse uma bofetada.
A tentativa de Nádia de ser compreensiva, de ao menos tentar entender a irmã, foi recebida com tamanha hostilidade que ela perdeu a paciência.
-- Se você estiver traindo a Alisson, vou ter que concordar com a Silvana. Você não presta!
Lorraine ficou ligeiramente desconcertada com o comentário de Nádia. Não reagiu, não fez nada.
-- Eu tenho vontade de bater em você -- Nádia olhou para ela com frustração -- O que mais me chateia é que você está trocando uma pessoa maravilhosa, que te ama de verdade, por uma babaca que apareceu do nada e se enfiou aqui dentro do hospital como se fosse a dona de tudo -- Terminou ela, quase sem fôlego.
-- Para seu governo, Andras tem sido uma boa amiga, somente isso. E ela está aqui no hospital fazendo um trabalho de marketing para a campanha do papai.
-- Pare com isso, Lorraine -- Nádia parecia mais decepcionada do que com raiva -- Essa história é velha. Me diz, desde quando você está traindo a Alisson?
Lorraine a encarou atônita. De início, achou que havia ouvido mal.
-- Como é? Você está achando que eu estou dormindo com a Andras? Que loucura. Como você pôde achar uma coisa destas? Eu sou louca pela Alisson.
Ao ver que Nádia não respondia, Lorraine percebeu que ela estava realmente convicta de tudo o que falara. Esta constatação a deixou tensa, com o corpo retesado. Desesperada.
-- Se você abrir a boca e encher a cabeça da Alisson com toda essa besteira, vai se ver comigo -- Ela apontou o dedo ameaçador em direção da irmã.
-- Você acha que vou me deixar intimidar por este tipo de ameaça? Garanto que você não me intimida.
Houve um momento de silêncio pesado. Lorraine e Nádia eram muito unidas, nunca haviam discutido. Nádia fechou os olhos e balançou a cabeça.
-- E eu que pensei que você havia mudado -- Nádia saiu apressada sem olhar para trás.
Lorraine deixou-se cair na poltrona, com um gemido desanimado. Condenando-se por ser tão tola.
-- Hora de ser corajosa, princesa -- Priscila fechou os olhos e esticou os bracinhos para que a enfermeira coletasse o sangue -- Vai ser uma picadinha doidinha, mas a minha garota é corajosa e...
-- Aiiiiiii... -- Priscila soltou um grito que ecoou por todo o hospital. Os olhos encheram-se de lágrimas e ela caiu em um choro incontrolável.
Com ternura e paciência, Alisson estendeu os braços para pegar a menina.
-- Obrigada! -- a pediatra sorriu para a enfermeira.
Com uma mistura de carinho e força ela apertou o corpinho junto ao peito, ignorando totalmente os gritos agudos, apenas abraçando-a firme. Finalmente ela pareceu se acalmar, os gritos foram diminuindo e ela olhou para a pediatra ainda com os olhos rasos d'água.
-- Desculpa Ali, mas doeu demais -- falou chorosa.
-- Chorar é para os fortes, princesa. Eu no seu lugar teria caído no chão como uma jaca podre. Bemmm... pooodreee... -- Alisson brincou com a garota que já sorria animada -- Vou levar ela para o setor de cardiologia. Você vem junto, Nádia?
Nádia olhava para a menininha, que agora brincava nos braços da loira. Nem sequer um traço do choro que explodira alguns instantes atrás. Ela apenas olhava feliz para Alisson.
A pediatra suscitava um profundo sentimento de nostalgia nela. Nostalgia pela vida que ficara para trás, a presença alegre dos pais e dos irmãos. O carinho, o aconchego de um abraço.
Imediatamente, veio à sua mente o rosto de Lorraine. Sentira mais raiva dela do que deveria sentir, mas não sabia por quê.
-- Vai com a gente? -- Alisson voltou a perguntar.
A voz de Alisson chegou aos seus ouvidos, estava tão distraída que perdeu o início da frase.
-- Desculpa, Alisson. Estava com o pensamento longe e não ouvi o que disse.
-- Estava dizendo que vou levar ela para o setor de cardiologia. Gostaria de ir comigo?
Já estava pronta para aceitar o convite, quando seus olhos encontraram os de Lorraine. Havia tanta ameaça neles que Nádia resolveu inventar uma desculpa.
-- Gostaria muito Alisson, mas tenho que passar no setor de oncologia.
-- Sendo assim... Está perdoada.
Lorraine parou ao lado de Alisson e sorriu sem jeito.
-- Por quê não me chamou?
-- Não queria lhe atrapalhar. Você deveria estar muito ocupada.
-- E estava -- disse Nádia com leve ironia -- Estou indo. Quando terminar leva a nossa princesa até a minha sala. Tenho uma coisa bem gostosa para ela -- Beijou Priscila no rosto e saiu em direção ao elevador.
-- Porquê a sua "namolada" beijou só eu, Alis? -- Priscila perguntou acenando feliz para a médica que entrava no elevador.
Lorraine olhou para ela com as sobrancelhas arqueadas, e pela intensidade com que a face estava ruborizada, podia-se dizer que não gostou nenhum pouco do comentário.
-- A tia Nádia não é a minha namorada. A tia Nádia é uma grande amiga da Alis -- Alisson explicou sorrindo.
-- A namorada da Alisson sou eu -- Lorraine sorriu para a menina, tentando parecer simpática.
-- Não é não. A "namolada" da Alis é a "tita Náda"!
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Fim do capítulo
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NovaAqui
Em: 08/04/2017
A Priscila não simpatizou muito com Lozinha não. Já vi que Lorraine vai ter que correr atrás para limpar sua barra com a pequena e com a irmã
Será que o pai da Lorraine trocou as crianças?. Quando ele viu que a neta nasceu com down trocou as crianças. Ele não gostava da nora mesmo. Sinistro esse carro no orfanato.
Mas pode ser Andras e sua turma do mal. Pode ter sido beleth (acho que o nome daquela malvadeza é esse, deu branco aqui kkk) que entrou no hospital e trocou os bebês também. Vamos ver
Abraços fraternos procês!
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Mille
Em: 07/04/2017
Boa noite Vandinha
Lorraine e Nádia brigando, não sei porque ela não se abriu com a irmã, que com certeza iria ajudar a achar uma solução. E agora ela é alvo da desconfiança que está traindo a Alis.
Priscila já colocou a Nádia como namorada da Alis deixando a Lonzinha irritada.
Bom queria que a pequena Priscila fosse a filha da Ló, seria o motivo da mãe dela sumir, deve ter levado a criança por ser especial o pai não queria uma neta assim atrapalharia seus planos políticos. Não senti sintonia entre elas, sei lá uma força como se conhecesse antes, mais vai que a Lo estava tão incomoda pela pequena falar que a irmã é namorada da Alisson.
Bjus e até o próximo
Não esqueça da Dani e CIA, toda para ver o Pedro e Anita caindo.
Um ótimo? final de semana
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