-Sou a princesa do Reino Sombrio e venho em ordem de meu pai. Correrei nos jogos desse ano.

Parecia coisa de outro mundo, eu estava em um sonho, que magia era aquela? Só poderia ser isso. Nem liguei para o fato de que ela seria minha rival na corrida meus pensamentos eram totalmente curiosos em saber mais sobre Ela. Tentei me distrair com os outros que ali estavam na falha tentativa de não olhar para aquela garota. Era impossível, eu sentia aqueles olhos vermelhos observando cada movimento meu. Eu estava ficando desconfortável com aquilo. Quando nosso olhos se cruzaram foi como se ela quisesse ler minha alma. Caminhei até onde meu pai estava e pude escutar o fim daquela conversa.

-Meu pai pediu que o senhor me mostrasse quem irá tentar lutar comigo..

 Eu já estava brava com aquela garota, como ousa, dizer “tentar”. Ela não perde por esperar. E dia após dia,  eu estava aprendendo cada vez, aquele anão, sabia o que estava fazendo, e não mentiu quando dissera que iria me ajudar, o que acabou gerando uma grande amizade.

  E o grande dia dos corredores irem para o ringue testarem suas forças um com os outros chega. Meu pai fazia esses duelos antes da corrida para que cada um tente achar a fraqueza do outro. Para mim era coisa simples, entrar lá achar a fraqueza do adversário acabar com ele e pronto, dês de pequena eu sempre acompanhei essas lutas por isso era fácil achar o ponto mais fraco de quem lutaria comigo, mas a pergunta agora era ''Como eu vou entra no ringue sem ninguém notar ? Como vou passar pelos guardas ?''. Caminhei até um lago, um lugar afastado do castelo. Como o reino estava com convidados eu não tinha guardas no meu pé. Cheguei perto do lago e sorri com as lembranças que me vieram deste lugar.

Flash'back ON

''Eu corria de um lado para o outro com May minha dragão de estimação, era meu aniversario, logo no lago meu pai ensinava tiu Deric a pescar, sentei na grama fresca deixando o vento namorar meus cabelos longos, observei minha mãe, estava tão linda sem aquela pose durona de Rainha, vinha em minha direção com um sorriso belo segurando nas mãos um bolo rosa, foi o dia mais feliz da minha vida..''

Flash'back OFF

- Não acredito.. você está chorando? - Deric disse com a mão na boca.

- DROGA! QUE SUSSSSTO! - Dei um pulo para trás. Enxuguei rapidamente aquelas lagrimas que insistiam em cair e o olhei séria.

- Não precisa me olhar assim, todo mundo chora sabia? Isso é uma coisa NORMAL dos seres humanos, uma forma de vocês expressarem o que estão sentindo sobrinha.

- Eu sei disso velhote. -Tentei mudar de assunto- Mas não vim aqui para ouvir essas suas baboseiras. Quero saber como vou lutar está noite no ringue?

- Para alguém que vivia dentro daquele lugar pensei que já saberia o que fazer.. - Ele deu um longo suspiro- mas bom, eu tenho um amigo feiticeiro que irá te ajudar a passar pelos guardas e lutar.. 

O interrompi. 

-Pelos guardas é a parte fácil, mas como vou lutar sem descobrirem quem sou ? Só posso dizer quem realmente sou quando entrar na corrida.. ou ganha-la, se meu pai descobrir ele banirá você do castelo e nem quero pensar o que fará comigo..

-.. e irá te dar uma nova face. - Terminou de falar.

- Feiticeiros não tem esse poder!

- Este feiticeiro sim. Quiana?.. - ele chamou. Segundos depois, saiu de trás das imensas arvores uma moça, deve ter minha idade. Ela era alta, seu corpo era coberto por um imenso pano que parecia ser pele de algum animal. Ela se aproximou, ficando bem perto de Deric. 

- Não posso fazer meu trabalho nesse lugar aberto.. -Deric só confirmou com a cabeça- vamos.. venham comigo. 

  Ela voltou para a floresta e à seguimos. Não andamos muito longe do lago, dava para saber o caminho de volta. Entramos em uma caverna muito bem escondida entre as folhagens de uma grande montanha. Era frio lá dentro. Ela acendeu algumas velas e me mandou sentar na única cadeira que tinha naquele lugar. Eu fiquei a olhando. Ela caminhou até um canto afastado pegou um livro grande empoeirado e trouxe até onde eu estava. Falou algumas palavras que eu não entendia como ''mágikus.. arc.. transzformáció..'' e aquele velho livro se abriu.. sozinho. Quiana retirou aquele imenso pano que cobria seu corpo e eu pude olha-la melhor. Seu corpo tinha marcas de batalhas, como se sua pele tivesse sido cortada por coisas afiadas, seus braços e pernas eram cheios de tatuagens, seus cabelos que caiam sobre seu seio eram ruivos e seus olhos.. negros, totalmente negros.

- Meus olhos lhe assustam princesa? - Ela me encarou. 

- Nem um pouco.

  Ela deu um sorrisinho de canto estreitando os olhos. Deric que estava encostado na parede úmida apenas observava em silêncio. 

- Vamos começar.. feche os olhos princesa e pense em uma lembrança que lhe faz bem, isso não doera nada.

  Fechei os olhos. Fiquei passando pela minha cabeça a mesma lembrança que tive no lago. Senti os dedos de Quiana tocarem minha face e algo, alguma coisa, percorreu meu corpo inteiro. Meus olhos estavam fechados mas mesmo assim pude ver uma luz forte em frente aos meus olhos, eu quis abri-lo mas não conseguia. Meu rosto começou a arder, como se etivesse em chamas, não aguentei e comecei a chorar. Quiana falou baixo:

- Shiiu.. já esta quase acabado.

  Dito isso aquela dor percorreu meu corpo inteiro até chegar nas minhas costas. Parecia que alguém estava desenhando na minha pele e ardia como colocar a mão em lavas. Se eu estava quieta? Acho que a floresta toda ouvia meus gritos. Parecia uma tortura aquilo, se não fosse pelos treinamentos do anão que me ajudaram a suportar até mesmo a dor, eu já teria desistido. Quando aquela dor finalmente parou, minha respiração dava para ser ouvida na caverna toda, minhas mãos suavam e meu corpo estava completamente esgotado, sem forças. Abri os olhos e vi Quiana ajoelhada na minha frente, seu corpo todo suava, aquelas tatuagens nos seus braços e pernas estavam todos com sangue e saia uma luz quase apagada delas.

- Quiana? - A chamei, fazendo que ela me encarasse.

-Hm?

- Seus olhos...  - Tentei me levantar mas meu corpo estava totalmente cansado, parecia que minha mente falava alto ''quero me desligar'' e foi isso que aconteceu.

   Acordei muito sonolenta, quando firmei a visão reconheci o lugar, ainda estava na caverna pois as paredes eram úmidas e cheias de folhas secas. Me levantei com um pouco de dificuldade, o quarto estava com pouca iluminação que vinha do lado de fora da grande porta de madeira. Caminhei até uma grande folha de arvore que gotejava água do lado de fora da caverna e caia ali, bebi aquela água como se fosse o mais saboroso vinho. Quando voltei a olhar aquela água pude ver meu rosto.. minha pele estava avermelhada e um grande risco preto passava pelo meu rosto, pegando de um olho e indo até o canto da minha boca, é parece que aquela magia deu certo. Ouvi alguém abrir a porta lentamente e Quiana entrou no quarto, estava com seu imenso pano que cobria todo seu corpo, eu fiquei parada a olhando e seus olhos negros me olharam de cima a baixo, como se estivesse me analisando.

- Por que me olhas assim? - Perguntei. 

- Pensei que já estaria vestida. - Dito isso ela voltou a encarar meu corpo.

  Só então pude perceber que eu estava completamente despida, meu corpo todo estava avermelhado como meu rosto. Meu cabelo estava solto, e caia sobre meus seios. Os joguei para trás e pude ver algumas figuras na minha pele, começavam do lado direito da minha barriga comecei a seguir com as pontas dos dedos pois dava para sentir, ainda ardia. Cheguei com os dedos até minha costa e ardeu, só podia ser brincadeira, ela desenhou em mim?

- Como podes desenhar em minha pele? - Falei em um tom sério. 

 Como se saísse de um transe ela voltou a me encarar.

- Magia tem suas consequências Amberle, como acha que ganhei todas essas figuras que tenho em meu corpo?

  Fiquei em silêncio e voltei a observar as figuras em meu corpo, parecia mais símbolos, nenhum que eu conhecia, não era de nenhum reino, tribo ou aldeia que eu conhecia. Como eu não disse nada, e nem me importei de estar nua na frente de Quiana ela resolveu quebrar aquele silêncio.

- Na antiguidade quando a magia dominava o mundo, os fracos vinham até nós para pedir favores, o que era proibido, mas tinham em nossas tribos feiticeiros que não obdeciam estas regras e cada favor tinha seu preço tanto para quem fizesse o pedido e tanto para quem o concedia, mas não aceitavam riquezas como pagamento e sim um ato de bravura do mais fraco e do mais forte algo era arrancado dele.. - Eu ouvia em silêncio. Ela caminhou até sua cama pegou minhas vestes e me entregou.

- O que ? - Perguntei me vestindo.

- A coisa que mais lhe importava, quando isto era feito por ambos lados, seus ligamentos eram desfeitos e eles podiam seguir como se nunca tivessem se conhecido.

  Ela está dizendo que Deric tem uma divida com ela agora? Pois foi ele quem a chamou e quem fez esse acordo. Não entendia bem o por que dela estar me dizendo isto. 

-  Por que está me contando isso?

  Ela se aproximou de mim, quase colando seu corpo ao meu. Pegou algumas mechas do meu cabelo que insistiam em cair sobre meu rosto e colocou atrás de minha orelha, aproximou mais sua boca tocando um pouco acima de minhas bochechas. Meu coração acelerou e eu fechei os olhos apenas tentando entender aquele ato da mais nova. Quando feiticeiros fazem esse tipo de gestos é como se estivessem dando a certeza que algo teria selado ali, eu só não entendia o que exatamente. Quando abri os olhos novamente Quiana não estava mais ali, sumiu, do nada. Sai daquele quarto tentando entender o que tinha acontecido, o por que daquele gesto comigo e não com Deric. Falando nele.

- Acorde seu velhote. - Eu o sacudia enquanto ele tirava um cochilo.

  Ele não se moveu apenas abriu um olho, quando me olhou sua face mudou totalmente. 

- Quem é você? e como ousas me acordar? se veio para me matar sou o cara errado. - Minha vontade era de rir da cara que ele fez.

-Sou eu imbecil.. Amberle ! .. - Ele abriu e fechou a boca varias vezes, sentou e começou a coçar os olhos.

-Por todos raios do céu, aquela feiticeira fez um ótimo trabalho. Nem a reconheci! - Ele sorria como se tivesse ganhado algo..- Ninguém ira te reconhecer até a corrida.

 Eu sabia que estava esquecendo de algo, a luta no ringue! Não sabia quanto tempo tinha ficado aqui, meu pai já deve ter colocado todos guardas do castelo atrás de mim.

- Deric? E a luta? quando eu vim aqui seria no mesmo dia.. que dia é hoje?

- Não se preocupe com a luta, teve um adiamento de 3 luas porque um dos reis de quem iria competir passou mal, graças a mim claro..

- Quantas luas se foram?

- 2.. amanha de noite a luta será ao ar-livre diante de todo o reino.

  Eu terminei de ouvir já aliviada, mas ainda tinha o fato que eu sumi por dois dias e meio. Já estava indo em direção a porta quando Deric adivinhou meus pensamentos.

- Quanto ao seu pai.. eu disse a ele que fostes caçar com alguns amigos do reino. Coisa de jovens.. 

 Realmente ele pensa em tudo.

- Deric? Por que a feiticeira fez aquela tradição.. como se ela tivesse selado algo comigo?

  Ele ficou tenso com a pergunta, percebi pois ele começou a apertas as mãos uma nas outras.

- Bom.. é que eu a chamei mas como não sou um humano ela teria que selar com você e não comigo.

- COMO ASSIM? -Gritei não acreditando no que ouvi.

- Tinha que ser assim Amberle.

  Respirei fundo para não fazer uma idiotice e sai daquela caverna sem responder Deric. Agora está explicado o porque dela ter me dito aquelas coisas todas. Aquela feiticeirinha me enganou é igual ao imprestável do meu tiu.

 Já era noite quando cheguei aos meus aposentos. Fiquei correndo pela floresta na tentativa inútil de achar aquela feiticeira. Por sorte nenhum guarda estava vigiando meu quarto, estava praticamente vazia aquela areá do castelo. Acendi algumas velas enchi a banheira. Fui até o espelho e sorri com o que eu via, realmente ela tinha feito um bom trabalho, aqueles símbolos que cobriam quase minha costa toda e uma parte de meu rosto me deixavam irreconhecível, só se alguém me olhassem bem de perto saberiam quem eu era. Deitei na banheira deixando meu corpo relaxar. Teria cochilado ali mesmo se não fosse uma sombra escura parar na minha frente, com os olhos fechados pude saber quem era.

- O que quer aqui ? Vá embora.

- Quero lhe dizer que não tenho culpa das escolhas de seu tiu Amberle. - Respondeu Quiana. Me sentei para poder responde-la.

- E somente as escolhas dele que valem feiticeirinha ? Vocês acham que são diferentes mais não, são da mesma laia só mudam a raça. 

  Ela ficou brava, furiosa com minhas palavras. Eu realmente passei dos limites dizendo aquilo, mas já era tarde. Quiana tirou o capuz que cobria seu rosto e se aproximou rapidamente de mim, me segurando pelo pescoço.

- Você se acha muito esperta né? Mas não passa de uma pirralha mimada que só pensa em si mesma. - E apertava com força meu pescoço.

-Pelo.. menos não sou como você.. que.. engana as pessoas.. - Estava sem ar já. Ela ouviu aquilo e soltou meu pescoço.

- Eu não fiz aquilo porque seu tiu pediu Amberle, fiz isso porque senti aqui dentro que devia..-  Apontou para o peito.

  Dito isso ela se aproximou de mim. Senti sua respiração contra minha face. Eu estava assustada com a possibilidade de saber o que ela iria fazer. Quiana fechou os olhos e me beijou.

Fim do capítulo