Capítulo 44 - Faíscas da Verdade
Não ser maltratada não significa que meu cativeiro era menos torturante eu já estava a três dias naquele quarto sem notícias de Iara e dos outros. Isso me deixava muito mal, queria ao menos poder avisá-la que eu estava bem. O capanga que tomava conta de mim não era ruim apesar de ser um homem rude e até havia feito a gentileza de colocar o rádio perto da porta assim eu poderia ouvir um pouco de música e algumas notícia.
Mas no fundo eu praticamente não ouvia muita coisa, já que minha mente estava tão confusa que música nenhuma conseguia me distrair, mas me mantinha sempre atenta as notícias e entre elas estava a de meu desaparecimento. Nas noticias eu não aparecia como raptada e sim apenas como desaparecida, essa deve ter sido uma estratégia para não chamar ainda mais atenção e alertar os meus raptores, afinal não era a nossa intenção que eles soubessem que também os estávamos investigando.
Numa dessas notícias eu tive uma grande surpresa, mas acabei tentando acreditar que a minha mente estava confusa por conta do cativeiro, pois se isso fosse mesmo verdade eu estaria correndo muito perigo, mas na certa Iara estava correndo bem mais. Não poderia arriscar a fazer uma acusação dessas e nem estava em condições de fazer acusação nenhuma, presa naquele lugar, mas ficaria atenta pra descobrir a verdade.
Naquela tarde esperei ansiosa pela visita do chefe, o capanga havia deixado escapar, que naquela tarde seria iniciada a segunda parte do plano e que era bom eu não criar problemas, pois assim talvez eu até saísse viva, pois o chefe não tinha nada contra mim. Como já havia me habituado fiquei a espera pra poder escutar o que eles conversavam.
- Você sabe que não posso ficar vindo aqui, que todas as suspeitas se recaem sobre mim e se sonharem que estou vindo aqui estarei perdido.
-Pare de resmungar como uma mulherzinha! Sabe muito bem que não gosto dessas atitudes.
-O que esta insinuando que sou que nem a bugrazinha que fica se esfregando com pessoas do mesmo sex*. A única coisa que tenho em comum com ela é que gosto de mulher.
-Cala a boca seu imbecil, antes que eu de cabo da sua vida. Chega de besteira, temos que nos preparar pra segunda parte. Não imaginei que seria tão difícil convencê-la, acho que precisarei usar uma pouco mais de pressão, se necessário, mostro a ela o que pode acontecer com a doutorinha, caso ela insista demais em permanecer aqui.
- Mas ela não fez nada!
-Fez sim foi essa carinha de anjo e essa sua alegria de “Vamos salvar o planeta”, fez tudo dar errado. Era pra bugra chegar aqui e odiar mais ainda esse lugar e ir embora, ver que não perdeu nada aqui. Mas se não bastasse ela se tomar de amores por esse lugar, pra piorar tudo ela ainda fica apaixonada por essa doutorazinha idiota.
- Mas por que simplesmente você não tira ela do seu caminho? Não seria a primeira vez.
-Sabe que não posso fazer isso essas terras estão em nome dela e só podem passar pra outro dono se ela doar ou vender. A maldita da bugra mãe deixou em cartório que se algo acontecesse a catarrenta dela que tudo passaria a pertencer a reserva e uma vez que isso ficasse como propriedade indígena nem você e nem eu poderíamos ter acesso as terras.
-Nossa que sorte dessa menina, por que se não fosse por isso na certa ela já estaria junto dos pais.
-Chega de observações, não te devo explicações. Vamos falar sobre como convenceremos Iara a aceitar a proposta. Acho que devemos ameaçar a doutora e fazê-la ver que ficando aqui pode perder de vez a namoradinha.
-Bom também podemos fazer com que a doutora colabore, afinal ela não vai querer ver a indiazinha dela morta.
-Podemos ameaçar os amiguinhos dela também, ainda não podemos matar Iara, mas o irmãozinho da doutora, aqueles viadinhos alegres e aquele par de sapatão bem podem servir.
Meu coração estava quase saindo pela boca, não poderia ser verdade, aquela voz era a mesma que ouvi no rádio dizendo que as buscas por mim continuariam, eu não conseguia acreditar, mas depois de ouvir aquela conversa eu já não tinha mais dúvidas. Mas eles só poderiam estar de brincadeira quando falaram em ameaçar meus amigos. Como alguém poderia planejar tantas mortes assim com tanta naturalidade. Ele não era apenas uma pessoa ruim era um verdadeiro monstro e era nas mãos desse homem que estava a vida de meus amigos e da minha menina.
Por mais que eu tentasse me acalmar era impossível, eu precisava dar um jeito de avisar a Iara sobre o que estava acontecendo, ela precisava saber a verdade, antes que algo pior viesse a acontecer.
Pensei que o ideal seria que eu colaborasse com o que eles sugerissem e assim logo que tivesse uma oportunidade eu contaria a verdade, mas pra isso teria que convencê-los de que não sabia de nada, pois se eles desconfiassem que eu já sabia a verdade, eu correria muito perigo.
Tentei ouvir mais alguma coisa pra ver se saberia qual seria o passo seguinte, mas eles agora pareciam concentrados em outra coisa, haviam decidido começar com uma ameaça mais simples, pois assim Iara poderia ceder, tentariam ao menos não ser tão extremistas. Isso ao menos me dava um pouco mais de tempo pra pensar em como agir.
Decidi que precisava de calma pra pensar, sentei bem quietinha aproveitando a silencio do entardecer e me concentrei em meus pensamentos, e acabei sendo despertada por algo bem conhecido por mim, era o canto de uma pequena ave. Lembrava exatamente do dia em que passamos por ela e Arthur comentou que aquela pequena ave tinha o habito de fazer seu ninho bem próximo aos rios, mas que era considerada em risco de extinção e durante nossas coletas só a tínhamos encontrado em um lugar.
Putz era muito difícil de acreditar, mas eu estava exatamente na fazenda. As procuras devem ter se concentrado na floresta e provavelmente os índios já tinha a revirado por completo, mas não me encontrariam, pois eu estava onde eles jamais pensariam em procurar. Era uma sensação estranha que misturava certo conforto por saber que provavelmente eu não estava tão longe da minha menina, mas ao mesmo tempo frustrante, pois sabia que aquele era um lugar onde ninguém passava apenas Iara uma vez havia comentado que a mãe dela gostava daquele lugar, mas que depois do que havia ocorrido com a mãe ela não havia mais voltada a essa cabana, ou seja, eu estava no único lugar aonde Iara nunca iria me procurar.
Mas saber que eu não estava tão longe ao menos me trazia a esperança de que caso eu tivesse a oportunidade de fugir, as minhas chances de conseguir chegar onde eu pudesse encontrar ajuda eram maiores, eu precisava apenas pensar bem em como conseguir criar a oportunidade que me permitisse escapar.
Fim do capítulo
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