Capítulo 42 - Raptada
Acordei com a péssima sensação de que teria um dia ruim, e olhar a minha menina ali se preparando pra sair me deixava ainda mais preocupada, não pude conter a imensa vontade de mantê-la a meu lado por mais um tempinho. Apesar de todo meu dengo ela não poderia ficar e tentamos aproveitar um pouquinho, mas na esperança dela acalmar meus medos que não pareciam ter fundamento algum, ou pelo menos era isso eu desejava muito, que não passasse de impressão minha.
Levando em conta que sou uma pessoa de pouquíssima sorte, não demorou muito para que meus pressentimentos se tornassem reais. Logo que aquela criança apareceu desesperada imaginei que o pior houvesse acontecido meu coração disparou e eu comecei a suar frio. Apesar de a situação ser bem complicada, confesso ter ficado bem aliviada ao perceber que o problema não era com Iara. É claro que não fiquei contente ao ver aquela criança correndo perigo.
Senti-me num daqueles momentos em que a adrenalina tomA conta e acabamos que agindo por puro impulso. Tive uma atitude bem mais idiota do que heróica, mas que no fim das contas acabou por livrar as crianças dos homens com uma cara nade amistosa que nos ameaçavam. Por fim estava eu nas mãos dos meus supostos raptores, sendo levada pra sabe se lá onde. Tudo que eu conseguia pensar, apesar do perigo que poderia estar correndo no momento, era em como Iara reagiria ao saber da noticia, e torcia muito pra ela não ficar chateada com a Duda, que não teve culpa de nada. E no mais era tentar me manter calma e pensar num jeito de me livrar dessa situação e voltar pra minha Iara.
Por mais estranho que isso possa parecer, a impressão que tive era a de que não queriam me fazer mal. No caminho tiveram o cuidado de me alimentar e me manter hidratada. Quase não conversavam e após termos caminhado bastante taparam meus olhos e continuamos a caminhar até chegarmos a um veículo, onde me colocaram na parte de trás com as mãos e pés amarrados, mas tudo feito com cuidado, para não me machucar. Rodamos por mais de uma hora. Paramos e fui levada a uma casa. Lá dentro tiraram a venda de meus olhos e me conduziram até um quarto, que apesar de pequeno estava limpo e tinha água e algumas frutas sobre uma mesinha.
Trancaram-me lá e fizeram questão de deixa claro que não adiantariam gritos e nem tentativas de fugas, pois se até o momento haviam me tratado bem, mas que se eu começasse a criar problemas eles não seriam mais tão gentis.
-Descanse, pois é possível que o chefe queira falar com você ainda hoje. Fique a vontade para comer e se lavar, pois ninguém a incomodará. Essas foram as ordens que recebemos.
Chefe? Quem seria esse e que lugar era aquele? A minha mente não conseguia se acalmar e formulava mil perguntas, as quais eu não conseguia responder. Eu precisava de calma, para organizar meus pensamentos. Pelo visto esse chefe era mesmo alguém com poder. Também notei que ele provavelmente estava vigiando nosso grupo, pois sobre a cômoda ao lado da cama havia algumas roupas minhas, indicando que ele sabia exatamente onde estávamos. Andei pelo quarto e verifiquei se não havia câmeras ou se alguém poderia estar olhando de algum lugar, não encontrei nada então decidi tomar um banho rápido e trocar de roupas, pois a caminhada havia me deixado cansada e imunda. Sei que é um pensamento meio mórbido, mas se eu tivesse que morrer preferia que fosse após um banho e que eu estivesse limpinha.
Meu corpo estava exausto da caminhada e por toda aquela tensão. Sentei na cama após o banho e fiquei ali pensando em tudo que estava vivendo e imaginei que àquela hora Iara na certa já havia recebido a notícia de meu desaparecimento. Ela devia estar desesperada e esse pensamento me fez chorar, pela primeira vez depois de toda aquela tensão, acabei adormecendo em meio às lágrimas. Apesar o cansaço minha mente não se rendia completamente ao sono e meus sonhos eram um amontoado de imagens nas quais via minha Iara chorando e me procurando sem me encontrar.
Acordei assustada com as vozes vindo da sala. A conversa parecia nada amistosa.
- O que pensa que esta fazendo quer que sejamos todos presos. Perdeu o juízo? Você perdeu a noção do que esta fazendo!
-Quem você pensa que é pra falar assim, resolveu ficar com medo agora? Sinto informar, mas agora é tarde demais pra voltar atrás e nem adianta fazer cara de que não tem culpa, pois só o fato de saber já o torna cúmplice.
-Eu nunca imaginei que você chegaria a tal ponto. Eu concordei em comprar as terras assim que você as tivesse, mas não sabia que você seria capaz de tantos crimes. Você é louco! E eu não quero mais participar dessa loucura.
-E o que pensa fazer, vai me denunciar? Acha que as suas retiradas de madeira e tráfico de animais não são crimes, ainda mais quando faz isso em propriedades particulares ou áreas de reserva.
-Você não pode me denunciar?!
-Posso e farei, mas também posso apenas ir ao seu enterro após uma morte acidental. Algo tão comum nessas terras.
Chega senti arrepios sé de ouvir a conversa. Se ele era capaz de ameaçar assim o parceiro de crimes, imagine só o que seria capaz de fazer comigo. Acho que foi nesse exato momento que comecei a sentir medo. Toda aquela calma até o momento na certa teria fim. Apesar do medo a minha mente ainda estava bem o suficiente pra eu notar que conhecia aquela voz, algo familiar na forma de pronunciar as palavras. Fiquei ali quietinha torcendo pra ele não entrar no quarto, e pelo visto minhas orações foram ouvidas e Nossa Senhora dos Biólogos sem Sorte me ouviu e alguém chegou esbaforido chamando pelo chefe.
-Chefe acho melhor você voltar pra casa, logo o povo chega.
- Idiota quem lhe pediu opinião. Eu voltarei sim, mas antes quero saber como esta a menina?
-Ela esta bem doutor, nos estamos tratando ela bem, nenhum arranhão assim como mandou.
-A mantenham aqui em segurança, não quero que nada ocorra, por enquanto, ela será muito útil nas negociações. Agora preciso ir.
Encolhi-me toda no canto da cama quando ouvi a porta ser aberta. Mas quem entrou foi apenas um dos capangas que havia me levado até ali. Ele era grande e forte e mesmo que estivesse só ele ali eu não me arriscaria a tentar fugir, pois poderia haver outros lá fora, sem contar que o tal chefe poderia estar perto e perde de vez a paciência.
- Precisa ter medo não doutorinha. Pelo menos, não ainda. O doutor quer você bem vivinha.
Tomei coragem para perguntar.
-Por favor, será que pode me dar notícias de Iara?
- Ela esta bem moça, por enquanto ela também é intocável, mas depois que o chefe conseguir o que ele quer ai já não garanto nada pra vocês duas. Ele não ta nada feliz com vocês. Agora já falei demais. Se precisar de água ou mais comida bata na porta eu estarei sempre por perto.
Ele saiu e fiquei ali tentando por ordem em meus pensamentos e procurar em minha mente o lugar em que ouvi aquela voz, que me era bem familiar.
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
Sem comentários
Deixe seu comentário sobre a capitulo usando seu Facebook: