Capítulo 41 - Cadê ?
Sair da cama estava a cada dia mais complicado. Malu pareceu perceber a minha relutância em sair do seu lado e se aconchegou a mim e com seu sorriso mais lindo me desejou bom dia. Ela logo fez uma cara de dengo que fez amolecer de vez meu coração.
-Fica mais um pouquinho?
Nem considerei como um pedido afinal era exatamente o que eu queria fazer, simplesmente passar meu dia todo a seu lado, esquecer toda aquela loucura e de preferência ir para um lugar onde a minha doutora nunca corresse perigo algum. Mas não era assim tão simples precisava resolver aquela situação e não era por vingança, pelo que havia ocorrido com meus pais, eu apenas não poderia mais manter meus olhos fechados diante de toda aquela maldade e exploração.
-Amor me deixa ir com você? Hoje estou sentindo um aperto no coração, não quero que nada aconteça a você.
-Acalme-se amor vai ficar tudo bem. Voltarei para os seus braços, inteirinha amada. Não se preocupe!
Despedimos-nos com muito dengo ela estava numa carência tão grande, fizemos amor de uma forma suave e saudosa, nos tocando sem pressas como se guardássemos em nossa memória a imagem de cada pedacinho uma da outra, nossos beijos eram demorados e intensos e cada toque parecia atingir nossas almas. Mas eu precisava ir e sai de forma relutante vendo em seus olhar uma tristeza que eu não sabia ao certo qual era a razão, mas sabia que sempre faria o possível pra voltar em segurança para aquele abraço. Mas tenho que admitir o quanto era uma missão quase impossível deixar aquela mulher linda e nua com a cara mais dengosa do mundo me pedindo pra ficar.
Sai e encontrei Jana com a mesma cara de quem queria ficar e não era pra menos, já que ela e Duda agora dormiam sempre juntinhas. Caminhávamos em silêncio na companhia dos rapazes e de mais alguns índios. Às vezes tinha a sensação de que éramos como espíritos em meio a mata que se deslocavam sem emitir sons, sem que a nossa presença pudesse ser notada. Algumas vezes nos dividíamos em pontos de observação onde fotografávamos e tentávamos filmar a ação deles. Não eram poucas as vezes que visualizamos cenas fortes, como a morte de alguns animais, o corte de árvores centenárias. Tudo era realizado sem nem um pouco de remorso ou preocupação em esconder a ação, afinal pra que esconder, já estavam completamente acostumados a não ser punidos. Agiam sempre como sem fossem os donos de tudo.
Aquele estava sendo um dia atípico e tive a sensação de que eles haviam notado a nossa presença, mas que por alguma razão estavam fazendo de tudo para nos manter ali atentos. Havia uma movimentação maior que a usual, ao invés de estarem dispersos pela mata estavam todos num acampamento central e alguns pareciam discutir. De onde estávamos em cima das árvores podíamos ouvir algumas conversar estranhas que definitivamente não faziam muito sentido.
-O chefe não quer que ninguém trabalhe demais hoje, pois amanhã levantaremos acampamento, vamos mudar a área.
- Mudar de área? Achei que fossemos só buscar as flores?
-Cala boa seu idiota! Já disseram que não devemos comentar nada nesse lugar, por que aqui até as árvores podem nos escutar. Quer que o doutor corte sua língua?
-Verdade do jeito que o doutor é ruim, contar minha língua nem chega a ser maldade pra ele.
-Até que não seria uma má idéia se você pudesse passar mais tempo calado.
A conversa sem noção dos dois continuava e nada de trabalho. Já estávamos exaustos de ficar por ali e nada acontecia. Alguma coisa não estava certa, estava com um mau pressentimento. Quem seria esse Chefe, ao qual eles se referiam com tanta cautela? Sempre soube que o dono das terras vizinha não era lá alguém confiável e bem poderia estar por trás do esquema, mas daí a imaginá-lo cruel, como esses capangas pareciam sugerir, era algo mais complicado. No mais eu ainda precisava de provas, não poderia fazes acusações sem fundamentos.
O resto do grupo se juntou a nós e disseram que não haviam caçadores espalhados, que pelo que tudo indicava aquele era um dia de folga. Tinham ouvido algo sobre aquele ser um dia importante, pois estava chegando o dia do chefe aparecer e ele queria que tudo estivesse certinho. Decidimos que aquele dia não seria muito produtivo e resolvemos voltar, assim aproveitaríamos pra dar uma olhada no material que já tínhamos conseguido. E continuar a esperar os rapazes voltarem com os reforços que Jana havia comentado.
Meu coração parecia apertado no peito com uma sensação muito ruim que só piorou quando chegamos à tribo e vi os olhos de Duda, completamente vermelhos de tanto chorar, ela parecia estar em pânico e foi nesse momento que notei que a minha doutora não estava ao lado dela. Onde estava Malu?
-Iara me desculpe eu não sei explicar o que aconteceu? Ela estava perto do Rio e um curumim veio chamá-la, ele parecia nervoso e insistiu pra que ela o seguisse. Fomos juntas, mas quando chegamos onde ele queria surgiram uns homens no meio da mata, e eles estavam com outra criança e ameaçavam matá-la caso Malu não fosse com eles. Eu tentei convencê-la a ficar, mas ela não podia deixar nada de mal acontecer a indiazinha. Eles mandaram as crianças correr pra tribo. Eu quis ir com eles, pois tive medo do que poderiam fazer a Malu, mas eles além de não me deixarem ir e logo perderam a paciência com minha insistência e me bateram com força, acabei batendo a cabeça e desmaie. Disseram que só tinham ordens pra levar a doutora.
Eu parecia não entender nada do que Duda dizia a única coisa que ecoava em minha mente eram as palavras “eles levaram a Malu”. O resto eram apenas sons incômodos e todas as imagens agora eram como um grande borrão de tinta, nada de cores e formas e meu corpo pareceu ficar mais pesado e perdi completamente a consciência.
Despertei desejando estar novamente naquele momento vivido naquela mesma manhã no qual ela pedia que eu ficasse. Desejei ter aceitado seu pedido e ter ficado a seu lado, mas nada disso havia acontecido. Eu a havia deixado ali e agora ela correria perigo. Não era um pesadelo era a realidade e agora eu precisava de forças para encontrar a mulher que eu amava, mesmo que pra isso eu tivesse que revirar toda aquela mata. Eu não poderia perder mais um ser amado naquele lugar.
Levantei e vi uma criança chorando ao lado da minha cama. Quando ela me viu desperta correu e me abraçou dizendo.
-Me desculpe tia, estava brincando e pegaram a Jacira, me mandaram pedir ajuda pra tia Malu, mas eu juro que não queria que fizessem mal a ela.
-Calma Cauê, nos vamos achar a tia Malu. Sei que não foi sua culpa.
Eu queria consolá-lo, mas no fundo eu também me sentia culpada, mas não iria deixar que a culpa tomasse conta de mim, eu iria achar a minha doutora.
Ouvi a versão das crianças e mais uma vez escutei Duda, que agora com o auxilio de Jana já se encontrava mais calma. Queria encontrar pistas de pra onde poderiam ter levado Malu. Alguns índios já seguiam os rastros dos homens que a levaram. Estavam todos envolvidos na busca por Malu. E Jana já tinha entrado em contato com os rapazes, queriam ajuda o mais rápido possível, quem quer estivesse por trás daquele esquema agora seria encontrado.
Fim do capítulo
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