Capítulo 36 - Correndo Perigo
Seis meses de trabalho bem árduo em campo, as vezes eu até me perguntava se não estava exigindo um pouco demais da equipe, mas todos sabiam de antemão que seria uma área bem complicada e estavam animados com os resultados que iríamos obter com a nossa pesquisa. Combinado era passarmos nove meses em campo e os três meses restantes seriam realizados nos laboratórios para identificação dos espécimes que não haviam sido identificados em campo e para elaboração do plano de manejo da nova Unidade de Conservação, caso o dono na área concordasse e para a elaboração dos possíveis artigos onde seriam descritos o resultado, enfim era trabalho que não acabava mais.
Como nos restavam apenas mais três meses em campo estávamos trabalhando ainda mais duro, os rapazes saiam todas as noites e o povo da manhã trabalhava até não restar mais nem um raiozinho de sol. Meu coração ficava em pânico toda vez que via a minha menina sair à noite, eu tentava sempre esperar que ela voltasse pra que assim pudesse me assegurar de que ela e o restante da equipe estava bem, mas o trabalho andava tão cansativo que eu chegava as noites e era quase um ensaio pra morte de tão pesado que era meu sono. Mas naquele dia eu acordei e não senti Iara por perto estava apenas eu na barraca, olhei as horas e passavam das quatro da manhã, logo eu deveria levantar pra iniciar as coletas.
A ausência de Iara até tão tarde acabou completamente com meu sono, levantei e verifiquei em volta pra ver se eles já estavam chegando, vi o dia clarear e nada dos rapazes voltarem, já estava muito preocupada, o restante do povo levantou e logo estávamos todos apreensivos decidimos que naquele dia ficaríamos pelo acampamento ajeitando o material coletado e esperando o retorno de Iara, Duda, Eduardo, Felipe e Arthur.
Já passavam das sete horas quando eles chegaram e parecia exaustos. Fiquei muito feliz por ver todos aparentemente bem, mas quando meus olhos cruzaram com o de Iara foi que meu coração se sentiu muito aliviado, não pude conter minha ação e corri até ela e a abracei com força e logo em seguida a beijei com muita vontade. Nem me lembrei que estava diante de toda a equipe. Só me dei conta mesmo quando ouvir uns risinhos contidos e uma tosse forçada que veio acompanhada do comentário de Duda.
-Muito bom doutora! Agora o resto da equipe esta na fila de sua recepção amistosa.
Mas daí comecei a disparar uma metralhadora de perguntas, em parte por que estava realmente muito interessada em saber o ocorrido, mas também pra ver se desviava a atenção da ceninha romântica. E logo Duda se manifestou.
- Calma doutora se você deixar a gente respirar poderemos te contar tudo que aconteceu.
Iara que percebeu meu pânico diante da situação me abraçou com carinho e eu me deixei relaxar um pouco naquele abraço e logo ela sussurrou no meu ouvido.
-Acalme-se meu amor, estamos bem.
Reunimos a equipe próximo às barracas e eles contaram que passaram a noite esperando um grupo de madeireiros se afastar, pois se voltassem antes poderiam chamar a atenção deles para o acampamento e isso poderia ser perigoso já que eles estavam armados. Além de estarem cortando algumas árvores haviam também algumas gaiolas e outras armadinhas e muitos animais presos. A situação era bem complicada, pois alguns animais pareciam bem fracos e possivelmente boa parte deles morreria antes de chegarem ao destino planejado.
Iara tinha conseguido tirar algumas fotos e fazer umas filmagens, então para não levantar suspeitas de sua presença por ali eles preferiram manter-se escondidos até que os madeireiros fossem embora assim poderiam voltar em segurança.
O relato deles só me deixou ainda mais preocupada, pois de certa forma estávamos correndo perigo, nem sabia se eu aconselhava todos a irem embora ou se apenas mudávamos a rota, mas Iara não aceitou a primeira opção alegando que poderiam fazer ainda mais registros e assim poder fazer a denuncia afinal eles estavam cometendo vários crimes ambientais além de estarem ilegalmente em uma propriedade particular. Ela sugeriu que continuássemos a caminhada, porém que nos direcionássemos a reserva indígena, assim se precisássemos de apoio e abrigo ao menos teríamos onde procurar.
Aproveitamos o restante do dia pra levantar acampamento e percorrer o caminho que faltava até a reserva, não faltava muito até lá. Caminharíamos o máximo possível naquele dia e encontraríamos um lugar seguro perto do rio pra dormir e logo pela manhã percorreríamos o restante, pois chegar à tribo durante o dia seria mais seguro do que aparecer por lá durante a noite, pois eles poderiam estranhar a nossa chegada. Era inegável que estávamos todos tensos, afinal ninguém ali tinha passado por uma situação como aquela em geral trabalhávamos em áreas de reserva florestal em que já havia fiscalização e dificilmente nos depararíamos com uma situação de perigo como aquela, mas apesar da tensão todos concordavam que deveríamos continuar nosso trabalho.
Caminhávamos conversando pouco e logo notei que Iara não estava bem, vi em seus olhos uma expressão de temor e por um momento me lembrei da história que havia me contado sobre sua mãe, e havia sido naquele lugar em que tudo havia ocorrido e desde aquele dia ela não havia retornado ali. Imaginei a dor que a minha menina deveria estar sentindo e resolvi que faríamos uma pequena pausa pra comer e isso me daria tempo de ao menos tentar confortá-la um pouco.
-Amor sei que você deve estar em pânico com a idéia de ter que voltar lá, mas quero que saiba que estarei com você.
-Estou com medo Malu, de tudo voltar a se repetir, não quero que nada aconteça a nenhum de vocês.
-Ficaremos bem amor, tomaremos cuidado.
-Sabe que não queria voltar aquele lugar, em minha mente é como se tudo houvesse acontecido ontem, as imagens e sons estão bem vivos dentro de mim, não queria ter que estar novamente na tribo e nem sei se eles vão lembrar-se de mim, mas sei que lá é o único lugar onde estarão protegidos
-Claro que lembrarão de você amor, eles de certa forma são sua família e lembre-se que foi você decidiu ir embora.
-Você acha que foi egoísmo de minha parte tê-los abandonado?
-Iara você era apenas uma criança, o que poderia fazer? Você não foi egoísta apenas não tinha ferramentas para agir.
-Mas eu cresci e nem por isso quis voltar aqui, preferi manter distância como se nada aqui houvesse a ver com minha vida e isso não é verdade, pois sou parte desse lugar.
-Mas você esta aqui meu amor, e agora você tem a nossa ajuda e tenho certeza que juntos conseguiremos encontrar uma solução.
-Eu te amo sabia? E muito minha doutora.
-Também amo muito você minha menina e não vou te deixar sozinha.
Nessa hora Arthur e o resto do povo se aproximaram e foi ele quem disse as palavras, mas logo todos concordaram e até Pedro participou do abraço coletivo.
-Iarinha nós não sabemos ao certo o que te incomoda, mas queremos que saiba que estamos todos com você no que for necessário.
Depois de nosso momento equipe unida. Continuamos a caminhada até quase o anoitecer, quando paramos pra ajeitar as barracas. Depois de tudo pronto acedemos às lamparinas e a lanternas que carregávamos e ficamos comendo umas bobagens, já que não acenderíamos fogo naquela noite, e conversando um pouco. O povo resolveu encher Iara de perguntas sobre a tribo aonde chegaríamos na manhã seguinte.
-Bom na época em que eu morava aqui eles eram bem característicos mesmo, tipo de morar em ocas, dormir em redes e andarem nus, mas alguns até que se vestiam. Alguns falavam nossa língua muito bem como era o caso da minha mãe que tinha deixado a tribo por um tempo pra estudar, mas a maioria falava tupi mesmo.
-E você conhece a língua Iara? Tem alguém de sua família lá ainda.
Foi a pergunta de Arthur, que pareceu bem interessado em saber se restavam parentes de Iara na tribo.
-Sei sim Arthur, pelo menos em teoria, mas teremos que verificar na prática se ainda consigo me comunicar bem. E quanto a parentes minha mãe tinha uma irmã e eu tinha uma priminha, mas não sei dizer se elas ainda estão por lá.
-Quer dizer que haverão outras moças bonitas que nem você, andando nuas por lá?
Foi o comentário de Duda que arrancou sorrisos do grupo, pela total indiscrição, e que obteve como resposta um olhar nada amistoso de mim.
-Calma Maluzinha, veja pelo lado positivo se eu achar uma índia linda nunca mais vou ficar olhando pra sua.
Não havia mesmo como me irritar com a Duda e com a naturalidade que ela encarava tudo e no mais o seu bom humor ajudava bastante a equipe até nos momentos de tensão.Acabamos por ir dormir cedo, pois o dia havia sido bem cansativo.
Quando pude me ver novamente a sós com minha menina não pude conter a vontade de tocá-la, minhas mãos deslizaram suavemente em seu corpo como se quisesse me assegurar que estava mesmo tudo certinho com ela, eu amava tudo naquela mulher a idéia de perdê-la me enlouquecia. Ficamos ali trocando carícias e beijos suaves até que eles começaram a ficar mais intensos.
- Amor estamos na barraca alguém pode ouvir alguma coisa.
- Esta me chamando de escandalosa é?
Foi minha pergunta em tom de brincadeira e logo continuei o comentário.
- E se for analisar, não estaremos fazendo nada do que a maior parte da equipe deve imaginar que façamos sempre, então já que eles já pensam isso, mesmo sem que a gente faça, vamos tornar esse motivo real.
Ela riu do comentário e se deu por vencida, afinal toda a tensão daquele dia havia nos deixado com saudade de aproveitarmos bem nossos momentos juntinhas. Fizemos amor quase como duas adolescentes no quarto ao lado dos pais. Gemidos mais contidos e nem por isso menos intensos, nos amamos de uma forma tão suave e carinhosa, tão diferente da forma fogosa da vez anterior, mas ter seu corpo junto ao meu e sentir o prazer que sempre em ondas percorriam nosso corpos enquanto nos tacávamos era algo que me deixava completamente saciada, simplesmente por ser a minha menina a meu lado, ainda ficamos um tempinho acordadas conversando quase como se fossem juras de amor.
Ela estava exausta por nem ter dormido durante o dia inteiro e logo adormeceu em meus braços. Fiquei um tempo a observando dormir de forma serena senti um aperto no peito e um medo muito grande de perder a mulher que eu amava. Seria capaz de tudo para protegê-la.
Fim do capítulo
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