Nunca imaginei que algo assim passaria pela minha cabeça, mas esse era o meu pensamento aquela manhã. Eu estava perdidamente apaixonada por uma mulher e ela era linda completamente nua deitada ao meu lado. Admirar era tudo que meus olhos faziam hipnotizados por aquela visão tão encantadora dela adormecida. Seu cabelo negro emoldurando seu rosto de feições tão delicadas e ao mesmo tempo tão marcantes, sua cor de canela. Minha Iara, minha sereia que havia me encantado.

            Era ainda cedo e depois de uma noite como aquela, seria bom deixá-la descansar. Decidi fazer uma surpresa e preparar nosso café da manhã e levar pro quarto. Vesti apenas uma camiseta e um shortinho e desci. Procurei nos armários algo para fazer, pois eu não tinha o habito de comer muito pela manhã, mas a minha menina acordava sempre faminta. Preparei uma bandeja caprichada, com direito a torradas, geléia e frutas, suco e o café que provavelmente seria uma das poucas coisas que eu iria tomar. Estava já quase subindo as escadas quando ouvi.

-Bom Dia Maria Luísa! Esqueceu de mim foi menina? Achei que tivesse educado você um pouco melhor.

-Beatriz o que faz aqui? Eu disse quase derrubando a bandeja.

- Me chamar de mãe às vezes não deve doer. Vim com Arthur disse que estava com saudade de vocês, afinal são meus filhos.

- Saudade? Tudo bem farei de conta que eu acredito em você, Mãe!

- Não acha meio impróprio desfilar assim pela casa? E aonde vai com essa bandeja?

- Bom acho que nada disso é da sua conta. Onde esta Arthur?

Perguntei já levando bandeja de volta pra cozinha.  Logo vi meu irmão entrar e me lançar um olhar que foi um pedido de desculpas e que deixava bem claro que ele estava ali por livre e espontânea pressão, afinal era sempre assim que Beatriz agia.

- Bom dia Malu, a mamãe foi até meu apartamento e ela queria muito saber em que estávamos trabalhando e disse que queria muito te ver então você sabe como é difícil se negar a fazer algo que ela pede.

            Ele disse em tom de ironia. Ao que ela logo respondeu.

-Que isso menino, falando assim parece até que te obriguei a me trazer, deviam estar felizes por eu ter encontrado um tempo pra visitá-los.

-Ok mamãe estamos muitooo felizes, só não sabemos o que nos custará essa visita. Faremos o seguinte, vou subir pra me trocar enquanto Arthur te mostra a casa e depois tomamos café da manhã juntos.

            Subi apressada e com a cabeça a mil por hora, como dizer a Iara depois de uma noite como aquela, que precisa que ela fingisse ser uma amiguinha, por que a louca da minha mãe tinha resolvido fazer uma visita surpresa. Putz, por que isso tinha que acontecer agora, sei que devemos amar nossas mães, mas Beatriz parecia ter o dom de aparecer sempre que eu estava feliz e acabar com tudo eu estava morrendo de medo do que ela poderia fazer a Iara.

            Ela estava completamente linda, me aproximei e deitei a seu lado ela se espreguiçou, e me abraço abrindo os olhos em seguida e me desejando um bom dia muito dengoso acompanhado de um beijo. Como eu simplesmente desejei ficar ali e esquecer o resto do mundo, e em especial o fato de minha mãe estar lá embaixo me esperando e provavelmente a presença dela ali não representava nada de bom.

-Bom dia minha menina!

            Respondi sem conseguir disfarçar que algo me incomodava e ela já me conhecia o suficiente pra saber que havia algo errado.

-Que foi Malu? Não me diga que não se lembra de nada da noite passada? Por que se for isso eu te ajudo a lembrar agora.

            Ela disse isso sorrindo e se aproximando pra mais um beijo. Ao qual não pude deixar de retribuir.

-Diga minha doutora o que te preocupa?

            Eu nem sabia por onde começar então decidi ser direta.

-A minha mãe resolveu me fazer uma visita surpresa, ela esta lá embaixo agora me esperando.

- Hum nossa, moça de família mesmo você heim Malu, mal começamos e já terei que me explicar com a sogrinha.

- Não Iara, ela não pode saber.

-Como assim Malu? Vai me manter escondida aqui no quarto até sua mãe ir embora.

- Não é isso eu só não quero que ela saiba de nós agora, ela não é uma boa pessoa e pode fazer algo de ruim contra nós.

-Que isso Malu, não somos mais crianças, acho que posso me defender muito bem de uma senhora.

-Iara por favor, só um tempinho é o que eu peço, logo ela consegue o que veio buscar e vai embora.

-Ok Malu serei compreensiva, por que sei muito bem o quanto isso de assumir pra família é algo complicado, mas não vou aceitar ser seu segredinho por muito tempo.

-Não farei isso com você eu prometo.

            Disse isso enquanto a abraçava e pedia desculpas. Mas ela logo desfez a cara de brava e me sorriu novamente.

-Vamos temos que nos arrumar logo, afinal não quero deixar minha futura sogrinha esperando muito. Vá primeiro por que se entramos juntas nesse banheiro eu não sei se darei conta de te deixar descer.

            Ela era simplesmente perfeita, mesmo numa situação como aquela ela fazia o possível pra me ajudar.

            Descemos e Arthur já estava com cara de pânico por ter que ficar tanto tempo sozinha com nossa queridíssima mamis. Logo apresentei Iara como mais um dos membros da equipe. Logo ela iniciou seu interrogatório crivando Iara de perguntas, algumas nada gentis, mas Iara respondia tudo com tanta calma que logo ela acabou desistindo de alfinetar a moça que ela havia acabado de conhecer e se voltou pra mim seu alvo preferido.

-E você minha filha quando vai parar com toda essa loucura de se embrenhar no mato e pensar em ter uma casa e uma família.

-Mãe acredito que já tenhamos discutido o suficiente sobre isso.

-Sabe uma coisa que eu não entendo é a quem você puxou com esse gênio, afinal seu pai era um homem fino e culto e eu detesto tudo isso.

            Em geral eu sempre ignorava todas as provocações de minha mãe, mas definitivamente ela estava passando dos limites, por que ela simplesmente não pedia logo o que queria e voltava pro seu mundinho de dondoca e me deixava em paz. Iara percebendo a tensão em meu rosto agiu de forma espontânea segurando carinhosamente a minha mão num gesto de apoio ao qual eu respondi com um sorriso. Acho que esse ato não passou despercebido aos olhos de minha mãe e nem de Arthur. Logo ela voltou suas perguntas pra Iara.

-Iara belo nome, mas o que uma moça aparentemente tão jovem faz embrenhada nesse mato todo? Deve ter deixado um namorado a sua espera?

- Não senhora, e a propriedade e de minha família então é de meu interesse que eu esteja a par da pesquisa e também gosto muito desse trabalho.

            Ser um das proprietárias do lugar conferiu a Iara um status que aos olhos de minha mãe pareceu ser algo bem interessante. Logo ela disse que precisava descansar um pouco e que após o almoço conversaríamos mais. Logo que ela subiu Arthur se voltou pra nós e perguntou.

-Meninas o que foi isso?

            Iara me olhou como quem pede permissão pra dizer algum segredo e eu assenti com a cabeça em sinal de que ela estava livre pra contar a verdade pra Arthur.

-Espero que não se importe de me ter como cunhada. Eu e sua irmãzinha estamos namorando ou pelo menos é isso que eu quero.

            Olhei pra cara de sapeca que ela fez ao dizer isso e logo em seguida a cara de bobo de Arthur perguntando.

-Isso é verdade maninha?

-É sim Arthur e eu já te pedi pra não me chamar assim na frente dos outros.

             Mas a resposta dele foi um abraço super empolgado em mim e na pobre da Iara que até se assustou.

-Que bom, agora tenho duas irmãs, temos que comemorar afinal não é todo dia que a Malu desencalha.

-Vamos sim comemorar cunhadinho!

-Ei será que vocês dois podem se acalmar um pouco, ou esqueceram que a minha queridíssima mãe esta por aqui.

-Nuss, é verdade Malu e como você pensa em contar isso pra ela?

- Bom eu ainda não bolei nenhum plano, mas estou aceitando sugestões.

-Ok maminhas podemos pensar em algo enquanto preparamos um almoço bem gostoso pra comemorar.

            Enquanto Arthur empolgado caminhava pra cozinha senti os braços de Iara me envolverem em um confortante abraço e me dar um beijo com muita ternura, e logo sussurar no meu ouvido.

-Não se preocupe, dará tudo certo a aprovação de quem realmente importava nós já temos e isso que importa.

Fim do capítulo