Capítulo 6
Fernanda
- Jura que você falou isso? – Pepê me perguntava com os olhos esbugalhados. Eu sei, era difícil acreditar que um dia eu pronunciaria aquelas palavras.
- Falei. – torci os lábios. Não que a Lívia não merecesse, mas agora a garota estava se achando. E outra eu nunca gostei de falar essas coisas, sempre ficava constrangida.
- Mas e agora como vocês estão? – perguntou meu amigo bisbilhoteiro. – preciso me inteirar passei quase 2 meses nesse curso em São Paulo.
- Estamos bem, quer dizer, eu nunca tive muita vocação para esse negócio de exclusividade, mas até agora está tudo bem. – respondi enquanto parava ao lado de uma das portas de vidro da musculação, observando a morena com os alteres nas mãos.
- E como foi o pedido? – Pepê me retirou do transe. Olhei para ele sem entender. – ela não te pediu em namoro? – Ok. Meu amigo fez um “O” com a boca, por que isso seria importante gente?! – pensei que a Liv fosse mais romântica, sei lá. Decepcionei.
Fechei a cara. Certo que até 5 minutos atrás eu nem me importaria com isso, mas observe, ela poderia ter feito um jantarzinho né?! Ou ao menos ter dito que me amava, coisa que diga-se de passagem ela nunca falou, ou, pelo menos, pedir assim “Nanda, eu queria ter um rolo mais sério contigo. E ai? Já é ou já era?”. Horrível né? A Lívia nunca falaria assim. Mas também não falou de jeito nenhum.
- Mas também não precisa vocês estão tão bem juntas né?! – tentou melhorar com um sorriso amarelo. Que, inclusive, só piorou as coisas! Trinquei os dentes e apertei tanto a garrafinha plástica que estava na minha mão que ela ficou toda contorcida. Meu amigo me olhou com os olhos esbugalhados.
- Porr* nenhuma! – falei nervosa – ela acha o que? Que não precisa seguir as convenções sociais comigo? Ah, mas tá muito enganada. – falei brava e meu amigo colocou a mão na boca incrédulo.
Mas a Lívia não sabe fazer merd* pela metade, tem que se cagar toda. Não bastava eu já estar nervosa por sua falta de consideração em realizar o pedido oficial. Não bastasse isso, a bonita resolveu malhar glúteo, até aí tudo bem, mas a cachorra da Luciana precisava ficar acompanhando?! Não que eu seja ciumenta, mas imagina a personal mais cobiçada da academia parada olhando a bunda da tua mulher. A professora colocou uma das mãos na cintura da minha namorada e a outra na perna, e a assanhada fez o que? Sorriu para ela. Senti minhas narinas inflarem.
- Nanda, você está se sentindo bem? Você está vermelha! – falou gargalhando – quanto ciúmes!
Ciúmes nada. Eu só...só queria colocar uma plaquinha no pescoço da Lívia “propriedade particular, por favor, não mexa! ”, coisa pouca sabe gente?!
A Lívia me viu e veio em minha direção, com um sorriso lindo e aqueles olhos cor de âmbar brilhantes.
- Tá aí a muito tempo? – veio me dar um beijo e eu virei o rosto. Não sou obrigada! – que foi? – arqueou a sobrancelha e olhou atônita de mim para o Pedro que ainda ria.
- Não estávamos só caminhando pelos corredores, e o Pepê resolveu parar para secar o Daniel, aquele professor de camisa vermelha.
- Eu sei quem é. – ela entortou a boca e tentou se aproximar, eu grudei no braço do Pepê – que foi? Tô fedendo? – nem suada aquela menina cheirava mal. Era incrível!
- Um pouco. – ela arregalou os olhos incrédula – não queria dizer nada, mas é melhor você tomar um banho. – tadinha ela se afastou da gente toda envergonhada, chega ficou vermelha.
- Lí, você esqueceu sua garrafa lá na academia – chegou a professora gostosona e pelo jeito cheia de intimidade com a sem vergonha da minha namorada – boa noite meninos! – deu aquele sorriso branco cheio de dentes perfeitos, me subiu um ódio. Respondi com um aceno e um sorriso amarelo.
- Ah, Lu obrigada! – Lu? É isso mesmo Brasil? – Deixa eu ir tomar um banho que eu estou com um odor desagradável!
- Quem disse isso? – perguntou a professora, chegou mais perto da Lívia aspirando o cheiro dela! Que ousadia! – seu cheiro continua gostoso! – sorriu para a Lívia que ficou vermelha e me olhou sem graça. – mas já que você está indo para o banheiro eu te acompanho, também vou tomar um banho. Meu turno acabou. – Banheiro? Juntas? Nem pensar.
- Você vai tomar banho lá em casa! – falei séria com o cenho franzido, passei o braço em volta da cintura da Lívia e encarei a personal a minha frente que fez uma careta engraçada.
- Então eu já vou gente. – sorriu amarelo e foi cheia de rebol*do.
- Só faltou você fazer xixi na Lívia, Nanda! – Pedro ria ao nosso lado e eu empurrei a engenheira que me olhava boquiaberta.
- Não é nada disso, só acho melhor a Lívia tomar banho lá em casa porque é mais confortável! – falei me sentindo meio estranha.
- Fernanda, você precisa controlar esse seu ciúme, que situação desagradável! – resmungou séria.
- Ah, quer dizer que eu estou errada? Essa garota fica toda se jogando em cima de você e eu não posso falar nada né?!
- Maria Fernanda não foi bem assim. – me olhou exasperada – calma! – pediu ao ver o quanto eu estava nervosa! Estava mesmo, horas!
- Calma o caralh*! Você fica tirando de santa, me crucificava tanto e agora está aí toda dada – ela me olhou surpresa, nem eu entendia o motivo dessa explosão toda. – quer saber de uma vai lá com ela que eu vou para a minha casa!
Dei dois passos e senti uma tontura, se a Lívia não me segura eu teria caído no chão. O mundo girou por alguns segundos e de repente as luzes se apagaram.
Acordei com um cheiro forte e desagradável, minha cabeça doía um pouco. Olhei para cima e vi um par de olhos castanhos clarinhos estampados com uma preocupação latente. Olhei ao redor, estava na sala da diretoria.
- Eu tô bem! – falei baixinho e passei meus dedos na bochecha da engenheira que soltou um suspiro aliviado.
- Mas é bom ir a um médico, Fernanda! – ouvi a voz da insuportável da Bruna. – até porque eu vi você vomitar hoje de manhã! – Quem chamou essa menina aqui mesmo?!
- Que história é essa? – Lívia me olhou séria. – Por que você não me falou, Maria Fernanda? – cruzou os braços no peito.
- Lívia eu só te vi agora – ela revirou os olhos, eu sei que não era desculpa, mas eu não queria que ela se preocupasse – eu tô bem. – levantei devagar ainda estava um pouco zonza.
- Eu vou levar você a um hospital! Pode ser alguma virose, ou dengue, ou febre amarela, sei lá – passou as mãos nas ondas do próprio cabelo.
- Calma, também não é assim Lívia. – Bruna amenizou – pode ser só um mal estar, a Fernanda não deve ter se alimentado direito.
- Isso é verdade, essa maluca nem almoçou direito. – Pepê corroborou
- Tudo bem, agora está tarde. Vamos para casa, meu bebê! – jura que a engenheira me chamou assim na frente de todo mundo? Vi o Pedro e a Bruna engolirem a risada. – lá em casa eu vou alimentar você – ela sorriu com carinho. Eu suspirei.
- Cuida da minha irmã, cunhada – Felipe deu dois tapas no ombro da engenheira que acenou com a cabeça.
- Oh Nan, eu não sou tão boa na cozinha quanto você, mas preparei uma sopinha leve, com verduras e frango – ela falou e pôs o prato a minha frente. – nossa, esse seu cheiro está delicioso – me abraçou por trás, enquanto abria a toalha. Não sei porque mas meu estômago revirou na hora.
- Lívia, vai tomar banho pelo amor de Deus – a empurrei e me afastei com urgência.
- Mas Nanda eu acabei de tomar banho.
- Esse perfume, desodorante, sei lá...cheiro horrível, doce – apontei para o banheiro – usa um dos meus viu?! – ela olhou para mim incrédula.
Mirei a sopa em cima da bancada, estava com uma cara ótima, abriu meu apetite na hora. Nem me vesti, comi de toalha mesmo enquanto assistia uma comédia romântica ótima. Tão boa que chorei horrores. A Lívia demorou no banho, achei que tinha dissolvido na água.
Quando saiu nem olhou na minha cara. Agora foi que deu, não posso nem pedir para ela tomar um banhozinho. Ah, diga-se de passagem, o cheiro estava bem melhor. Ouvi o barulho da televisão da sala. Relaxei, do jeito que a engenheira era marrenta fiquei até com medo dela levantar e ir embora.
Botei só uma calcinha e um sutiã e fui a sala. A engenheira teve a audácia de nem me olhar. Passei para a cozinha, desfilei bem na frente dela. A morena virou o rosto. Lipo pulou no sofá e se deitou no braço do móvel, a engenheira acarinhou a orelha dele que fez manha. Que gato traidor!
Ok, ela venceu. Sentia uma vontade insana de estar juntinho dela. Sentei no sofá bem pertinho. A Lívia para variar estava assistindo “Criminal Minds”, revirei os olhos.
- Lívia por que você nunca me pediu em namoro? – perguntei com serenidade enquanto jogava no celular. Ouvi ela prender a respiração.
- Eu não sabia que você se importava com isso – deu de ombros.
- Por que? Você acha que eu sou inferior a outra mulher? Sou diferente? Sou menos merecedora de um jantar e flores? – perguntei olhando-a nos olhos. Ela engoliu em seco.
- Fernanda, você nunca foi fã de demonstrações exacerbadas de afeto. – ela baixou os olhos. – aconteceu alguma coisa?
- Olha pra mim, você me ama? – não sei porque, eu nunca liguei muito para o sentimento da Lívia. Não que eu quisesse magoá-la ou qualquer coisa desse tipo, do meu jeito eu sempre tentei protege-la. Consigo visualizar agora que eu sempre a amei, só que era tão imatura que nem conseguia perceber isso. E por algum motivo a ideia dela estar comigo por qualquer razão que não fosse amor me incomodava. Acho que no final das contas todas as mulheres sonham com um conto de fadas da “Disney”.
- Por que você está me perguntando isso? – pior resposta não há né gente?!
- Porque eu quero saber. Mas pelo visto nem você sabe. – me levantei do sofá – sabe Lívia eu só queria que você dissesse que me amava, que quer construir uma família, ter filhos, que ficaria comigo independente de qualquer coisa. Só isso.
Levantei e fui para o quarto sem dar chances da engenheira se explicar. Não precisava trancar a porta, a Lívia não entraria sem minha autorização. Não sei exatamente o que estava acontecendo comigo. Esse excesso de ciúmes, essa carência, eu não sou assim. Não sou.
Acordei no dia seguinte com um enjoo absurdo, mal levantei da cama e corri para o banheiro. Coloquei a sopa toda para o lado de fora. Senti alguém segurando meus cabelos com delicadeza. Quando eu terminei, ela me segurou deu descarga e entrou comigo no chuveiro, de roupa mesmo. Lavou meu rosto, tirou minhas peças íntimas. Me deu banho. Lavou dos meus cabelos aos dedos dos pés. Eu escovei os dentes e gargarejei com enxaguante bucal três vezes.
Após me vesti fui a cozinha tomar café. E bem, a mesa estava posta, tipo, linda sabe? Com um arranjo de jasmim lindo! A Lívia deve ter acordado cedo para fazer aquilo para mim. Fiquei emocionada.
- Nanda, senta. Toma café comigo. – eu me sentei, e ela me olhou no fundo dos olhos com muito carinho – olha, pode ser que eu não seja perfeita. Óbvio que algumas coisas vão me faltar, e as vezes vai ser necessário você chamar minha atenção sim, mas eu espero que você nunca mais duvide do que eu sinto por você. – ela colocou as mãos por cima das minhas – eu te amo, Nanda! Sempre amei. E acho que sempre vou amar!
Ok, meu coração derreteu como manteiga na frigideira. Meus olhos lacrimejaram levemente, eu estava tão melosa esses dias. E a engenheira me deu um sorriso amoroso e beijou minhas mãos com carinho.
Realmente, a Lívia fez questão de ser mais presente e carinhosa comigo. Meu Deus, como é bom ser de alguém! O problema é que quando você se entrega a uma pessoa a ideia de estar sem ela torna-se sufocante. E bem, já deu para perceber que minha relação com a Lívia é como uma montanha russa né?! Pelo jeito nossa vida nunca seria monótona, a gente sequer precisava de um vilão para tentar nos separar, nós fazíamos nossas próprias cagadas. E eram homéricas diga-se de passagem. E algumas irremediáveis.
Acordei e olhei para as paredes brancas que me cercavam, meu irmão de um lado e o Pedro do outro, não entendi nada. Baixei os olhos e vi aquela camisolinha verde sem graça, eu estava em um hospital.
- Por que eu estou aqui? – perguntei na mesma hora que vi a minha namorada entrar no quarto preocupada e correr para o meu lado.
- Fernanda você desmaiou pela segunda vez hoje! – meu irmão ponderou sério – não dá para fingir que não tem nada acontecendo. – eu engoli em seco. Se tivesse sinceramente eu não queria saber.
- Nan, eu tô aqui. – ela passou a mão nos meus cabelos – eu vou cuidar de você tá bom? – selou meus lábios aos dela.
Segundos depois eu vi uma médica entrar na sala. Ela possuía um ar jovial, olhou para as nossas mãos unidas e levantou a sobrancelha. Não sei porque mas senti que alguma coisa estava errada.
- Eu pedi alguns exames. – ela novamente nos olhou meio receosa mas por fim abriu um sorriso – bem, eu realmente já imaginava o que era pelos sintomas narrados, mas preferi ter certeza antes de dar a notícia.
- E o que ela tem doutora? – a Lívia perguntou nervosa. A engenheira estava mais tensa que eu.
- Fernanda, você está grávida!
Não isso não pode estar acontecendo. A ideia de ter um filho em si nunca passou pela minha cabeça, mas também não me desagradava de todo. Sempre gostei de crianças, no entanto, não esperava produzir uma tão cedo.
O grande problema era a Lívia, a reação dela, mais precisamente. Na verdade, eu tive certeza que não ia ser fácil quando eu senti a mão dela esfriar. Os olhos invariavelmente abaixaram, ela abriu alguns botões da camisa como se precisasse de ar.
- Acho que eu preciso beber um copo d’água – foi a última coisa que eu ouvir a morena falar antes de vê-la se retirar do quarto em passos apressados.
Não, de novo não. Fiz menção de me levantar, mas eu ia aonde com aquela camisolinha que deixava minha bunda a mostra?
- Deixa ela Nanda. – meu irmão falou preocupado – a garota precisa pensar um pouco. – eu respirei fundo – você precisa pensar nesse garotão que vem por aí.
- E pelo amor de Deus, escolham outra letra do alfabeto né? Porque “F” ninguém aguenta mais. – eu sorri triste para meu amigo que me olhou com afeto e sussurrou baixinho – vai passar, não se preocupe, ela vai voltar.
Mas dessa vez ela não voltou.
Fim do capítulo
Gente, boa noite!
Desculpa a demora, eu estou meio ocupada esses dias. Na verdade, o capítulo estava quase pronto mas faltava finalizá-lo por isso não postei-o antes.
Agradeço os comentários de vocês.
Um abraço a todas!
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Flavia Rocha
Em: 30/03/2017
E agora, Livia? O amor vai ser forte o suficiente?
Espero que ela possa passar por cima de qualquer recentimento que surgir e formar uma familia feliz. rs
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