Visita inesperada.
Perspectiva - Bárbara
- Amor, essa blusa está ótima! Por que não leva logo essa? – falei quando o Diogo saiu do provador de uma loja de roupa masculina vestindo uma blusa preta de mangas longas.
- Não vou levar qualquer uma! – disse fingindo estar irritado com a minha impaciência.
Ele estava experimentando roupa há uns trinta minutos e eu tenho motivos para estar irritada e sem entender nada: Ele me ligou e pediu para eu encontrar com ele no shopping, quando cheguei aqui ele disse que precisava de uma blusa nova, pegou umas 10 e está na última agora, se olhando no espelho há uns cinco minutos. Nunca vi o Diogo demorar tanto pra escolher uma roupa, fora que ele parece um pouco inquieto ou ansioso.
- Não é qualquer uma, essa ficou boa em você! – falei olhando para o rapaz que estava atendendo o Diogo pedindo ajuda com o olhar.
- Se você quiser temos esse modelo de outras cores! – ele disse se aproximando. Olhei não acreditando que ele estava mesmo sugerindo de o Diogo experimentar mais roupa, eu estava pedindo ajuda e não para atrapalhar.
- Ótima ideia! Traz pra mim, por favor! – Diogo disse e em seguida fechou a porta do provador.
Respirei fundo e me aproximei da porta falando baixinho para apenas ele ouvir.
- Diogo, é sério, que palhaçada é essa? Eu estou cansada, estou desde cedo na rua, já fui para a faculdade, já trabalhei, eu pensei que a gente ia jantar aqui e conversar um pouco! – parei de falar quando o rapaz de cabelo loiro na altura dos ombros se aproximou novamente com as blusas. Olhei para ele séria e me afastei da porta.
- Desculpa, eu esqueci o nome dele! – ele disse sorrindo para mim aguardando minha resposta
- Diogo! - o meu namorado respondeu abrindo a porta com o celular em mãos. – Valeu, cara! Mas vou levar essa mesmo! – disse erguendo a blusa preta que vestia há pouco. O atendente olhou para ele sem entender muito, mas concordou e foi para o balcão levando a blusa.
- Podemos jantar agora? – perguntei assim que saímos da loja
- Não! Preciso ir embora, depois te levo para comer em um lugar maneiro, pode ser? – perguntou beijando minha mão.
- Como assim? Agora você tá com pressa? Há dez minutos atrás você estava na maior calma! – falei começando a me irritar
- Amanhã eu preciso chegar mais cedo ao escritório! Preciso ir!
Resolvi não discutir, estava cansada e nem um pouco disposta. Fomos até o estacionamento e eu entreguei a chave do meu carro para ele dirigir já que a minha preguiça falou mais alto. Ele decidiu ir comigo até minha casa e de lá ia pra dele. Fomos o caminho conversando sobre como as coisas estavam no jornal, sobre a minha adaptação e como estou começando entrar no ritmo e precisando cada vez menos de ocupar o Sandro e Tainá.
- E a filha do Marcelo? A... – disse tentando se lembrar
- Mariana. – falei e virei o rosto para minha janela para olhar o fluxo de carros passando
- É, Mariana!
- O que tem ela?
- Não apareceu mais lá? Ela não ia te ajudar?
- Deve estar ocupada, não a vejo desde o dia em que fui à sua casa para ver sobre o trabalho da faculdade!
- Fiquei sabendo de uma coisa esses dias! – disse misterioso
- Sobre o quê? – perguntei o olhando e analisando suas feições.
- Sobre ela! – dei uma paralisada e fiquei distante em pensamento. Óbvio que eu não contei o que aconteceu na casa da Mariana no dia que fui, eu não sei qual seria a reação do Diogo, mas também não achei legal expor a intimidade da Mariana, por mais que ele fosse meu namorado e não fosse contar pra ninguém.
- O que você ficou sabendo? – perguntei já imaginando do que se tratava
- Depois te conto, a gente chegou! – eu peguei o controle e abri o portão da garagem e ele estacionou. Ainda estava meio perdida em meus pensamentos quando ele disse que iria entrar um pouco, e eu estranhei o carro da minha mãe já estar na garagem. Ao abrir a porta, paralisei quando dei de cara com a pessoa que eu menos esperava ver nesse momento.
- Babiii!! –disse minha irmã mais velha com um sorriso enorme no rosto, nem deu tempo de eu pensar, ela já estava com os braços envoltos de mim, me envolvendo em um abraço apertado.
- Sofia? O que você tá fazendo aqui? – perguntei apertando ainda mais minha irmã em meus braços. A saudade não cabia em mim.
- Oi! Saudades! Como você tá? Como vai a vida em Portugal? Essas sim são palavras que a gente deve dizer quando ficamos muito tempo sem ver alguém! – disse se afastando para me olhar nos olhos, mas ainda segurando minhas mãos.
- Desculpa! É que me pegou de surpresa!
- Era essa a intenção! – disse rindo. – Precisei de uma ajudinha do meu cunhado! – disse piscando para o Diogo que agora estava parado ao meu lado sorrindo. Olhei para ele e dei um tapa leve em seu braço
- Você me enganou! Tive que aguentar você experimentando duzentas blusas! – falei rindo
- Que exagero! Precisava enrolar você, linda! Sua irmã me pediu enquanto sua mãe ia buscar ela no aeroporto!
- Por que não me avisou? Eu teria ido te buscar também! – falei olhando para Sofia
- Qual parte da palavra surpresa você ainda não entendeu? – disse revirando os olhos e me puxando pelo braço me levando até a sala de jantar.
- Acho que vou ser obrigado a ficar para jantar! – Diogo disse ao ver a mesa posta e o cheiro de comida invadir o ambiente.
- Mamãe foi para a cozinha? – perguntei divertida à Sofia
- Esse milagre ainda não aconteceu! – disse rindo. – Nós paramos em um restaurante e compramos! – fez um gesto para falarmos baixo para minha mãe não ouvir e ficar reclamando da gente implicando com ela.
Puxei uma cadeira ao lado do meu namorado e de frente para minha irmã, nos olhamos cúmplices e uma onda de nostalgia me invadiu, Sofia me conhecia tão bem que eu sabia que ela estava entendendo exatamente como eu me sentia nesse momento, ela esticou a mão por cima da mesa e segurou a minha, dando um sorriso em seguida.
- Temos muito o que conversar! – ela disse ainda sorrindo
- É, mas vamos comer senão a comida vai esfriar! – disse minha mãe aparecendo com uma jarra de suco na mão. Ela colocou a jarra em cima da mesa e revezou os olhares entre mim e minha irmã, pude ver os seus olhos enchendo d’água por um breve momento, mas ela logo se recompôs e sentou a beira da mesa. – Fico tão feliz de ver minhas duas filhas comigo! – falou sorrindo e pegando minha mão e da Sofia.
Comemos em um clima descontraído e alegre, eu não poderia estar mais feliz nesse momento, estava vendo a minha irmã depois de dois anos, Diogo estava tão carinhoso comigo e minha mãe finalmente encontrou um tempo para passar com a gente e se afastar mais cedo de tanto trabalho.
- Eu realmente preciso ir agora, amor! – Diogo disse olhando no relógio de pulso e se levantando do sofá onde agora conversávamos.
- Tudo bem, eu vou levar você na porta! – me levantei também e esperei ele se despedir da minha irmã e da minha mãe.
Demos um beijo na porta e esperei que ele saísse para entrar novamente.
- Filha, vai descansar um pouco, você deve estar cansada da viagem! – minha mãe falou para Sofia que estava deitada no sofá se espreguiçando
- Ainda não, mãe! Quero conversar mais com aquela senhorita ali! – disse apontando para mim e eu ri da forma como ela falou.
- Eu também quero conversar mais com você, quero saber daquele namorado que não me foi apresentando e eu tive que conhecer pelo seu Facebook! – falei rindo. – Mas antes eu preciso tomar um banho! Vamos lá pra cima, você vai dormir no meu quarto, não vai? – perguntei já afirmando. Ela deu um sorriso e concordou com a cabeça, em seguida levantou do sofá e me abraçou de lado. Nos despedimos da minha mãe e subimos as escadas juntas.
- Babi, que gato esse seu namorado, hein? Ele não tem um irmão, um primo... ? – disse se jogando na minha cama.
- Um primo, talvez! – respondi tentando buscar alguém em pensamento. – Mas e o português? – perguntei enquanto tirava a blusa que eu vestia
- Nós brigamos! – ela disse revirando os olhos, mas senti uma pontada de tristeza no tom de sua voz.
- Por quê?
- Ele queria morar junto e eu não. Não é que eu não queira, mas eu queria fazer no tempo certo, sabe? Queria noivar, casar, montar nossa casa! Não fazer as coisas às pressas, mas ele não entende isso! Acha que nós podemos fazer mais coisas com o dinheiro que a gente gastaria num casamento grande! – andei até a cama e dei um beijo na sua testa, fiz carinho no seu cabelo.
- Eu te entendo, maninha. Eu vou tomar um banho e você me conta tudo direitinho! Me espera aqui! – falei indo para o banheiro.
Tomei um banho demorado e bem relaxante, voltei para o quarto e encontrei minha irmã ainda deitada mexendo no celular e ria olhando para algo na tela.
- O que é tão engraçado? – perguntei sentando e a puxando para deitar com a cabeça no meu colo
- Minhas amigas! Eu acabei de contar que estou aqui no Brasil! Estamos marcando de nos encontrarmos!
- Elas podem esperar um pouco, você antes vai sair comigo e conversar comigo! – falei e tapei seus olhos para ela parar de olhar para o celular. Ela riu e o deixou de lado.
- Como você está? – perguntou mudando o semblante para sério e atento, de imediato soube do que ela queria saber.
- Estou levando bem! Não culpo mais ninguém pelo que aconteceu, só sinto muitas saudades. – meus olhos buscaram imediatamente uma foto em específico que eu tinha em um enorme quadro de fotos que ficava pendurado na parede do meu quarto. Senti uma saudade apertar meu peito.
- Não quer falar sobre isso? – ela perguntou pegando minha mão
- Com você eu não me importo de conversar sobre esse assunto! – respondi dando um sorriso triste
- Eu sei, mas não quero que se sinta mal. Eu voltei quando me senti preparada para isso, eu precisava me afastar um pouco, mas você mesmo sendo a mais nova ficou aqui, aguentou de perto o que a mamãe passou, ficou tão firme e foi tão madura. – ela me sorriu e apertou minha mão.
- Era preciso, não é? Eu fiquei chateada com você na época por ter ido embora, eu precisava de você aqui, mas eu consigo entender hoje que foi seu jeito de lidar com a situação!
- Eu te amo, Babi! – ela sentou e me abraçou, eu correspondi ao abraço e senti uma lágrima escorrer pelo meu rosto.
- Eu também, mana! – suspirei de felicidade ao sentir minha irmã perto de mim novamente
- Mas me conta, como anda o relacionamento com o advogado gato? – ela se afastou e voltou a deitar no meu colo, pegando minha mão e colocando em seu cabelo dando a entender que queria que eu fizesse carinho nele.
- Está tudo bem, Diogo é um homem maravilhoso comigo! Tão carinhoso e companheiro! – falei sorrindo
- Babi? – ela me chamou
- Oi! – respondi
- Seu pensamento parece distante! Ainda está pensando no papai? – perguntou preocupada
- Não, eu não estou distante!
- Eu te conheço! Está sim! Me conta o que é! – parei para pensar e me questionei o que de fato estava me deixando mais distraída e longe ultimamente, mas tive medo de responder aos meus próprios pensamentos.
- Não é nada, é sério! Me fala mais do seu namorado ou ex namorado!
- O Pablo! Nos conhecemos na faculdade, nos tornamos muito amigos, no começo eu não estava muito afim dele, era mais amizade da minha parte, mas ele insistiu tanto que acabei dando uma chance para ver onde daria e acabou que me apaixonei de verdade por ele.
- E você ainda gosta dele. – concluí
- Gosto! Mas ele ignorar minha vontade de ter um casamento me deixa chateada, parece que ela não liga para os meus sentimentos.
- Não acho que ele faça por mal! Talvez ele só esteja ansioso pra ter uma vida a dois com você, já pensou nisso?
- Já, mas mesmo assim, eu quero fazer as coisas com calma!
- Ele não está tão errado de querer juntar o dinheiro e fazer planos a sós com você, mostra que ele quer curtir apenas contigo. Eu sei que isso é importante para você, mas tenta ver o lado dele também, por que não faz uma festa “normal”, sem o luxo todo que eu sei que você quer, mas que seja bonita e do seu gosto, aí separa o resto para viajar bastante! – ela pareceu pensar um instante e ergue o olhar pra mim com um sorriso
- Tem certeza que eu sou a mais velha? – eu ri
- Dois anos! – respondi rindo
- Eu vou conversar com ele quando eu voltar! Mas me fala, mamãe disse que você está trabalhando!
- Sim, no jornal da cidade! – falei sorrindo
- Está gostando? – por um instante meu pensamento me traiu e me lembrei da última vez que vi Mariana, o que ela tinha a ver com isso? Demorei em responder a pergunta da minha irmã que tornou a falar. – É tão ruim assim?
- Não! – respondi espantando os pensamentos indesejados. – É ótimo! As pessoas são maravilhosas comigo, meu chefe é muito exigente, mas é tão gentil.
- Fico feliz por você! Mais feliz ainda por ver que você está se dando bem nessa profissão, para falar a verdade, quando você me contou que escolheria jornalismo fiquei com um pé atrás, com medo de você tomar uma decisão errada.
- Por quê?
- Porque você sempre quis medicina, sempre demonstrou interesse, papai ficava todo bobo quando percebia que você ficava presa a um caso que ele chegava contando para a gente!
- Eu não conseguiria ficar tão perto de tudo que me lembrasse constantemente nossos momentos juntos!
- Que bom que você está gostando dessa área! – mudou de assunto
Um breve silêncio se fez e por um momento pensei em compartilhar com a minha irmã o que andava rondando meus pensamentos, mas como eu poderia externar algo que nem eu entendia direito?
- Babi, podemos continuar nossa conversa amanhã? Estou muito cansada do voo! – disse e deu uma bocejada, me fazendo sorrir.
- Claro, maninha! Eu também estou cansada, dorme aqui comigo, ok?
- Sim, como nos velhos tempos quando chovia muito e você ficava com medo dos trovões! – eu ri e me deitei ao seu lado. Ela me deu um beijo na bochecha e virou para o seu lado para dormir e eu fiz o mesmo.
Fim do capítulo
Voltei!!! Espero que estejam gostando da leitura!
Beijinhos e mais uma vez obrigada pelos comentários, fico muito feliz com o retorno de vocês!
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