Capítulo 28
O Jardim dos Anjos -- Capítulo 28
Na manhã seguinte, Lorraine acordou antes do amanhecer. Tinha passado uma noite agitada, com sonhos confusos e acordou várias vezes durante a noite.
Descobriu-se abraçada ao corpo de Alisson que dormia de costas para ela, bem juntinha. Inalou profundamente o perfume gostoso do pescoço e deu um beijo no ombro nu da loira. Ergueu-se, passou por cima dela e saiu da cama.
No banheiro, diante do espelho, relembrou o sonho:
Andava por uma rua deserta. Os carros abandonados, as portas das lojas abertas, mas não havia ninguém em seu interior.
Uma densa neblina começou a baixar sobre o lugar. De repente, encontrou-se parada diante de uma porta. Lorraine abriu a porta lentamente, com cuidado, cheia de receio e medo. Ouviu um grito, levou a mão ao peito com um ar de susto. Sobre uma cama, estava ela: Silvana. Com uma seringa enterrada no pescoço.
Voltou a realidade mirando-se no espelho.
-- O que está acontecendo? Porque fizeram isso com você, Silvana? Porque Andras está querendo me chantagear?
Contudo, quanto mais se fazia perguntas, mais confusa e infeliz se sentia.
Procurava e não via saída para o inferno que era sua vida. Não podia sequer cogitar a possibilidade de ser presa pelo assassinato da ex esposa. Mas também não suportava a ideia de submeter-se as chantagens de Andras.
Estava como que acorrentada, uma prisioneira dela.
Caminhou até a cozinha, pegou uma caneca de café e foi para a sacada.
Aos poucos o sol surgia poderoso no horizonte. Ouviu passos atrás de si e logo em seguida, braços enlaçaram a sua cintura.
-- Bonne journée!
-- Bom dia! -- Lorraine respondeu.
-- Como se sente esta manhã, Lonzinha?
Lorraine sabia que a pergunta de Alisson não era apenas por educação. Com certeza havia percebido o sono agitado dela.
-- Estou muito bem, obrigada -- encostou a cabeça no ombro da pediatra.
Alisson havia pensado que Lorraine, apesar de todos os acontecimentos recentes, estava bem psicologicamente. Mas, ao observá-la dormir, achou que talvez estivesse enganada. Ela poderia estar lhe escondendo alguma coisa. Apesar de toda aquela pose, porém, Lorraine era delicada, frágil e carente.
-- Me dá um pouquinho do seu café? -- Alisson pediu com um jeitinho de coitada.
Lorraine deu uma gargalhada.
-- Meu Deus! Como eu sou antissocial. Tadinha do meu bebê -- segurou firme a mão de Alisson e saiu puxando-a na direção da cozinha -- Quer bolo de fubá? Quer suco de laranja?
-- Tem Nutella?
-- Nutella, geleia, torradas...
-- Como é o seu nome? -- Agnes perguntou para Beca.
-- Rebeca. Bem óbvio, né?
Agnes olhou para ela, encolheu os ombros e fez uma expressão que queria dizer tudo.
-- Perguntei por perguntar -- ela deu a volta no balcão e parou ao lado de Beca -- Quer saber o significado do seu nome?
-- Não acredito muito nisso, mas, pode falar -- colocou os cotovelos sobre o balcão e chegou mais perto de Agnes.
-- Rebeca: Significa "união", "ligação", "aquela que une" ou "mulher com uma beleza que cativa, ou prende".
-- Só isso? -- Beca perguntou desanimada.
-- Como assim, só isso? Queria mais que isso, mulher? Rebeca é toda poderosa.
-- Essa Rebeca aí, deve ser uma loira burra. Eu sou bem mais que isso. Tenho muitas outras virtudes que somente beleza.
-- Hummm... com certeza humildade não é uma delas.
-- Agnes! -- Afonso chamou, segurando a porta do elevador para que não fechasse -- Você viu se a Lorraine já chegou?
-- Por aqui ela não passou, doutor Afonso.
Agnes ficou olhando o médico entrar no elevador e as portas fecharem-se atrás dele.
-- Eu não suporto esse homem -- disse de cara feia.
Nádia parou o carro diante da entrada principal e desligou o motor. Pegou um papel no porta-luvas e conferiu o endereço.
-- É aqui mesmo -- Foi apenas depois que passou pelo portão e começou a andar pelo enorme jardim, é que teve noção da beleza do lugar.
A construção cheia de arcos rodeava um jardim perfumado com rosas e muitas, azáleas.
Nádia sorriu, pegou uma rosa branca e sentou-se em um banco. Era cedo demais, o lugar estava deserto. Então, aproveitou para curtir aquele momento tão relaxante.
-- Bom dia moça bonita -- Alisson sentou-se ao lado dela -- Quase que não lhe reconheci em meio as rosas, pensei que fosse uma delas.
-- Não faz assim. Que eu posso até me apaixonar -- falou rindo.
Alisson riu com ela.
-- Sabia que existe uma flor chamada Alyssum?
-- Não sabia -- Nádia fechou os olhos e cheirou a rosa que tinha na mão.
-- Também conhecida como flor-de-mel. Produz inflorescências com muitas flores pequenas de cor branca e com perfume de mel.
-- Hum, deve ser uma delícia.
-- Deve ser por isso que minha mãe escolheu esse nome.
-- Você tem cheiro de mel?
-- Cheiro e sabor -- Alisson cruzou as pernas e colocou um braço sobre o encosto do banco.
Nádia olhou séria para ela, depois riu.
-- Você sempre chega tão cedo?
-- Não -- a loira descruzou as pernas calmamente e inclinou-se na direção de Nádia -- Hoje vim mais cedo porque sabia que estava aqui.
Nádia balançou a cabeça para trás e sorriu, fazendo com que os cabelos brilhosos e macios dançassem de modo sincrônico.
-- Tá rindo de que? Estou falando sério.
-- Você não pode estar falando sério -- falou acariciando a rosa com todo o cuidado -- Você é vidente? -- perguntou sorrindo.
-- Sonhei com você -- sua expressão era a de alguém que forçava para se lembrar de algo.
-- Como foi o sonho?
-- Não me recordo muito bem dos detalhes. Lembro-me da rosa branca e desse banco -- Alisson pegou a rosa que Nádia segurava e ajeitou-a em seu cabelo -- A rosa é o símbolo da pureza, da beleza e da perfeição em todos os sentidos, na Idade Média a rosa foi considerada o símbolo da virgem Maria, especialmente pelo seu significado de pureza. Os rosários originais eram feitos com pétalas de rosa. A palavra "rosário" deriva do latim "rosarium" que significa roseiral. Em síntese, a rosa branca representa a pureza, amor espiritual, o silêncio, paz.
-- E como soube que era eu, se eu não estava presente no sonho?
-- Como não? Você é a rosa branca...
-- Rosa branca significa amor a Deus. E se minha filha está dizendo que você é uma rosa branca... acredite... você é uma rosa branca -- Helena Burnier abriu os braços, sorridente -- Bom dia!
-- Bom dia mãe! -- Alisson beijou Helena e depois virou-se para Nádia -- Mãe, essa moça linda aqui, é a Nádia. Ela é a irmã da Lorraine e chefe do setor de pediatria do hospital.
-- Nádia, eu sou a Helena -- a médium abraçou a pediatra e juntas saíram andando em direção à porta do orfanato -- Estou muito feliz com a sua visita.
-- O trabalho de vocês é tão bonito -- comentou Nádia, ao passar pelo corredor dos quartos.
-- É árduo, mas gratificante para o espírito. Temos um jardim florido, e, como todo jardim, precisa ser cuidado diariamente. O solo deve estar sempre bem adubado para quando as nossas sementinhas chegarem, possam se desenvolver e florescer com exuberância.
-- Nádia, vou até o carro buscar um presente que eu trouxe para a Priscila. Já volto.
-- Enquanto isso, vou mostrando o orfanato para ela -- disse Helena, sorrindo de forma amável.
Fael chegou no setor de enfermagem abotoando o jaleco.
-- Está atrasado senhor Fael -- reclamou Beca, pegando as pranchetas para começar a passar o plantão -- Pelo jeito a noite foi boa. Está com cara de pão amanhecido.
-- Foi muito boa, mesmo. Mas não do jeito que você está pensando. Jantamos no apartamento da Lorraine. O papo estava tão bom que quando percebemos já era madrugada.
-- Que inveja! E eu aqui trabalhando feito uma louca -- Beca apoiou-se sobre o balcão, olhando para o amigo -- O lado bom, foi a minha companheira de trabalho.
-- Com quem você estava trabalhando? -- Fael deu uma olhada ao redor, como se estivesse procurando a pessoa; e ele ficou muito contente ao perceber quem era -- Ah! A Agnes! Ela realmente é um amor. Porque você não convida ela para sair? -- deu uma piscadinha safada para a amiga -- Sexta-feira, sairemos para tomarmos um chopinho. Tenho certeza que ela vai amar.
-- Acho que não vai rolar. Agnes dá a impressão que é apaixonada pela Alis. Fez perguntas demais a respeito dela, pro meu gosto -- ela caminhou desanimada até o outro lado do balcão -- Cansei de sofrer em ser apenas um ombro amigo. Quero um alguém só pra mim.
Fael riu alto e Beca olhou ao redor.
-- Não ri desse jeito. Seu escandaloso!
-- Não me venha com chorumelas e paranóias, Beca -- Fael tornou a rir -- Sempre foi assim. Alisson parece ter um radar para detectar mulher carente. E quando estamos carentes tendemos a ficar bobalhões, perdemos a noção da realidade e nessas circunstancias, confundir carência com amor é dois toques.
Beca parou para pensar por alguns segundos. Alisson não fazia de propósito. Ela sempre fora meiga e gentil com as pessoas de uma forma em geral. Mulheres, homens, todos apaixonavam-se por ela o tempo todo.
-- Você tem razão -- disse Beca, examinando os belos traços daquela mulher tão simpática -- Vou convidá-la. Quem sabe ela não esteja carente?
-- Que coisa! Você precisa que uma bicha lhe ensine do que as mulheres gostam?
Beca deu de ombros.
-- Que tal começar oferecendo uma carona? Depois faz um elogio, quem não ama receber elogios? Um elogio pode fazer uma mulher se apaixonar.
-- Tá bom! Você me convenceu. Agora me deixa passar o plantão, antes que ela vá embora e adeus carona.
Alisson e Nádia encontraram Priscila tomando café no refeitório. Ao ver a pediatra aproximando-se, a menina abriu um sorriso lindo.
-- Ali, trouxe o meu presente?
Alisson colocou o pacote sobre a mesa e depois deu um beijo na bochecha dela.
-- Você está feliz só por causa do presente? Ou também está feliz por me ver?
-- Estou feliz por você estar aqui, mas... eu adoro presente -- pegou o pacote e começou a abrir com ansiedade.
-- Espera um pouquinho mocinha. Primeiro quero lhe apresentar uma nova amiguinha -- Alisson estendeu a mão para Nádia.
-- Ela é a sua namorada?
Nádia assustou-se com a pergunta da menina. Alisson balançou a cabeça e sentou-se ao lado dela.
-- Quem falou isso para você?
-- Ninguém! Eu "sabo sozinha" -- a menina falou, despreocupada -- Posso abrir agora?
-- Pode -- Alisson pôs-se em pé -- Tá vendo Nádia? Veja se eu aguento isso?
-- Ela é muito esperta -- disse sorrindo.
-- Ela está assim depois que começou a se misturar com a Patrícia. Acho que ela é mal exemplo para a menina.
-- Será? -- Nádia franziu a testa -- O que você ganhou de presente da Ali?
-- Maquiagem -- Priscila desviou a atenção do presente e olhou séria para Nádia.
-- Hum. Que legal! -- Nádia tirou alguns itens do estojo e colocou sobre a mesa -- Você vai poder maquiar todas as suas bonecas.
-- Não é para as bonecas -- a menina apressou-se em dizer -- É pra pintar a Pati.
Nádia lançou um olhar desconfiado para Alisson antes de entender.
-- A Ali disse que ela vai ficar muito feliz -- explicou a menina.
Nádia ouviu e balançou a cabeça.
-- Claro, com certeza, ela vai ficar muito feliz.
Lorraine olhou no relógio antes de entrar em sua sala. Estava atrasada, mas não deu muita importância ao fato. Passar com Alisson o máximo de tempo possível se transformou em sua prioridade.
Sempre que ela estava por perto, Lorraine sentia-se protegida, frágil, mas segura e controlada. O passado ainda incomodava, mas ela não permitiria que seus fantasmas se pusessem outra vez no caminho de sua felicidade.
-- Bom dia!
Ela levou um susto quando ouviu a voz familiar nas suas costas.
-- O que faz em minha Sala? -- jogou a bolsa sobre a cadeira, irritada.
-- Sua secretária não estava, então...
-- O fato da minha secretária não estar em sua mesa, não lhe dá o direito de ir entrando a hora que bem entender -- falou de maneira grossa e áspera.
Andras moveu-se silenciosamente até Lorraine. Como uma serpente preparando-se para dar o bote.
-- Lorraine, Lorraine. Não me aborreça -- falou perto do ouvido da médica, que viu a maldade estampada no rosto sombrio de Andras -- Fiquei sabendo que a mariposa encontrou a luz. Que fofo!
-- Onde está querendo chegar Andras? -- Lorraine afastou-se para longe dela.
-- Não seja rude comigo, Lorraine. Quem avisa amigo é. Sabe o que acontece com as mariposas quando aproximam-se demais da luz? Elas morrem queimadas.
-- Sua louca! -- Lorraine tentava esconder de Andras toda a sua angustia.
-- Louca eu? Louca é a lua que apaixonou-se pelo sol -- disse rindo com ironia -- Na verdade acho melhor você esquecer esse seu amor impossível pelo Sol. As trevas combinam melhor com você.
-- Eu não acredito em amor impossível -- Alisson tirou um estetoscópio da maleta e entregou para Nádia -- Diz uma lenda que o Sol e a Lua sempre foram apaixonados um pelo outro, mas nunca podiam ficar juntos, pois a Lua só nascia ao por do Sol. Sendo assim , Deus na sua bondade infinita criou o eclipse como prova que não existe no mundo um amor impossível. Então, a partir daquele momento, sempre que o Sol encobrisse a Lua, era porque ele se deitou sobre ela e começaram a se amar. E esse ato de amor se chama ECLIPSE.
-- Você não acha muito pouco? -- Nádia colocou o estetoscópio no pescoço -- E o que eles fazem entre um eclipse e outro?
-- Eles eu não sei... eu com certeza me masturbaria.
Nádia não segurou o riso.
-- A professora entra no banheiro e se depara com o Joãozinho se masturbando e diz completamente atônita:
-- Joãozinho!!! O que é isso?
-- Oi tia... cê nun morre tão cedo!
-- Quanta bobagem, meu Deus! -- completou Alisson sorrindo -- Está pronta? Vamos começar a examinar as crianças?
-- Prontíssima! -- exclamou Nádia.
https://www.facebook.com/ojardim.dosanjos.5
Créditos:
http://webserierosabranca.blogspot.com.br/p/rosa-branca.html
Fim do capítulo
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patty-321
Em: 27/03/2017
Lo não pode enfrentar Andras sozinha. Ela precisa dá ali senão vai ficar perigoso e próxima das trevas. Nádia é ótima pessoa e vai ajudar no orfanato, tem momentos q parece q ela é a ali estão se paquerando, a ali não faz de propósito mas esses elogios... Bjs
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Mille
Em: 25/03/2017
Ola Vandinha
Alisson sempre aprontando vai fazer a Pati de boneca para a Priscila.
Aa vezes a Nádia tem uma personalidade secreta e até charmosa, tem horas que acho que ela sente algo a mais pela Allison, mais como diz o Fael o jeito carinhoso e atencioso da lourinha acaba conquistando muitos corações, mais espero que seja somente amizade.
Bjus e até o próximo
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NovaAqui
Em: 25/03/2017
Lorraine está se complicando em não contar para sua cachinhos de ouro. Ela tem que falar, mas como você falou que tem muita coisa para acontecer, acho que não será agora que isso vai acontecer.
Beca e Agnes acho que dá química, vamos ver
Bom final de semana procês!
Abraços fraternos!
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