Capítulo 3
Não sei ao certo quanto tempo se passou naquele silêncio opressivo, mas eu permanecia imóvel, afogada em um turbilhão de pensamentos. No escuro do quarto, só conseguia distinguir a respiração suave de Claire ao meu lado e o som persistente do relógio marcando cada segundo com seu "tic-tac" incessante. A dor no meu peito persistia, uma mistura complexa de emoções que eu mal conseguia compreender, muito menos expressar. Minha mente vagava por labirintos de dúvidas e angústias, enquanto eu tentava conter as lágrimas teimosas que ameaçavam escapar a qualquer momento. Era uma batalha interna, um confronto entre o desejo de desabar em prantos e a determinação férrea de manter minha compostura diante de Claire. Passaram-se mais alguns minutos, cada um mais longo e doloroso que o anterior, até que finalmente notei movimentos ao meu lado. Claire começou a se mexer, instintivamente o meu corpo se moveu na sua direção. Mesmo na penumbra, pude distinguir a serenidade em seu rosto enquanto ela dormia, os traços suaves iluminados apenas pela luz fraca da lua que entrava pela janela. Seus lábios entreabertos pareciam convidativos, e meu coração acelerou apenas com o pensamento de tocá-los. Por um instante, meus olhos fixaram-se nela, absorvendo cada detalhe, como se quisessem gravar sua imagem na minha mente para sempre.
- Eu achei que era suficiente... – Comecei, as palavras saíram num sussurro trêmulo, mal audíveis no silêncio do quarto. - Achei que o fato de estar do teu lado e manter a nossa amizade era o suficiente para mim, mas agora eu entendo que cada vez será difícil. - Minha voz falhava, e meus olhos ardiam com a iminência das lágrimas.
Ganhei coragem para tocar o rosto de Claire, fazendo uma carícia suave enquanto as palavras continuavam a sair de mim num sussurro entrecortado. - Eu não pensei em como seria quando as outras pessoas se aproximassem de ti… não pensei em como eu iria sofrer ao ver outra pessoa interessada em ti... em como qualquer rapaz pode segurar a tua mão e dizer-te nos olhos o que sente… - A impotência dominava-me, a dor era dilacerante ao perceber que, apesar de tudo, eu nunca seria o bastante para ela. - Mesmo que eu possa ver os teus olhos brilhantes e o teu sorriso, mesmo que eu possa sentir o teu abraçado… - continuei despejando meus sentimentos de forma sincera. - Neste momento, isso não é o suficiente, e sei que um dia outra pessoa terá aquilo que eu mais desejo... um dia outra pessoa irá te ter por inteiro... - Suspirei e passei suavemente os dedos pelos seus lábios sentindo a sua respiração na ponta deles.
Senti a proximidade dos lábios de Claire, o calor do seu hálito, e sem pensar, aproximei-me num gesto impulsivo, roubando um selinho antes de me afastar rapidamente. O gosto da sua presença ficou na minha mente, uma doce e amarga lembrança de algo que nunca poderia ser totalmente meu.
- Talvez isto seja o máximo que eu poderei ter… "roubar" selinhos enquanto dormes... - Murmurei, forçando um sorriso magoado enquanto as lágrimas finalmente escapavam, molhando meu rosto. Fitei o teto, mergulhando num conflito interno, até chegar a uma dolorosa conclusão.
No domingo, Claire acordou e logo percebeu que algo não estava bem comigo. Seu olhar atento capturou minha expressão pálida e perturbada, forçando-me a inventar uma desculpa rápida. Passamos o dia juntas, mas uma atmosfera estranha pairava sobre nós. Claire estava distante, perdida em seus próprios pensamentos, o que me deixou inquieta e desconfiada. Vimos um filme e conversamos sobre assuntos triviais, mas havia uma tensão palpável entre nós. Cada silêncio parecia carregado de significados não ditos, cada troca de olhares deixava uma sensação de desconforto no ar. Ao final da tarde, Claire se despediu e partiu, deixando-me com um sentimento de vazio
- Tomei uma decisão. - Proferi firmemente ao fechar a porta do escritório e me acomodar de frente para o meu pai, na secretária. Minha mãe observava-me do sofá, pousando a chávena de chá com atenção. - Eu irei estudar fora do país, mas com três condições.
- Fico feliz por teres aceitado. - Disse o meu pai sorrindo e juntando as mãos. - Acho que irá ser uma experiência muito importante no teu desenvolvimento.
- Quais são as condições, Beatriz? - A minha mãe perguntou interrompendo o discurso do meu pai.
Suspirei antes de responder, sentindo o peso da decisão que havia tomado.
- Eu irei para fora, mas ninguém saberá disso até eu ter aterrado. – Murmurei, escolhendo as minhas palavras cuidadosamente. - Eu irei logo depois de as aulas acabarem... não quero passar aqui as férias – Minha mãe ergueu uma sobrancelha em surpresa, enquanto o meu pai observava-me com interesse. - As aulas acabam num dia e no dia seguinte apanho o avião. – Continuei firme. – E, por último durante esses dois anos, eu não irei pôr cá os pés.
Ao finalizar, encarei os meus pais, esperando por uma reação. Sabia que estava a ser radical com a última condição, mas aquilo era importante para mim.
- Mas filha e a nossa viagem para Nova Iorque? Beatriz nós tínhamos combinado que iriamos a Nova Iorque 2 semanas depois de a escola terminar... E que disparate é esse de ficares 2 anos sem cá pores os pés? Além disso tu não queres que os teus amigos saibam que vais para fora? – Perguntou o meu pai genuinamente surpreso e um tanto confuso com as minhas condições.
- Não, eu não quero que ninguém saiba. Neste momento, eu irei concentrar-me nos estudos. Quanto a Nova Iorque, posso perfeitamente viajar de Manchester e encontrar-me com vocês lá. E quanto ao fato de eu não vir cá, se vocês quiserem visitar-me, podem viajar até lá. – Respondi com firmeza.
- Filha, sabes muito bem que o teu pai é um homem ocupado. Ele não irá ter sempre disponibilidade para te ver...- Interveio a minha mãe num tom suave, enquanto se sentava do meu lado. Seu olhar transmitia uma mistura de compreensão e inquietação.
- Eu entendo, mãe. - Murmurei, sentindo-me um pouco culpada por não expressar meus verdadeiros motivos. - Mas estaremos a apenas uma chamada de vídeo de distância. E também podemos planejar visitas com antecedência. Estou comprometida em focar nos meus estudos e farei o meu melhor para aproveitar ao máximo essa oportunidade. Acredito que isso me ajudará a crescer e a me tornar mais independente. – Menti desesperadamente.
Encarei a minha mãe, esperando que esta compreendesse a profundidade da minha decisão. Era uma escolha difícil, mas sabia que era o caminho que precisava seguir, mesmo que isso significasse deixar para trás tudo o que era familiar. Precisava de espaço para respirar, para me encontrar, e isso incluía me afastar de Claire, protegendo nossa amizade no processo, mesmo que isso pudesse magoá-la. No entanto, eu sabia que ela não ficaria sozinha, Mari estaria ao seu lado para apoiá-la.
Confrontada com o olhar inquisitivo da minha mãe, senti uma mistura de nervosismo e determinação.
- Alem disso, eu sinto que preciso de respirar um ar diferente, conhecer novas pessoas, novas culturas. - Finalizei, lutando para articular meus pensamentos.
A expressão da minha mãe mostrava preocupação e confusão enquanto ela tentava processar minhas palavras. A franzida da sua testa indicava que esta buscava entender mais, queria mais explicações.
- Há mais alguma explicação para isso? - Perguntou ela, evidentemente tentando decifrar os meus motivos.
Respirei fundo, reunindo toda minha determinação para explicar minha posição mais uma vez.
- Não, mãe. Não há mais nada a dizer. Esta é a minha escolha, e estou decidida a segui-la. É pegar ou largar. - Concluí, firmemente, consciente das consequências da minha decisão.
- Muito bem... assim seja, mas vou já avisando que irás ter uma aula extracurricular. - Disse o meu pai, com um tom sério.
- Que tipo de aula? - Perguntei, confusa, tentando entender onde ele queria chegar.
- Eu já me informei sobre o colégio e para além das disciplinas principais, faço questão de que frequentes a disciplina de Economia. Penso que assim irá ajudar-te na tomada de decisão quanto à faculdade. - Explicou ele, com firmeza na voz.
- Tudo bem... - Respondi, soltando um suspiro resignado. Embora não estivesse entusiasmada com a ideia, sabia que era importante considerar todas as opções para o meu futuro.
A chegada da época de exames proporcionou-me a desculpa perfeita para me afastar da Claire. Embora não precisasse realmente de estudar tanto, tornei-me uma visitante assídua da biblioteca, agarrando-me aos livros com unhas e dentes. Evitei a todo o custo tocar no assunto do tal "encontro" que a Claire teve. Já tinham passado três semanas e, estranhamente, a Mari nunca parecia esquecer o assunto.
- O que é que se passa contigo? - Perguntou Mari, encontrando-me na biblioteca. Eu estava rodeada de livros, tentando parecer concentrada.
Por mais que tentasse manter-me focada nos estudos, o olhar inquisitivo de Mari era difícil de ignorar. Tentei desviar o assunto, respondendo de forma vaga:
- Oh, Mari, nada de mais. Só a tentar concentrar-me nestes exames, sabes como é.
- Desde quando te preocupas tanto em estudar? - Questionou Mari, observando-me atentamente.
- Desde sempre... - Respondi, mantendo-me concentrada nos livros diante de mim, embora soubesse que Mari não seria facilmente enganada.
- Nós sabemos que tu não precisas disto tudo para teres boas notas... - insistiu, desviando a minha atenção do livro. Olhei para ela e suspirei, pousando o lápis.
- As coisas mudaram... os meus pais querem que eu me foque nos estudos e têm me pressionado... - murmurei, revelando um pouco da tensão que vinha enfrentando em casa.
Mari arqueou a sobrancelha, claramente desconfiada.
- Aconteceu alguma coisa entre ti e a Claire? - Questionou, sua curiosidade era evidente na sua voz.
- Nada. - Respondi rapidamente, tentando manter a calma.
- Ela contou-te como foi o encontro... - Antes que ela pudesse terminar a frase, levantei-me bruscamente, juntando os livros.
- Eu preciso de estudar, não tenho tempo para isto. Depois falamos. - Disse, nervosa, afastando-me da mesa e deixando Mari para trás, com suas perguntas não respondidas.
À medida que o fim das aulas se aproximava, o clima de expectativa pelas férias era palpável durante o almoço. Enquanto todos aguardavam ansiosamente pelos planos de verão, eu encontrava-me cada vez mais distante, mergulhada em um mar de preocupações e conflitos internos. Com os exames concluídos, não tinha mais desculpas convincentes para evitar minhas amigas. No entanto, eu fazia o possível para me manter à margem das conversas, muitas vezes mergulhando em minha própria bolha musical. Enquanto as duas conversavam animadamente, eu me refugiava nos acordes e nas letras das minhas músicas favoritas, tentando manter minha mente ocupada e distanciando-me dos sentimentos tumultuados que se agitavam dentro de mim. Entretanto, minha tentativa de manter uma fachada de normalidade não passava despercebida por Claire. Ela, com sua perspicácia habitual, percebeu a minha mudança de comportamento e não hesitou em confrontar-me a respeito. Suas perguntas contínuas eram como flechas penetrantes, que colidiam com a minha armadura de falsas desculpas. Quanto mais eu lutava para esconder a verdade mais a sua expressão de frustração revelava o quão esta sabia que algo estava errado, aumentando a tensão entre nós.
No último dia de aulas, enquanto Mari e Claire planejavam uma ida ao cinema, elas perguntaram-me se eu estava disponível naquele dia. Com um sorriso fraco, respondi que não. Por dentro, uma mistura de emoções consumiu-me. Por um lado, sentia-me grata pela preocupação delas e pela tentativa de me incluírem. No entanto, a ideia de passar tempo com elas, especialmente com Claire, era um tormento para mim.
- Não vais mesmo falar comigo e contar-me o que se passa? - Perguntou-me Claire quando Mari se levantou para ir à casa de banho. Seu olhar estava carregado de preocupação e uma pitada de frustração.
- Eu não tenho nada para dizer... não se passa nada. - Respondi evasivamente, desviando o olhar.
- Olha-me nos olhos e diz que está tudo bem. - Insistiu Claire, sua voz agora carregada de impaciência e irritação.
Suspirei, sentindo o peso da hesitação enquanto tentava encontrar as palavras certas para responder. Lentamente, fiz contato visual com ela, sentindo o peso do silêncio enquanto nossos olhares se encontravam.
- Está tudo bem. - Tentei manter um tom de voz firme, enquanto era analisada por ela.
- Achas que sou cega? - A sua pergunta apanhou-me de surpresa, como um feixe de luz penetrando a minha tentativa de esconder a verdade.
- O que queres dizer com isso? - Retorqui, com um sussurro frágil diante da intensidade da sua observação.
- Achas que não notei que estás diferente desde o teu aniversário? - Apontou o óbvio, fazendo-me sentir como se uma cortina tivesse sido puxada, expondo as minhas os meus medos mais profundos.
- Isso não é verdade. - Respondi, evitando o seu olhar penetrante, tentando desesperadamente sorrir para disfarçar a verdade que esta quase alcançara com as suas palavras.
- Olha para mim quando falas comigo! - A raiva transpareceu na sua voz, num impulso, virei-me para encará-la. Vi o tumulto de emoções nos seus olhos, e a compaixão invadiu-me, misturando-se com a minha própria confusão. "Isto não pode estar a acontecer, não agora...", ecoava na minha mente enquanto me remexia desconfortavelmente na cadeira. Não queria estar naquela situação. Com a viagem marcada para o dia seguinte, a última coisa que desejava era partir com aquela imagem de Claire. Sabia que algumas palavras dela naquele momento poderiam abalar as minhas convicções, alterando a minha decisão de viajar. Respirei fundo, ganhando coragem, sentei-me de frente para ela, segurei as suas mãos quentes, e mergulhei profundamente no seu olhar.
- Eu ando um pouco nervosa, afastei-me para não magoar ninguém.... Estava realmente preocupada com os estudos... - Sussurrei, engolindo em seco diante do olhar atento de Claire. - Irei voltar a ser a mesma Beatriz, a tua melhor amiga. Só preciso de tempo para me acalmar um pouco... - Forcei um sorriso, esperando transmitir alguma segurança, mas percebi que Claire ainda estava desconfiada, franzindo a testa enquanto me analisava.
- Bih, sabes que podes contar-me tudo, independentemente do que seja. Irei estar do teu lado sem te julgar... - Disse com gentileza, tentando acalmar-me.
- Eu sei... - murmurei, sentindo um aperto no peito ao perceber a desconfiança nos olhos de Claire.
- Eu acho que tu não confias em mim... - Sussurrou, a sua expressão magoada fez-me hesitar. Antes que pudesse questioná-la sobre o que ela queria dizer, Mari voltou, interrompendo a nossa conversa. Rapidamente, soltei as mãos de Claire e peguei um gole de água, deixando o assunto morrer ali. No entanto, aquelas palavras ecoaram na minha mente, deixando-me curiosa e inquieta. Eu estava prestes a embarcar em uma viagem no dia seguinte e não podia permitir que algo tão pequeno minasse minha decisão ou prejudicasse nossa amizade.
Quando cheguei ao meu quarto, já ao final da tarde, verifiquei se tudo estava pronto para a viagem. O voo estava marcado para as 7 da manhã, o que significava que precisaria acordar por volta das 4 para me arrumar e evitar a pressa, caso me esquecesse de algo. Após tomar banho e jantar, ouvi um monte de recomendações dos meus pais enquanto assistia um pouco de televisão. Por fim, retornei ao quarto. Deitada na cama, incapaz de dormir, a conversa com Claire ainda ecoava na minha mente. Verifiquei o relógio e já passava da meia-noite. Uma ansiedade crescente se apossava de mim, não tanto pela viagem em si, mas pelas consequências que ela poderia desencadear. Eu sabia que Claire iria sofrer, só de pensar nisso, meu coração apertava. No entanto, também sabia que precisava de me proteger.
Olhei novamente para o relógio, desejando ouvir a voz dela. Estendi o braço, peguei no celular e procurei o seu contato. Ao terceiro toque, Claire atendeu com a voz mais suave do mundo.
- Bih? Está tudo bem? – Perguntou com a voz carregada de sono.
- Desculpa, eu não te queria acordar... eu estou sem sono... - Respondi, sentindo-me um pouco envergonhada por incomodá-la.
- Não tem mal... - Ela murmurou, com gentileza.
- Claire sabes que mesmo eu estando distante... tu és muito especial para mim? - As palavras saíram da minha boca antes que eu pudesse pensar duas vezes.
- Tu também és especial, Bih, quero-te ver bem - a voz sonolenta de Claire ecoou através do telefone.
Suspirei e fechei os olhos, tentando reunir coragem para confessar o que estava no meu coração.
- Claire... Eu amo-te...- As palavras saíram num sussurro, pesadas de significado, o silêncio que se seguiu foi quase ensurdecedor. Por um momento, tudo pareceu suspenso no ar, enquanto aguardava ansiosamente uma resposta. - És a minha melhor amiga. - Acrescentei, forçando-me a continuar, mesmo com o coração a bater descompassadamente no peito. Do outro lado da linha, pude ouvir o suspiro suave de Claire, uma interação que parecia carregada de emoção e incerteza.
Então, finalmente, a voz de Claire soou, calma e reconfortante.
- Eu também te amo. - Disse, suas palavras banhadas em tranquilidade, mas carregadas de significado. Um arrepio percorreu minha espinha, enquanto a gravidade das nossas confissões se instalava.
- Até amanhã. - Despedi-me, desligando a chamada e deixando-me envolver pela mistura de sentimentos que me assaltava.
Acordei com o som insistente do despertador, quebrando o pouco sono que consegui conquistar após aquela confissão intensa com Claire. Depois de ter desligado, lutei contra as lágrimas até ser vencida pelo cansaço. Ergui-me da cama, já com a mente tomada por um turbilhão de emoções. Vesti a roupa que tinha preparado no dia anterior, arrumei-me rapidamente e desci para o pequeno-almoço, onde me deparei com meus pais. Enquanto tomávamos o café da manhã, o entusiasmo deles era palpável, irradiando uma energia positiva que contradizia com o meu próprio estado de espírito. Estes tentavam conversar sobre a viagem, sobre o que me esperava do outro lado do oceano, mas eu mal conseguia concentrar-me em suas palavras. Minhas respostas eram curtas e monossilábicas, limitadas ao essencial.
Durante o trajeto até o aeroporto, o silêncio predominava no carro, interrompido apenas pelo zumbido do rádio e pelo murmúrio dos pneus no asfalto. Meus pais ainda tentavam puxar conversa de vez em quando, mas eu permanecia mergulhada em meus pensamentos, ansiando pelo momento em que finalmente embarcaria rumo ao desconhecido.
- Tens a passagem contigo? - Perguntou o meu pai enquanto matávamos um pouco do tempo num café.
- Sim, está aqui. – Respondi mostrando a passagem.
- E a tua identificação, também a tens à mão?
- Sim pai, está aqui também - Respondi impaciente.
Ele assentiu satisfeito, mas a sua expressão logo se tornou seria.
- Lembra-te, juizinho nessa cabeça. – Começou com um tom paternal. - Eu e a tua mãe iremos visitar-te sempre nas férias e sempre que nos for possível. Respeita a tua avó, nós já enviamos tudo preenchido para o novo colégio. Em breve iras receber todas as informações. Lembra-te que durante a semana ficarás nos dormitórios e ao fim de semana irás para casa da tua avó. - Acenei com a cabeça, ouvindo suas instruções, mesmo que já as conhecesse de cor. - Vamos, já são horas. - Concluiu. - Tens a certeza que tens tudo? Se precisares de algo, não hesites em falar connosco.
- Sim, pai, eu já sei. Tenho 16 anos, não sou mais uma criança. - Respondi, um pouco áspero, sentindo a tensão entre nós aumentar.
- Vamos lá, dá um beijo e um abraço ao teu pai. - Encorajou-me a minha mãe, com a sua voz suave tingida de emoção.
Aceitei a sua sugestão e despedi-me do meu pai com um abraço apertado, tentando gravar na minha memória a sensação reconfortante dos seus braços ao meu redor. Depois, foi a vez da minha mãe, cujo abraço era uma mistura de conforto e tristeza, como se estivesse a tentar proteger-me de tudo o que estava por vir. Acenei para eles enquanto me afastava, tentando conter as lágrimas que ameaçavam escapar. Passando pelo detetor de metais, dei um último olhar para trás antes de seguir em frente, cada passo afastando-me um pouco mais do meu passado e aproximando-me de um futuro incerto.
Assim que encontrei o meu lugar no avião, afundei-me no assento e suspirei profundamente. Peguei no meu celular e, com mãos trémulas, verifiquei se tinha rede. A conexão estava fraca, mas foi o suficiente para aceder à internet. Sem hesitar, fui direto às redes sociais, antes de apagar o meu perfil permiti-me uma última olhadela ao perfil de Claire, como se buscasse alguma resposta nas entrelinhas das suas publicações. Depois de fechar a aplicação procurei os meus fones e coloquei-os nos ouvidos. Cliquei em play e deixei-me envolver pela música, numa tentativa de afogar os pensamentos tumultuosos que me assaltavam. Encostei a cabeça ao vidro, fechando os olhos para conter as lágrimas que ameaçavam escapar. Naquele momento, decidi que era hora de enfrentar o que estava por vir. Eu iria ultrapassar a dor que sentia no peito e seguir em frente. Prometi a mim mesma que, da próxima vez que visse Claire, seria apenas como amiga, deixando para trás qualquer resquício de sentimentos que pudesse prejudicar a nossa relação. Era hora de virar a página e começar um novo capítulo na minha vida.
Fim do capítulo
Boa tarde gente!!!
Espero que tenham gostado do novo capitulo
Agora Beatriz viajou a preguntar suponho que estajam curiosos para saber
Como será a vida de Beatriz durante estes 2 anos?
É o que irei retratar da proxima vez
Aproveito para agradecer novamento pelos comentarios
Beijos **
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Val Maria
Em: 28/03/2017
O que bia está passando muitas meninas já passaram, inclusive eu. Só que essa é uma estória e você autora poderá mudar os destinos.
Parabéns pela estória belíssima, escrita perfeita.
Bjssss.
Val castro
Resposta do autor:
Obrigada Val :D
Infelizmente é essa a realidade que temos :(
Fico feliz que continues acompanhar e que estejas a gostar
Beijo
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Fernandaaa
Em: 16/03/2017
Eu ia fazer o mesmo, ficar vendo a mulher que amo saindo com outras pessoas e sem falar que ela queria compartilhar contandos os encontros. Vai sofrer mais ainda longe, foi muito corajosa fazendo isso, também to apegada nessa coisa linda que é a Bih
Resposta do autor:
Ainda bem que está gostando :)
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purcina
Em: 16/03/2017
Me diz uma coisa, a gente vai ter capítulos narrados por a Clarie também? Porque quero muito saber se ela sente o mesmo por Bia, e quero saber o que ela sentiu depois dela ir embora. Por favor, não demora voltar ta? To apaixonada por a Bia, tadinha soferendo sozinha ...
Resposta do autor:
Eu cheguei a pensar nessa possibilidade enquanto escrevia o terceiro capítulo, contudo na altura não cheguei a nenhuma decisão, eu estou sempre aberta a sugestões então já que você mencionou eu irei e considerar esse capítulo no ponto de vista de Claire.
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MAYA
Em: 16/03/2017
Super fã já da história, e desse casal tão lindo. Continua ta, autora? Não demora a voltar e postar pra gente, tem tudo pra fazer sucesso, aliás, já está fazendo!!!! Beijooosss
Resposta do autor:
Obrigada pelo apoio!
Eu já comecei o próximo capítulo e espero postar no fim de semana
Beijo
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Teresa
Em: 16/03/2017
É uma história bem interessante, com um sentimento bem profundo. Parece bem real. Se eu estivesse no lugar da Beatriz e só tivesse 16 anos faria o mesmo provavelmente. Então eu entendo ela.
Resposta do autor:
Ainda bem que estás a gostar!
É sempre complicado enfrentar uma situação como essa, ainda mais quando a enfrenta mos sozinhos
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Rita
Em: 16/03/2017
Que triste ela foi embora sem falar nada :/ sofreu bastante ela. Como será que ela se vai adaptar nesses dois anos? Tô curiosa.
Bj ^^
Resposta do autor:
Os próximos 2 - 3 capítulos iram mostrar como foi a vida de Beatriz nesses 2 anos.
Obrigada por acompanhar
Bjo
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