Capítulo 2
Peguei na fotografia com os dedos trémulos, a textura áspera do papel fotográfico contrastando com a suavidade da minha pele. A imagem de Claire, radiante com seu sorriso contagiante, me transportou de volta para aquele dia memorável. O cheiro de bolo de chocolate fresco da cozinha e o som da música alegre que tocava no fundo da festa inundaram meus sentidos. Com passos determinados, dirigi-me até uma das malas e abri uma das bolsas, de onde retirei uma pequena caixinha. Com cuidado, carreguei-a até a cama, deixando meus dedos deslizarem mais uma vez suavemente sobre a fotografia antes de abrir a caixa. Com um suspiro de antecipação, tirei de lá o colar prateado que repousava dentro.
Naquele dia tao especial em que Claire completou 15 anos, esta pediu a Mari para capturar um momento único entre nos duas. Lembro-me de ter ficado entusiasmada, pois queria que a foto fosse perfeita. Ao contemplar o resultado final da fotografia, um calor reconfortante se espalhou por mim. Naquela imagem, Claire exibia um sorriso magnífico, verdadeiramente radiante, que sem dúvida alguma era o meu preferido - um sorriso que só eu conseguia arrancar dela. Seus olhos estavam fechados em uma expressão de pura felicidade, enquanto ela mostrava os dentes brancos perfeitos em uma gargalhada contagiante. Quanto a mim, havia reunido coragem suficiente para, antes do "clique" da câmara, envolvê-la num abraço carinhoso pelo pescoço e depositar um beijo suave na maçã do seu rosto. Era um gesto simples, mas carregado de significado, um reflexo do vínculo especial que compartilhávamos. Um aperto no coração me acompanhou enquanto meus olhos percorriam cada detalhe da foto. Ao analisar mais atentamente a fotografia, tornou-se evidente que qualquer observador perspicaz perceberia que eu estava completamente apaixonada. Minha face corada e os olhos fechados enquanto depositava o beijo em seu rosto revelavam o profundo sentimento que nutria por ela. Pousei suavemente a foto sobre meu peito e, ao fechar os olhos, mergulhei nos meus próprios pensamentos. Poucos segundos se passaram antes que minha própria voz ecoasse em minha mente, sussurrando com ternura: "Claire, eu..."
Dois anos atrás
À medida que as semanas se passavam, eu continuava magoada com Claire. Esta havia percebido meu descontentamento e se desculpara, e, naturalmente, eu aceitei suas desculpas, mantendo as aparências fingindo que tudo estava bem. Durante um jantar em família, minha mãe fez questão de trazer à tona novamente o assunto da mudança de país.
- Estás preparada para a época de exames Beatriz? Espero que tenhas estudado bastante. - Perguntou deixando transparecer o seu sotaque britânico, enquanto esperávamos que nos servissem o jantar. - Não te esqueças que as tuas notas iram ser inessenciais para que te aceitem no novo colégio.
- Eu estou preparada para os exames. Quanto ao colégio eu ainda não decidi se quero ir ou não.
- Mesmo que ainda não tenhas decidido, não quero que negligencies os exames e depois sejas recusada, caso queiras ir para lá. - disse com firmeza, enquanto me examinava por cima dos óculos.
- Eu sei, não se preocupe. Não irei descuidar dos estudos. - Respondi, soltando um suspiro. Meus olhos encontraram os dela com determinação. A confiança em minhas palavras refletia a consciência crescente sobre a importância de me dedicar aos estudos e perseguir meus objetivos com determinação.
Faltavam apenas dois meses para o término do ano escolar, era sábado, dia do meu aniversário de dezasseis anos. Aproveitando essa ocasião especial, minha mãe não hesitou em organizar uma grande festa para celebrar. Diante do espelho, observei o vestido colorido com um toque infantil que esta havia escolhido para a ocasião. Uma mistura de sentimentos percorreu meu interior enquanto eu avaliava minha aparência, fazendo-me debater internamente sobre a vontade de trocar de roupa para refletir melhor meu amadurecimento. No entanto, a voz animada da minha mãe ecoava em minha mente, lembrando-me da importância da festa e do momento especial que era o meu aniversário.
Antes que eu pudesse tomar uma decisão, uma batida na porta me tirou dos meus pensamentos, interrompendo meu conflito interno e me fazendo voltar à realidade.
- Entre. - Murmurei, mantendo meu olhar fixo no espelho.
- Feliz aniversário Bih!!!! - Ouvi a voz de Claire enquanto me virava em direção à porta. Meu coração deu um salto imediato ao vê-la entrar. Seus olhos verdes brilhavam com uma alegria contagiante, seu sorriso irradiava felicidade. No entanto, o que realmente prendeu a minha atenção foi o vestido branco que esta usava, chegando até os joelhos e se ajustando perfeitamente ao seu corpo em desenvolvimento, revelando os delicados contornos.
Ela abraçou-me e eu cambaleei um pouco, em segundos o seu corpo estava colado ao meu, fazendo o meu coração disparar, um arrepio percorreu minha espinha, deixando-me momentaneamente sem reação, meu coração parecia martelar no peito enquanto uma torrente de pensamentos tumultuava minha mente. "O que mudou? Das outras vezes..." Engoli em seco, incapaz de articular as palavras que rodopiavam em minha cabeça. Ela se afastou, e eu permaneci atordoada, tentando compreender a avalanche de sentimentos que me dominava naquele momento.
- Bih, estás a sentir-te bem? Estás com febre? - Ouvi a preocupação na sua voz enquanto ela estendia a mão em direção à minha testa. Instintivamente, afastei-me, virando as costas.
- Eu estou bem. - Respondi, tentando disfarçar o constrangimento que sentia. No entanto, minha voz saiu rouca, o que só aumentou meu embaraço.
- Hey...Posso dar-te o meu presente agora? - A sua voz tímida de Claire chamou a minha atenção, respirei fundo e olhei para ela curiosa.
Observei-a com atenção enquanto esta abria sua bolsa, tentando desesperadamente ignorar o meu coração acelerado. Quando ela encontrou o que procurava, estendeu-o na minha direção. Um sorriso brotou em meu rosto ao ver uma pequena caixa vermelha em suas mãos. Com cuidado, peguei-a, tentando evitar qualquer contato adicional com a pele dela. Ao abrir delicadamente a caixa, fiquei surpresa com o que vi. Era um colar prateado com três letras formando o apelido que só ela usava para mim: "Bih".
- E então? - Perguntou nervosa, tentando quebrar o silêncio constrangedor que se instalara entre nós.
- É lindo... - Sussurrei, tentando disfarçar a emoção que sentia. Olhei para ela e sorri, percebendo sua tensão diminuir gradualmente.
- Posso colocar? - Sussurrou, e um nervosismo repentino me atingiu. Comecei a ponderar se era uma boa ideia permitir aquilo. No entanto, antes que pudesse expressar minha hesitação, ela completou timidamente: - Eu quero ver como fica...
Olhei-a nos olhos por um instante, e então assenti com a cabeça, permitindo que ela prosseguisse.
Claire aproximou-se de mim e delicadamente tirou o colar das minhas mãos. Em silêncio, virei-me de costas para ela e afastei o cabelo, deixando meu pescoço exposto. Senti sua respiração suave no meu pescoço, o que me fez arrepiar. Fechei os olhos, tentando controlar a avalanche de emoções que se desencadeava dentro de mim, mas a proximidade dela só intensificava minhas sensações, tornando minha respiração cada vez mais ofegante.
- Deixa ver como ficou. - Murmurou suavemente. Virei-me lentamente para encará-la, e um sorriso tímido iluminou seu rosto quando nossos olhares se encontraram. Perdida em seus olhos verdes, minha mente se encheu de pensamentos confusos e pulsantes.
Sem conseguir conter meu impulso, agarrei suas mãos e mergulhei em seus olhos. Minhas mãos tremiam, por um instante, abri a boca para dizer algo, mas as palavras fugiram de mim. Observei a expressão confusa em seu rosto, respirei fundo, reunindo toda a coragem que tinha dentro de mim. No entanto, enquanto eu tentava reunir minhas palavras, minha atenção foi atraída para cada traço do rosto dela. Instintivamente, minha mão subiu até seu rosto, acariciando suavemente sua pele. Meus olhos desviaram para seus lábios carnudos, mordi os meus próprios lábios nervosamente. Sem pensar nas consequências, aproximei-me lentamente, sentindo sua respiração se misturar com a minha. Cada vez mais perto, até que nossos lábios estavam a apenas centímetros de distância, prontos para se encontrarem num momento de pura entrega e vulnerabilidade.
- Onde está a aniversariante! - Gritou uma voz familiar enquanto abria a porta do meu quarto.
Com um sobressalto, pulei de susto e acabei caindo. Vi o corpo de Claire cambalear um pouco. Em segundos, a consciência do que estava prestes a fazer me atingiu, olhei desesperada para Claire, tentando identificar sua expressão. No entanto, seu cabelo escondia seu rosto, impedindo-me de ver sua reação.
- Não sabes bater à porta! - Perguntei a Mari enquanto me levantava rapidamente virando as costas para as duas, comecei a ficar irrequieta e decidi mexer nos livros que se encontravam na mesinha de cabeceira.
- Desculpa Bia, mas eu estou muito empolgada com esta festa. Quem sabe não arranjo aqui um gatinho?
- Mari eu acho que estás no lugar errado... a Petshop é ao virar da esquina! - Retruquei, frustrada, enquanto abria e fechava uma gaveta. Minhas mãos ainda tremiam e estavam suadas, denunciando a turbulência emocional que eu tentava esconder.
- Nossa, que humor... nem parece que é o teu aniversário... - Mari disse secamente, sem perceber a tensão no ambiente. - Claire, estás aqui há muito tempo? Já deste o teu presente, eu quero ver como ficou! - Sua empolgação só aumentava meu nervosismo.
- E-Ela já o tem ao pescoço. - O gaguejo de Claire chamou minha atenção. Virei o rosto apenas um pouco para poder vê-la. Esta estava de cabeça baixa, quando me virei completamente em sua direção, pude ver por trás de seus cabelos o rubor em seu rosto.
Uma ponta de esperança surgiu no meu peito. No entanto, a expressão de Claire era difícil de interpretar. Parecia misturar nervosismo, constrangimento e algo mais, algo que eu não conseguia identificar com clareza. Aquela reação inesperada dela apenas aumentava minha confusão e minha inquietação.
- Oh, que lindo! - Exclamou Mari, batendo palmas e tirando-me dos meus pensamentos. - Agora é minha vez! Aqui, Bia, muitos parabéns! - Mari entregou-me uma caixa, e eu forcei um sorriso. Ao abri-la, porém, um sorriso genuíno se formou em meu rosto. Segurei a moldura e observei a foto que Mari tinha tirado no dia em que Claire fez 15 anos.
- Não me esqueci, eu só estava a guardar a foto para te dar neste dia. - Gargalhei, lembrando de todas as vezes que chateava Mari para ter aquela foto.
- Obrigada, Mari, foi muito especial - agradeci, genuinamente tocada pelo gesto e pela lembrança que aquela foto representava.
Observei Claire, que olhava para mim com um pequeno sorriso nos lábios. Seus olhos transmitiam uma mistura de sentimentos que eu não conseguia decifrar completamente, mas havia algo ali, algo que me fazia sentir uma estranha e reconfortante conexão.
Eram 15 horas quando minha mãe apareceu no quarto. Com um sorriso caloroso, ela nos informou que os convidados já começavam a chegar. A presença animada de Mari trouxera um alívio temporário, dissipando um pouco da atmosfera pesada que pairava entre mim e Claire. No entanto, não tocamos no assunto delicado que havia surgido entre nós momentos antes. Optamos por ignorar o que tinha acontecido, como se fosse mais fácil assim. Por um lado, essa abordagem não me agradava, sentia como se estivéssemos a evitar uma conversa necessária. Mas, ao mesmo tempo, sentia-me aliviada, pois no fundo eu sabia que não estava preparada para confrontar Claire e expor meus sentimentos.
Depois de ter cantado os parabéns e ter cortado o bolo, decidi afastar-me e ficar sozinha por um momento. Encostei-me à parede e observei o ambiente ao meu redor. Realmente a minha mãe tinha exagerado na decoração e na quantidade de convidados. A festa decorria em dois locais, na sala e no jardim. Na sala, um DJ passava música animada, um barman preparava drinks e havia serviço buffet com vários garçons circulando entre os convidados. No jardim, minha mãe optou por um churrasco, com música apropriada e pessoas encarregadas por servir os convidados.
Observei Mari e Claire à minha frente, conversando animadamente. Quando a música começou, elas começaram a dançar ao ritmo de "Master Blaster - Everywhere". Meu coração pulsou ao ver Claire movendo-se ao ritmo da música. Ao mesmo tempo, o refrão da música fazia-me pensar nela. Era como se cada batida da melodia ressoasse com os meus sentimentos.
- Beatriz. - Uma voz suave chamou-me, despertando-me dos meus devaneios.
- Emma. - Respondi, sorrindo ao ver a alta morena aproximar-se de mim.
Emma era amiga da minha mãe frequentavam o ginásio juntas e tinha 23 anos. Vestia uma blusa branca de renda e uns jeans que lhe assentavam perfeitamente.
- Muitos parabéns minha querida. - Ela aproximou-se, beijando-me demoradamente no rosto e deixando-me um pouco constrangida.
- Obrigada Emma, gostei muito do teu presente (um ursinho de peluche com um cartão escrito à mão).
- Fico feliz, e então como andam as coisas sempre irás para fora? - - Ela perguntou com um sorriso sereno.
- Ainda não decidi. - Murmurei, sem muita vontade de ter aquela conversa.
- Pensa bem. Conhecer outro país, outras pessoas, ter novas experiências e um pouco de liberdade na tua idade é algo que muitos gostariam de ter e, infelizmente, não têm.
- Foi a minha mãe que te pediu para teres esta conversa comigo? - Perguntei secamente, desconfiada. Ela sorriu e pousou a mão sobre o meu braço.
- Não, querida. Só estou a dar a minha opinião. Quando tinha a tua idade, daria tudo por essa oportunidade. - Ela respondeu, transmitindo sinceridade em suas palavras.
- Eu entendo isso... - Suspirei. - Mas ainda não decidi. E se as pessoas decidirem opinar sobre este assunto, só ficarei ainda mais confusa.
Emma permaneceu em silêncio, apenas estudando-me com um meio sorriso nos lábios.
- Tens toda a razão. Vou aproveitar a festa, e tu também deverias. Não fiques aqui encostada, há tantos rapazes da tua idade aqui. Por que não escolhes um para dançar? Aposto que eles cairiam aos teus pés. - Ela sugeriu, tentando me animar.
- Não estou interessada. - Conclui irritada, sentindo-me frustrada com a pressão constante para arranjar um rapaz. “Maldita sociedade." - E quanto a ti Emma? Algum boy na tua vida. - Perguntei-lhe arqueando uma sobrancelha.
- Não lindinha, nada de boys. - Respondeu, piscando-me o olho antes de se afastar.
Após a breve conversa com Emma, senti um misto de alívio e exasperação. Era bom ter alguém com quem conversar, mas ao mesmo tempo, estava cansada das expectativas sobre minha vida amorosa. Observando a festa ao meu redor, vi os convidados dançando, rindo e socializando. Uma parte de mim desejava participar, mas outra parte preferia ficar à margem, longe das expectativas e dos olhares curiosos. Decidi pegar uma bebida e caminhar pelo jardim, afastando-me um pouco do burburinho da festa. Enquanto me afastava, observei Claire, ainda dançando com Mari. Um pequeno sorriso involuntário surgiu em meus lábios ao vê-la tão animada. Ela realmente parecia estar se divertindo. Enquanto isso, as palavras de Emma ecoavam em minha mente. "Por que não escolhes um para dançar? Aposto que eles cairiam aos teus pés." Revirei os olhos diante da ideia, mas uma parte de mim se perguntava se não estava na hora de deixar de lado minhas reservas e aproveitar mais a vida social. Segundos depois um rapaz de cabelo escuro chamou a minha atenção, este se aproximou de Claire, irradiando um sorriso contagiante. Observei a cena com curiosidade, notando como eles conversavam animadamente. O rapaz parecia ser divertido, e Claire estava claramente à vontade com a presença dele. Analisei-os enquanto estes riam juntos e trocavas olhares sem deixar de passar despercebido, o corar nas bochechas de Claire quando este se aproximou do seu ouvido numa nítida conversa mais íntima. Depois disso, Claire disse algo para Mari, que também sorriu, e então dirigindo-se na minha direção. Eu a encarei. Mari aproximou-se, visivelmente empolgada.
- Biaaa! Acho que Claire acabou de ganhar na loteria! - Exclamou Mari empolgada.
- Como assim Mari? Ela nem idade tem para jogar. - Respondi nervosa, sem perceber o duplo sentido daquela frase. - Quem é aquele rapaz com quem ela está a dançar? – Perguntei, ainda observando os dois.
- É o prémio. - Gargalhou Mari.
Enquanto os observava a dançar, senti um turbilhão de emoções tomar conta de mim. Cada gesto, cada risada compartilhada, parecia uma agulha perfurando meu peito. Uma raiva surda começou a crescer dentro de mim, como um fogo incontrolável quando o rapaz se aproximou mais dela pousando as mãos na sua cintura. Sem dizer uma palavra a Mari, comecei a caminhar dando um encontrão no rapaz fazendo-o desequilibrar-se, ele reclamou, contudo não parei e continuei em direção às escadas, ignorando completamente o que estava acontecendo ao meu redor.
Ao subir para o meu quarto e trancar a porta, senti um peso insuportável sobre meus ombros. Encostei-me à porta e deixei meu corpo cair no chão frio. As lágrimas começaram a escorrer, minha respiração ficou irregular, e uma dor aguda tomou conta do meu peito. Tentei levantar-me, mas as minhas pernas tremiam tanto que não consegui. Sentindo-me incapaz de controlar minhas emoções, meu coração batia descompassado, enquanto meu corpo tremia sem controle. Lutando para encontrar alguma forma de acalmar-me, abri a primeira gaveta da minha secretária e encontrei um saco de plástico. Sem pensar duas vezes, levei-o à boca e comecei a respirar profundamente, tentando recuperar o controle da minha respiração. Aos poucos, a sensação de asfixia começou a diminuir, e minha respiração começou a se estabilizar.
Deitei na cama, com os olhos fechados, ouvi batidas na porta, mas não consegui responder. Permaneci deitada, observando o teto, tentando acalmar minha mente tumultuada.
Quando olhei para o relógio, já passavam das 21 horas. Ao espreitar pela janela, confirmei que a festa tinha acabado. Decidi então lavar o rosto na minha casa de banho privativa e descer para beber um copo de água.
Ao chegar ao fim das escadas, notei que a televisão da sala estava ligada. Curiosa, fui investigar e fiquei surpreendida ao ver quem lá estava. Claire estava sentada no sofá, entretida a assistir a um antigo episódio de The 100. Tentei sair sem fazer barulho, mas não fui rápida o suficiente.
- O que se passou contigo? - perguntou, mantendo o olhar fixo na televisão. Virei-me para encará-la, mas esta permanecia concentrada na tela.
- Não me senti muito bem... - murmurei, com um suspiro de cansaço. - O que estás aqui a fazer? Achei que todos já tinham ido embora...
- A tua mãe convidou-me para dormir aqui. - Suspirei, irritada com o timing da minha mãe. Enquanto remoía mentalmente tudo o que tinha acontecido, percebi que Claire me observava atentamente no sofá. - Tens algum problema com isso? - Perguntou, num tom desconfiado.
- Nenhum... - Murmurei, sentindo um misto de alívio e desânimo. Claire abanou a cabeça e um sorriso fraco surgiu nos seus lábios, mas algo no seu olhar denunciava uma preocupação velada.
- Vou-me trocar. - Disse ela, levantando-se apressadamente e saindo da sala, deixando-me confusa com sua expressão de mágoa.
Enquanto arrumava algumas coisas no meu quarto antes de ir para a cama, ouvi uma batida na porta. Quando a abri, deparei-me com Claire usando um short e um top, segurando uma almofada.
- Posso dormir contigo? - Perguntou num sussurro, deixando-me completamente desconcertada. Minha consciência insistia para que eu respondesse "Não", mas minha boca pareceu agir por vontade própria e soltou um "Sim" gaguejado.
Claire entrou no quarto e acomodou-se na cama, enquanto eu tentava fazer tempo ajeitando o que via pela frente, mas logo percebi que estava sem saída quando ela me perguntou se podia desligar a luz. Suspirei e deitei-me, tentando manter uma certa distância entre os nossos corpos, embora o espaço entre nós na cama parecesse cada vez menor. A escuridão que se seguiu trouxe consigo um silêncio pesado, apenas quebrado pelo som suave da respiração de Claire.
- Bih, já alguma vez beijaste alguém? – Perguntou. Olhei para Claire desconfiada, mas esta estava virada de barriga para cima fitando o teto.
- Não... - Respondi, sentindo-me um pouco desconfortável, pensei se deveria ou não lhe fazer aquela mesma pregunta, mas Claire foi mais rápida e disparou.
- Gostas de alguém? - Ela perguntou buscando os meus olhos, sua expressão séria mostrava o quão interessada ela estava na minha resposta. Meu coração começou a bater mais rápido, sentindo o meu rosto esquentar. Eu queria contar a ela tudo, queria dizer que estava apaixonada por ela, mas o medo segurava-me, mantendo minhas palavras trancadas dentro de mim.
- Neste momento não... - Sussurrei, sentindo-me um pouco desconfortável com a expressão desapontada nos olhos de Claire.
- Se gostasses de alguém, contavas-me? - Ela perguntou, sua voz carregada de curiosidade.
- Claro que sim. - Murmurei. "Por que ela está com estas preguntas? Será que ela quer falar do que aconteceu mais cedo..." pensei enquanto a encarava. - E quanto a ti? Já alguma vez beijaste alguém?
- Não. - A resposta dela foi breve, mas senti um nó se formar no meu estômago.
- E gostas de alguém? - Perguntei, com uma mistura de apreensão e esperança na voz.
- O Jonathan convidou-me para sair no próximo fim-de-semana... - Ela disse rapidamente, e eu senti como se o chão se abrisse sob os meus pés. Encarei-a, lutando para esconder a deceção que se instalava em mim. - E eu aceitei. - Claire sussurrou, observando minha reação.
Naquele momento, queria gritar, queria dizer tudo o que estava sentindo, mas as palavras pareciam fugir-me. Abri e fechei a boca algumas vezes, virando-me de barriga para cima e encarando o teto por alguns minutos.
- Até amanhã... - Ela disse, quebrando o silêncio, virando-se para o outro lado.
Fim do capítulo
Novo capitulo!!! Espero que gostem!!!
Agradeço novamente os comentários **
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Mille
Em: 12/03/2017
Olá autora
Beatriz não teve coragem de beijar e falar o que sente e acho que Claire sabe mais fingir e foge que a amiga gosta dela mais que uma amizade. Aproveitou que o rapaz lhe convidou para sair para fazer ela se afastar e perceber que ela não tem chance.
Bjus e até o próximo
Resposta do autor:
Ola
Fico feliz por estar acompanhar a história :)
Próximo capítulo sairá esta semana
Bj
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Val Maria
Em: 11/03/2017
Gostei muito da Biah, já vi que ela vai sofrer muito.
Mais percebi que esse amor era só dela,ou Claire não conseguiu mostrar o seu sentimento.
Será que depois de 2 anos a Claire está sozinha?
Volta logo autora. Estou apaixonada por sua estória.
Bjssss.
Val Castro
Resposta do autor:
Obrigada!!! Ainda bem que está gostando :)
A Biah sofre e sofre... realmente a situação dela não é muito boa e depois a cima de tudo ela preocupasse com a relação de amizade que tem com Claire...
Logo logo o 3º capitulo será postado :)
Bjs *
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Rita
Em: 10/03/2017
A Beatriz não teve coragem de dizer o que sente mas ficou com raiva do rapaz que tava cheio de sorrisinhos com a Claire e até a convidou pra sair. É sempre complicado nos inícios a gente admitir o que sente, ainda pra mais quando se gosta de uma amiga. Felizmente eu nunca gostei das minhas amigas dessa maneira, não sei como é mas conheço gente que sofreu bastante com situações assim, porque muitas vezes os sentimentos não são correspondidos
Resposta do autor:
É verdade e muitas vezes é nessas alturas que se descobre o preconceito que existe, algumas pessoas que nós acreditavamos que eram a cima de tudo nossas "amigas" são capazes de nos surpreender da pior maneira sendo preconceituosas...
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