Capítulo 16: Rendição, jogo duro e micos
Ela me olhou completamente surpresa com as palavras que havia proferido e, vacilando, me respondeu:
-- Então... é... que... eu não sei... o que... te responder... Gosto de você... mas, não sei se dessa... forma... Pra mim é estranho tudo isso... essa coisa... de... mulher com... mulher, sabe?!
-- Mas... Você não gostou do nosso beijo, nem daquele dia depois da boate? Não sentiu nadinha de nada?
-- É... então... eu... gostei... muito, mas... sei lá... – respirou fundo, tentando encontrar argumentos suficientes para uma recusa, mas felizmente pra mim acho que não conseguiu, por isso me disse, levando-me a um completo estado de êxtase:
-- Tá certo. Podemos tentar, como se fosse um teste, mas com uma condição: você vai ter que ter paciência comigo, até que eu consiga aceitar melhor tudo isso. Tudo bem pra você... se for assim... com calma?
-- Você está me dizendo que... aceita minha proposta? – tive que perguntar, afinal não estava mesmo acreditando que algo tão maravilhoso poderia estar acontecendo comigo, a filha preferida de Murphy.
-- Sim. Estou aceitando seu pedido, mas com a condição de ter paciência para esperar o meu momento.
-- Claro! Sem problemas, está mais que perfeito. Não se preocupe, não a forçarei a nada.
Devo ter dado meu maior sorriso de felicidade e Camila também sorriu ao perceber minha alegria. Não me controlei e a puxei para mais um beijo. Tinha que extravasar toda a minha alegria. Me separei com extrema dificuldade dos seus lábios tão doces e macios, mas não poderia por tudo a perder novamente, embora estivesse num estado crônico de desejo naquele momento.
Me despedi de forma meio desesperada, porque estava a um passo de agarrá-la e não soltá-la jamais. Tinha prometido que me comportaria, mas estava completamente claro pra mim que seria uma missão quase impossível. Iria precisar de toda a minha força de vontade para cumpri-la, mas não desistiria, pois estava mesmo muito apaixonada.
**********
Nosso suposto namoro foi seguindo muito bem, como todo começo de relacionamento. Cada dia me apaixonava um pouco mais por ela. Era absolutamente incrível, embora só ficássemos nos contados beijos mesmo, mas devo dizer que os lábios dela compensavam qualquer sacrifício da minha parte, embora claro que vinha tendo muitos sonhos perturbadores, imaginando-nos em situações mais calientes.
Não conseguia evitar o afloramento do lado mais romântico da minha personalidade. Adorava dar presentes a ela, flores, chocolates, cd’s, qualquer coisa, só pra ganhar mais daqueles beijos e abraços incríveis. Também vivia mandando mensagens melosas em seu celular e deixando bilhetinhos em suas coisas. E fazia tudo isso por puro prazer de vê-la feliz e para receber seu olhar verde brilhante em minha direção.
Eu parecia mesmo uma bobona apaixonada pela primeira vez. Não era minha primeira paixão, mas certamente era o sentimento mais forte que já tive por alguém. Nunca esperei tanto, com tanta paciência, pela decisão de outra pessoa. Sei que ela ainda poderia desconsiderar tudo a qualquer momento e dizer que havia sido uma loucura, um erro da parte dela. Meu coração doía só de pensar nessa possibilidade, mas mesmo que assim fosse, não iria desistir sob hipótese nenhuma. Lutaria até contra o Anderson Silva ou Vitor Belfort por ela.
Já estavam se indo quase um mês de namoro e ela em nenhum momento me deu qualquer pista de que tinha finalmente se decidido e que, portanto, nosso relacionamento era totalmente pra valer e não mais um “teste”, como se referiu no momento da sua concordância. A meu ver, ela ainda parecia um pouco em dúvida sobre essa questão da homossexualidade. Acredito eu que estava um pouco assustada com a perspectiva de ser assim também. Mas iria ter paciência para esperar o momento em que ela conseguisse lidar melhor com a questão.
E logicamente por causa de todo esse receio que tinha de que ela desistisse a qualquer instante do namoro, que fazia de tudo para que ela se apaixonasse por mim, da mesma maneira que estava por ela, ou pelo menos, só um pouquinho. Estava mesmo empenhada e cada vez que a pegava olhando e sorrindo em minha direção, meu coração explodia de felicidade e esperança.
Os finais de semana, que tínhamos mais tempo para sairmos juntas e sozinhas, eram sempre perfeitos. Com o passar do tempo, fui ficando mais ousada e tentando abrir mais espaço para que pelo menos minhas mãos pudessem ter livre acesso ao seu corpo. Camila fazia jogo duro e estava sempre freando qualquer atitude mais indisciplinada da minha parte, mas eu não conseguia parar, insistia sempre em tentar desvendar seu corpo, era impossível controlar o impulso de tocá-la. E, como sou persistente, as vezes conseguia alguns avanços consideráveis que me deixavam feliz e frustrada, simultaneamente. Eu era mesmo uma contradição.
**********
Uma novidade totalmente surpreendente também ocorreu nesse tempo em que comecei meu relacionamento com Camila. Marcela, que pra mim estava sob efeito de alucinógenos, tinha iniciado um namoro com uma garota que conheceu numa balada. Ela havia mesmo entrado nesse mundo lésbico, mais para bissexual a meu ver, naquela noite da boate e ficado com a odiosa da Adriana e pelo visto gostou mesmo da coisa.
Por que vocês entenderam bem, né? Ela estava namorando uma MULHER. Bem, não aparentemente, pois era muito masculina e parecia-se incrivelmente com um homem, mas era mesmo uma garota. Nosso relacionamento tinha mudado um pouco, mas mantínhamos a amizade ainda, embora de maneira um pouco mais distante que antes.
Esperei um tempo para verificar se essa história não era mesmo fogo de palha de Marcela, pois a conhecia de longa data, mas como depois de várias semanas ela continuava com o namoro, tive que me render e acabei combinando com ela de sairmos juntas, aos casais, no sábado seguinte, para que conhecesse pessoalmente a tal garota que tanto tinha encantado minha melhor amiga.
Fomos a um restaurante japonês, onde podíamos conversar com tranquilidade. Jessica, a nova namorada de Marcela, era muito legal, apesar de me parecer um pouco irresponsável, pois tinha o cabelo curto todo colorido e não fazia nada da vida, além de tocar em uma banda de rock. Mas, a seu favor, tinha o fato de que era muito claro todo o seu encantamento pela minha amiga. Não era de se estranhar, qualquer um se encantaria com a beleza e o jeitinho todo especial da Marcela.
Conversamos bastante sobre tudo que possam imaginar e foi bastante divertida nossa noite juntas, ainda mais com minhas trapalhadas na hora de comer com aqueles pauzinhos. Sei que se chamam hashis, mas pra mim era somente uns pauzinhos desgraçados mesmo, que inventaram para acabar com as pessoas pouco habilidosas como eu.
Camila parecia estar encarando toda a situação com mais naturalidade, visto que participou bastante de tudo e não me pareceu tão chocada com toda a aparência de Jessica. Acho até que eu fiquei mais. Estava muito feliz por isso e esperançosa de que ela finalmente deixasse todos os seus receios de lado e desse uma chance para tornar mais real nosso relacionamento.
Como cada uma tinha vindo separadamente e os carros estavam em locais diferentes, nos despedimos na porta do restaurante. Uma coisa absolutamente incrível a meu ver aconteceu enquanto eu e Camila caminhávamos rumo ao estacionamento. Ela, por vontade própria, e de forma absolutamente inesperada, entrelaçou sua mão direita em minha mão esquerda. Ela nunca havia feito algo assim durante esse tempo de namoro, e nunca pensei que faria, pelo menos não no meio de muitas pessoas, como estava acontecendo nesse momento.
Fiquei tão surpresa e encantada, que esqueci completamente do mundo a minha volta, pois estava totalmente concentrada no calor gostoso que seus dedos me transmitiam. E, como não poderia deixar de ser, ocorreu mais uma catástrofe, devido meu jeito estabanado de ser.
O que aconteceu? Simplesmente acredito que pisei em falso e despencamos tragicamente as duas da escada em que estávamos vencendo. Foi mesmo um mico estratosférico esse. Todos que passavam pararam para ver e rir da cena hilária de nós duas estrebuchadas no chão, depois de termos rolado pelos degraus todos, como se fossemos bola de futebol.
Apesar de envergonhadas, só restou mesmo gargalharmos de mais uma desgraça em nossas vidas. Camila, foi a única que conseguiu se manifestar a respeito da nossa tragédia grega:
-- Ai Soph! Você me mete em cada fria... mas eu me divirto pakas contigo – disse, rindo muito, de mais um mico que pagávamos. E eu adorava seu senso de humor.
Nos recompusemos, mas algo ainda mais crítico ainda me aconteceria naquela noite. Quando estávamos indo embora, depois de toda a nossa aventura anterior, aconteceu mais uma vez algo totalmente inesperado. Camila, sempre tão calma e ponderada, freou o carro tão bruscamente que cheguei a pensar que partiríamos dessa para outra.
Levei um susto imenso e olhei interrogativamente para ela, pois não tinha nenhum carro perto de nós nem nada aparente que justificasse aquele ato desesperado dela. Não consegui me controlar e lhe interpelei:
-- Camila, o que aconteceu? Te deu um ataque de cinco minutos de loucura ou você viu algum objeto voador não identificado? Nunca a vi cometer desastres como esse antes.
Ela estava me olhando verdadeiramente assustada, deixando-me preocupada e ansiosa.
-- Não é nada disso, Soph! Me assustei quando de repente olhei para... – parou subitamente de falar me deixando em um estado crônico de curiosidade.
-- Para o quê, Camila? Pelo amor de Deus, me diz de uma vez, que minha gastrite já está atacando!
-- Calma, ta?! Não quero assustá-la também. Respire fundo, tenha muita calma e não se desespere, viu?
Estava nesse momento quase tenho um filho de tanta ansiedade. Por Deus, por que ela não me dizia de uma vez por todas o que estava acontecendo? Não aguentava mais esse mistério todo. Ela respirou fundo, pensando em como me contaria a respeito do assunto, que tanto a assustou e disse:
-- Soph, vamos fazer assim. Muito cal-ma-men-te, puxe o protetor de sol do carro e olhe no espelho que tem ali, mas faça tudo com muita, muita calma, certo? – disse tudo isso muito pausadamente pro meu gosto.
Não estava gostando nadinha nem entendendo nada, mas abaixei o visor do automóvel e quase tive uma síncope quando me visualizei no espelho. Meu rosto estava inteiro empipocado, muito pior que se estivesse com catapora, cheio de manchas vermelhas assustadoras. Certamente, poderia ser confundida com um monstro qualquer desses do cinema e assustaria mais as criancinhas que todas as bruxas dos contos de fada.
Fiquei tão chocada com tudo que não consegui falar nada nem esboçar qualquer reação, parecia que minha voz também tinha sumido da mesma forma que meus olhos que estavam totalmente inchados e vermelhos. O pior era meus lábios que estavam de um tamanho completamente anormal, acho que umas três vezes maior que os da Angelina Jolie.
Camila resolveu se manifestar devido minha inércia repentina:
-- Vamos ao hospital, Soph. Você tem algum tipo de alergia? – ela parecia mesmo estar bastante preocupada.
-- Não sei. Nunca tive problema algum com isso antes.
Não falamos mais nada, ambas estávamos muito assustadas com tudo aquilo que estava nos acontecendo.
No hospital, descobri que possuía alguma alergia, não identificada ainda, mas certamente algum ingrediente daquele prato que havia comido no restaurante que tinha me causado aquela alergia enorme. Eu é que nunca mais comeria isso novamente na minha vida.
Ficamos detidas no hospital por algumas horas, pois tive que tomar soro. Queriam me deixar internada, vejam bem minha sorte, mas me recusei quando os inchaços melhoraram um pouco depois dos medicamentos. Não gostava nadinha de hospitais, velórios e enterros, por isso fugia o quanto pudesse desses locais.
Depois de liberada pelo médico plantonista, fomos novamente embora. Nossa! Quantas aventuras hoje. Não poderia se comparar, mas a última vez que me ocorreu tantas desgraças como hoje tinha sido no fatídico dia em que conheci Camila. Apesar de tudo fui abençoada por tudo o que me aconteceu, pois tornou possível que nos conhecêssemos.
E hoje também não foi muito diferente, houve recompensas incríveis devido essa trágica alergia que me acometeu. O bom dessa história toda foi que Camila resolveu dormir em casa para cuidar de mim por causa do meu estado. Fiquei completamente encantada com seus gestos e cuidados, agora era ela que estava fazendo de tudo para me agradar. E ainda dormiu comigo na minha cama, sem nenhuma sacanagem viu, porém abraçadinhas. Por mim, não ligaria a mínima se tivesse uma alergia como essa por dia, só para tê-la dessa forma, tão preocupada e próxima a mim.
Fim do capítulo
OLá a todas! Espero que gostem do fato das duas já estarem namorando, mas é que cansei desse banho maria. Não sei mesmo porque inventei essa história de Camila ser hétero, pois não aguento muita enrolação, vai me dando nervoso, mas também não gosto de muita melação, só pra saberem e não se animarem tanto. rsrs.
Muitas aventuras ainda a rolar. Obrigada mesmo por continuarem acompanhando, mesmo com minhas poucas habilidades para escrever coisas românticas e pela minha história não apresentar um enredo forte, mas é que não pensei nisso mesmo. Não sou nem tenho pretensão de ser escritora, só comecei isso devido um impulso louco. Prometo pelo menos que vou continuar tentando fazê-las se divertirem para compensar. Obrigada a todas pelo carinho nos comentário. Até semana que vem.
Comentar este capítulo:
Rita
Em: 16/03/2017
Tudo acontece à Sophia -.- tem mais azar que eu. Agora uma alergia. O bem disso é que ganhou a Camila pra cuidar dela, assim quase que até dá gosto precisar de cuidados kkkk
Resposta do autor:
Sophia é a filha preferida do murphético do Murphy, Rita. Acho que agora já dá pra titulá-la assim devido os azares todos. Muito perseguida a pobre coitada, mas o bom é que nos divertimos né?! E nesse capítulo ganhou cuidados especiais ainda, foi ótimo esse ataque do ser maligno dessa vez, teve carinhos extras, deu até gosto mesmo kkkk Obrigada pelo carinho do comentário. beijoss. Até :)
Mille
Em: 15/03/2017
Olá Dani
Sophia se deu bem a Camila aceitou e acho que logo a Camila deixa rolar algo a mais.
Toda atenciosa com a saúde da Sophia olha que a Sop adorou o ataque de Murphy.
Bjus e até o próximo
E continue a escrever assim, amamos a história e personagens.
Resposta do autor:
Olá Mille! Sempre bom te ver por aqui. Camila surpreendentemente aceitou, quase não acreditei e mais uma vez a mãe Diná em você está forte viu.rs. Muito bom seus palpites. Esse ataque murphético até que foi mais prazeroso, teve cuidados especiais, valeu a pena os micos todos né?! Que legal saber disso, fico contente com sua manifestação. Obrigada pela presença constante e comentários fofos. beijoos. Até o próximo :)
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