Dezembro 2011

Nos meses seguintes Alex cumpriu a sua promessa.

Não foi fácil manter um namoro escondido quando a cada dia se tornava mais dependente daquele amor. Júlia sentia a mesma coisa, sua vida não tinha mais graça sem Alex nela. Os meses ao lado da canadense a fortalecera e agora ela sentia que estava pronta para assumir o relacionamento com a garota. O anúncio do seu contrato havia saído, ela iria jogar as próximas temporadas em Belo Horizonte e Alex iria com ela para cursar Medicina Veterinária em uma faculdade da cidade. As duas garotas deixavam o passado para trás e agora só pensavam no futuro que teriam uma ao lado da outra. Longe de tudo e todos que poderiam lhes fazer mal.

Aquela tarde no parque seria a última em que se beijariam escondidas.

Júlia deixou o parque após alguns últimos carinhos apressados, a menina fez questão de garantir que o cheiro de Alex ficasse em suas roupas. Ela precisava se preparar para o jogo de Gustavo e para a conversa que dessa vez não deixaria que nada nem ninguém a impedisse.

Após se despedir da menina, Alex ainda ficou algum tempo deitada apreciando o céu que estava absurdamente lindo aquele dia. Sorriu ao lembrar-se de Júlia questionando suas divagações.

– Não tem como nada dar errado quando esse céu é o que me guia – Alex disse baixinho para si mesma. Assobiou chamando Shoyu que corria ali perto e após juntar suas coisas foi para casa.

– Pode me dar uma carona? – Alex pediu quando encontrou Natasha na cozinha preparando uma espécie de sopa que estava com uma cara horrível.

As gêmeas finalmente completaram dezoito anos.  No dia seguinte a festa Natasha estava parada em frente a auto escola para dar início ao processo de tirar a CNH brasileira. Seu pai concordara em lhe dar um carro desde que a menina estagiasse em seu escritório. Ele fez a mesma proposta para Alex, mas a garota decidiu que era melhor guardar o dinheiro para quando se mudasse com Júlia.

– Posso, little sis. Mas primeiro me ajuda com essa sopa, não sei mais o que fazer para esse caldo engrossar – Natasha mexia o líquido na panela que tinha uma aparência de xixi.

– Ahn, eu te pago um lanche no caminho – Alex disse fazendo uma careta de nojo para a panela.

– Tá legal – Natasha não pensou duas vezes e desligou o fogo com animação. – Onde vamos?

– Preciso que me leve ao ginásio. Júlia vai terminar com o Gustavo hoje e eu quero estar lá para apoiá-la.

A expressão animada de Natasha imediatamente se fechou. Ela não entendia qual era a dificuldade de Júlia em terminar com o garoto, sabia que as duas se amavam e pensava que se ela própria tivesse um amor assim faria de tudo para vivê-lo da forma mais intensa possível.

– Alex, outra vez essa história? Essa deve ser a décima vez só esse mês que ela disse que terminaria.

– Agora é diferente.

– O que tem de diferente dessa vez?

– Não sei, mas eu sinto. O céu está mais azul do que nunca, igual aos olhos dela – Alex disse cheia de paixão.

 – Inacreditável – Natasha olhou a irmã e revirou os olhos. – Você mede a fé em Júlia com base na cor do céu? Você tem passado tempo demais com o Shoyu, o cheiro de cachorro está afetando o seu cérebro. Só pode ser isso.

– Engraçadinha – Alex a acertou com um soco fraco. – Nat, eu preciso acreditar que ela vai conseguir. Se eu não fizer isso quem vai acreditar?

– Não sei, talvez ela mesma? – Natasha perguntou com ironia. – Isso é sério, sis. Já passou da hora desse namoro com Gustavo acabar. Do jeito que as coisas estão é possível que ela se case com ele e você seja a amante.

– Já chega, você está acabando com minha vibe. Vai me dar uma carona ou não?

– Eu tenho alternativas? – Natasha bufou olhando para a meleca que se tornara sua tentativa de cozinhar.

–Não. Vamos logo, quero chegar antes do jogo começar para sentar ao lado dela.

Natasha se rendeu e se arrastou para fora de casa acompanhando a irmã.

Alex não se deixou abalar pelo que Natasha dizia. Ela tinha o céu e os olhos de Júlia ao seu lado.

O que a garota não percebeu foi que ao entrar no carro o céu havia sido tomado por nuvens escuras e uma enorme tempestade se formava acima dela.

Fim do capítulo