Despedida por Lily Porto
Chopp, conversa, sentimentos...
Capítulo 14 - Clarice
Ficou tanta coisa subentendida naquela conversa que foi bem difícil pegar no sono. Acordei com o celular tocando, era Andressa pedindo pra passar o fim de semana com o Juninho. Parece que ela e a companheira iriam pra um sitio ou coisa do tipo.
Eu sei lá quem faz esse tipo de convite tão em cima da hora. Mas em todo caso deixei que ela perguntasse diretamente pra ele se o mesmo tinha interesse no passeio.
Confesso que eu torci pra que ele falasse não. Egoísmo meu, eu sei, mas não queria ter que remarcar o chopp.
O Ju não me decepcionou. Ele agradeceu, mas disse que já tinha um compromisso. Tentei disfarçar ao máximo meu sorriso de satisfação.
Ele foi até a cozinha e me abraçou de surpresa, hábito dele, enquanto eu fazia o café:
– Mãe, tudo bem se eu sair com a tia Andressa qualquer dia? É que... eu sinto falta dela, as vezes, sabe. E ela também parece sentir. – ele disse meio sem jeito.
– Claro, meu Amor. Ela sempre fará parte das nossas vidas e te ama muito do jeito meio torto dela. – eu disse com um sorriso amarelo.
– Eu acho que ela ainda ama você também. – ele disse roubando uma fatia de queijo da mesa.
– Tá achando demais para o seu tamanho. Senta e toma o seu café. Mais um pouco e perdemos o nosso horário de sair pra o cinema, ou será que você desistiu desse passeio também? – apelei pra mudarmos de assunto.
– De jeito nenhum, eu e a Anna estávamos loucos pelo final dessa trilogia. – ele respondeu feliz enquanto devorava o pão.
Ah... como eu amava esses nossos cafés da manhã. Sempre cheios de fantasias do meu filho, trocas de carinho e brincadeiras. Era o nosso momento no meio da correria do dia a dia.
Assim que terminamos de comer ele foi tomar banho e eu passar a minha roupa. Optei por um vestidinho de alcinha simples, florido, que ia até o meio das coxas e sandália baixa. Sei lá, era só um chopp no shopping, não tinha porque me enfeitar demais. Não queria passar a impressão errada.
Eu deixei os cabelos soltos e investi numa maquiagem leve, só pra não entregar que mal dormi a noite pensando nesse nosso encontro.
O Ju foi com a camisa da tal trilogia, e acreditem vocês ou não a Anna foi com uma igualzinha. Esses dois só podem ter sido irmãos em uma outra vida, rs...
A Bah estava linda, só pra variar. Ela fez uma trança no cabelo e estava com um vestido azul, perfeito para o tom da pele dela. Curto e decotado, perfeito para o meu gosto. Que vontade de beijá-la, nossa.
Lá no shopping nós duas fizemos nosso papel de mães. Esperamos dar a hora da sessão, compramos pipoca, refri, chocolate e deixamos os dois saírem correndo até a sala de cinema.
Finalmente éramos só eu e ela, eu e a minha Bah. E meu coração que a qualquer momento sairia pela boca.
– Almoço? – ela perguntou tímida e sem me olhar.
– Duas canecas de 500 ml de chopp e não se fala mais nisso! – dei-lhe um beijo estalado na bochecha com toda a empolgação que o momento pedia.
Eu vi a minha Bah ficar vermelha de vergonha, eu sentia o quanto mexia com ela e essa era a minha chance, eu não podia errar.
– Tudo bem. Mais onde? Faz muito tempo que não venho aqui, mudou muita coisa. – ela disse olhando tudo ao redor.
– Vem comigo, por aqui. Eles montaram um quiosque no outro andar. Uma graça o lugar. Fora que tem umas iscas de peixe deliciosas. E eu sei que você adora peixe. Vem? – eu disse segurando a mão dela.
Eu sai arrastando a Bah pelo shopping, enquanto falava sem parar. Apesar de falar e pensar no caminho até o quiosque, meu foco mesmo estava no contato de nossas mãos unidas. A minha quente, a dela fria e suando. Ela fez menção de soltar minha mão, ou a mão dela escorregou, não sei, mas eu não deixei. Fomos de mãos dadas até o quiosque e eu já estava adorando aquilo.
Sentamos numa mesa mais afastada e eu fiz os pedidos enquanto ela mexia no celular.
– Ei, tudo bem de ser as iscas de peixe mesmo? Você disse que não queria fritura. – perguntei tentando chamar sua atenção pra mim.
– Tudo, sim. Desculpa, iscas tá perfeito pra mim. É o meu filho Lourenço. Ele está dizendo que quer muito vir passar um tempo aqui conosco. Está ansioso, acredita? Parece que a Anna fez uma boa propaganda aqui do Brasil pra ele. Apesar de que, segundo ele, a irmã só fala da nova amiga da mamãe. – ela sorriu pra mim.
– Nossa Bah, você tem uma amiga nova e nem me apresentou, que absurdo. – me fiz de desentendida e retribui o sorriso.
Ela me mostrou a língua e me deu um tapinha no braço. Rapidamente terminou a conversa com o filho e guardou o celular na bolsa.
Logo os nossos chopps chegaram, bem gelados e com pouco colarinho. Perfeitos!
– Brindamos? – ela perguntou.
– A nós! – respondi sem vacilar e toquei nossas canecas.
Ela deu um belo gole e eu fiquei olhando pra ela e pensando o quão surreal era tudo aquilo. Lembrei também que não tínhamos muito tempo e que eu precisava logo encarar nossos assuntos delicados.
– Bárbara, eu... desde que você apareceu... não... péra... na verdade, desde quando você foi embora eu...
Merda eu não conseguia formar as frases direito e olha que eu treinei muito. A Bárbara sorriu de um jeito tão doce, colocou a mão dela sobre a minha e foi como se tocasse meu coração. Nossos olhares se cruzaram.
– E se eu começasse falando, antes do chopp subir pra cabeça? – ela disse.
Apenas acenei em sinal de positivo enquanto ela fazia carinho na minha mão e continuava:
– Queria me desculpar pela maneira como fui embora. A perda da minha mãe foi um golpe muito duro pra mim. Eu não estava associando as coisas direito e você até então era a pessoa mais próxima a mim. E ao mesmo tempo em que você estava ali pra mim, volta e meia eu precisava mais de você, do seu abraço, do seu colo, do seu carinho, da sua atenção e você nem sempre estava lá. E isso é óbvio, né? Não tinha como você estar, afinal você tinha a Andressa e o Juninho e você sempre deixou isso muito claro pra mim. Aliás está ai duas das coisas que eu mais admiro em você, a sua sinceridade e a dedicação pelos seus. – ela disse tudo aquilo de uma vez, quase que sem respirar.
Eu sabia de tudo aquilo, dava pra ler nas entrelinhas do e-mail que ela me mandou. Mas ouvir ela dizer, sentir a angustia e a tensão em cada palavra não foi fácil não.
– Calma, respira... – pedi a ela.
– Não. – ela tomou mais um gole e prosseguiu. – Agora eu vou até o final. Então eu tinha duas opções, sabe? Ou eu rompia com toda a vida que eu levava aqui, trabalho, família, a nossa "amizade", as baladas e buscava algo totalmente novo, ou ficava aqui sofrendo a perda da minha mãe e na paranoia de ter você só pra mim. E quando digo pra mim, é como minha mulher Cleo, e não como somente minha amiga.
Aquele "minha mulher" arrepiou minha espinha. Eu queria responder, mas ela não deixava. As sensações pelo meu corpo eram as mais variadas. E ela continuou:
– Por isso eu fui embora. Por medo de destruir o que você tinha conquistado e que eu nunca tinha tido. Você formou a sua família e estava na hora de eu tentar formar a minha longe de você.
– Mas Bah, a gente poderia ter conversado, você estava confusa, eu frágil, as coisas poderiam ter sido diferentes – tentei argumentar.
– Não era o nosso momento Clarice. E por isso não respondi o seu e-mail. Pra não nos machucarmos ainda mais. Não queria ter influência no fim do seu casamento, seria egoísmo meu. Pelo contrário, apesar de pensar em você todos os dias desde que parti, eu torcia muito para que você e Andressa fossem muito felizes, que redescobrissem o amor verdadeiro e que durou por tanto tempo.
Metade da caneca já tinha ido e eu estava brigando com uma lágrima teimosa que insistia em querer molhar a minha face.
Nossa, que lindo tudo isso que ela disse. O lance de pensar em mim todo dia, mas desejar a minha felicidade. Tem forma mais pura de amor? Desejar que o outro seja feliz mesmo que não seja do nosso lado. Eu estava diante de uma mulher incrível.
– Bem, tudo o que veio depois não tem lá muita importância agora. – pela primeira vez ela desviou o olhar dela do meu. – Eu encontrei o amor, ou uma versão dele. Achei alguém que cuidasse de mim e quisesse formar uma família.
Ela ficou meio inquieta na cadeira, o tom de voz também era outro. Deu pra ver uma ponta de tristeza em seu olhar. Mas ela respirou fundo e continuou:
– Fui sim feliz por algum tempo e creio que ela, a Carla, também tenha sido. Deus nos abençoou com nossos filhos, nosso maior legado dessa relação. Todavia, com o tempo eu mudei muito e ela também. As exigências dela eram muito grandes e a minha paciência curta. Não tinha mais energia pra recomeçar do zero como fizemos tantas e tantas vezes. Eu quis o fim, ela não, a gente brigou, aliás, a gente ainda briga. Mas torço pra que ela supere logo e quem sabe voltarmos a sermos ao menos amigas um dia. Afinal temos dois filhos em comum e eles são quem mais sofrem com a nossa separação. Ufa, acabei. – ela sorriu tímida e aliviada.
Eu pedi mais dois chopps e comemos um pouco, sem falar uma palavra sequer, acho que precisávamos desse momento. Não passava nada na minha mente, como eu disse, pouca coisa que ela havia dito era novidade pra mim, parte estava no e-mail e a outra a Anna tagarela me contou logo no nosso primeiro encontro.
A novidade era ela ali, se abrindo inteira pra mim, cara a cara, mão na mão depois de tanto tempo.
Tomara mesmo que tenha sido uma boa ideia esse chopp. Esse não, esses, afinal já estávamos partindo para o terceiro quando a desastrada da Bárbara foi pingar limão no peixe e conseguiu fazer pingar no meu olho também.
Automaticamente levei a mão ao olho pra coçar, ela se aproximou e pegou firme a minha mão para que eu parasse.
Ela chamou o garçom e pediu água para que ela pudesse limpar meu olho.
– Mania feia de coçar o olho! – me disse, brava.
– Claro que eu desculpo você, viu!? – respondi mostrando a língua.
Ela molhou o guardanapo de pano na água e passou a delicadamente limpar meu olho irritado.
– Tá melhor? – ela perguntou preocupada.
– Se eu falar que sim você vai parar de me fazer esse carinho gostoso? – sorri maliciosa.
– Você não tem jeito né, Cléo? – ela me deu um beijo na testa e voltou para o lugar dela envergonhada.
A história do limão deixou o clima mais descontraído e eu então tomei coragem pra contar sobre o meu termino com a Andressa.
Ela não pareceu surpresa e não fez menção nenhuma de me interromper. Em alguns momentos minha voz embargava, afinal era a primeira vez que eu verbalizava com detalhes sobre o meu termino.
Falei também da minha nova vida, da minha ascensão na empresa e de como eu e o Juninho estávamos nos virando bem.
– E como você se sente agora? – ela perguntou.
– Feliz por ter reencontrado você! – disse sem pensar.
– Mesmo? – ela insistiu.
– Claro. Desde o seu e-mail que eu fico imaginando como teria sido se a gente tivesse... você sabe... ao menos tentado uma vez – senti a pele do meu rosto queimar.
– Nem digo nada a você sobre as coisas que imaginei e imagino com você senhora Clarice. – ela respondeu escondendo parte do rosto com a mão.
– Opa, isso ai é novo pra mim! Me conta, Bah? O que você tanto imagina comigo? – deixei a voz o mais sedutora possível.
– Nem sob tortura! E pode parar com essa voz ai. Já falei demais. – ela respondeu tentando parecer brava, mas o sorriso teimava em aparecer.
– Bah, falando muito sério agora... – respirei fundo e perguntei. – E se a gente tentasse? Tipo, sem compromisso, sabe? É que, desde que eu te vi na minha sala aquele dia na reunião, que eu não penso em outra coisa que não seja beijar você.
– Cleo, eu só acho que nós... – ela tentou me interromper.
– Espera, deixa eu terminar. – disse segurando sua mão firmemente – Mas eu só quero tentar se a nossa amizade não for correr riscos, se for correr, eu prefiro ficar na curiosidade do "como seria". Eu quero muito você na minha vida, mas vai ser como você quer que seja.
Eu me sentia uma adolescente, borboletas no estômago, suando, ansiosa pela resposta que talvez mudasse toda a minha vida.
Fim do capítulo
Olá meninas, mais um capítulo do nosso querido casal...
Bom final de semana.
Bjs
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patty-321
Em: 11/03/2017
Tô suspirando aqui. Tão lindo elas conversando assim.maduras. diz sim bah. Essa conversa veio na hora certa. Sem máscaras e com muito sentimento mútuo. Lindo. Bjs
Resposta do autor:
Realmente Patty essa conversa veio na hora certa. Depois de um tempo fortalecendo o que elas já sentiam uma pela outra ficou bem mais fácil tratar desses assuntos "delicados" por ambas as partes.
Bjs e um otimo final de semana.
Bia Ramos
Em: 11/03/2017
Lily, boa tarde!
Como sempre arrasando em cada CPT querida... Como posso dizer... Um romance a moda antiga... Mão na mão... O carinho no contato... O cuidado nas palavras... As duas envolvidas!!
Nossa... Acho que vai rolar muita coisinha ai antes desse romance sair de dentro de ambas.. Existe o medo e a expectativa...
Estou torcendo para as duas.. Mas creio que ainda tenha muita turbulência antes desse voou parar e fixar!!
Bjs querida!!
Bom final de semana...
E pronta para os próximos CPT!!
Bia!!
Resposta do autor:
Oi Bia!
Menina esse lance de romance a moda antiga é bem a minha praia, sabe. É tão maravilhoso esse conhecimento por inteiro, essa doação... nossa. Ao meu ver esse "um passo" de cada vez ajuda muito a solidificar as raizes da relação futuramente.
Temos uma coisinhas para ajustar no meio do caminho ai ainda, mas quem sabe o pedido de casamento não apareça logo né? rs'
Achei uma graça "E pronta para os próximos CPT!!"... Terça tem postagem viu.
Bjs linda, um ótimo final de semana.
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Rita
Em: 11/03/2017
Lindo, ainda foi mais lindo do que eu imaginei *-*
É desta que elas vão se resolver :) adorei muito.
Bjs ^^
Resposta do autor:
Ebaaaa, que bom que corespondeu as suas expectativas Rita. Pouco a pouco as nossas meninas estão conseguindo deixar o passado de lado, e estão dando espaço a esse sentimento lindo que ambas tem tanta vontade de compartilhar juntas.
Um ótimo final de semana, bjs querida.
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Mille
Em: 11/03/2017
Olá Lily
Acho que agora as meninas vão seguir o coração e juntas viver a Barbara deixou e como diz se for para acontecer acontece.
Bjus e até o próximo
Resposta do autor:
Pois é Mille, agora parece que as coisas avançarão entre elas, tem tudo pra isso acontecer viu. E viva ao amor, na minha opinião o sentimento mais lindo do mundo.
Um ótimo final de semana.
Bjs linda, se cuida.
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