Capítulo 23
O Jardim dos Anjos -- Capítulo 23
Como haveria de se esperar, a notícia da morte de Silvana provocou um verdadeiro tumulto entre os funcionários. Havia dor e confusão.
Patrícia começou a levantar-se, com a ajuda de Lorraine. Ela olhou ao redor, chorando. Sua face estava pálida. Lorraine a segurou.
-- Acho melhor você sentar -- Patrícia assentiu e sentou-se -- Respire fundo -- pediu Lorraine.
-- Preciso vê-la -- disse Patrícia, com os olhos cheios de lágrimas -- Nunca deveria ter concordado em sair para buscar as roupas. Fora muito displicente, deixando-a sozinha. Deveria ter cuidado melhor do meu amor. Foi por culpa minha que isso aconteceu.
-- Não foi culpa sua -- falou com delicadeza -- Daqui a pouco você poderá vê-la.
Abrindo caminho entre os funcionários que se aglomeravam em torno de Patrícia, Felipe aproximou-se de Lorraine. Levando a irmã até um canto, falou num tom baixo de voz.
-- Estão dizendo que ela foi assassinada. Se isso for confirmado, estamos ferrados.
-- Como podem dizer isso? Ela pode ter sofrido uma parada, ou sei lá...
-- Ela estava bem, inclusive o doutor Éder já havia assinado a alta.
-- Meu Deus! Quem poderia ser tão cruel a ponto de tirar a vida de um inocente?
-- Não sei, mas estou pensando que o assassino pode ter usado algum tipo de medicação injetável. Pelo menos essa é a maneira mais utilizada pelos...
-- A seringa!!! -- Lorraine lembrou-se e ficou apavorada.
-- O que falou? -- Felipe olhou para ela sem entender.
Lorraine pensou, e, aos poucos, foi caindo em si. A realidade era dura. Havia uma seringa e pior... Ela havia deixado suas digitais nela.
-- Lembrei que preciso resolver algo urgente -- falou enquanto andava com pressa na direção do elevador.
-- Mas...
-- Nos falamos depois, Felipe -- disse entrando no elevador.
Alisson ouviu alguém abrir a porta do escritório e entrar com uma montanha de caixas na mão, ficou paralisada olhando para a freirinha que aproximava-se fazendo um toc-toc irritante, com seus sapatos de encontro ao piso de madeira.
Apesar da visão encoberta pelas caixas, a baixinha parecia saber exatamente para onde se dirigia.
Parou ao lado da mesa onde Alisson estava e pousou suavemente as caixas no chão.
Olhou para a pediatra e perguntou em voz alta:
-- É você quem quer pesquisar sobre a menina Priscila?
-- Eu mesma, mas... tudo isso? -- Alisson apontou para as caixas empilhadas no chão.
-- Aí dentro tem documentos, fotos e alguns pertences de outras crianças, também -- falou meio que cantado -- Você vai ter que olhar uma por uma. Eu não sei o que pertence a ela.
Alisson podia jurar que os lábios da freirinha esboçaram um leve sorriso debochado.
-- Ah, tá! E eu vou adivinhar quem é a Priscila no meio de tantas crianças? Nem o meu mentor espiritual vai conseguir fazer isso -- olhou para a cadeira vazia ao seu lado e sorriu -- Não é mesmo, Daniel Dunglas?
A irmã arregalou os olhos.
-- Quem é Daniel Dunglas?
-- Meu mentor espiritual -- disse olhando calmamente para as feições suaves da jovem freira -- Sabe o que ele disse? -- perguntou em um sussurro.
A irmã colocou a mão na testa e balançou a cabeça negativamente.
-- Deus tá vendo você dizer que não sabe quais são os pertences dela, só pra me ver remexendo nessas tralhas o dia inteiro -- apontou para cima com o dedo indicador e fechou os olhos.
A freira olhou para a cadeira vazia, a expressão nos olhos dela era de medo. Deu a volta e sentou-se do outro lado da mesa.
-- Tem uma etiqueta com o nome da criança fixado em cada objeto. Vou te ajudar a separar os da Priscila.
Alisson sorriu, mas de forma dissimulada.
-- Daniel Dunglas disse que você é uma irmãzinha muito fofa... Tem um cafezinho com bolachinhas?
Assim que as portas do elevador se abriram, Lorraine saiu correndo pelo corredor em direção ao quarto de Silvana.
Quando chegou próximo, percebeu que o lugar estava cheio de curiosos. A polícia fora chamada, mas ainda não haviam chegado.
Lorraine estava assustada. Não tinha nada a ver com o crime, mas como provaria a sua inocência caso analisassem as digitais na seringa?
Abriu caminho por entre as pessoas com uma expressão de desespero. Parou na porta entreaberta e olhou para dentro. Seus olhos procuraram ansiosos pela seringa, mas piscaram diversas vezes, para ter certeza de que não estava vendo coisas. Era verdade: A bandeja de alumínio estava no mesmo lugar, porém a seringa não.
-- Doutora Lorraine, o que faremos? -- perguntou um técnico de enfermagem.
-- Ninguém entra no quarto até que a polícia libere o local. Vamos fornecer todas as informações...
A conversa foi interrompida pela chegada de um homem alto, calvo e bem vestido.
-- Doutora Lorraine? -- perguntou com olhos frios e inexpressivos.
-- Sim, sou eu -- Lorraine logo imaginou, tratar-se de um policial.
-- Sou o investigador Pinto.
O policial cumprimentou Lorraine com um aperto de mão firme e formal.
Lorraine recebeu o cumprimento, lutando contra seu estado emocional completamente abalado.
-- Precisamos isolar o local e aguardar a chegada de peritos do Instituto de Criminalística -- o investigador fitou-a com atenção.
-- Oh, claro, fique à vontade. Façam tudo o que for preciso -- Lorraine virou-se para os funcionários -- Pessoal, vamos voltar ao trabalho -- pediu.
-- Mais uma coisa, doutora. Vou precisar ouvir os seu funcionários. Tudo bem?
-- Sem problemas, investigador. Eles estão a sua disposição -- Se me der licença, tenho muito trabalho a fazer.
Lorraine já estava diante do elevador quando ouviu o policial falar:
-- Bocão, quero que recolham todas as câmeras desse andar.
-- Meu Deus! -- sussurrou com os lábios trêmulos, enquanto uma expressão de terror se apoderava do seu rosto pálido.
-- Essa aqui vai ser muito útil -- Alisson disse, tocando a fotografia de Priscila sorrindo sem dentes.
-- Você não vai poder levar nada daqui. São documentos que pertencem ao orfanato.
-- Como que não? Vou precisar mandar para análise -- ela falou contrariada.
-- E qual é o seu interesse nessa criança?
-- Creio que não é da sua conta -- respondeu ainda mais contrariada e desviou os olhos para o lado -- Olha só o que ele está fazendo.
-- Quem? -- a freira procurava curiosa, enquanto Alisson enfiav* a foto na mochila -- Não tem ninguém lá -- disse a freira, irritada.
-- Você não viu? Mulher de pouca fé! -- balançou lentamente a cabeça de um lado para o outro e voltou a olhar as fotos -- Essa foto, provavelmente foi tirada no dia em que ela chegou ao orfanato... Daniel Dunglas! Não faça isso!
-- Onde ele está? -- perguntou a freira olhando para todos os lados.
Uma hora depois, Alisson despedia-se da freirinha com a mochila cheia de fotos e documentos.
-- Me perdoa Daniel Dunglas, mas foi por uma justa causa.
Alisson pegou o celular, que tinha deixado no silencioso e assustou-se com a quantidade de chamadas perdidas que haviam de Lorraine, Fael, Beca e até de Nádia.
-- Meu pai! O que aconteceu? -- seu semblante tornou-se sombrio, presumindo que algo de muito ruim havia acontecido.
Lorraine trancou-se em sua sala. Precisava ficar sozinha durante algum tempo para pensar em tudo que estava acontecendo.
Serviu-se de uma bebida e sentou-se na poltrona. Não sabia o que fazer. Pensou em chamar o investigador e contar toda a verdade, mas logo em seguida achou que seria melhor esperar um pouco mais. Assim, teriam outros depoimentos, quem sabe até do assassino.
-- Ninguém duvidará de minha versão dos fatos -- estreitou os olhos -- Meu passado recente com Silvana me condena. Droga! -- ela exclamou, exaltada, caindo na real -- Parece que não nasci para ser feliz.
Sua ideia de ficar sozinha caiu por terra quando ouviu batidas na porta e Nádia entrou esbaforida.
-- Já liberaram o local do crime.
-- Está confirmado que foi assassinato? -- perguntou com voz trêmula.
-- Não né, mas tudo leva a crer -- Nádia olhou para o copo na mão de Lorraine -- Bebendo a essa hora? Está nervosa? -- atenta percebeu o descontrole da irmã.
-- E quem não está? -- berrou para a irmã.
-- O que há com você, afinal? -- ela perguntou, preocupada. Fitando-a com atenção.
-- Estou preocupada com o hospital. O que acontecerá de agora em diante? A mídia vai cair em cima de nós como urubus.
-- Você tem razão. É que não consigo deixar de pensar em Silvana -- lágrimas rolaram pelas faces de Nádia -- Justo agora que ela havia encontrado o seu grande amor.
Ao invés de falar, Lorraine caiu em um choro compulsivo. Nádia, então caminhou até ela e a abraçou.
-- Você precisa se acalmar e eu também. O corpo só será liberado para o funeral, após a autópsia -- Nádia afagou os cabelos da irmã, com ternura --Essa espera será terrível. O resultado sairá dentro de quinze dias.
Patrícia entrou no banheiro e com um soco, quebrou o espelho em vários pedaços. Estilhaços pontudos se espalharam pelo chão, ela pegou o maior pedaço de vidro que encontrou, sentou-se em um banco e ficou olhando fixamente para ele.
Seu desespero beirava o insuportável. Viver se tornaria um fardo pesado e angustiante. A vida perdeu o sentido. A morte parecia a única saída.
Aproximou o pedaço de vidro do pulso e fechou os olhos. Lágrimas de dor caíram abundante pelo rosto de Patrícia, enquanto o vidro deslizava sobre a carne e o sangue escorria para o chão.
-- "Se alguém me dá um tiro e venho a desencarnar, retornarei ao mundo espiritual traumatizado, mas, tão logo supere o trauma, seguirei meu caminho, sem maiores problemas -- Alisson sentou-se ao lado de Patrícia sem tocar nela -- Mas se eu tomo de um revólver e atiro em mim, o perispírito será atingido, porquanto ele só pode ser afetado por nossas próprias ações. Retornarei ao mundo espiritual em estado de lastimável destrambelho, habilitando-me a longos sofrimentos em regiões purgatórias". Chico Xavier dizia que o suicida levará pelo menos 200 anos para se recompor.
-- Estou frustrada sem esperanças -- falou olhando para o pulso sangrando.
-- Não há mal que o tempo não cure. Reflita sobre a dor que seu gesto causará naqueles que a amam.
-- Silvana era a única pessoa que realmente me amava.
-- "Deus é um apaixonado por você! Ele te manda flores todos os anos na primavera, faz nascer o sol todas as manhãs, e em qualquer momento que você quiser conversar com Ele. Ele te escuta e escolheu morar em teu coração. Lembre-se de que Deus não prometeu dias sem dor, risos sem sofrimentos, nem sol sem chuvas. Mas Ele te dá força para suportar os dias mais difíceis, conforto para as lágrimas e luz para o teu caminho.
Hoje o sol nasceu mais uma vez. Ele não se importa se no fim do dia o seu brilho sumirá, e se a escuridão tomará conta de tudo, porque tem a certeza que outro dia chegará e ele voltará a brilhar iluminando o dia inteiro. Então, nunca deixe a escuridão tomar conta de você; deixe o sol que existe em você brilhar nos seus olhos e na sua vida e irradiar sua energia para todos aqueles que te cercam e a quem você ama".
-- Como vou viver sem ela Alisson?
-- Ela só foi na sua frente, daqui a pouco vocês se encontram. Não estraga tudo. Não impeça esse encontro.
-- O que vou fazer agora? Estou sem rumo. E tem a Andras, ela vai me perseguir até acabar comigo.
-- Você tem uma missão muito importante, Pati. E é em um lugar em que a Andras não pode nem pensar em se aproximar.
Alisson abraçou Patrícia com muito carinho e conforto.
-- Agora vamos cuidar desse seu corte.
Sem fazer um ruído, Alisson foi por trás de Lorraine e cobriu seus olhos com as mãos.
-- Adivinhe quem é -- sussurrou no ouvido dela. Lorraine virou-se e um sorriso enorme surgiu em seu rosto.
Jogou-se em seus braços como se aquele lugar fosse o mais seguro do mundo.
-- Desculpe não ter vindo antes -- afagou os cabelos da morena e depois beijou-a com doçura -- Tem dia que parece noite, né?
-- Apesar de tudo, gostava de Silvana. Ela merecia uma nova oportunidade para ser feliz.
-- Deus sabe o que faz -- Alisson beijou a testa de Lorraine e pegou em sua mão -- Agora vem. Vou te levar para casa e cuidar de você. Não estamos em condições de fazermos mais nada por aqui hoje.
Em um momento como este, não há muitas palavras para serem ditas, talvez um abraço e a presença sejam o melhor que alguém possa oferecer.
Em: https://www.facebook.com/ojardim.dosanjos.5
tudo sobre Daniel Dunglas.
http://www.folhaespirita.com.br/v2/?q=node/463
http://blog-do-espirita.blogspot.com.br/p/frases-de-otimismo-escolha-sua.html
Fim do capítulo
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Mille
Em: 11/03/2017
Bom dia Vandinha
Capítulo triste e infelizmente a Ló estara na lista de principal suspeita, mais tenho certeza que ela vai provar que é inocente e espero que ela não apague a mensagem pode ajudar muito.
Aly tu és uma figura ela que tirou o momento triste e tenso do capítulo, enganou a freirinha medrosa kkkk ri muito dela fazendo a irmã ajuda-la.
Gostei da informação sobre o suicídio, meu pai estava de depressão e infelizmente tirou a própria vida, eu estava em casa com ele quando disse que ia ali e voltava já, até hoje mim sinto culpada poderia evitar ele sair de casa. Mais o que uma criança poderia fazer né, ele ficou alguns dias sumido e encontram já morto.
Bjus e até o próximo
Resposta do autor:
Sinto muito, minha querida.
Mas não pense Mille, que por seu pai ter tomado essa atitude tão desesperadora, ele está no inferno. Esse tipo de coisa fala quem não acredita em um Deus misericordioso. Ele não escapará das consequências e do sofrimento, mas será submetido voluntariamente a novas provas, até aprender a suportar as dores com mais resignação. Entenda porque tantos nascem cegos, mudos, com deficiências tão terríveis e procuram viver uma vida próxima da normalidade?
Saiba que é possível ajudar. A ajuda pode ser feita através de orações. Orando para que o suicida se perdoe. Normalmente o suicida se arrepende muito e fica se culpando pelo ocorrido. Então ele precisa primeiro se perdoar pelo erro cometido. Precisa perdoar as pessoas envolvidas. Precisa retirar do coração da raiva que possa ter de alguém, ou qualquer sentimento de vingança. O Suicida precisa ter a humildade para pedir ajuda. Você também pode orar para que espíritos amigos possam ajudar neste resgate. A oração e o pensamento positivo podem ajudar muito.
http://www.somostodosum.com.br/artigos/espiritualidade/suicidio-visto-pelo-espiritismo-3374.html
Fica com Deus.
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NovaAqui
Em: 11/03/2017
Vandinha!
Bom dia!
Tadinha dá freirinha kkkk Ali é danada. Kkkk gosto desse jeito moleca dela
O pior vai ser Lorraine ser acusada.
Começo a achar que Andras está se vingando de Sara.
Acho que Patrícia vai virar uma amiga e ajudar Ali contra as trevas
Você toca nossa alma sempre com muito carinho.
Obrigada por estar aqui e nos acarinhar. Sempre nos dando oportunidade de aprender e melhorar.
Amo você!
Abraços fraternos!
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