Laís decidiu dar algum espaço para Isabella no quarto e aproveitar para conversar com a mãe na cozinha:

_Mãe?_ Chamou meiga para não assustar.

_Eu não vi você chegar Lalazinha. Achei que ia demorar mais no estábulo.

_A senhora sabia que eu estava no estábulo?_ Laís perguntou preocupada.

_Sim, vi quando você passou de mãos dadas com a menina Isabella.

_Mãe...

_Laís não tente enganar sua velha mãe, seu pai percebeu assim que colocou os olhos em vocês, eu ainda não acredito que você aceitou tão fácil essa história de reforma. Eu não vou dizer nada sobre isto e nem sobre aquele velho ter colocado a menina no seu quarto, mas por favor tente não criar uma briga nesta família. Laura tem as gem*as como filhas e eu não quero pensar no escandalo que ela vai fazer, mas só de ver esses seus lindos olhinhos brilhando novamente eu fico tão feliz, eu não te vejo assim desde que você caiu daquele maldito cavalo, nem mesmo quando você se casou com aquela mulher eu te vi assim tão leve, parece de novo com a minha menina inocente. Agora vá e chame as meninas para almoçar.

Laís beijou o rosto da mãe e subiu as escadas devagar, realmente sentia-se mais leve, bateu na porta do quarto e não teve resposta então abriu devagar, viu a menina distraida, sentanda na janela do quarto olhando ao longe, aproximou-se devagar para não assustar:

_Você gostou daqui?_ Perguntou bem próxima do ouvido de Isabella.

_Eu adorei, parece tão tranquilo aqui.

_Nós crescemos aqui, Laura saiu antes de mim. No ensino médio fui obrigada a ir morar mais longe, mas ainda passava todos os finas de semana aqui.

_Porque se afastou tanto?_ Isabella perguntou e olhou para a mulher que estava sentada a sua frente, parecia uma Laís diferente.

_O periodo que mais me afastei foi quando estive com Andreia, ela não gostava de vir para cá, achava tedioso.

_Porque nunca tirou a aliança? Uma vez você me disse que foi casada com ela, mas jamais disse mais do que isso._ As duas estavam sentadas frente a frente, mas os olhares estavam perdidos no horizonte.

_No início era porque eu ainda a amava e tinha a esperança de reatarmos, depois usei a desculpa de que era para me lembrar de um erro cometido e nunca repetir, mas na verdade acho que foi porque nunca segui em frente. Quando ela descidiu sair de casa, para mim foi o fim do mundo, eu tinha um amor cego por aquela mulher. Eu não queria vê-la, foi por isso que parei de dar plantões no hospital e fui dar aulas.

_Ela seguiu em frente?

_Sim e não, ela tinha certeza que não queria passar a vida ao meu lado, mas ela não casou de novo nem nada do tipo.

_Vocês já relembraram o casamento._ Laís percebeu que não havia sido uma pergunta e sim uma afirmação, mas ainda sim sentiu necessidade de explicar.

_Sim, muitas vezes. Ela foi o motivo do fim de vários dos meus relacionamentos. Quando eu achava que estava indo em frente ela voltava, eu não resistia, iamos para cama, as vezes passavamos finas de semanas maravilhosos, então eu percebia que só estava me enganando, terminava o relacionamento e ela ia embora, e de novo eu sofria por mais um relacionamento frustrado e por ela ir embora.

_Quer apostar?_ Isabella perguntou de repente olhando Laís, tinha um sorriso travesso.

_Apostar? O que você quer apostar?

_Se eu conseguir montar no Jonnhy até o final do feriado você tira a aliança definitivamente.

_E se você não conseguir? O que eu ganho?

_O que você quiser.

_Qualquer coisa?

_Aposta é aposta, eu sei o que eu quero de você. O que você quer de mim?

_Se você não montar aquele cavalo até quarta-feira, você vai me acompanhar num congresso no próximo mês.

Laís viu a cara de interrogação de Isabella, mas a mulher mais velha estava pensando no futuro, Isabella tinha um talento em potêncial, então ela estava assumindo o controle daquele talento, a garota precisava conhecer pessoas e ser influenciada por grandes médicos. Nada melhor que um lugar cheio de médicos para começar.

_Se é o que você quer, então se eu não conseguir eu vou com você sem reclamar.

_Descidido os termos, eu vou precisar de alguns documento para comprar sua passagem. Mas no momento vamos almoçar porque mamãe disse que deveriamos descer e eu já havia esquecido.

As duas iam saindo quando Laís puxou Isabella e a beijou com paixão. Sairam com um sorriso bobo, chamaram Carol e Ana que ainda estavam no quarto e desceram as escadas conversando, antes de entrar na cozinha Laís segurou Isabella:

_Meus pais sabem sobre nós._ Falou apenas para as três ouvirem. E entrou na cozinha.

_Até que enfirm Lalazinha, estavamos só esperando você._ Seu João falou bem humorado

Isabella ainda estava envergonhada com a revelação, sentou-se tímida. De inicio apenas Laís e os pais falavam, Ana, Carol e Isabella estavam visivelmente sem jeito:

_Seu João?_ Isabella falou baixo, totalmente envergonhada.

_Oi menina._ O homem falou achando engraçado o jeito da garota.

_Eu gostaria de saber se o senhor pode me ajudar a domar um cavalo bravo.

_Você quer aprender? É claro que eu posso ajuda-la, mas a Lalazinha faz isto melhor do que este velho homem.

_Ela não vai me ensinar.

_Então eu farei isto, depois do almoço descanse um pouco e desça, eu vou preparar tudo.

_Muito obrigado senhor._ Isabella deu um pequeno sorriso ao homem.

_Pai, a Isa quer montar o Jonnhy, você sabe que Laura e Júlia jamais vão concordar com esta loucura.

_Com a minha filha e a minha nora eu me entendo.

Isabella sentiu-se mais a vontade e passou a conversar um pouco. Quando terminou de almoçar logo se prontificou a retirar a mesa, mas dona Antônia negou dizendo que a menina deveria ir descansar.

Laís aproveitou a subida das meninas e foi até os estábulos, encontrou o pai cuidando do cavalo e logo esbravejou:

_Papai, o senhor sabe que a ideia de Isabella é um grande absurdo, eu espero sinceramente que o senhor não leve a sério ela querer montar este cavalo.

_Lalazinha meu amor, eu não sei porque a menina inventou isto, mas motivos ela tem e não serei eu a dizer não a uma de minhas netas ou minha nora?_ O homem sorriu e pareceu pensar._ Isto é um pouco complicado para a minha cabeça.

_Fizemos uma aposta boba sobre isto, mas eu não achei que ela levaria a sério. Eu não quero ela correndo risco e se vocês dois continuarem com isto eu levo esta maluca daqui amanhã bem cedo.

_Você não pode fazer isto Laís. São as minhas decisões._ Os dois se viraram imediatamente, Isabella estava próxima com um sorriso meigo._ Você precisa confiar em mim, por favor, deixe-me fazer isto._ A menina não se intimidou com a presença do senhor e aproximou-se de Laís devagar, abraçando a mulher._ Apenas confie.

_Não Isabella, quando eu apostei não imaginei que você era louca o suficiênte, mas se para você é tão importante..._ Laís tirou a aliança e teve uma sensação esquisita._ Aqui, ela é toda sua, mas você não vai fazer isto. Eu te proibo.
Laís saiu brava, era nítido a cara de enfazada da mulher, Isabella ficou sem reação, estava surpresa com a reação da outra.

_Menina vem aqui._ Seu João chamou.

Os dois caminharam um pouco, pararam perto de onde alguns animais pastavam. O homem subiu na cerca e sentou, foi acompanhada pela menina:

_Aquela mulher que a Laís chamou de esposa era uma vagabunda, mas soube manipula-la direitinho. Há fatos na separação das duas que a minha filha não pode nem sonhar, ela me odiaria para o resto da vida, mas eu vejo em você algo que ela é incapaz de enchergar. Você é forte, tem carater e realmente gosta daquela cabeça dura. Sei que tudo isto pode ser difícil para todos, mas você não vai desistir.

_Eu gostaria de montar o Jonnhy._ Isabella falou absorvendo as palavras.

_Eu imaginei isto.
Isabella olhou na mesma direção que o homem olhava e viu o cavalo sendo trazido.

_Eu dei a Laís alguns anos atrás, ele a derrubou e ela desistiu. Nenhum de meus homens tentou monta-lo novamente, eles confiavam que se ela não podia, ninguem poderia. Mas algo em você, mesmo você nunca tendo feito isso antes, algo me diz que você conseguirá. O primeiro passo é confiança, faça-o confiar em você.

Seu João estendeu algumas maças e deixou Isabella a vontade para ir até o cavalo.

A menina caminhou devagar, sorria por estar fazendo aquilo, Laís lhe mataria quando soubesse.

_Oi rapaz._ A menina fez um carinho que novamente foi bem aceito, deu uma maçã e falou baixinho._ Sua dona, ela precisa saber que ela não é a dona do mundo, eu quero muito cuidar dela, porque eu estou perdidamente apaixonada por ela._ Isabella sorriu ainda mais, era a primeira vez que admitia aquela verdade em voz alta, mas havia falado tão baixo, como se contasse um segredo ao cavalo._ E para cuidar dela você vai ter que me deixar montar você, não precisa necessariamente ser hoje, podemos conversar mais um pouco, mas por favor, me deixa cuidar dela.

O cavalo deu um relincho como se tivesse entendido tudo que lhe havia sido dito e Isabella lhe deu mais uma maçã.

Fim do capítulo