Capítulo 2
Eu voltava da vila com dois guardas, estávamos montados, eu preferia os cavalos. Era um meio mais lento, entretanto eu preferia não usar nossos veículos para coisas tão simples como uma visita de rotina. Estávamos para entrar na floresta quando os animais refugaram e quiseram recuar. Olhamos em volta, os guardas ergueram suas armas e procuraram sinais de inimigos, eu também coloquei a mão sobre o cabo da espada presa a minha cintura.
Eu deveria ter morrido imediatamente, mas ouvi algo, um estalar que me lembrou o som de um arco pronto para disparar. Foi uma questão de segundos, meu instinto fez com que eu me movesse para frente e tentasse forçar o cavalo a disparar. Quando a flecha me atingiu ela perfurou meu peito alguns centímetros acima do meu coração. Meus guardas atiraram na direção de onde havia vindo a flecha, eu agarrei as rédeas com força e soltei um gemido de dor enquanto me deitava para frente me impedindo de cair.
Então bati os calcanhares contra a barriga do cavalo fazendo-o disparar para frente, os guardas seguiram logo atrás de mim. Por minutos eu me mantive firme, mas a dor estava insuportável. Dei ordem para me levarem de volta a Arkadia, forçamos os animais até seus limites e chegamos antes de anoitecer. Minha mãe veio até mim desesperada, havíamos usado o rádio para avisar do ocorrido a ela, assim como também mandei convocarem Octavia para Arkadia imediatamente, mas sem lhe dizer os motivos. Fui levada diretamente à enfermaria, Dra. Abby não parava de dar ordens, mas eu sabia que era em vão.
Minha mãe não poderia retirar a flecha, ela não tinha certeza do que havia sido perfurado e tinha medo de que, se a retirasse, não fosse capaz de estancar o sangramento. A cada instante era mais difícil respirar, a dor no meu peito parecia ir e voltar com as batidas do meu coração que agora ficavam cada hora mais lentas. Minha mãe logo entendeu o que eu entendi no momento em que senti a flecha me acertar: não havia como eu resistir. Ela se sentou ao meu lado e ficou ali segurando minha mão enquanto eu esperava.
Pela primeira vez em mais de 10 anos eu me permiti relaxar, deixei de lado todas as minhas preocupações e medos, não havia mais sentido em nada disso. Eu estava em paz comigo mesma, mesmo com a dor, mesmo com o frio que começava a envolver meu corpo pelo sangue perdido. Fechei meus olhos sem notar e não tive forças para abri-los, minha respiração se tornou rítmica mesmo estando lenta e superficial, meu corpo relaxou e minha mente começou a vagar. Numa hora eu não via absolutamente nada, então, na seguinte, eu estava num espaço em branco.
- Você finalmente esta aqui – soou a voz atrás de mim e eu fiquei imóvel, lágrimas começaram a escorrer pelo meu rosto, eu me lembrava daquela voz tão claramente quanto da minha própria – Não é apenas sua imaginação Klark – a voz disse como se lesse meus pensamentos.
- A Cidade das Luzes se foi – eu respondi me virando lentamente até que pude ter a completa visão dela, vestida da mesma forma que da última vez que a vi, os olhos verdes destacados pela pintura de guerra, foi impossível me impedir de ofegar com a visão – Como é possível não ser apenas minha imaginação?
- Eu disse a você Klark – Lexa respondeu caminhando até mim – Disse que sempre estaria com você.
- Eu não tenho mais a chama, a I.A com a sua consciência não está mais comigo – argumentei quando ela parou a meio metro de distância de mim.
- Não a chama, realmente – ela falou com um meio sorriso – Mas meu espirito deixou a chama, ao menos parte dele.
- O que isso quer dizer? – perguntei ficando confusa e encarando aqueles olhos verdes com vontade de abraça-la e chorar, mas eu não sabia se era real, não podia ter certeza.
- Eu disse a você – ela continuou num tom brando, o mesmo tom que usou comigo logo antes de me beijar pela primeira vez – Parte de mim migrou da I.A para você. Eu não pude te deixar uma terceira vez – ela admitiu com um olhar triste ao relembrar Mount Weather e o dia da sua morte – Eu sempre estive com você, sempre presente mesmo que você não notasse. Você apenas nunca conseguiu acessar a parte do seu cérebro onde minha consciência se instalou, nunca esteve num estado de tranquilidade necessário para isso.
Ela acabou com o resto de distância que havia entre nós e parou tão perto de mim que, se eu me movesse apenas um pouco, poderia encostar meu corpo no dela. Eu pude encarar de perto aqueles olhos e era como se eu pudesse senti-la ali. Sua mão tocou meu rosto afastando meu cabelo e eu fechei meus olhos por sentir o contato; minha mente sabia que aquilo era algo que só estava acontecendo dentro da minha cabeça, como na Cidade das Luzes em que eu pude senti-la outra vez, mas mesmo assim não deixava de ser real.
Senti os dedos dela deslizarem pelo meu rosto até descerem pelo meu pescoço. Senti ela se aproximar mais e encostar nossos corpos, então senti ela se inclinar sobre mim e tocar seus lábios nos meus outra vez. Eu correspondi imediatamente, passei um braço em volta do seu pescoço e toquei sua cintura. Lexa rodeou meu corpo com um braço e me apertou forte. Pude sentir naquele beijo toda a saudade envolvida ali, de ambas as partes. Foi como voltar a anos atrás e sentir novamente como foi me entregar a ela e tê-la pra mim.
Quando separamos nossas bocas eu deixei que ela me abraçasse pela cintura e toquei seu rosto. Nos encaramos enquanto eu acariciava sua boca, queixo, maxilar e circundava com a ponta dos meus dedos os limites da pintura em seu rosto. Trocamos mais um beijo e pude ver outro sorriso naqueles lábios, outro dos sorrisos que só apareciam no rosto dela por minha causa.
- Eu senti tanto a sua falta – falei entre lágrimas que começavam a cair – Todos esses anos, tudo o que eu queria era ter você de volta. Eu queria tanto voltar no tempo e não ter decidido partir. Talvez se eu tivesse escolhido ficar com você eu nunca teria saído daquela cama, eu não teria voltado para o meu quarto e Titus nunca teria..
- Shh – ela me calou colocando dois dedos sobre os meus lábios para logo depois cobri-los com os seus num beijo rápido – O que está feito já está feito. Não podemos alterar o passado – fecho os olhos concordando e ela segura meu rosto me fazendo encará-la – Fizemos tudo aquilo que pensávamos ser o certo para nosso povo.
- Ao menos uma vez queria ter feito o que era certo para mim – falei deslizando minhas mãos para os ombros dela – O certo pra nós.
- Não poderíamos – ela respondeu com um sorriso triste – Nós somos o que somos, Klark. Nunca teríamos colocado a nós mesmas a frente do nosso povo – ela disse enquanto limpava meu rosto – Ainda há uma coisa que você precisa fazer. Quando terminar, estarei aqui te esperando – ela fala me dando mais um beijo antes de se afastar.
Eu pisco e quando abro meus olhos novamente estou com a dor no peito e o frio em meus braços e pernas outra vez. Minha mãe saiu do meu lado, posso ouvir a voz dela explicando o que aconteceu comigo e dizendo que eu não tinha muito mais tempo; ouço Octavia xingar e socar uma parede e então elas estão entrando no meu campo de visão.
- Clarke – diz minha amiga ao me ver deitada naquela cama – Isso não pode estar acontecendo – ela fala fechando os olhos com força e mordendo o lábio inferior como se tentasse não chorar.
- Ai lukot, ste yuj. Shil emo op – (My friend, stay Strong. Protect them/Minha amiga, seja forte. Proteja-os) eu disse a ela enquanto retirava o broche de Chancelar e prendia-o com minhas mãos trêmulas na jaqueta que ela usava, minha voz soando mais baixa do que eu esperava; eu só precisava dizer a ela mais uma única coisa – Okteivia, jus drein no jus daun.
- Não, Clarke, por favor – pediu ela agarrando minhas mãos, ela sabia ao que eu me referia; apenas lhe dei um sorriso e neguei com a cabeça vendo ela respirar fundo e abaixar a cabeça concordando - Yu gonplei ste odon, Klark kom skykru.
Vejo ela chorar, sinto minha mãe colocar as mãos nos meus cabelos e viro meu rosto para ela que também está chorando. Ouço ela dizer as palavras que dizemos ao nos despedirmos de alguém, as mesmas palavras que eu disse a Lexa antes dela morrer. Ao contrario do que eu mesma esperaria elas não me fazem chorar, eu apenas sorrio e fecho meus olhos porque sei que, ao menos antes do fim, terei ela comigo outra vez.
Quando abro meus olhos estou de volta ao espaço branco e tenho Lexa a minha frente. Nos beijamos antes de tudo; ela me segura pela cintura e me puxa para perto, eu envolvo o rosto dela com as mãos e deixo que nossos lábios digam tudo aquilo que queremos dizer. Depois do beijo permanecemos com nossas tesas coladas, sinto o nariz dela tocar o meu e abro os olhos encarando os olhos verdes da minha Heda.
- Ai hod yu in, Leksa – digo encarando os olhos dela.
- Ai hod yu in, klark – ela responde com um pequeno sorriso que eu retribuo antes de abraça-la e fechar meus olhos sabendo que dessa vez eles não voltariam a se abrir.
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- In peace may you leave the shore. In love may you find the next. Safe passage on your travels until our final journey on the ground – Abby recitou e viu Clarke fechar seus olhos logo após as primeiras palavras, suas lábrimas caíam livremente enquanto ela continuava a prece e via sua filha parar de respirar.
- May we meet again/Mebi oso na hit choda op nodotaim – disseram Abby e Octavia ao mesmo tempo.
Fim do capítulo
Oq acharam???
Espero q tenham gostado
;]
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