O convite.
Perspectiva - Bárbara.
Está comprovado! A Mariana é a pessoa mais inconstante que eu já conheci, eu já deveria imaginar que a qualquer momento ela voltaria a ter a postura arrogante de sempre, mas preciso confessar que por um instante pensei que ela pudesse ser uma pessoa boa de conviver, pelo menos foi o pouco de esperança que tinha depois daquele dia no bar e quando ela chegou à empresa.
— Eu não acredito que eu ainda estou soltando fogo pelo nariz! – pressionei os olhos e abri de novo. Eu estou em casa e tomando banho, depois que a Mariana foi embora o meu dia não poderia ficar mais estressante, Sandro e Tainá estavam extremamente ocupados e até estressados, o Marcelo tinha dado um prazo curtíssimo pra eles revisarem uma matéria e eu me senti uma intrusa, como se estivesse atrapalhando, tentei ao máximo ajuda-los, mas tem coisa que eu ainda não entendo ainda, coisas relacionadas à empresa, e por mais que eles tentem me ajudar, têm seus afazeres, a maluca que deveria me ajudar simplesmente foi embora, se eu pudesse dava um soco nela pra ver se acorda pra vida e ver que as coisas não giram entorno dela. Sou uma pessoa muito calma e pacífica, mas eu não suporto esse ar de superioridade que a Mariana exala, pra piorar parece que todos gostam dela, ninguém torce o nariz ou revira os olhos quando ela chega ou falam dela, ainda não entendi se o problema é comigo ou se as pessoas são falsas com ela por ela ser filha do chefe.
Terminei meu banho e vesti uma calcinha e uma blusa confortável, minha cabeça não estava conseguindo se desligar desse dia, e me incomoda o fato de não conseguir simplesmente deixar pra lá e ignorar o que aconteceu. Refiz todo o meu diálogo com ela e me perguntei se falei alguma besteira, mas a meu ver, não fiz nada. E óbvio que por ela não tenho como saber, a mulher é um livro fechado. Eu desci e fui pra sala, liguei a televisão em um canal de culinária qualquer e peguei meu celular, deitei no sofá, stava extremamente curiosa, precisava entender um pouco de as pessoas simpatizarem com Mariana e talvez na internet eu encontrasse algo.
Procurei pelo seu nome no Facebook e logo encontrei, a foto do perfil era ela de olhos escuros e sorrindo com os cabelos ao vento, ao fundo uma paisagem verde, não sei onde é o lugar, mas era lindo. O mar e as montanhas com árvores davam um ar calmo a paisagem, totalmente diferente do que a dona da foto era. Por um instante parei para observar Mariana, parecia feliz, o sorriso brilhando na foto, e quis que ela não estivesse de óculos pra poder ver o que os seus olhos transmitiam. Mais uma vez me vi incomodada com esse pensamento e abri os comentários da foto, Mariana com certeza é uma mulher popular, tinham várias curtidas e comentários, eu devia estar com falta do que fazer, pois parei para ler um por um, de imediato reconheci os dois homens que estavam com ela no bar, ambos comentaram na foto elogiando a beleza da paisagem e da Mariana, entre outros comentários, me prendi a um em específico. Aquela mulher que estava com ela no bar. “Natália”. Fiquei olhando o comentário por alguns segundos:
“Adoro o seu sorriso, você é linda! Estou com saudades, volta logo!”
Pra fechar a frase ela colocou um coração. Com certeza aquela foto não foi tirada no Rio, já que a mulher estava pedindo pra ela voltar. Achei o comentário diferente, amigas são carinhosas com as outras, mas não sei porque me despertou uma pulga atrás da orelha. Procurei por outras fotos e em todas elas a tal da Natália tinha feito um comentário carinhoso, dizendo que amava a Mariana, dizendo que ela era linda, e em nenhum deles a Mariana respondeu alguma coisa. Fiquei ainda mais curiosa sobre a pessoa da Mariana, o perfil não me disse muita coisa, pelo contrário, comecei a questionar ainda mais. Será que essa mulher tem uma relação com a Mariana? Não, ela não tem cara de lésbica e nem jeito. Eu não entendo muito do assunto, mas sempre tive um estereótipo dos homossexuais, talvez eu seja atrasada ou antiquada, mas é por realmente não entender muito desse universo. De todo jeito, a Mariana não se enquadra no que poderia classificar como lésbica, ela é tão feminina, os jeitos, a forma de falar, tão mulher. No mínimo elas são amigas de longa data, eu também sou carinhosa com as minhas amigas e isso não faz de mim lésbica.
A minha curiosidade chegou a tal ponto que eu estava pronta para clicar no nome da fulana quando chegou uma mensagem no meu Whatsapp da dona do perfil que eu estava revirando de ponta a ponta. Arregalei meus olhos e minhas mãos quase vacilaram e por pouco não deixei o celular cair na minha cara, eu sempre fui tão segura, tão certa das minhas atitudes e agora me via com uma necessidade de aprovação da Mariana, não sei explicar, mas parece que eu necessito passar uma boa imagem pra ela e eu me sinto muito infantil com isso, já sou uma adulta e nunca fui assim. Pensei em enrolar pra abrir a mensagem, mas estava curiosa.
“Oi, Bárbara, posso falar com você?”
Li e reli a mensagem como se fosse um texto enorme, fiquei indo e voltando, ela não estava mais online, e no meu está desativado a opção pra ver a última hora que ela estava online, pensei em não responder, ou então falar “não”, bem na cara dela, com áudio ainda, pra ela não ter dúvida de que não pode falar comigo, mas eu disse que estava curiosa?
“Sim”.
E olhe lá! Vê se vou gastar meu vocabulário com ela. Ela ficou online no instante em que a mensagem entregou.
“Como foi no trabalho?”
Depois que ela foi embora e me deixou na mão, ela ainda me vem perguntar isso? Ela deveria ver um: não te interessa. Mas não, quero saber até onde vai a ousadia dela dessa vez.
“Estou me adaptando.”
Me limito a responder o básico, não confio nela, não consigo.
“Entendi. Eu falei com o Sandro e a Tainá, eles me disseram q foi um dia agitado”
“Pois é”
“Você vai pegar o jeito logo, Bárbara, não se preocupa”
“Não estou preocupada, eu sei disso”
Eu sei que estou sento rude, mas é de propósito, qualquer um no meu lugar nem estaria respondendo.
“Vc está ocupada?”
Franzi a testa sem entender o motivo da pergunta.
“Agora não”
“Podemos nos encontrar?”
Sentei no sofá pelo susto e fiquei olhando pra tela do celular. O que será que ela quer comigo essa hora? Olhei pro relógio do celular, são 19:30 de um dia de semana, amanhã eu tenho faculdade e trabalho. Fiquei pensando no que responder, sem fazer ideia do que poderia dizer.
“Encontrar? Pq?”
“Eu quero ver com vc sobre o seu trabalho da faculdade e sobre o trabalho da empresa, podemos discutir isso pessoalmente?”
Fiquei tão sem jeito com as palavras dela, e a cada vez mais me pergunto o por que de ficar assim, ela é só mais uma pessoa que conheci nessa vida, mas eu estranhamente estou sempre com o pé atrás e sem jeito com ela.
“Aonde?”
“Pode ser na minha casa? Eu tenho um material separado no meu computador!”
Não consigo me ver indo pra casa da Mariana, fico sem graça só de pensar, e eu não sou dada a timidez. Mas isso me soa estranho, tão pessoal e eu mal a conheço, por mais que seja apenas pra discutir sobre trabalho. Talvez seja melhor eu dizer que não posso, inventar uma dor de cabeça, será que fica muito na cara que eu estou inventando? Eu estaria sendo muito idiota, depois de ser tratada mal, aceitar ir até a casa dela também. Mas por outro lado, não temos nada muito elaborado para ro trabalho, não quero dar motivos pra Beatriz começar a reclamar.
“Ok. Me passa seu endereço, por favor!”
Ela passou e eu descobri que ela não morava longe de mim.
Me levantei do sofá e fui me arrumar, coloquei uma calça jeans escura, uma regata preta e uma sapatilha branca. Passei meu perfume que não vivo sem e um lápis no olho e um rímel, só pra dar um toque final. Olhei no espelho e saí de casa.
Peguei meu carro e assim que entrei o Dio me ligou, eu esqueci completamente de ligar pra ele.
— Oi, amor! – atendi sorrindo
— Oi, linda! Já tá em casa?
— Estou, mas vou sair. – respondi colocando a chave na ignição
— Sair? Pra onde? – perguntou curioso
— Eu vou encontrar a Mariana. Ela quer me mostrar o material que ela tem pro trabalho da Beatriz.
— Mas hoje?
— Sim, por que?
— Sei lá, não sabia que você estavam amigas!
— Não somos! Ela é orientadora desse trabalho!
— Não é em grupo?
— O que foi, amor? Está achando que estou mentindo? – perguntei confusa
— Não! Só não entendi porque tem que ser feito hoje e só com você, não é trabalho de faculdade? Por que não faz lá?
— Eu estou indo encontrar com a Mariana, não com um amante. Com ele só me encontro de madrugada! – falei rindo e ele finalmente relaxou e riu também.
— Tá, Bárbara! Vai lá, me liga depois!
— Ok, amor! Te amo muito!!
— Também, beijos.
Liguei meu carro e rádio baixinho, não demorei a encontrar o prédio da Mariana. Demorei foi pra encontrar vaga, fiquei parada esperando alguém sair com um carro, até que um abençoado saiu. Me identifiquei na portaria, após ligar pro apartamento da Mariana, o porteiro me liberou. O prédio era lindo, com uma decoração tão moderna, e ao mesmo tempo chique. Apertei o botão do elevador para o 9º andar.
Eram poucos apartamentos por andar, e o dela era o último do corredor, toquei a campainha e não demorou nada até a figura da Mariana aparecer na minha frente.
Fim do capítulo
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