Aproximação indesejada.
Perspectiva - Mariana.
Um dia eu vou entender por que o final de semana passa tão rápido, me encontro já de pé, tomada banho e arrumada, tomando café na minha cozinha às 8:00 da manhã, olhando no bloco de notas do celular os meus compromissos do dia. Estava terminando meu suco de laranja e pensando no compromisso que eu teria com o representante de um Pub da Zona Sul do Rio que queria que eu fizesse um merchan do tal Pub no meu Blog, quando o meu celular começou a vibrar na minha mão e aparecer “Pai” na tela do meu celular. Levantei e atendi enquanto ia em direção ao banheiro escovar os dentes.
— Oi, pai!
— Oi, minha filha. Bom dia! Como você está? – perguntou carinhoso
— Bem e você? – Parei e encostei no batente da porta do banheiro esperando para saber do que se tratava.
— Estou bem! Como está sua agenda hoje?
— Eu vou para o escritório agora de manhã, tenho que resolver uns assuntos do Blog com o Tiago, depois tenho um almoço com um dono de Pub daqui do Rio, por enquanto é isso, vamos ver como vai ser. Mas por que quer saber? – perguntei passando a mão nuca começando a prever o assunto seguinte.
— Então, será que depois que você terminar esse almoço você pode ir até a empresa? O Sandro e a Tainá vão estar ocupados hoje, precisamos finalizar uma matéria hoje mesmo, eles estão terminando para mim, eu estou preso praticamente o dia todo com reunião, eu quero que você sente com a Bárbara e mostre os pontos principais do setor.
— Mas pai, isso quem pode ajudar é o Sandro e Tainá, eles conhecem muito mais da rotina de vocês do que eu! – falei dando meia volta e indo até o quarto. Sentei na minha poltrona e cruzei as pernas
— Eu sei, Mari, mas você também conhece! Pelo menos o que ela precisa saber, você já sabe, você poderia apresentar algumas gerências daqui, deixá-la ambientada. Eu quero que ela sinta como são as coisas antes de começar de fato o trabalho dela.
— Ela só vai pegar o ritmo se começar a praticar, se ela sentar com o Sandro e Tainá pra acompanhar o que eles fazem! – falei já começando a ceder e ele sabe que no final sempre faço o que ele me pede.
— Mariana, o que está acontecendo? Está chateada comigo? Você nunca nega algo que te peço, ainda mais se tratando de trabalho! Sei que você gosta! – revirei os olhos e bufei
— Ok! Umas 15:00 eu passo no jornal. Se eu tiver imprevisto, te ligo! – levantei novamente indo em direção ao banheiro
— Perfeito, filha! Te aguardo! – falou alegre
— Beijos. – desliguei
Fui até o banheiro e escovei os dentes, passei no meu quarto para retocar o batom novamente e dei uma última olhada na minha roupa. Calça jeans colada escura, blusa branca social e um blazer social preto por cima com a manga presa até o cotovelo, com um salto scarpin branco. Peguei minha bolsa e saí de casa.
Entrei no meu carro e respirei fundo, aquele dia prometia, eu tinha tomado a decisão de manter uma distância aceitável da Bárbara, mas não sei se isso seria possível tendo que ajudá-la a se ambientar no trabalho. Vou deixar rolar, minha postura será de profissional, e se tem uma coisa que entendo é de controlar emoções, tenho uma postura muito séria quando se trata de compromissos de trabalho, sempre fui assim.
Em pouco tempo eu estava chegando no meu escritório, tenho um escritório razoavelmente pequeno com o meu amigo Tiago, o suficiente para que possamos desenvolver e criar juntos, eu e ele nos juntamos para criar um Blog que aborda diversos temas atuais, inclusive dicas de programações, sobre o que fazer, onde ir nas noites do Rio, fora debates sobre assuntos polêmicos, nossas ideias no geral são bem parecidas, então nos damos muito bem. E nosso Blog faz muito sucesso, expandimos para outros tipos de mídias sociais, o que nos deu ainda mais visibilidade, vira e mexe recebemos pedidos de empresas que querem que façamos anúncios no nosso Blog e etc. Como eu disse, nosso espaço não é grande, compramos uma sala no terceiro andar de um prédio comercial, ela tem uma recepção, com algumas poltronas, alguns itens de decoração, um balcão discreto para a secretária, que nos ajuda a organizar nossa agenda, nossos compromissos e cada um tem sua sala, sendo que a minha também é a sala de reunião por ser maior, logo além da minha mesa, tem outra mesa grande de reunião com várias cadeiras pretas. O nosso espaço é muito bem organizado e apesar de pequeno, tem uma decoração impecável, porque eu gosto de tudo muito bem feito.
— Bom dia, Rebeca! – cumprimentei a nossa secretária assim que entrei na sala
— Bom dia, Mariana! Como foi de final de semana? – perguntou me olhando e sorrindo
— Bem e você? – perguntei retribuindo o sorriso e já indo pra minha sala
— Ótimo! O Tiago já chegou, pediu pra eu avisá-lo quando você chegasse também! – parei na minha porta e olhei pra moça de olhos castanhos escuros e cabelo de corte chanel à minha frente
— Claro, pode avisar! Estou aguardando aqui na sala! Obrigada! – entrei e tirei o blazer, colocando-o pendurado na minha cadeira e sentando em seguida. Estava ligando o computador quando escutei duas batidas leves na minha porta e o Tiago colocando parte da cabeça para dentro da sala
— Licença! Bom dia! – falou terminando de colocar o corpo para dentro e vindo à minha direção. Deu a volta na minha mesa e me cumprimentou com dois beijos e um abraço
— Bom dia, meu lindo! Queria falar comigo? – perguntei abrindo minha gaveta e pegando minha caixinha com os óculos de grau
— Sim! Estava ontem pensando sobre os temas que vamos abordar essa semana, pensei da gente abordar assuntos sobre vida saudável, esse assunto tá em alta mesmo, o verão está aí, tem gente querendo entrar em forma de maneira correta, podemos dar várias dicas, podemos entrar em contato com alguma nutricionista, pegar umas dicas e lançar no blog e nas mídias, o que você acha? – perguntou sorrindo e sentando na cadeira em frente a minha mesa
— Acho ótimo! Ótima ideia! Hoje eu vou encontrar com aquele cara do Pub, mas vou começar a dar uma olhada melhor no assunto agora de manhã, eu até tenho algum conhecimento também, mas não é nada muito grande, porque é baseado no que eu faço pra mim, né?
— Verdade, Mari! Você pode dar a sugestão da corrida, que é algo que você já tem costume mesmo de fazer! – fitei o moreno forte à minha frente e sorri.
— Depois da reunião eu vou precisar ir até a empresa do meu pai! – falei e mudei meu tom de voz para um tom desanimado
— O que foi? Brigou com seu pai? – perguntou debruçando os braços na mesa para me olhar de mais perto
— Não! Ele quer que eu ajude a Bárbara com... – nem terminei de falar, pois quando tirei os olhos do computador e o olhei, ele me fitava com uma sobrancelha arqueada e um sorriso irônico.
— Essa cara então tem nome, cabelos loiros, olhos azuis e covinhas! – disse batendo palmas e rindo, poucas vezes que eu via o meu amigo ter gestos mais afeminamos, eu sempre ria nessas horas.
— Não fala besteira, eu só não estava a fim de ter que ficar de babá de ninguém!
— Para de ser hostil, você não precisa tratar a garota mal, Mari! – disse me olhando mais sério
— E quem disse que vou tratar mal? – Meu amigo me conhece mesmo, sabe o quanto eu posso arrogante quando me sinto ameaçada.
— Porque eu sei que você é assim quando está na defensiva! Seja educada, apenas isso, não precisa ser melhor amiga, mas seja pelo menos educada.
— Eu não sabia que tinha mais de um pai! – falei revirando os olhos
— Você está interessada nela? Quer dizer, além do óbvio, você ficou mesmo a fim dela, pra valer? – perguntou olhando dentro dos meus olhos
— Claro que não, nem conheço direito! Por quê? – perguntei sem desgrudar os olhos do computador
— Porque eu já imaginava que era só uma questão de ego! Deixa essa história pra lá, eu sei que você não pega hétero, mas sei que quando você quer algo, se torna extremamente teimosa e focada. Mais do que já é!
— Eu não vou fazer nada, estou já cansada dessa história, sábado você já me deu sermão de manhã, Natália também, Vitor também me deu na social! Eu não estou a fim da Bárbara, não quero nada. Podemos mudar o foco? – perguntei tirando os olhos do computador e olhando sério pra ele
— Chata! Chata e grossa! – disse se levantando e rindo. Eu fiquei séria até ele sair, mas antes parou na porta e piscou sorrindo pra mim. Depois que ele saiu, eu ri, pus meus óculos e voltei a me concentrar no computador iniciando minhas pesquisas.
Fiquei tão perdida nas minhas pesquisas e achei resultados tão interessantes, que ia começar a adotar algumas dicas que tinha visto pela internet, fui interrompida com o telefone da minha sala tocando.
— Alô?
— Mari, só pra lembrar que são 13:00, sua reunião com o Fernando está agendada para às 13:30. – O que seria de mim sem a Rebeca?
— Tá bom, obrigada! – falei desligando. Desliguei meu computador, não sabia se iria retornar hoje para o escritório, peguei meu blazer e minha bolsa e fui para o restaurante que tínhamos combinado.
Após uma hora e meia de almoço e conversa finalizamos tudo e eu fui dirigindo pra empresa. Liguei o ar condicionado do carro e parti. Não demorou muito para eu chegar na sede do jornal, consegui uma vaga dentro do prédio, ser filha de um Diretor tem suas vantagens, não nego.
Passei direto pela recepção e subi até o andar do meu pai, assim que cheguei lá fui ao banheiro novamente para escovar os dentes do almoço e retocar minha maquiagem. Andei até a sala do meu pai e não parei na outra sala que sabia que estariam Sandro, Tainá e Bárbara. Nem a Carol estava na recepção, estranhei, mas dei uma batida na porta da sala do meu pai e abri a porta sem esperar resposta, mas não o vi, só estava a Bárbara, sentada na cadeira dele mexendo no computador, ela se assustou quando abri a porta, dando um pulo e colocando a mão na altura do peito.
— Desculpa, não quis te assustar! Boa tarde! – falei entrando e fechando a porta atrás de mim
— Boa tarde! Não, tudo bem! – ela riu de si mesma brevemente e voltou a falar. – Eu estava concentrada lendo a agenda do seu pai! Aconteceu alguma coisa no e-mail dele que desconfigurou a agenda online, estou tendo que revisar os e-mails com os compromissos e consertar os dias no calendário da agenda. – disse alternando o olhar entre o computador e eu. Deixei minha bolsa em cima de um sofá que tem na sala e fui até a mesa que ela estava. Parei ao seu lado e abaixei um pouco para ver o que tinha na tela do computador, apoiei um braço na mesa e a vi me olhando de rabo de olho.
— Onde ele está? – perguntei ainda olhando para a tela do computador
— Quem? – perguntou abrindo a aba do e-mail
— Meu pai!
— Ah, claro! Ele não está, foi pra uma reunião!
— Externa?
— Não sei, ele não falou comigo, mas a Carol deve saber! – ela nem me olhava. Me incomodei um pouco.
— Entendi. Ela não está lá fora! – ela parou de olhar para o computador e me olhou, quando percebeu que estava muito próxima de mim, virou rapidamente para o computador de novo.
— Não? Estranho!
— Meu pai que pediu pra você ver isso, certo? – falei saindo daquela posição e indo até a janela que dava pra rua, parei e fiquei fitando o movimento intenso dos carros.
— Sim, foi sim! Por quê?
— Ele me pediu para vir hoje aqui, ajudar você! – falei e olhei pra ela que agora me olhava
— Eu vou fazer isso o mais rápido para a gente poder começar! – falou apressada
— Não, Bárbara! Pode fazer com calma para não ter erro depois! Não vou ter compromisso na parte da tarde. – fui em direção ao sofá e sentei. Abri minha bolsa e peguei meu celular
Abri meus e-mails e fui lendo, já tinha um e-mail do Tiago falando sobre as coisas que ele tinha encontrado e me sugerindo novas ideias, ia responder o e-mail dele quando a Bárbara chamou minha atenção.
— Você e seu pai são bem próximos! – ela afirmou, não perguntou.
— Sim! – concordei olhando rápido para ela e voltando a olhar para o celular.
— Eu estou falando isso porque eu fui abrir uma pasta agora aqui no computador e vi que tem uma foto sua com ele no papel de parede. – falou como se precisasse se explicar, cautelosa.
— Uhum. – dessa vez nem tirei os olhos do celular
— Quantos anos você tem, Mariana? – olhei para ela que agora colocava os cotovelos na mesa e apoiava o queixo nas mãos, me olhando séria.
— 26. Por que, Bárbara? – perguntei abaixando as mãos e deixando o celular apoiado no colo para olhar para ela
— Nada, só curiosidade!
— Curiosidade de que exatamente? – perguntei ainda olhando nos olhos dela. Ela pareceu pensar antes de me responder, escolhendo as palavras. Ela suspirou e voltou a falar.
— Apenas olhando para você eu até diria que você tem essa idade mesmo, mas... – ela parou de falar
— Mas? Pode falar! – falei cruzando as pernas e chegando o corpo pra frente
— Não entenda errado, você as vezes parece tão séria, não sei explicar! Tem uma postura diferente! – falou e me olhou aguardando o que eu falaria. Fiquei apenas a olhando e não falei nada, de propósito, pra aumentar o suspense. Porque eu sou má mesmo.
— Talvez seja porque você não me conhece ainda. – falei e acabei sorrindo, um sorriso irônico.
— Estou terminando! – ela quebrou o contato e voltou a olhar para o computador. Eu continuei olhando para ela, ela estava de calça vermelha que apesar de sentada dava para ver como a calça estava moldada ao corpo, um salto na cor off white e uma blusa social branca dobrada até o cotovelo. Fiquei um tempo a olhando e ela percebeu, pareceu ficar sem graça e se ajeitou na cadeira. Me olhou novamente e como eu não parei de olhar, ficou mais sem graça ainda.
— Está tudo bem? – ela perguntou dando um sorriso amarelo, sem jeito.
— Gosto das suas covinhas! – falei apontando para ela, tentando mostrar ao que me referia.
— Obrigada! – disse desviando o olhar para um bloco de anotação que estava na sua frente
— Você é sempre tão tímida? – perguntei achando graça da situação, mas não demonstrei, me mantive séria e olhando pra ela.
— Não sou tímida! – respondeu levantando o olhar e me olhando
— Pois parece!
— Talvez seja porque você não me conhece ainda! – respondeu séria, em tom de desafio, repetindo a resposta que dei há minutos atrás. Eu dei um sorriso novamente, mais largo e concordei com a cabeça.
— Você está certa.
— Você se divertiu na sexta?
— É, claro! Mas você sabe, nada de sertanejo por muito tempo! – falei rindo e ela riu também
— Sério? Mas por quê?
— Já falei, não acompanho, não é meu estilo!
— E qual o seu estilo? – perguntou me olhando
— Pode ser que você ache estranho! – falei voltando a rir
— Agora fiquei curiosa!
— Eu sou meio chata com música, eu até gosto de música de boate, mas pra dançar e tal, se eu estiver em uma festa, vou dançar. Assim como eu vou para bar que toca sertanejo.
— Você está me enrolando! – ela disse e sorriu deixando as covinhas em evidência
— Para ouvir no meu carro ou no dia a dia, eu prefiro Jazz! – ao contrário do que pensei, ela não ficou surpresa.
— Por que pensou que eu ia estranhar? – perguntou franzindo a testa
— Não sei, as vezes as pessoas estranham o meu gosto. Se você entrar no meu carro vai parecer que você está entrando em algum cenário de filme de época, onde têm aqueles bares com mafiosos de terno, fumando e bebendo. – eu ri e dessa vez ela riu também
— Combina com você! – ela disse em meio às risadas
— Como assim? Eu não fumo e muito menos sou mafiosa! – levantei as mãos como se fosse inocente
— Não, esse ar misterioso, pelo menos o Jazz traz essa sensação em mim. Acho que combina com você!
— E eu sou misteriosa? – perguntei levantando uma sobrancelha
— Eu acho!
— Por que? – insisti
— Porque sim! Parece que você fala menos do que está pensando. – eu parei pra pensar no que ela falou. Me calei.
Escutamos batidas na porta e ela se abriu em seguida, nós duas olhamos e vimos Carolina entrar. Veio em minha direção, levantei e a cumprimentei com um abraço.
— Que menina cheirosa! – disse ao me soltar, eu apenas sorri.
— Sabe onde está meu pai?
— Reunião externa. Ele me ligou e me pediu pra ir lá em cima resolver umas pendências dele, mas me perguntou se você estava aqui.
— O que você falou?
— Que não. Quando eu fui você ainda não estava. Ele pediu para você auxiliar a Babi. – disse direcionando o olhar pra loira que nos observava.
— Me deem mais 10 minutos e podemos começar, Mariana. É muita reunião, como o Marcelo aguenta? – perguntou e voltou a olhar para o computador
— Eu estou lá fora, se precisarem de mim, deem um toque no telefone, ok? – Carolina falou jogando beijos e saindo da sala
Eu olhei pra Bárbara e fui até ela novamente, dessa vez observei em pé, sem me abaixar.
— Você quer ajuda? – perguntei e estranhei meu gesto. Ela tinha que se virar, né? Mas senti necessidade de me oferecer para ajudar
— Não precisa, fica tranquila. Já estou acabando!
— Ok! – estava inquieta, não consigo ficar sem fazer nada por muito tempo.
— Seu pai tinha razão! – Bárbara puxou assunto novamente
— Não entendi! – falei confusa
— Você não consegue ficar parada muito tempo! É agitada!
— Muito! Gosto da atividade! – falei sorrindo
— Eu também, mas acho que sou menos acelerada!
— É a cidade, parece que aqui estamos programados o tempo para algum compromisso, alguma coisa, as vezes me pego andando rápido mesmo não tendo nenhum compromisso! – ela riu e comecei a perceber o quanto me agradava fazê-la rir
— Eu te entendo! Acabei aqui! – disse girando a cadeira e virando pra mim
— Você já conhece os setores?
— Mais ou menos, antes de você chegar o Sandro começou a me falar algumas coisas, mas ele estava muito ocupado, Tainá mais ainda!
— Tudo bem. Vem comigo, vamos dar uma voltinha pra você conhecer, pode ser? É importante para quando você precisar se dirigir a alguém daqui de dentro, eventualmente você vai precisar. É bom conhecer! Mas isso você vai pegando com o tempo também, é muita informação.
— Pode ser sim!
Apesar de me tratar de forma educada, eu posso perceber que a Bárbara tem um pé atrás comigo, talvez pela forma que já a tratei antes. Vou confessar que estou sendo muito mais gentil do que pensei que seria, e isso me deixa surpresa, afinal eu estava decidida a ser apenas educada. Me peguei algumas vezes durante nosso tour pela empresa tentando me aproximar sem que ela percebesse para poder aproveitar um pouco do cheiro que ela tem, observando as covinhas se formarem quando ela sorri, isso me deixa desconfiada de que vai ser melhor mesmo eu evitar de vir por aqui com a frequência que vinha, até pelo menos esquecer essa história. Na verdade, penso que as minhas reações estão muito ligadas ao fato de saber que não vai rolar nada, que clichê parar pra pensar que o fato de não poder ter algo me excita. Isso só me faz comprovar para mim mesma o por que de eu não me envolver com mulheres héteros.
Não tenho apenas isso para confessar, mas isso eu jamais confessaria em voz alta, nem mesmo para o meu amigo mais próximo, que me senti um pouco incomodada com alguns olhares que a Bárbara recebeu quando passei e a apresentei aos outros funcionários, alguns discretos, outros nem tanto. Achei muito sincera a forma como ela lidou com isso, simplesmente ignorou a todos e manteve uma postura profissional, nem comentou nada comigo ou fez alguma gracinha, nada do tipo. Com certeza é por causa do namorado.
— E aí, se eu perguntar o nome de cada setor e o Diretor de cada um, você vai saber me dizer? – perguntei sarcástica ao voltar para a sala do meu pai. Sentei no sofá e ela sentou ao meu lado, rindo. “Droga de covinhas!”
— Posso colar? – perguntou balançando um pequeno bloco que ela levou para fazer possíveis anotações.
— Hum... – coloquei o dedo no queixo e fiz cara de pensativa. – Somente dessa vez! Quero ver se até sexta já está tudo gravado na cabeça! – ela arregalou os olhos simulando um falso espanto
— Nossa, que exigente! Parece sua tia Beatriz! – disse rindo e eu apenas a olhei, sem rir. Ela pareceu ficar sem graça com a minha reação. – Desculpa! Eu disse algo errado? – perguntou me encarando
— Não! – respondi desviando o olhar para a porta. Detesto que me comparem com a minha tia, que é irmã da minha mãe. Ela me lembra demais a minha mãe, com a qual não tenho uma relação nada amigável, nos falamos, mas nem parece que temos o mesmo sangue, ela já me magoou demais por não aceitar quem sou. Apenas concordei em ajudar a Beatriz com esse trabalho de faculdade pois meu pai insistiu que eu não alimentasse mágoa dela, e minha tia apesar de já ter me recriminado muito pela “minha forma de viver”, como elas falam, hoje em dia tenta puxar meu saco ao máximo, talvez por perceber que sou muito bem sucedida no que faço. Infelizmente (para ela), isso não mexe nem um pouco comigo, continuo sem ter um pingo de afinidade com a Beatriz.
— Desculpa se eu falei algo que não devia! – insistiu
— Já falei que não tem nada errado, não falei? – fui tão seca que ela se levantou sem graça. Passou a mão pelos fios do cabelo, o jogando para o lado.
— Obrigada pela ajuda, Mariana! Talvez seja melhor eu ir falar com o Sandro e com a Tainá, eles podem estar precisando de mim. – disse visivelmente incomodada com a minha mudança de humor. Eu apenas concordei com a cabeça e me levantei, peguei minha bolsa e fui embora, deixando uma Bárbara completamente perplexa para trás.
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
Deixe seu comentário sobre a capitulo usando seu Facebook:
[Faça o login para poder comentar]