Os olhos verdes.
À noite eu estava no meu quarto, sentada na minha mesa de estudo, eu tinha acabado de falar com o Dio e ele tinha ficado extremamente feliz com a notícia que eu dei, me deu os parabéns umas quatro vezes e disse que estava orgulhoso de mim, adoro a forma como ele me incentiva, demonstra o quanto ele se importa comigo.
Enfim, aqui estava eu, mexendo no notebook, estava dando uma pesquisada no tema do trabalho da insuportável da professora Beatriz, e meu celular vibrou, o peguei do lado do computador ainda olhando pra tela dele terminando de ler uma frase, desviei minha atenção pro celular e vi que era uma mensagem de whatsapp da Ana, desbloqueei o celular e abri.
Mensagem: Babi, como foi a entrevista?
Mensagem: Eu consegui, amiga. Devo começar no máximo semana q vem!
Mensagem: Arrasou! Quero detalhes amanhã! De pé a saída final de semana?
Mensagem: Isso é mais q certo
Mensagem: Blz! Outra coisa, aquela sobrinha da Beatriz entrou em contato ctg? Tô preocupada com esse trabalho! – nesse momento a Ana colocou um emoji de uma carinha revirando os olhos. Eu tive que rir.
Mensagem: Bem lembrado! Ela disse q ia me mandar e-mail ainda hj, vou olhar aqui e te falo.
Mensagem: Tá, até amanhã, então! Bjs, gata.
Mensagem: Bjinhos, amiga. Até amanhã!
Deixei o celular de novo do lado do notebook e amarrei o cabelo em um coque improvisado enquanto a tela do e-mail carregava. E sim, a louca tinha finalmente entrado em contato.
E-mail:
Olá, Bárbara,
Conforme foi combinado estou entrando em contato para você saber que esse é o meu e-mail, você pode me contatar através dele caso precise de alguma orientação a respeito do trabalho. Vocês já deram início à pesquisa? Será mais fácil orientar de acordo com o material que vocês tiverem. Eu tenho um material pronto também, estou encaminhando em anexo nesse e-mail.
Por enquanto, é isso.
Mariana Borges.
Eu li o e-mail três vezes, mas achei meio desnecessária a formalidade que ela usou para falar comigo. Me incomoda o fato de ela pensar que precisa se portar como se fosse muito mais velha que eu, não sei se ela faz pra me irritar ou se é típico dela. Mas já que ela quer assim, assim será.
Cliquei no botão responder e digitei palavra por palavra com cuidado.
E-mail:
Oi, Mariana,
Obrigada pela disposição em nos ajudar. Vou compartilhar o material que você está me passando com o resto do grupo, vamos nos encontrar amanhã e no decorrer da semana começar a colocar em prática, temos apenas um esboço do que queremos, muitas ideias e pouca coisa concreta. Mas acredito que esse material que você mandou já vai nos auxiliar, e muito.
Grata,
Bárbara Cortêz.
Eu li e reli o que escrevi duzentas vezes também antes de mandar, parecia que eu tinha uma necessidade de acertar com ela, principalmente por parecer que ela está o tempo todo a avaliar o comportamento das pessoas com um ar de superioridade, eu tenho certeza que no momento que ela ler o meu e-mail vai procurar um erro de português, ou qualquer coisa que possa dar uma deixa para ela me criticar. Meus pensamentos foram interrompidos quando percebi que ela havia respondido novamente, eu não contava que ela fosse responder a esse último e-mail.
E-mail:
Parabéns pelo emprego no jornal!
Tá, não foi nenhuma mensagem enorme ou de um afeto mais sincero, mas vindo dela, eu estranhei. No mínimo o Marcelo deve ter ligado pra Mariana pra avisar que tinha me dado a vaga e pedir pra ela ficar de stand by caso ele precisasse que ela me desse um suporte na empresa, mas eu não esperava que ela fosse me dar parabéns. Será que ela é bipolar? Também estou exagerando, ela não disse nada demais, nada que tire a impressão de chata e louca que eu tenho dela. Mas de qualquer forma, meus pais me deram educação e eu tenho que agradecer.
E-mail:
Obrigada, Mariana. Estou muito feliz com a oportunidade que o Marcelo está me oferecendo!
Não passaram cinco minutos e ela me respondeu, parece que a resposta estava na pontinha dos dedos maléficos dela, ela com certeza previu fazer isso quando puxou o assunto.
E-mail:
Marcelo ou Otávio e Diogo? Você foi indicação do seu namorado, estou errada?
Que babaca! Só consigo pensar isso, a idiota está sugerindo que o pai dela só me contratou pela amizade com o meu sogro. Será que o Marcelo comentou alguma coisa com ela? Será que realmente esse foi o motivo de ele me contratar? Mas poxa, ele parecia tão sincero em dizer que gostou de mim, que compartilhava e muito de algumas das minhas ideias, não é possível. Essa garota tá fazendo isso para me irritar, e o pior é que ela está conseguindo. Ela realmente me tirou do sério supondo isso, ela está duvidando da minha capacidade de conseguir algo dignamente e isso não se faz, nem comigo, nem com ninguém.
Respondo ou não respondo?
Quer saber? Vou responder, se ela é assim é porque ninguém ainda puxou o tapete vermelho dela.
E-mail:
Mariana,
Não sei com que tipo de pessoa você está acostumada a lidar e conviver, mas pelo visto, não tem muito conhecimento de pessoas que conseguem as coisas por esforço próprio e dedicação.
Vamos nos atentar apenas ao trabalho, ok? Não acho que minha vida pessoal seja relevante aqui.
Boa semana!
Bárbara Cortêz.
Mandei. E ela se quiser contar para o pai, foda-se. Não sou de ficar falando palavrão assim por nada, mas achei a atitude dela extremamente infantil e imatura, isso é o contrário do que ela quer mostrar o tempo todo nessa pose de mulher feita que ela tem. Aparentemente, ela tem muito para aprender, porque ficar ofendendo os outros assim, à troco de nada é muito estúpido da parte dela. Ela não respondeu mais nada e devia estar soltando fogo pelo nariz de raiva de mim, deve odiar ser contrariada. Confesso que quando eu desliguei o computador e fui tomar banho, me arrependi um pouco do que fiz. Ela é filha do meu chefe, eu deveria ter sido mais passiva. Agora com a água batendo nas costas e pensando mais relaxada, eu estou me culpando. Mas agora já está feito, não tem como voltar atrás, apesar de arrependida, sinto que fiz o certo, só espero que não me prejudique com o Marcelo e na empresa, se eu só tiver que aturar a raiva dessa garota, eu aguento. Ou eu acho que aguento. Não sei mais o que esperar da Mariana.
O resto da minha semana foi tranquilo, como eu disse para a Mariana, nós começamos a pensar no trabalho, nos encontramos depois das aulas na faculdade mesmo e demos início. Eu não comentei com ninguém sobre o que a Mariana falou pra mim no e-mail, mas tive vontade de perguntar ao Diogo se ele conhecia a filha do Marcelo, já que o pai dele e o meu chefe são amigos, estou esperando apenas a oportunidade certa para fazer isso.
Hoje é sexta, finalmente, e eu estou de frente para o espelho terminando de me arrumar. Quero começar o final de semana me sentindo leve e pra que isso aconteça, quero me sentir linda também. Escolhi um vestido azul com detalhes pretos, de alças finas e justo ao corpo, e um scarpin preto, joguei o cabelo pro lado, finalizei com uma maquiagem marcante, mas sem ser exagerada e um perfume. Já deixei uma bolsa separada pra levar pra casa do Dio já que eu vou dormir lá.
Ah, um detalhe, a Carolina me ligou hoje cedo e disse que eu poderia começar na empresa segunda feira, ou seja, mais um motivo para essa sexta começar bombando, vou comemorar meu novo emprego! São 22:20 e eu tinha combinado com o Dio de passar na casa dele às 22:00. Um atraso é sempre de lei. Mandei mensagem dizendo que estava saindo de casa e pra variar, minha mãe não tinha nem dado sinal de vida, aproveitei e mandei uma mensagem pra ela também avisando que não ia voltar para casa hoje.
Depois de 20 minutos eu já tinha chegado na casa dele, vocês podem estar se perguntando se eu que busco meu namorado sempre ou se ele não tem carro, já briguei demais com o Diogo por esse motivo, ele não quer dirigir quando a gente sai porque quer beber e se prevalece do fato de eu ter carro pra poder “montar” em mim, eu detesto isso, mas eu não vou deixar o meu conforto de andar de carro por causa dele. Gente, homem quando sabe que mulher dirige e que mais ainda, que ela tem carro, não dá certo. Eu aceitei vir buscar ele hoje porque eu realmente não estou com cabeça de me estressar, mas ele vai trazer o carro na volta porque eu quero beber hoje também, e ele que não pense em me contrariar. Mandei mais uma mensagem dizendo que estava na porta e dei duas buzinadas, não esperei um minuto e ele saiu da casa. Estava de calça jeans escura, uma polo branca, e um sapatênis azul marinho. Um gato!
— Oi, loira! – disse me dando um selinho e um abraço
— Oi, amor! Vou ligar pra Ana pra saber se eles já chegaram lá! – eu peguei meu celular e disquei o número da minha amiga. A gente combinou de ir pra um barzinho de música sertaneja, porque eu amo música sertaneja pra bater um papo e beber. Esperei dois toques para minha amiga me atender.
— Tá atrasada, Babi! Cadê vocês? – A Ana me perguntou e eu quase não entendi por causa do barulho que se fazia atrás
— Estou saindo da casa do Dio e indo praí! Conseguiram mesa? – perguntei virando a chave do carro
— Sim! Mas vem logo, ok? – pediu impaciente
— Ok. Em meia hora no máximo eu chego aí. Beijos. – e desliguei
— E aí? – Diogo me perguntou quando eu coloquei o celular no porta objetos
— Já chegaram, mas ela tá reclamando que estamos atrasados. – falei já dando partida no carro
— Estamos não. Você atrasou, pra variar! Tô pronto desde 22:00! – falou pegando o celular e mexendo nele
— Hoje você traz o carro, Diogo! – falei dando uma olhada rápida pra ele pra ver qual seria a reação. Ele jogou a cabeça pra trás e respondeu contrariado.
— Sério, Bárbara?
— Muito sério! Ou então a gente vai passar na minha casa, deixa o carro lá e depois pegar Uber. – falei só por falar porque eu não ia voltar em casa. Mas pelo menos colou.
— Não, po, deixa quieto. Eu volto com o carro. Mas vou beber! – falou inflexível
— Tá, Diogo, só não exagera! Quero chegar viva em casa! – falei tentando amenizar a situação, nada de brigas e DR em começo de sexta feira.
— Não vou, amor! – pronto, já acalmou.
Fomos o resto do caminho conversando sobre a semana, ele ficou me contando de como estão as coisas no escritório e eu falei que ia começar o trabalho também segunda, quase não conversamos sobre o meu trabalho, porque sempre que a gente se encontra o Diogo desata a falar sobre o escritório e eu até gosto de ouvir os casos que ele tem pra me contar. Como eu disse pra Ana, meia hora depois eu estava estacionando o carro, achar uma vaga é sempre um saco, mas achamos.
Nós entramos no barzinho de mãos dadas e a música já estava rolando, me animei na hora, o lugar era grande e a luminosidade não era 100%, percorri os olhos à procura da Aninha, e parei os olhos em um lugar no canto do bar. Mas não era minha amiga! Eu não acreditei, não vou dizer que minha animação sumiu porque dificilmente algo a tiraria hoje, mas levei um tapa na cara quando vi a Mariana sentada numa mesa com um grupo de mais ou menos 7 pessoas. Ela não me viu, ainda bem, e eu tratei logo de me recompor e voltar a andar à procura da Ana. Ela estava umas cinco mesas depois da filha do meu chefe.
— Finalmente, né, amiga? – Aninha disse levantando, fui até ela e dei beijos e um abraço e logo em seguida repeti o gesto com o Júlio.
— Perdi um tempo tentando achar vaga! – tentei amenizar
— Ela demorou mesmo! Fiquei esperando ela lá em casa. – Diogo falou brincando comigo. Ele repetiu meu gesto e cumprimentou a Ana com dois beijos no rosto e o Túlio com um aperto de mão
— Chega desse assunto, quero dançar hoje! – falei sentando só pra pedir um drink pra mim
— Tava só te esperando, o Júlio não quer descolar da cadeira de jeito nenhum! – Ana falou dando um gole na cerveja e olhando para o namorado
— Eu só falei que não quero agora! - ele falou olhando pra gente se justificando
— Relaxa, cara! Se a Babi pensou que eu ia dançar também, a loira se enganou! – Diogo falou arrancando risadas do Júlio e da Ana. Eu abri a boca tentando encenar um falso espanto. Eu já esperava mesmo que ele não fosse acompanhar minha animação pra dançar.
— Me dispensou, vocês estão vendo, né? – falei rindo e procurando com os olhos o garçom
— Fomos dispensadas, amiga! – Ana disse cumplice
O garçom chegou e anotou nosso pedido, a Ana já tinha pedido alguns petiscos e eu pedi um drink pra abrir a noite, enquanto o Dio ficou na cerveja.
Nosso papo estava animado, estávamos trocando várias informações da nossa semana, e conversando sobre assuntos da atualidade quando eu me senti animada pra levantar e ir dançar.
— Vamos, Ana? – eu perguntei já levantando e ela repetiu meu gesto. Eu peguei o copo com meu drink e dei um último gole antes de ir pra um lugar que era separado como se fosse uma pista de dança. Já tinham algumas pessoas lá e pra chegar na pista, a gente passaria pela mesa da “Marichata”. Dessa foi inevitável ela me ver, ela estava rindo de alguma coisa junto às pessoas na mesa quando me olhou e eu pude ver a surpresa nos seus olhos. Ela parou de rir e me acompanhou com o olhar, a mulher que estava ao lado dela percebeu e olhou na minha direção também. O que eu fiz? Ignorei, fingi que nem a conhecia. Foi tão rápido também que não dava pra fazer muita coisa, mais uma vez: ainda bem.
— Amiga, você viu aquela mulher? Eu conheço de algum lugar! – Aninha falou próximo ao meu ouvido devido ao barulho
— É a sobrinha da Beatriz! – falei sem muita animação de dar continuidade no assunto
— É verdade, lembrei! – falou e encerramos o assunto
Começamos a dançar descontraídas e enquanto a gente dançava, conversávamos às vezes, ríamos, fazíamos passinhos juntas, como sempre quando a gente sai.
— Vai pra casa do Dio? – perguntou no meu ouvido
— Vou!
— Vai dar, né? – perguntou rindo
— Vou! – repeti rindo e ela riu comigo.
— Safada! Eu vou pra casa do Júlio também! Quero ser muito bem comida hoje, porque essa semana foi foda! – falou enquanto a gente dançava animadamente.
- E a minha? Nem te contei uma coisa! – falei querendo me abrir sobre a situação que a Mariana criou na terça feira.
— O quê? – perguntou curiosa. Eu olhei rapidamente ao nosso redor pra ver se a louca não estava perto, eu sei que a música não a deixaria ouvir o que eu estava falando, mas todo cuidado é pouco com aquela garota. Ao fazer isso, eu a vi na mesa, ela estava olhando pra mim. Sim, estava e nem adianta ela agora olhar para o lado como se não estivesse porque eu vi que estava. Não só ela, como aquela mulher do lado dela também, só que ao contrário da Mariana, a mulher sustentou o olhar e eu percebi que ela me fitava curiosa, talvez querendo saber de onde a Mariana me conhecia. Eu vi no momento em que ela cochichou alguma coisa no ouvido da Mariana e novamente a filha do meu chefe me olhou. Seus olhos me analisavam e eu por um momento não consegui desfazer o contato. Queria saber o que ela estava falando de mim.
— Amiga? – Aninha me chamou novamente e eu desviei minha atenção da mesa para ela
— Oi? – falei olhando nos seus olhos
— Que foi? Por que a sobrinha da Beatriz estava olhando pra cá? E por que ela está vindo na nossa direção? – quando ela falou instantaneamente eu olhei de novo em direção àquela mesa e realmente, a Mariana estava vindo a passos lentos e olhando na nossa direção.
— Depois eu te explico! Essa mulher é louca! – eu disse baixinho pra apenas a Ana ouvir. Ela me olhou franzindo a testa, visivelmente confusa com a situação toda.
— Oi, Bárbara! – Mariana falou olhando fundo nos meus olhos assim que chegou perto da gente
— Oi, Mariana! – respondi mantendo contato. Se ela acha que vai me intimidar, está enganada! Ela olhou pra Ana, como se esperasse ela se apresentar.
— Oi, Mariana. Você é sobrinha da Beatriz, certo? – perguntou Ana só pra puxar assunto, eu já tinha confirmado essa informação.
— Sim! Você também é aluna dela? – perguntou Mariana simpática. Simpática? Gente, tratamento imediato pra essa mulher.
— Sou! Me chamo Ana! – e a Ana estendeu a mão e sorriu pra Mariana que prontamente atendeu ao gesto e sorriu também.
— Prazer! Vocês gostam desse bar? – ela perguntou e eu quase dei uma resposta atrevida. Se eu estava ali é porque eu gosto.
— Gostamos! Já viemos aqui outras vezes! – a Ana respondeu super simpática, o que me incomodou. Nossos amigos têm que compartilhar nossa antipatia por quem a gente não gosta.
— Sei. Eu também já vim aqui algumas vezes, apesar de não ser muito fã do estilo musical. Mas meus amigos adoram e eu acabo acompanhando! – Ok, ela estava muito comunicativa, no mínimo bebeu e se soltou.
— Você não gosta de sertanejo? – o diálogo ficou só entre elas. A Mariana deu uma risada leve com a pergunta da Ana e respondeu negando com a cabeça.
— Não sou muito fã! Pra falar a verdade, não conheço muito! Só sei as músicas que eles escutam!
— Então por que está aqui? – eu perguntei e visivelmente meu tom de voz saiu rude. O que assustou a minha amiga, mas não surpreendeu em nada a Mariana.
— Como eu disse, Bárbara, meus amigos gostam. Eu acompanho! Não é que eu odeie, eu só não sou muito chegada. – ela falou calma, contrariando totalmente o que eu esperava dela em relação a mim depois do que eu escrevi naquele e-mail. Eu realmente estava esperando uma Mariana ainda mais rude, antipática e chata.
— Entendi. – eu falei totalmente desconfortável com a situação.
— Bárbara, eu posso falar com você rapidinho? Você se importa, Ana? – perguntou sorrindo novamente pra Ana
— Não, claro que não. Babi, eu vou voltar para a mesa, tá? – minha amiga falou olhando como se estivesse em dúvida do que fazer. Eu não queria conversar com a Mariana, eu não queria que a Ana me deixasse sozinha nessa saia justa. Mas o que eu podia fazer? Eu apenas concordei com a cabeça e ela saiu.
— Você vem comigo até o bar? – Mariana perguntou chegando mais perto
— Tudo bem. – eu ainda estava muito chateada com ela, eu não sei se estava exagerando, mas naquele momento me achei no direito de ficar chateada. Ela me ofendeu, gente.
Ela foi na frente e eu fui atrás dela, olhei rapidamente para minha mesa e a Ana, Diogo e Júlio conversavam entre si, animados. Olhei para a mesa da Mariana e vi mais uma vez aquela mulher me olhando. Eu estava razoavelmente longe, não dava para analisar muito bem ela.
— Você quer beber o quê, Bárbara? – a Mariana me perguntou e se encostou de lado no balcão, me olhando nos olhos.
— Nada! Estou bem! – respondi seca
Ela pediu uma Piña Colada para ela e chegou mais perto devido ao barulho para falar comigo.
— Eu acho que devo te pedir desculpas! – Como assim? Desculpas? Minha cara com certeza foi de espanto, e ela não parava de me olhar nos olhos, os olhos verdes pareciam buscar alguma coisa nos meus.
— Pelo que exatamente, Mariana? – perguntei receosa. É óbvio que eu estou com os dois pés atrás com ela.
— Você sabe. Pela forma que falei com você no e-mail. Eu admito que foi desnecessário. – ela disse e virou para o garçom que entregava sua bebida. Ela deu uma mexidinha com o canudo e em seguida bebeu. – Está uma delícia! Tem certeza que não quer? – Estendeu o copo pra mim, eu devia estar com cara de tacho.
— Não, obrigada! – respondi aérea
— Você me desculpa? – ela perguntou sugando o canudo e me olhando
— Por que você falou aquilo? – perguntei disposta a tirar a limpo a história.
— Sinceramente? – perguntou e deixou o copo no balcão
— Sim! – respondi confirmando com a cabeça
— Eu não sei! – disse dando uma risada de leve e desviou o olhar
— Você me ofendeu! A gente nem se conhece, nem nada, sua atitude foi estranha comigo. – eu disse deixando evidente minha chateação
— Eu sei, Bah, mas... – ela deu uma pausa e me olhou. – Posso te chamar de Bah? – perguntou sorrindo. Fiquei na dúvida do que dizer. Não queria dar intimidade para ela, pois eu não sei qual é a dela, o que ela pode fazer amanhã se esse surto de amizade passar.
— Me chamam de Babi! – respondi fugindo da pergunta
— Pois então, Bah, me desculpa. De verdade! Espero que você consiga em algum momento esquecer esse meu ato falho! – respondeu ignorando totalmente o que eu disse. Mulher atrevida!
— Tudo bem, Mariana! Mas eu espero de verdade também que não aconteça de novo. Seu pai foi ótima pessoa comigo e em respeito a ele, eu relevei a situação. – falei e me virei para o garçom. Pedi a mesma bebida que ela e quando a olhei novamente, ela estava sorrindo ainda. – Que foi?
— Nada! Você já tem que voltar pra sua mesa? – me perguntou e olhou para trás em direção a minha mesa. Eu acompanhei o gesto e pude ver o Diogo me procurando com os olhos.
— Na verdade, sim. Meu namorado está me procurando! – eu apontei, mas ela não se deu ao trabalho de virar e olhar de novo.
— Tudo bem! Eu queria falar com você sobre o seu trabalho, mas não acho que aqui seja ambiente pra isso.
— Eu concordo! – respondi sem a mínima vontade de dar continuidade àquele assunto, estava ali para me distrair e não para falar de trabalho da faculdade. Ela assentiu com a cabeça.
— Me passa seu número? – pediu e eu senti que ela estava mais cautelosa ao pedir isso. Eu estranhei o pedido e ela percebeu. – Fica mais fácil para eu falar com você, eu posso te mandar um Whatsapp e a gente combina um lugar melhor! Quero ver o que vocês têm até agora!– me explicou
— Seu celular está aí? – perguntei e ela deixou a bebida novamente no balcão e colocou as mãos no bolso de trás da calça, acabei reparando na sua roupa. Ela estava de calça jeans escura, colada ao corpo, uma blusa branca de alças fininhas, e um salto vermelho. Ok, eu admito, ela está bonita.
— Toma! – ela disse me estendendo o celular. Eu peguei e disquei meu número, deixei dar um toque e cancelei a ligação.
— Pronto! Eu liguei para o meu número, só salvar. – devolvi o celular dela
— Tá bom! Agora vai lá, não vou mais te prender! – ela disse desencostando do balcão, eu peguei a minha bebida também e começamos a andar em direção às mesas. A mesa dela era antes, então ela se virou novamente para mim e me surpreendeu ao vir na minha direção e dar dois beijos no meu rosto e me abraçar bem rápido para dizer. – Espero que possamos tirar o mal entendido que ficou, Bah!
Eu me desprendi do abraço e sorri de leve pra ela, apenas concordando em um aceno de cabeça.
— A gente se vê, Mariana! Boa noite! – saí corrida pra minha mesa, sob o olhar de todas as pessoas que estavam na mesa dela. Fiquei sem graça com todo mundo olhando pra gente.
O resto da noite seria tranquilo, se eu não percebesse que duas pessoas da outra mesa não paravam de me olhar. Uma era Mariana, apesar de ser discreta, eu percebi algumas vezes seus olhares na nossa direção e a outra pessoa era a mulher do seu lado. Essa não tentava disfarçar que me olhava seriamente. Até meu namorado percebeu meu desconforto, ele estava com um braço no apoio de trás da minha cadeira, e apertou meu braço de leve me chegando perto dele, ele me deu um selinho e sussurrou no meu ouvido:
— Você está bem?
— Estou sim, por quê? – perguntei bebendo meu drink
— Nada, te achei inquieta. Quem era aquela mulher conversando com você? – perguntou tranquilo, apenas querendo saciar a curiosidade.
— Ela é a sobrinha da minha professora e filha do Marcelo, meu chefe! – ele que estava do meu lado, afastou um pouco a cabeça para tentar me olhar de frente, surpreso.
— Ela que é a Mariana? – perguntou e olhou na direção da mesa dela, nesse momento, graças a Deus nenhuma das duas estavam nos olhando.
— Sim, você a conhece? – perguntei tocando sua coxa de leve para chamar sua atenção novamente para mim.
— De ouvir falar, sim. O Marcelo sempre fala dela! – disse dando uma última olhada para a mesa da Mariana e me olhando em seguida
— Eu a conheci na faculdade e no dia da entrevista ela estava lá também. – disse me recordando das vezes que a encontrei
— Ah, tá. O Marcelo é louco por essa filha dele, parece que eles se dão muito bem. Mas acho que a relação dela com a mãe não é muito boa.
— Por quê? – perguntei curiosa
— Não sei muito bem! Nunca me aprofundei muito no assunto com ele, acho que ele tem mágoa da ex-mulher e parece que a Mariana também. Algum desentendimento entre eles! – ele disse e pegou seu copo de cerveja. Fiquei um pouco na dúvida de compartilhar com ele o que tinha acontecido entre mim e ela. Mas achei melhor não comentar, pois com certeza ele tomaria minhas dores e isso poderia criar um desconforto na amizade dele com o Marcelo.
— Você sabe quantos anos ela tem? – perguntei olhando para Mariana e dessa vez ela me olhou também e ficou me encarando antes de dar um sorriso bem discreto, que não passou batido pela mulher que estava do lado dela. Imediatamente ela falou algo no ouvido da Mariana e se levantou, sendo seguida pela filha do Marcelo. Entendi nada, mas tudo bem.
— A idade da Mariana?- o Diogo alheio ao que tinha acontecido perguntou
— É!
— Não, amor. Quando a gente fala dela, a maior parte da conversa o Marcelo está elogiando a filha dele, chega a ser engraçado. Mas ele admira muito a Mariana, fala que ela é muito determinada e tem uma personalidade admirável. Não posso confirmar, eu nunca conversei com ela. Eu até tinha visto umas duas ou três fotos que ele mostrou no celular dele, mas não associei à ela agora.
— Ei, casal! Vamos socializar com os amigos? – Ana chamou nos jogando um pedacinho de guardanapo e rindo
— Desculpa, amiga! Vamos ao banheiro? – chamei e ela concordou
Nos levantamos e caminhamos lado a lado até o banheiro, pude perceber que ao passar pela mesa da Mariana, dois rapazes me olharam curiosos, só então eu percebi que assim como o Diogo estava com o braço apoiado na parte de trás da minha cadeira, um deles estava apoiando o braço atrás do outro, logo percebi que se tratava de um casal. Os dois deviam ter uns 28 anos e eram muito bem cuidados e bonitos.
Demos de cara com a Mariana e a mulher que agora eu podia ver de perto, ela era loira, o cabelo liso com pequenas voltas nas pontas estava um pouco abaixo do ombro, os olhos castanhos eram bem clarinhos, a pele branca e os traços delicados. A Mariana nos olhou e acenou com a cabeça apenas uma vez, a mulher nem se deu ao trabalho de nos cumprimentar, elas saíram do banheiro e a Ana pôde finalmente comentar.
— É impressão minha ou essa mulher quase matou a gente com os olhos? – perguntou divertida e se olhando no espelho.
— Duas loucas! Você nem me deixou terminar de te contar o que eu queria! – respondi ajeitando o cabelo no espelho
— Ah, é! Me conta! – falou me olhando através do espelho
Eu relatei tudo pra ela, desde o fato de a Mariana ser filha do meu chefe, do e-mail abusado dela e do pedido de desculpas feito essa noite.
— Porr*, Bárbara! – Ana falou indignada
— Que foi? – perguntei sem entender nada
— Eu tratando a mulher super bem e ela fez essa sacanagem contigo?
— Esquece isso, Aninha! A Mariana pediu desculpa e eu não tenho a mínima intenção de ter uma amizade com ela, vou deixar totalmente restrito ao trabalho da faculdade e ao que o Marcelo me pedir. Vou ignorar ela, porque sinceramente não acredito nessa mudança repentina de hoje!
— Nem eu! Que louca, cara! Se fosse eu tinha dado uma resposta à altura dela! – disse inconformada
— Não posso fazer isso, o Dio estava me falando que o Marcelo ama essa filha dele, se eu ousar fazer algo contra ela, eu sei que vai sobrar pra mim! Eu nem comecei ainda o trabalho, não quero ter qualquer motivo pra ele ter o que falar de mim. Vou ter cuidado com ela, mas não há muito o que eu possa fazer.
— E ela deve tá se prevalecendo disso, com certeza. Sabe que o pai dela vai segurar as merd*s que ela faz!
— Não sei, amiga.
— É claro que é, Babi! Não seja ingênua, não confia nessa garota, abre bem teu olho! Pra ela passar a perna em você não custa nada. – a Ana falar isso me chamou atenção, eu realmente tava sendo ingênua, precisava manter minha atenção na Mariana ou ela a qualquer momento poderia me queimar com o Marcelo. Que loucura, nem comecei a trabalhar e já estou assim.
— Pode deixar, você está certa, vou ficar de olho nela! – respondi convicta e já indo pra saída do banheiro.
— Só não vou tratar ela mal porque não quero prejudicar você, Babi, senão eu nem falava mais com essa garota direito! – Aninha disse baixo perto do meu ouvido.
— Não vale a pena, amiga! Vamos deixar esse assunto pra lá,ok? – pedi e voltamos pra nossa mesa. Dessa vez nem tive coragem de olhar pra mesa da Mariana, passamos direto e rápido.
Voltamos a conversar, e eu relaxei, já estava no quinto drink e era melhor parar, pois estava começando a me sentir um pouco mais “altinha”. O Diogo tinha parado na terceira cerveja, e estava consciente, senão com certeza eu ia pegar um Uber pra ir embora daqui.
Nesse momento começou a tocar uma música que eu amo do Jorge e Mateus, me empolguei e comecei a cantar sentada me balançando no ritmo da música.
A gente nem ficou
Mesmo assim eu não tiro você da cabeça
O pouco que durou nosso encontro
Me faz duvidar
Que um dia eu te esqueça
Sei que pra nós dois o romance é
Coisa delicada demais
Não dá pra esquecer o que vivemos
Antes um do o outro
Bem melhor a gente deixar rolar
Se entregar
Ver o fogo que apagou
Queimar de novo
E aí quando vem me ver
Tô aqui esperando você
E nem dormi a noite já passou
Não consigo mais me dominar
Você me enfeitiçou
E a gente nem ficou
Eu fechei os olhos e fiquei sorrindo ainda cantando, eu abri meus olhos e vi a Ana, o Júlio e o Diogo me olhando e rindo, achando graça da minha empolgação. Eu ri e voltei a cantar e num impulso olhei para a mesa da Mariana, ela estava me olhando séria, como se estivesse novamente me analisando, os olhos verdes me fitavam diretamente e dessa vez ela não foi discreta, na hora que ela me viu a olhando, essa parte da música repetiu:
A gente nem ficou
Mesmo assim eu não tiro você da cabeça
O pouco que durou nosso encontro
Me faz duvidar
Que um dia eu te esqueça.
Ok, isso foi estranho. Eu fiquei sem graça, mas tentei ao máximo disfarçar, virei o rosto e voltei a cantar e sorrir pras pessoas que estavam na minha mesa.
— Acho que alguém já bebeu o suficiente por hoje! – Júlio disse rindo
— Eu amo essa música, gente! Não estou bêbada! – e eu não estava mesmo, uma coisa é altinha outra coisa é bêbada, gente.
— Que horas são? – Ana perguntou
— São quase 02:00, vamos pedir a conta? – O Dio disse olhando no relógio de pulso e me olhando
— Vamos! Pode pedir! – eu respondi e a Ana e Júlio decidiram ir embora também.
Antes de levantar dei uma última olhada na mesa da Mariana, e ela estava nos olhando de novo, acenou de leve com a cabeça como se estivesse se despedindo, eu repeti seu gesto e o casal de homens novamente olhou na minha direção, junto à mulher que ainda estava ao lado da Mariana. A situação estava me deixando mega desconfortável, a mulher não tirava aquele olhar sério pra mim e o casal de amigos da Mariana me olhava ainda curiosos, mas agora senti um ponta de diversão no olhar deles dois, o que me deixou ainda mais confusa. Passamos pela mesa deles direto e fomos pra saída.
Me despedi da minha amiga com beijos e abraços, depois abri minha bolsa e entreguei a chave do carro pro Dio. Fomos de mãos dadas até o carro e assim que entramos o Diogo tratou me deixar claro que a noite não tinha acabado, já me pegou pela nuca e me deu um beijo intenso e apressado.
Fim do capítulo
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