Me preparando.
No dia seguinte acordei no segundo toque do alarme que programei, “já é um avanço!”, pensei sorrindo. Afinal, estava ainda animada com uma possível ligação pra agendar uma entrevista no jornal da cidade. Levantei num pulo e fui direto pro banheiro tomar um banho, gosto muito do meu banho da manhã, o faço com calma, deixando e sentindo a água escorrer pelo corpo, me preparando pro dia que estaria começando. Terminei de tomar banho e escovei os dentes enrolada na toalha, me olhava no espelho já pensando na roupa que eu iria usar. Saí do banheiro e me virei pro guarda roupa, apesar de estar calor, decidi colocar uma blusa branca social, dobrei as mangas até a altura dos cotovelos e coloquei pra dentro da saia preta que ia até um pouco acima dos joelhos, justa ao corpo, mas sem ser exagerada, salto preto nos pés, completei com umas pulseiras douradas no braço e fiz uma maquiagem leve, realçando os meus olhos, meus olhos azuis, que herdei de meu pai. Sorri ao me recordar desse detalhe. Joguei meus cabelos loiros pra um lado, o vendo bater na altura das minhas costelas. Estava satisfeita!
— Bom dia, dona Luciana! – falei assim que avistei minha mãe na cozinha, fui até ela e dei-lhe um beijo na bochecha, sendo retribuída com carinho.
— Bom dia, filha! Onde vamos assim tão formal e tão linda? – perguntou parando de passar a geleia de morango na torrada que ela preparava em cima do grande balcão que ficava no meio da cozinha.
— Você chegou tarde ontem, né? – falei sabendo da resposta. Ela suspirou cansada e balançou a cabeça em afirmação.
Minha mãe é ginecologista e obstetra, com três celulares, diferentes, sim três celulares, que apitam toda hora com alguma mensagem de grávidas preocupadas, com dúvidas, com sintomas que as vezes não passavam de algo comum, fora as horas que ela dividia em consultório e hospital.
— Sim! Um longo e demorado parto ontem! – falou me explicando
— Eu imaginei, só perguntei porque não tive oportunidade de te contar ontem. – falei indo pegar um copo pra encher com suco de abacaxi com hortelã
— O quê? – falou mordendo um pedaço da torrada e me olhando
— O pai do Diogo tem um amigo que trabalha no jornal da cidade, ele conseguiu uma entrevista de emprego pra mim! – falei sorrindo animada e dando um gole no suco que estava refrescante.
— Nossa, isso é ótimo, filha! – falou minha mãe sorrindo e pousando sua mão na minha em um carinho rápido e acolhedor.
— Também acho! Estou animada! – peguei uma torrada também para comer.
— Apesar de achar que a qualquer momento você pode mudar de ideia e vir pra medicina como eu... – falou devagar e cautelosa. Parei a torrada no meio do caminho até minha boca e olhei pra ela com a testa franzida em sinal de cansaço em relação àquele assunto.
— Mãe, acho que já conversamos mais que o suficiente sobre isso! – a repreendi. Aquele assunto não me agradava e não tinha futuro, e eu tinha meus motivos, dos quais ela sabia muito bem. Na mesma hora ela entendeu e levantou as mãos em sinal de desistência.
— Ok, ok! Me perdoa! Estou feliz por você e pela profissão que escolheu, espero que tudo dê certo nessa entrevista! É hoje, então? – falou sorrindo sinceramente
— Ainda não sei, estou aguardando um telefonema deles! Mas já estou me prevenindo, se não for hoje já ganho umas cantadas pelos corredores da faculdade. – falei divertida, arrancando risadas da minha mãe
— Só você mesmo! Como se fosse preciso realmente estar nessas roupas pra você chamar atenção! – disse levantando da cadeira e levando o copo e prato até a pia
— Obrigada por aumentar meu ego! – respondi debochada e levantando também para repetir seus gestos.
Juntas fomos até nossos respectivos carros e nos despedimos com beijos e abraços.
— Boa sorte, meu amor! Você está linda e é muito capaz disso e muito mais! – minha mãe falou enquanto colocava o corpo pra dentro do carro.
— Obrigada, mãe! Bom trabalho! – joguei um beijo ar
— Te amo!
— Também te amo! – e assim entrei no carro, coloquei meus óculos escuros e rumei à casa da minha amiga.
Assim que cheguei à sua porta dei um toque no seu celular, ela desligou a ligação já imaginando que eu ligara apenas pra anunciar minha chegada. Enquanto a aguardava, conferi meu celular e respondi algumas mensagens rapidamente. Não demorou e ela apareceu abrindo a porta do carona.
— Que bicho que deu na tua cama, mulher? – perguntou me dando dois beijos e se virando pra pegar o cinto e coloca-lo atravessado em seu corpo
— Nenhum, por quê? – perguntei rindo e ligando o carro novamente
— Levantou cedo e... – parou de falar ao olhar pra mim. Me olhou com um olhar analítico e esticou a cabeça em minha direção, a abaixando em seguida tentando olhar meus pés
— O que você tá fazendo? – perguntei olhando pra ela de rabo de olho e tirando uma mão do volante
— Por que você tá toda arrumada, louca? – perguntou passando o dedo nas minhas pulseiras.
Contei toda a história novamente pra ela, que ouvia atenta, alternando seus olhares entre o trânsito e eu.
— Poxa, amiga, tomara que consiga! Se não conseguir o emprego, consegue pelo menos uma saída com o amigo do pai do Diogo! – falou brincando comigo
— Que nojo! Deve ter a idade do meu sogro, safada! – falei rindo e jogando o carro em ponto morto ao me deparar com os carros parando aos poucos, indicando que vinha mais trânsito por aí. Rio de Janeiro e sua mobilidade urbana infernal.
— Quando entrar, já sabe quem indicar, certo?
— Claro que sim! – me virei pra ela e pisquei
— Você está linda, amiga! Amei as pulseiras e o sapato! Quando vai me emprestar? – fez cara de pidona
— Quando você me devolver aquele par de sapatos que está com você há mais de um mês!
— Não está comigo! – disse pegando o celular e fingindo estar distraída pra não ter que me responder mais. Tive que rir! Não me importo de emprestar minhas coisas pra ela, somos amigas, me sinto tão a vontade com ela e ela comigo, que não temos mistérios ou frescuras uma com a outra.
O resto do caminho seguimos conversando, ela debochava de mim toda vez que eu deixava o carro sair um pouco mais “engasgado” quando soltava a embreagem de forma errada, o salto estava me atrapalhando e muito, até hoje não me acostumei a dirigir de salto, não adianta. Avisei que final de semana estava mais do que de pé e tive que ouvir suas desafinadas enquanto tentava acompanhar algum sertanejo no rádio que ela havia mudado pra estação que mais lhe agradava.
— Graças a Deus chegamos! Mais uma música daquela cantada por você e eu não continuava dirigindo! – falei apertando o botão de travar o carro. Ela riu e se pôs do meu lado, caminhando até a sala.
A minha manhã estava ótima, aulas maravilhosas, com professores que sabiam levar um bom debate pra turma, sempre antenados e atualizados. Quando foi umas 10:18 recebi uma ligação de um número desconhecido. Estava conversando com um grupo de colegas e com Ana, esperando o próximo professor entrar, avisei que ia atender a ligação e saí da sala.
— Alô? – falei na expectativa de ser alguém do jornal.
— Oi. Nesse número eu falo com a Bárbara Cortez? – uma voz feminina perguntou
— Cortêz! - repeti delicadamente dando ênfase na sílaba final e corrigindo a pronúncia.
— Sim, desculpe. É você? – perguntou gentilmente
— Eu mesmo, em que posso ajudar? – perguntei sendo simpática também
— Bárbara, o Sr. Borges me pediu para entrar em contato com você para marcamos uma entrevista aqui no Jornal do Rio de Janeiro, gostaria de saber sua disponibilidade pra hoje ainda, se possível.
— Claro que sim! Que horas posso comparecer? – perguntei animada
— Você consegue estar aqui às 14:00? – perguntou antes de fazer uma breve pausa, parecia estar conferindo alguma agenda.
— Posso sim! Procuro por quem?
— Pode ser por mim, aqui eu a oriento com mais calma. Me chamo Carolina, estamos no 6º andar do prédio. Você vai fazer uma pré-identificação lá embaixo e vão me avisar que você está aqui. Alguma dúvida?
— Tudo certo. Somente o endereço, por favor!
— Ah, sim, claro! – ela riu levemente e me passou o endereço.
— Combinado! Obrigada, Carolina! – falei soando gentil
— Nada, Bárbara. Até daqui a pouco! – e desligou
Voltei pra sala super animada e ansiosa, estava um pouco nervosa, já que era uma vaga muito boa e ainda mais sendo indicação do meu sogro, mas acima disso sei do meu potencial e sei que posso lidar com as situações que me esperam e as que me pegarem de surpresa, eu dou um jeito e improviso. Pelo menos eu pensava que seria assim...
Fim do capítulo
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