Despedida por Lily Porto
Capítulo 9 - Bárbara
– Você não vai fazer com a minha filha o que fez comigo. Eu não vou deixar – estava tentando não perder a paciência com Carla.
– Quem é você pra dizer o que eu posso ou não fazer com meus filhos. Aqui você não manda em nada, e outra não sei nem o que você está fazendo aqui – ela me olhava com uma raiva extrema.
– Carla estou tentando ter uma conversa amigável com você.
– Desde quando invadir a casa dos outros cheia de direitos é conversa amigável Bárbara? E chega dessa conversa que eu já estou cansada, a Anna não vai e pronto. Agora se me dê licença tenho coisas mais importantes do que ficar perdendo o meu tempo com as crises emocionais da Anna. Ah e se você não tem mais a companhia dos seus filhos diariamente é porquê preferiu o divórcio, logo não pense que vai afastar meus filhos de mim, porque isso não vai acontecer – levantou e se dirigiu a porta.
– Mãe... – Anna correu e me abraçou.
– Quase caio ao ver o estado em que minha filha se encontrava. – Filha!! – não consegui dizer mais nada, a abracei forte e em seguida fui atrás da Carla. – Sua louca, a minha filha não fica mais nem um minuto dentro dessa casa, ela vai embora comigo e agora.
– Anna correu ao meu encontro e me segurou – Não faz isso mãe, deixa ela.
– Olha o que ela fez com você Anna! – segurei seu rosto, limpei suas lágrimas e depositei um beijo em sua testa. – Não se preocupa meu anjo, você vai sair daqui hoje, tá bem.
A Carla me olhava com muita raiva, se olhar matasse eu com certeza estaria morta agora. Nem liguei, acompanhei Anna até seu quarto para arrumar as coisas dela.
Estava no telefone conversando com o Alê, quando não satisfeita com a partida da Anna e com a surra que havia dado mais cedo nela, Carla entrou no quarto enfurecida e desferiu uma bofetada no rosto da minha filha, isso só pode ser loucura. Encerrei a ligação e fiquei na frente da Anna, e segurei o braço daquela doida que tentou bater nela novamente.
– Se você ousar encostar a mão nela novamente tenha absoluta certeza que esse será seu último dia vendo a luz do sol. – Carla olhou pra mim com um certo medo e soltou o braço da minha mão.
– Não se intrometa na educação que dou aos meus filhos, ela apanhou porque mereceu.
– Porque ela mereceu? Apenas por ter lhe dito que você era tão irritante a ponto de me fazer pedir a separação, e que a culpa de eu ter saído de casa era sua e não minha como você vive dizendo ao Lourenço? Me poupe das suas esquisitices Carla, encosta a mão em um dos meus filhos novamente pra ver o que te acontece.
– Ela está assim por sua culpa. Ela não me respeita mais e isso está acontecendo pela ousadia que você deu a ela.
- Você nunca se deu o respeito Carla, sempre tratou a Anna como bem quis, não venha cobrar a ela o que você nunca deu. E tudo isso só porque ela sempre soube a cobra que você é, e como gosta de enganar as pessoas a seu favor. Eu tenho fé em Deus que um dia meu filho vai enxergar a pessoa fria que você é também.
Anna terminou de arrumar as coisas dela e saímos do quarto, quando cruzei a porta encontrei o Lourenço encostado na parede do quarto, parecia estar chorando. Ao me ver ele levou uma das mãos ao rosto, e coçou o queixo, com a outra acenou para mim e saiu andando.
Ele devia estar triste pela partida da Anna. Me doía muito aquele tratamento por parte do meu filho, era uma dor quase desesperadora. A Carla conseguiu abalar muito a nossa relação, mas eu tenho esperanças de que um dia ainda voltaremos a ter a mesma união de antes.
Após sair daquela casa, onde por alguns anos fui feliz, consegui finalmente olhar as marcas que a Anna tinha nos braços, pernas e agora no rosto. A surra que a filha da puta da Carla deu nela, olhando aquelas marcas passou a doer em mim, a surra foi o motivo da chamada de vídeo ter sido encerrada do nada. A Carla tinha entrado no quarto pra mais uma sessão de gritos e ameaças de que não a deixaria ir para o Brasil em maio e a pegou no telefone comigo. Isso bastou para ela bater na minha filha. A minha vontade agora é de enche-la de bofetadas, mas isso não é da minha natureza, tenho pavor a violência e nunca levantei a mão para os meus filhos, e não levantaria a mão para a Carla, por mais que ela estivesse merecendo nesse momento.
Eu precisava ter uma conversa definitiva com a Carla, tenho algumas coisas para acertar com ela. Mas esse ainda não é o momento, tenha que dar amor, carinho e atenção a minha filha. Deus sabe o que aquela louca tinha dito a ela nesses dias em que eu estava no Brasil.
Ainda não tinha me desfeito da minha casa em Portugal, estava decidindo se deixaria ela alugada ou venderia. Por hora foi bom não ter feito nenhuma das duas coisas até então, fui para lá ao invés de ir para um hotel. Não aguento mais ficar em hotel.
Anna dormiu em meus braços, como eu amava meus filhos, que saudade eu estava sentindo da minha pequena, nossa. Queria tanto que o Lourenço estivesse aqui também.
Eu sei que até parece que a Anna é a minha filha preferida, vivo falando nela. Mas é que o Lourenço pouco fala comigo agora, e confesso pra vocês que fiquei surpresa com a atitude dele hoje mais cedo. Geralmente ele só me olha, hoje já acenou, pra mim foi um avanço e tanto.
Falando nele acabamos de nos falar por telefone, ele ligou pra saber como a Anna está e disse que vem vê-la amanhã, e que é para eu conversar o mais rápido possível com a Carla. Que vai sentir muita saudade, mas que é para eu levar a Anna comigo sim. E que ele mesmo estava até pensando em passar uns meses no Brasil se eu permitisse. Mas é claro que eu permito.
Será que foi um sonho? Meu Deus, desliguei o telefone flutuando com as últimas palavras dele, meu filho pensa em passar ao menos um tempo comigo.
Precisei passar mais dias em Portugal do que havia planejado. O processo de transferência da Anna demorou um pouco mais para ficar pronto, os vinte dias que passei em Portugal foi com dedicação exclusiva para os meus filhos, o Lourenço ia todos os dias ver a irmã e claro que eu aproveitava pra passar um tempo na companhia dos meus bebês, eles não curtiam muito serem chamados assim, mas eles sabem também que a mãe deles é uma babona quando o assunto é eles.
Quanto as coisas que tinha para resolver no Brasil meu irmão e minha cunhada me ajudaram nelas. Meu irmão me representou na reunião da empresa e em alguns outros compromissos profissionais e minha cunhada tomou conta da mini reforma da minha casa. Os moveis, eu e meus filhos compramos pela internet, fiquei muito feliz pelo Lourenço ter nos ajudado a escolher os moveis, montamos até o quarto dele. Etapa moveis cumprida agora era só terminar de decorar quando chegássemos lá.
Um dia antes de voltar para o Brasil resolvi ter a conversa que tanto adiei com a Carla. Ela estava possessa, ainda encheu o saco para não deixar a Anna morar comigo no Brasil. Falou que eu queria roubar os filhos dela, que agora até o Lourenço estava pensando em passar um tempo comigo, que eu os estava comprando, que não os amava e bla bla bla.
Em dado momento ela se achou no direito de jogar na minha cara que eu nunca ia ficar com ninguém, que não tinha ficado com ela e que nunca ficaria com a tal mulher que eu não tinha me declarado no Brasil, e que ela tinha certeza que era o amor da minha vida, já que eu nunca tinha dito pra ela de quem se tratava.
– Carla eu não fiquei contigo porque agora sei muito bem quem você é, e agradeço a Deus por meu filho estar começando a enxergar a megera que você é também. E quanto a com quem eu venha a ficar não é da sua conta – levantei e fui saindo, mas lembrei de algo. – Ah, meu advogado logo entrará em contato com você para diminuir o valor da sua pensão e dizer quanto tempo você ainda tem para desocupar a casa.
– Você não se atreveria a diminuir a minha pensão e nem a vender a minha casa. – falava quase voando no meu pescoço.
– Sua casa? – comecei a rir. – Me poupe Carla, você sabe muito bem que essa casa é minha e só para te lembrar, ela está no nome dos nossos filhos e para você saber, foram eles que decidiram que estava na hora de nos desfazermos do imóvel.
– Eu duvido que o Lourenço tenha aceitado essa ideia maluca. Isso deve ter sido coisa da Anna. Você mimou demais aquela menina Bárbara.
– Ela não mimou ninguém mãe, apenas nos deu o que você não costumava dar. Carinho, atenção, cuidado e muito amor.
Lourenço entrou na sala acompanhado da Anna, que concordou com tudo o que ele disse. Ela abraçou e beijou a Carla e disse que não guardaria magoa nenhuma dela, mas que agora estava indo morar comigo. Mas que sempre viria vê-la, que sempre a amou como mãe e que seria pra sempre assim. Aquela pedra da Carla até que foi gentil, disse umas palavras agradáveis a Anna e a soltou.
Me despedi do meu filho com o coração alegre, pouco a pouco ele estava acabando com aquele clima tenso que existia entre nós. Agora é esperar o final do ano pra ele ir passar um tempo comigo.
Voltei para o Brasil de alma e coração leve, Anna ao meu lado, meu filho voltando a ficar bem comigo, aquela louca da minha ex deixando de ser a minha sangue suga. Chega de sustentar os luxos da Carla. Se ela quiser que vá trabalhar, cansei disso. Enfim estou conseguindo me libertar. Para ficar tudo bem só falta eu contar pra Cleo que tudo o que descrevi no e-mail foi pouco perto de todo o sentimento que guardo por ela nesses seis anos.
Passamos o sábado arrumando a casa, combinamos de sair no domingo, estávamos cansadas demais depois de toda arrumação e ficamos assistindo filme em casa mesmo.
O domingo amanheceu ensolarado. A Anna nem me deixou dormir direito, sai de casa praticamente arrastada por ela, estava meio sonolenta ainda e ela numa agitação imensa. Chegamos na praia e ficamos conversando, ela queria tomar sol.
Só que eu e a Anna temos a mesma tonalidade de pele, somos o que chamam de morena cor de jambo por aqui, que fica vermelha muito fácil quando expostas ao sol e depois de tomar sol ainda fica com aquele bronzeado de “índia potira”.
Não gente longe de mim ser preconceituosa, ainda mais quanto a cor da pele, eu admiro as mulheres negras, sabe?! Não tenho nada contra as mulheres brancas, passei cinco anos casada com uma até, mas que as mulheres negras têm todo um gingado e um charme incomparável, isso elas têm viu!
Conversa vai, conversa vem e encontrei um garoto com seus onze ou doze anos saindo do mar e achei o rostinho dele bem familiar, acompanhei a movimentação dele para ver pra onde ele ia, qual não foi a minha surpresa ao ver que o garotinho era o Juninho da Cleo.
Ela estava linda, nunca a tinha visto de biquíni, sempre imaginei que o corpo dela era perfeito por baixo de todas aquelas roupas sociais. Dava pra reparar melhor quando ela resolvia ir trabalhar de vestido ou até mesmo com calças mais justas, de qualquer forma fiquei lerda babando o corpo dela, ou digo, admirando ela.
Ah e quanto ao Juninho como ele estava grande! Acho que ela estava reclamando com ele, gesticulava e olhava na direção do mar e depois voltava a falar. A Cleo é mesmo uma mãezona, super protetora demais ela é, depois falava de mim.
Fiquei observando o cuidado que ela tinha com ele até a Anna voltar com uma garrafa de água e me oferecer, em seguida lembrei que ela precisava passar protetor, ou então logo estaria com o bronzeado de “índia potira”. Passei o protetor na Aninha e quando virei a Cleo não estava mais lá, procurei ela com os olhos por todos os lados e não encontrei, poxa ela deve ter ido embora. Nem tive tempo de falar com ela, merd*.
A Anna me convenceu a entrar no mar, estávamos conversando distraidamente quando alguém se bateu na Anna e eu segurei rapidamente sua mão pra que ela não caísse, já estava pronta pra mandar a pessoa ter mais cuidado, quando olhei para a frente e vi o amor da minha vida com o irmão de “cavalinho”, ele nos explicou rapidamente o motivo que os levou a se esbarrarem em nós, e eu o que fiz? Fiquei babando ela, que corpo lindo, nossa mãe do céu, senti um calor, sabe, será que estava excitada só em vê-la de biquíni, nossa! A Cleo sempre mexeu muito com o meu corpo e facilmente, e claro que ela nunca soube disso.
Ela parecia muito séria. O Juninho continua uma graça. Tentei puxar assunto falando do quanto ele tinha crescido e ela foi meio áspera na resposta, mas não liguei, só em estar perto dela sem todo aquele protocolo da empresa já era muito bom, ia apresentar a Aninha a ela quando o Juninho a chamou pra ir embora, ele ainda a chama de mãe, que fofo. Ele tá a cara dela, se parecem muito os dois.
Ela já estava saindo quando consegui falar sobre a reunião, queria muito um momento a sós com ela, mas a frieza da resposta foi tão grande que perdi a graça. Por mim ia embora na mesma hora. Mas minha filha não tinha nada a ver com as merd*s que eu cometi no passado e prometi a ela que no domingo faríamos o que ela quisesse, já que na segunda começariam as aulas dela.
O domingo além de praia, me rendeu cinema, passeio no shopping e pizzaria. Também quando chegamos em casa a minha pequena foi só banho e cama, alguns minutos depois já estava dormindo.
Quanto a mim estou aqui mais uma vez sem sono pensando na sra. Clarice Munhoz, ligar ou não para a Beth e remarcar a tal reunião? Contar o que sinto ou não? Quanta indecisão, eu preciso resolver esse ponto da minha vida, não dá pra adiar o tempo todo, eu preciso ter coragem.
Levantei cedo na segunda, fiz questão de levar a Anna na faculdade, ela ia passar o dia por lá, precisava ajustar a grade de aulas.
Passei a manhã resolvendo algumas coisas na rua, combinamos de jantar na casa do meu irmão. Final de tarde e graças a Deus a Beth me atendeu, achei que ela já tivesse ido embora, educadamente pedi o número da Cleo a ela, com a desculpa de que precisava falar com ela sobre a assinatura de um documento muito importante.
Ela me passou o número, agradeci e desliguei. Como estava na porta da faculdade da Anna resolvi não ligar naquele momento, sem falar que do jeito que era dedicada ao trabalho, a Cleo ainda estava na empresa naquele horário.
O jantar foi maravilhoso, ainda fizemos uma vídeo chamada com o Lourenço, a família estava reunida. Foi tudo maravilhoso, sai de lá com a barriga doendo de tanto rir, meu irmão é um palhaço. Chegamos em casa um pouco antes das dez. A Anna foi dormir e eu fui enfrentar o meu medo. Peguei o celular e disquei o número da sra. Munhoz. Depois do sexto toque ela atendeu.
- Oi Cleo! Tudo bem? - o celular estava quase caindo da minha mão de tanto que estava tremendo. – Então, te liguei pra saber se você aceita jantar comigo essa semana? Que dia? Ah, o dia que for melhor pra vc. Na quinta! Pronto, pra mim quinta é excelente, tudo bem. Entendi, realmente babá dá um certo trabalho pra encontrar de uma hora pra outra, mas não tem problema, quinta é um dia ótimo. Cleo eu vou levar alguém comigo, é que ela é nova aqui, não conhece muita gente ainda e eu estou mostrando alguns lugares pra ela, daí se você quiser levar o Juninho também não tem problema, tá. Certo Cleo, boa noite. Até lá. Beijos.
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
Mille
Em: 02/03/2017
Oi Lili
Menina tu está enrolando essas duas, poxa não deixa a outra falar e a Clarisse sendo precipitada em deixar a Barbara esclarecer as coisas.
Eaoero que este jantar ela possa deixar ela falar que a Aninha é filha dela.
Bjus e até o próximo
Resposta do autor:
Oi Mille, não tow enrolando não, elas q não conseguem parar uma pra escutar a outra rsrsrs. Mas logo saberemos como ficarão as coisas entre elas.
Bjs linda.
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