Despedida por Lily Porto
Confusão a vista.
Capítulo 8 - Clarice
Ela deixou os documentos sobre a mesa e foi atender a chamada. Achei que depois de tanto tempo iríamos conseguir pontuar tudo o que havia ficado no ar com aquela troca entrecortada de e-mails, a gente precisava ter aquela conversa a anos, achei que fosse o nosso momento. Mas ela tinha "uma novinha" pra dar atenção.
A chamada foi curta, mas quando voltou ela estava visivelmente transtornada. Nitidamente não havia mais clima para continuarmos o nosso assunto.
Decidi dar fim aquela conversa e me despedi rapidamente antes que falasse algo que pudesse "entregar" a minha decepção.
Quanto aos documentos, eu os enviaria para o endereço de Bárbara, que constava no sistema da empresa e assim o assunto estaria encerrado. Precisava me acostumar com o fato de que ela agora era a sra. Bárbara Pacheco e não a minha Bah, de tantas e tantas madrugadas sabe?
Eu não podia mergulhar naquela paranoia de novo. Estava acabando de sair de um relacionamento conturbado e minha mente fantasiando um possível novo relacionamento que já havia começado todo errado. Primeiro porque indiretamente ela era minha chefe agora e depois porque eu estava longe de querer ser mais uma da lista dela.
Ufa... mas cá entre nós, eu não podia reclamar da vida não. Meu filho só me dava orgulho, as coisas no trabalho andavam bem e eu nunca estive tão bem comigo mesma sabe?
Estava feliz com o meu corpo, meu espírito, gostava do que via quando me olhava no espelho, no auge dos meus 40 anos. Não tenho lá um corpo perfeito, mas me cuido, vou e volto do trabalho de bike e sempre que posso jogo bola com o Juninho, ele é louco por basquete e futebol.
Andressa abalou muito a minha autoestima no final da relação. Eu ganhei peso, passei a ter vergonha do meu corpo e a me esconder atrás das piores roupas que vocês podem imaginar.
Depois de uns meses da separação, associei o golpe, me reergui e voltei a cuidar de mim. Eu limpei meu guarda roupa, melhorei minha alimentação e renovei o plano na academia. A cada dia fazia uma atividade diferente, odeio repetição quanto o assunto é manter a forma.
Pouco mais de 20 dias e nunca mais tive notícias de Bárbara, o endereço dela que constava no sistema da empresa era de um hotel, onde ela não estava mais hospedada. O irmão a representou na última reunião de fechamento do novo projeto. Acho que talvez até tenha voltado pra Europa.
Enfim... esse deve ser o final de uma história que nem começou ou só recomeçou na minha cabeça. E acho que foi melhor assim.
Tudo relacionado a Bárbara Pacheco sempre foi muito intenso pra mim e acho que estou mais afim de calmaria nessa minha nova fase.
Falando em calmaria, sempre que eu podia dava uma passada na praia. Sei lá, pra pedalar na orla, tomar uma água de coco, ou ficar de olho no Ju que achava que tinha nascido peixe. Oh menino que gostava de ir para o fundo no mar.
Agora mesmo estou aqui dando mais sermão nele, dizendo que se ele for para o fundo novamente não voltaremos na praia nesse verão. Nunca bati nele, sou totalmente contra violência, mas a gente conversa muito e quando ele passa dos limites, coisa que acontece muito raramente, é punido sendo privado das coisas que gosta.
Enquanto ele voltava para o mar eu abria mais uma cerveja. Nossa, o dia estava perfeito. Sol, mar, cerveja gelada, uns petiscos, a Bárbara passando protetor nas costas de uma moça linda, opa! É isso mesmo?
Um tempão sem vê-la, uma praia gigante dessas e ela está ao meu lado (a uns 50 metros a direita), com a namoradinha. Certeza que era a tal Aninha, pelo menos ainda era a mesma do início do mês.
A vontade foi chamar o Jú lá na água e ir embora. Não estava muito afim de ver a Bah esfregando a felicidade dela na minha cara com aquela menina. Mas a minha curiosidade em relação as duas foi maior.
Sabe quantas vezes imaginei ela me tocando com carinho, exatamente como fazia nas costas daquela moça, naquele exato momento? Já tínhamos trocado alguns abraços afetuosos e tal, mas tudo antes daquele e-mail onde ela se declarava pra mim. Agora todo gesto dela tinha ganhado novo sentido pra mim. Se ao menos eu tivesse tido a chance.
Eu sabia o quanto a Bárbara era super protetora, foi assim com os pais antes de partirem, era assim com os sobrinhos e foi até comigo nos momentos de crise. Ela sempre demonstrava preocupação com o meu sono, minha alimentação, meu bem-estar. Linda demais, ela!
Entretanto, com aquela moça era tudo muito diferente. A Bárbara não tirava os olhos dela e elas pareciam tão felizes juntas. Tinham uma sintonia única. Caramba. Deixei cair uma lágrima confesso, e também senti vergonha do meu preconceito num primeiro momento devido a nítida diferença de idade das duas.
Mas no fundo eu estava feliz por Bárbara estar vivendo um amor verdadeiro, mesmo sem eu ter tido a minha chance. Ela parecia plena, realizada. Aquela tensão do nosso último encontro havia se dissipado totalmente.
Besteira minha também, jamais daria certo. A tal moça é nova, é linda, nem parece brasileira, e a Bárbara só tem olhos pra ela.
Decidi então acompanhar o Juninho no banho dele de mar. Era tortura demais ver aquelas cenas, mesmo elas não tendo trocado beijos ou carinhos mais íntimos.
O Ju adorava quando eu entrava com ele no mar. Porque quando entrava com ele íamos mais pra o fundo onde as ondas quebravam forte!
Ah... como eu precisava daquele banho de mar. Juntar as minhas lágrimas com a água salgada. Sei lá porque elas caiam, mas preferi não sufocá-las em meu peito.
Eu havia sonhado tanto com o meu reencontro com a minha Bah. Ensaiei tantos possíveis diálogos. Em pensar que da última vez que nos vimos, eu quase me declarei. Nossa que vergonha. Ela e a namorada devem estar rindo de mim agora.
– Jú, fica mais aqui perto ou não vejo você! – gritei pro meu pequeno.
– Tá mãe, só vou ficar aqui porque logo vem onda forte e você vai tomar um caldo e eu te ajudo a não se afogar - ele se aproximou e mostrou o bíceps pra mim.
– Tudo bem, meu salva-vidas. Mais algumas ondas e vamos pra casa porque alguém ainda tem lição de casa. Ok? - disse apertando sua bochecha.
– Tá, mãe! Agora puuula! – ele gritou apontando pra onda que surgia.
Muitas ondas depois, sai da água com o Ju "de cavalinho", quase tropeçando nas minhas próprias pernas. O traquina ainda tapou meus olhos com uma das suas mãos e me fez esbarrar em duas moças que entravam juntas no mar.
Lógico que desgraça pouca é bobagem! Sim! Eram Aninha e Bárbara as vítimas da arte do Juninho.
– Moças, desculpa a gente. Minha mãe tomou muito caldo no mar e está com as pernas bambas – o Ju falou me deixando ainda mais constrangida.
– Ele tá enorme e lindo – Bárbara me disse sorrindo.
– Não foi só pra nós que o tempo passou não é mesmo – respondi olhando para as mãos unidas das duas.
– Vamo mãe, tô morrendo de fome – disse Juninho quebrando o climão.
Eu me desculpei e me despedi rapidamente. Enquanto me afastava consegui ouvir Bárbara dizer:
– A nossa reunião? Quando você pode?
– Marque com a minha secretaria, a Beth, tudo bem? – respondi educada mais mantendo a distância devida.
– Tá sim – respondeu sem muita animação.
Fui pra casa alimentar o meu monstrinho de 12 anos e ficar brigando com a minha mente que teimava em não parar de lembrar de cada gesto daquela mulher que ainda mexia muito comigo.
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
lis
Em: 27/02/2017
Boa noite Lily, tudo bem?? Essa história ta mais para desencontro do que despedida rs, brincadeira, to amando sua história, ela é bem interessante prende a nossa atenção, parabéns.
Resposta do autor:
Olá Lis, tudo tranquilo. E vc como vai?
Menina a coisa tá meio puxada pra essas duas viu, tá rolando um desencontro mesmo rs'. Mas logo as coisas se acertam. Fico muito feliz que esteja gostando do enredo. Obrigada.
Bjs.
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