Capítulo 19
O Jardim dos Anjos -- Capítulo 19
Quando Alisson e Lorraine chegaram na rua, o carro de Patrícia já ia longe. Alisson andava em círculo ao redor de Lorraine, tensa, pensando em que fazer.
-- Para de andar feito um peru -- Lorraine disse tentando reprimir o riso. Fazia tempo que ela não ficava tão impressionada com uma mulher. Tudo na pediatra era belo e delicado. Até mesmo sua agitação era adorável -- Você mesma disse pra mim deixá-las em paz. Agora está aí, toda nervosinha.
A pediatra permaneceu calada. Uma onda de apreensão a arrebatou.
-- Vou atrás delas -- virou-se para sair correndo, mas foi impedida por Lorraine.
-- Não, mesmo! -- segurou firme no braço de Alisson -- Você não vai me deixar aqui no meio da rua como fez das outras vezes.
O momento era crítico. Pressentia morte e sofrimento. Estava sendo imprudente deixando passar algo perigoso sem detectar o que era. Raciocinou tentando reunir as peças daquele quebra-cabeça macabro.
-- Tenho que averiguar o que está acontecendo -- Alisson segurou firme no pulso de Lorraine e saiu puxou-a pela rua em direção ao seu carro -- Se quiser me acompanhar, vai ter que correr.
-- Sua louca! Eu estou de salto... Alissonnn...
-- Como pode deixar que isto acontecesse Patrícia? -- Andras perguntava-se, mas sabia a resposta: Silvana. Ela consumiu seus pensamentos. Seus desejos. Seus objetivos. Não tinha sido forte o suficiente para resistir aos encantos da bela dona, estava cega de todo o resto.
A longa rua parecia vazia. Patrícia ouvia gritos à distância. Quanto mais se afastavam das luzes da cidade e se introduziam na escuridão do subúrbio, o som da risada demoníaca parecia mais próxima. Silvana sorria feliz, não percebia nada.
Patrícia tremia. Seus olhos arregalados estavam fixos na estrada. A Morte se encontrava naquelas ruas escuras. Mas esta noite, estava aqui para tomar uma alma em especial. A sua.
-- O que está acontecendo, Patrícia? Porque está tão nervosa? -- Silvana alheia a tudo, tentava compreender o semblante aterrorizado da namorada.
-- Não se preocupe, meu amor. Estou bem.
Patrícia debochou de sua própria ingenuidade. Nunca estariam seguras em lugar nenhum. Esse amor seria sua ruína, e pior, Silvana sucumbiria com ela.
O carro de Alisson deslizava sobre o asfalto em velocidade alucinante. A vegetação à margem parecia um borrão.
Lorraine estava encolhida no banco, suas mãos na altura do peito.
-- Está querendo nos matar? -- sua voz saiu trêmula.
-- Preciso alcançá-las -- por um triz que o carro de Alisson não se chocou com uma moto que trafegava em sentido contrário. Com um movimento rápido do volante e sem perder a velocidade, ela arremeteu o carro para o lado.
-- JESUUUUUUSSS... -- Lorraine berrou.
Alisson sorriu.
-- Queria poder voar -- falou sem deixar de olhar a estrada.
-- Quanta pretensão -- Lorraine deu um tapa na cabeça dela -- Para o carro que eu quero descer. Sua louca!
-- Pode descer, mas eu não vou parar o carro.
-- Eu não acredito que ouvi isso -- Lorraine olhou para ela, incrédula.
Tempos depois, a velocidade era tanta que ao passar em uma lombada, o carro voou literalmente.
-- Eu quero descer -- Lorraine agarrou-se ao pescoço da pediatra e começou a sacudi-la -- Para o carro, para o carro...
-- Me solta! Nós vamos bater... -- Alisson pediu, quase sem ar -- Nós já estamos chegando.
Lorraine largou o pescoço dela e olhou para a estrada.
-- Chegando aonde?
-- No carro delas...
Alisson estreitou os olhos contra as fortes luzes de um caminhão que vinha na contramão, emparelhou com o carro de Patrícia e o jogou para fora da pista.
Patrícia perdeu a direção, invadiu o canteiro e bateu contra um barranco na bifurcação de acesso ao aeroporto.
Alisson saiu do carro, deixando Lorraine encolhida no banco, em estado de choque.
Assim que aproximou-se do carro de Patrícia, ouviu palmas.
-- Parabéns, doutora. Foi uma cena cinematográfica -- Andras estava sentada no capô do carro de Patrícia -- Você sabia que em 2015 ocorreram 10.726 acidentes com caminhoneiros, causados principalmente por cansaço e consumo de substâncias proibidas? -- deu uma gargalhada estridente -- Depois dizem que eu, a maldita divindade poderosa, sou a culpada pelas tragédias que acontecem.
Alisson não deu ouvidos a Andras. Abriu a porta do carro e puxou Patrícia para fora.
-- Patrícia, acorda! -- Alisson a sacudia e dava pequenos tapas em seu rosto, chamando-a pelo nome -- Acorda, Patrícia.
Ela abriu os olhos.
-- O que aconteceu? -- olhou para Alisson sem saber o que estava acontece -- Onde está Silvana?
-- Olá Patrícia!
Ao ouvir a voz de Andras, Patrícia assustou-se e se pôs de pé rapidamente.
-- O que você fez, seu demônio?
-- Eu não fiz nada, quem fez foi esse anjinho de presépio aí -- os duros olhos negros de Andras viraram duas brasas.
-- Quem é você? Porque tentou nos matar? -- Patrícia afastou-se de Alisson, receosa.
-- Meu nome é Alisson Burnier. Desculpe-me pela abordagem violenta, mas foi necessário. Vocês estavam prestes a bater de frente com uma carreta carregada de farelo de soja -- Alisson olhou para Andras -- O motorista dormiu ao volante.
Patrícia olhou para ela, perguntando novamente o seu nome.
-- Você é a Alisson?
-- Sim, sou -- a pediatra respondeu confusa -- Porque?
Patrícia agarrou-se à roupa dela e implorou:
-- Ajude-nos Alisson, por favor! Sua alma foi marcada desde seu nascimento como um espírito tão puro e fiel a Deus, que nem sequer a morte pode aproximar-se. Proteja-nos de Andras. Eu te peço!
-- Que patético! Para quê humilhar-se, Patrícia? -- Andras pulou do capô -- Sua alma está manchada pelo pecado. Você está condenada à morte eterna, ao inferno -- Andras fez uma pausa, então continuou em tom duro -- Até outro dia você era a minha pupila, hoje quer pular do inferno para o céu? -- gargalhou -- Só por causa do seu amor por essa pobre coitada?
Patrícia estremeceu ao encontrar o brilho avermelhado dos olhos malignos e desumanos de Andras. Estava à beira das lágrimas e precisou fazer um grande esforço para controlar-se.
-- Não dê ouvidos à Andras, Patrícia. "Porque outrora vocês eram trevas, mas agora são luz no Senhor. Efésios 5:8-10." Arrependam-se, e cada um de vocês seja batizado em nome de Jesus Cristo, para perdão dos seus pecados, e receberão o dom do Espírito Santo. Atos 2:38. Portanto, não tenha medo, Patrícia. Deus é compassivo e misericordioso, rico em paciência, amor leal e justiça. Basta arrepender-se sinceramente.
-- Conhecer a palavra de Deus ou até mesmo a Deus não dá a garantia da salvação a ninguém. Eu conheço a Deus melhor que qualquer homem existente na terra...
-- ALISSON!!! -- a voz irritada de Lorraine soou pela noite e chegou aos ouvidos de Alisson -- Onde você se meteu?
-- Estou aqui! -- Alisson respondeu em voz alta e depois virou-se para Patrícia -- Precisamos levar a Silvana para o hospital. Ela aparentemente está bem, mas precisamos fazer uma bateria de exames para descartar qualquer problema mais grave.
Patrícia olhou ao redor, parecia estar anestesiada, perdida.
-- A Andras sumiu -- murmurou.
-- Ela não quer ser vista por Lorraine -- disse tocando de leve no ombro de Patrícia.
-- Ora, ora. Aí está você... -- Lorraine aproximou-se, lógico, estava uma fera -- Sua retardada! -- deu um safanão na loira.
-- Aiii... Lorraine! Poxa! Doeu...
Ela apenas deu de ombros e ficou olhando-a com ar acusador.
-- Alisson... pode me ajudar? -- Patrícia pediu.
-- Claro! -- Alisson deu alguns passos, parou, e se virou -- Chama uma ambulância. Precisamos levar a Silvana para o hospital.
Felipe tomou um gole do seu drinque e balançou a cabeça impacientemente.
-- Lorraine podia pelo menos ter avisado que não viria.
-- Deve ter acontecido alguma coisa. Ela não atende o celular -- Nádia levantou o olhar da tela do aparelho para olhar Felipe.
-- Me arrepio só de pensar que Lorraine e Silvana possam ter brigado novamente. Tratando-se daquelas duas, sempre penso no pior.
-- Calma, não vamos nos... -- Nádia foi interrompida pelo toque de seu celular. Antes de atender, olhou no visor -- É ela... Lorraine, onde você está? Esqueceu que tínhamos um encontro?
Lorraine desligou o celular e olhou para Alisson. Piscou lentamente. Desviou o olhar para uma tatuagem que começava no pescoço e desaparecia por debaixo de sua camiseta Tommy Hilfiger.
Ficou se perguntou como seria o resto da tatuagem? Sentiu vontade de arrancar aquela roupa e deixar exposto aquele físico de atleta olímpico, passar a língua por aquele rosto de anjo guardião, que a deixava sem fôlego e de pernas bambas.
Alisson olhou fixamente para ela. Mas não era apenas um olhar. Era desejo, era intensidade, era encanto. Se a pediatra podia deixá-la naquele estado com apenas com um olhar, imagina...
-- Conversou com a Nádia?
-- Hum?
Alisson ergueu as sobrancelhas para a expressão sonhadora de Lorraine.
-- Para de sonhar comigo. Estou aqui ao vivo e a cores, alta definição, widescreen, aceito todos os tipos de conexões, comandos de voz e reconhecimento de gestos. E por incrível que pareça... disponível -- disse lançando-lhe um olhar malicioso e brincalhão.
-- Estava aqui pensando na Andras. Será que ela...
Alisson cruzou os braços e fechou a cara.
-- Poderia, em vez de apenas pensar nela, enviar um WhatsApp. Quer o número? Só não sei se no inferno tem internet. Mas não custa tentar -- trovejou ela.
Lorraine nunca a ouvira falar naquele tom e, surpresa, deu uma risada alta.
-- O que há de engraçado? -- Alisson estava zangada.
-- Você -- disse ainda rindo -- Porque odeia tanto aquela mulher? Ela é arrogante, mas tem seus atrativos.
-- Ah...é? -- bufou mais zangada ainda -- Se você é do tipo de pessoa que gosta de se meter em problemas, merece palmas... Na bunda!
Alisson passou por ela de nariz empinado e saiu do hospital andando com rapidez.
Lorraine por mais que tentasse andar rápido, o salto do sapato escorregava em cima do piso.
-- Alisson, espera. Que droga! -- pisou em uma pedra na calçada e deu um grito de dor, como se tivesse torcido o tornozelo -- Era só o que me faltava -- resmungou pulando em uma perna só.
No instante seguinte Alisson já estava ao lado dela.
-- O que foi? -- perguntou preocupada.
-- Eu torci o tornozelo e não posso andar -- falou com uma careta de dor.
-- Apoie-se em mim, vou te levar até aquele banco de madeira.
Lorraine envolveu os braços ao redor do pescoço de Alisson e foi capengando até o banco. Suspirou fundo. O perfume da pediatra, suave e sutil, era suficiente para levá-la à loucura. Naquele instante não sentia dor. Aproveitando-se do momento, enterrou o rosto nos cabelos loiros, e inspirou o perfume fresco e doce dela. Seu corpo despertou imediatamente.
Alisson ajoelhou-se aos pés de Lorraine e após retirar-lhe o sapato, examinou cuidadosamente o tornozelo.
O toque suave das mãos de Alisson em seu pé estava tão gostoso, que ela fechou os olhos e gem*u.
-- Está doendo? -- Alisson indagou, inclinando-se para mais perto para estudar melhor o trauma.
-- Muito -- ronronou.
-- Vamos retornar ao hospital, vou solicitar um raio-X.
-- Não precisa -- falou rápido -- em casa, tomo analgésicos e anti-inflamatório, para aliviar a dor.
-- Precisamos imobilizar o pé. Você não sabe a gravidade do entorse -- Alisson insistiu.
-- Você não é médica? Então? Confio nos seus cuidados -- passou o dedo indicador sobre o nariz bem-feito e feminino da loira. Olhou-a nos olhos e ergueu as sobrancelhas com aquele jeito de quem está acostumada a conseguir tudo o que queria.
-- Acho uma atitude não responsável, mas se deseja assim, quem sou eu para contrariar -- levantou-se, limpando o jeans -- Vou trazer o carro para mais perto e te levo em casa.
Lorraine a observava com ar de satisfação, admirando fascinada cada gesto calmo e delicado dela.
Colocou o pé no chão e não sentiu dor.
-- Oh! Me perdoe anjinho pela mentirinha, mas está tão excitante! -- sentiu remorso do pensamento maldoso, mas em seguida sorriu. Há anos não sentia-se tão viva e feliz na companhia de alguém.
O médico atendeu Silvana imediatamente e a encaminhou para a sala de raio-X. Após examinar o resultado e constatar nenhuma fratura ou lesão mais grave, preferiu deixá-la em observação por alguns dias.
-- Como ela está doutor? -- Patrícia perguntou, ansiosa.
-- Está bem. Nenhuma fratura, apenas leves escoriações.
A resposta aliviou-a, mas apenas brevemente, pois Silvana ainda permanecia desacordada.
-- É normal doutor?
-- Ela foi sedada apenas para amenizar a tensão emocional. Não se preocupe, ela está muito bem -- disse o médico sorrindo.
-- Obrigada, doutor.
-- Por nada. Passo mais tarde, qualquer coisa é só chamar alguém da enfermagem.
Patrícia sentou numa cadeira que puxara para junto da cama, segurou uma das mãos de Silvana entre as suas e olhou para o rosto de expressão tranquila. Deixou cair lágrimas que ela pensara que haviam secado há muito tempo.
Elas haviam tido poucos, mas lindos momentos. Talvez, se houvesse conhecido Silvana antes, anos atrás, as coisas poderiam ter sido bem mais fáceis.
Alisson parou diante de Lorraine.
-- Vamos?
-- Não posso andar -- disse ela, olhando para o pé machucado.
-- Sei não! Acho melhor voltarmos para o hospital e fazer um Raio-X -- murmurou Alisson em voz baixa.
-- Não precisa, Alisson -- disse com um sorriso disfarçado -- Chama o segurança pra mim?
-- Pra que? -- ela perguntou, surpresa.
-- Para me levar no colo até o carro -- falou provocante.
-- Nunca! -- Alisson ficou extremamente irritada quando Lorraine falou aquilo.
-- Porque não? Ele é forte, bonito e...
Alisson enlaçou-a pela cintura, levantou-a nos braços como se fosse uma boneca de pano e colocou-a no banco do carona.
Lorraine deu um sorrisinho vitorioso.
-- Poxa! Não contava com sua astucia -- brincou.
-- Com esse vestido curto, você mataria o pobre coitado do coração -- falou mal-humorada, lançando um olhar insinuante para as bonitas pernas da cardiologista.
Lorraine a princípio, não disse nada, mas sorriu divertida. Sentia-se como uma princesa.
Alisson tomou seu lugar na direção e, após engatar a primeira marcha, arrancou com seu possante.
-- Boa noite! -- Agnes entrou no quarto e cumprimentou Patrícia com um sorriso simpático.
-- Boa noite! -- Patrícia devolveu um sorriso triste.
Depois de injetar a medicação no soro, Agnes ficou olhando para o rosto adormecido de Silvana. Ficou indecisa por alguns instantes, mas logo teve certeza.
-- É a esposa da doutora Lorraine.
Patrícia ficou sem jeito e encabulada. Pegou uma revista em cima da mesinha, ao lado da cama e folheou-a distraidamente, consciente de que a enfermeira aguardava por uma explicação. Que ela decididamente não daria.
-- Quer alguma coisa? -- perguntou Agnes ainda confusa.
-- Não, muito obrigada.
Agnes deixou o quarto frustrada e cheia de interrogações em sua cabeça.
-- Tá rolando um bafão, e eu vou descobrir.
Ao levantar a cabeça, Patrícia avistou os olhos castanho-claros de Silvana encarando-a com um semblante assustado.
-- O que aconteceu? Porque estou aqui?
Patrícia fitou-a com a testa franzida.
-- Tivemos que adiar a viagem, meu amor. Eu vou lhe contar tudo o que aconteceu.
Alisson colocou Lorraine no sofá da sala e afastou-se ofegante.
-- Coitada! Você deve estar cansada -- Lorraine ajeitou-se -- Muito obrigada. Desculpe o trabalho que lhe dei.
-- Não foi nada. Estou acostumada a levantar peso na academia.
-- Está me chamando de gorda?
-- Gorda não é xingamento. Gorda é um adjetivo que descreve um corpo. E não, você não é gorda. Porém se fosse, seria linda.
Lorraine sentiu vontade de morder aquela boca linda. Chegou a desejar ser gordinha, só pra ser amassada todinha por ela.
-- Doutora Lorraine! -- exclamou Lucia ao entrar na sala -- Meu Deus! O que aconteceu?
-- Torci o tornozelo. Não posso nem encostar o pé no chão.
-- Um dia isso aconteceria. A doutora exagera na altura do salto.
-- Precisamos aplicar uma compressa de gelo picado no tornozelo para amenizar a dor e o inchaço -- disse Alisson para a empregada.
Lorraine podia perceber a preocupação no tom de voz dela e sentiu-se culpada.
-- Eu vou buscar o gelo e toalhas -- disse Lucia, e saiu em direção a cozinha.
Alisson sentou-se no sofá pequeno, de frente para ela.
-- Que azar, né?
-- Pois é. Nada deu certo hoje. Tinha a intenção de sair com o Felipe e a Nádia para tomarmos uns drinques e relembrarmos os velhos tempos. Mas tudo saiu errado -- Lorraine passou as pernas para fora do sofá e tentou ficar de pé, mas Alisson a impediu.
-- Fique sentada -- disse, segurando-a pela cintura -- Você não pode andar.
Alisson era uma pessoa muito boa, boa até demais, e era natural que Pâmela estivesse tão apaixonada. Ela é adorável, carinhosa, amável, apaixonante, doce e perfeita mulher.
Minutos depois, Lucia retornou com o gelo e toalhas.
-- Quer que eu aplique a compressa? -- Lucia se ofereceu.
Lorraine quase a desintegrou com o olhar.
Lucia deu meia volta.
-- Acho melhor preparar um lanche. O que vocês preferem, suco ou um café com leite?
-- De preferência os dois -- disse Lorraine, seca.
Lucia saiu da sala como um raio.
Alisson sentou-se no chão e examinou o pé machucado. Estendeu uma toalha em cima dos joelhos e com cuidado colocou a perna de Lorraine sobre ela.
A mão da pediatra era quente. Chegava a queimar sua pele. Os dedos macios tocaram de leve o tornozelo e correram, em direção ao joelho. Lorraine sentiu uma corrente elétrica percorrer por todo o corpo e arrancou-lhe um gemido.
-- Está doendo?
-- Está delicioso! -- Lorraine sussurrou.
-- Hum?
-- Quero dizer que acho que já melhorou bastante com o gelo e a massagem.
-- Então, vamos secar -- Alisson passou a toalha delicadamente sobre a pele sensível de Lorraine.
-- Obrigada por ter aberto meus olhos a respeito de Silvana e sua namorada. Percebi nos olhos da moça que ela ama Silvana de verdade. O jeito como ela olha, como trata com carinho. Isso é amor.
-- Shakespeare disse: as viagens terminam com o encontro dos apaixonados. Que lindo né?
-- Muito -- Lorraine concordou.
-- Também foi Shakespeare quem disse que o verdadeiro nome do amor é cativeiro.
-- Você gosta de Shakespeare?
-- Gosto, mas tenho minha própria opinião sobre o amor.
-- E qual é a sua opinião?
-- Colocar duas dentaduras no mesmo copo, isso é amor verdadeiro.
Lorraine sorriu.
-- Isso é nojento!
-- Isso é amor. "Ninguém ama outra pessoa pelas qualidades que ela tem, caso contrário os honestos, simpáticos e não fumantes teriam uma fila de pretendentes batendo a porta. Ama-se pelo cheiro, pelo tom de voz, pelo mistério, pela paz que o outro lhe dá, ou pela tempestade que provoca". (Por Marta Medeiros)
Lorraine ficou olhando fixo para ela. Seus olhos estavam mais azuis e ela, parecia ainda mais linda.
-- Agora você vai se deitar com o pé em cima da almofada -- Alisson levantou-se e ajeitou a almofada sob o pé machucado -- Fica quietinha.
-- Eu e Silvana não devíamos ter arrastado esse casamento falido por tanto tempo -- disse Lorraine, inesperadamente, surpreendendo-se com o tom íntimo que usou.
-- A vida é a arte de desenhar sem borracha, Lorraine. Ficar sofrendo não mudará o que passou. Certas coisas são iguais aquela pontinha do lápis quebrada, nós tentamos encaixar de volta no lugar, mas não dá mais certo. Você precisa voltar a amar. "Ser profundamente amado por alguém nos dá força; amar alguém profundamente nos dá coragem". Lao-Tsé.
Lorraine segurou o rosto de Alisson com as mãos, trouxe-lhe os lábios até os seus e a beijou.
Alisson fechou os olhos e sentiu o sabor doce, quente e sedutor do beijo dela. O beijo foi tão inesperado que ela ficou tonta.
-- Chegando a comidaaa... -- exclamou Lucia, entrando com uma bandeja onde havia suco, café e um pratinho com sanduíches.
-- Que ódio! -- Lorraine fitou-a com um olhar 50 graus abaixo de zero.
Alisson ficou absolutamente imóvel olhando para Lorraine, tonta e sem ar.
O celular de Lorraine tocou dentro de sua bolsa, que estava em cima do sofá. Lucia colocou a bandeja ao lado do sofá e foi pegar para Lorraine. Olhou no visor e estendeu o aparelho para a patroa.
-- É o doutor Felipe.
Lorraine fez uma careta antes de atender.
-- Lá vem choradeira... Fala Felipe... O que? Quando isso? -- sua expressão ficou séria, depois confusa.
Lorraine levantou-se e saiu caminhando normalmente pela sala.
-- Meu Deus! Isso é péssimo. Procura ficar calmo. Já estou a caminho -- desligou o celular e, olhou primeiro para Alisson, depois para Lucia.
A fisionomia delas era de extrema surpresa.
-- O que foi? -- Lorraine perguntou abrindo os braços -- Estão me estranhando?
https://www.facebook.com/ojardim.dosanjos.5
* John W. Gardner (October 8, 1912 - February 16, 2002)
* Marta Medeiros (Jornalista, escritora, aforista e poetisa brasileira)
Fim do capítulo
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Mille
Em: 28/02/2017
Olá Vandinha, meu celular estar mim traindo e não informando de atualização, estou zangada com ele. >:(
Allison salvando as vidas de Patricia e Silvana, e ainda monstrando a Patricia que ela tem como se salvar e no amor caminhar para o caminho do bem, basta se arrepender que o caso dela.
Lo fingindo uma dor para ser paparicada pela lourinha cabelo de molha, só não contava o Felipe com a notícia iria desfazer a mentira, deixou as duas pasmas.
Espero que não seja mais uma morte no hospital!
Bjus e até o próximo
Resposta do autor:
Olá Mille.
Quem não gosta de um chameguinho né? Até mesmo a durona da Lorraine tem suas carências. Ela está perdoada pela mentirinha.
Se o seu celular for um Sansung, está explicado. O meu também é uma tortura.
Beijão gatota. Até.
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Rita
Em: 28/02/2017
Yes! A Alisson é uma autêntica heroína :) conseguiu salvá-las e ainda foi um amor com a Lorraine. Kkkkk para mentir é preciso não deixar o personagem kkkk ela com a má notícia do hospital nunca mais se lembrou de fingir que o pé doía kkk. Só espero que descubram quem anda a fazer esse mal todo no hospital. Coitado do Felipe.
Resposta do autor:
Olá Rita.
A Lorraine vai ter que inventar uma bela desculpa, kkk...
Tem algo muito sinistro acontecendo no hospital... quem sabe um enfermeiro? Lembra do Edson Izidoro Guimarães, o enfermeiro da morte? Ele era um ex-auxiliar de enfermagem que assistia no setor de emergência do Hospital Municipal Salgado Filho, no Méier, Zona Norte do Rio de Janeiro, responsável direto pela morte de ao menos 5 pessoas. Estima-se que o número verdadeiro de suas vítimas seja superior a cem, o que o transformaria num dos maiores assassinos em série do Brasil e do mundo.
Edson Izidoro Guimarães foi preso em 7 de maio de 1999, quando trabalhava no plantão do Hospital Salgado Filho.
História macabra né?
Beijão Rita.
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NovaAqui
Em: 28/02/2017
Ainda bem que elas conseguiram...UFA!
Andras é muito esperta saiu antes de Lorraine chegar
Acho que morreu mais alguém no hospital
Pelo menos, com a mentira de Lô, ela e Alisson tiveram um momento de conversa tranquila.
Agora ela se entregou.... o pezinho não tem nada...kkkkk espero que Alisson a perdoe....kkkkk
Ali e Lô são engraçadas juntas, mesmo nos momentos difíceis elas fazem alguma gracinha.
Lô apaixonada está ótima
E que bom que ela entendeu Silvana. Cada uma que siga seu caminho
Li esse artigo e lembrei-me de você. Não sei se procede, mas após ler esse capítulo se encaixou perfeitamente <
https://medium.com/carlos-torres/o-cansa%C3%A7o-f%C3%ADsico-que-voc%C3%AA-est%C3%A1-sentindo-%C3%A9-devido-as-novas-frequ%C3%AAncias-que-est%C3%A3o-chegando-111d2d28dba#.5l72lm9hz
>
Abraços fraternos
Resposta do autor:
Olá.
Gostei do artigo. Realmente encaixou com o que foi apresentado no capítulo.
Obrigada pela indicação.
Beijão querida. Até.
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jake
Em: 28/02/2017
Ra ra ra literalmente Lorraine provou que a mentira tem perna curtíssima. ...Nossa essa Andras. ...bem q podia se dar mal neh...Vandinha bem q elas podiam se assumir logo neh?parabéns ótimo Carnaval
Resposta do autor:
Obrigada!
Um ótimo carnaval para você também. Curta com moderação, heim. Se cuida!
beijão.
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