Ilara já estava se preparando para dormir, quando resolveu pegar o seu celular e percebeu que havia uma solicitação de amizade no fecebook.

Ao se dar conta de quem se tratava, sente o seu coração disparar e um friozinho começa a tomar conta de sua barriga.

" Michelle Oliveira" Ilara ficou repetindo esse nome várias vezes em sua mente.

Estava confusa naquele momento. Depois daquela conversa com sua mãe, parecia que em sua cabeça tudo estava bagunçado.

Se sentia estranha ao se encontrar com sua professora, mas isso não queria dizer que ela gostava da mesma.

Ilara era tímida, talvez esse fosse o motivo para se sentir assim tão desconfortável.

Tinha pensado em não aceitar o pedido de amizade de sua professora. Pois era uma vontade tão grande de fugir de Michelle. Tinha medo de aproximação, não queria ter mais contato com Michelle. Além daquele que tinha na sala de aula.

Talvez Ilara estivesse exagerando, porém, estava com medo daquele sentimento confuso, que lhe invadia ao ter contato com Michelle.

Mesmo diante de tantas confusões, Ilara aceitou o pedido de amizade de sua professora. Resolveu tentar entender, o que estava acontecendo consigo e para isso não podia fugir.

Ao se acomodar confortavelmente em sua cama, Ilara fecha os seus olhos, mas acaba os abrindo em seguida. O seu pai havia chegado e os gritos passaram a tomar conta do ambiente.

Teria mais uma noite mal dormida. Não era fácil sentir medo e angústia toda vez que seu pai aparecia em casa.

Augusto parecia transtornado, gritou, quebrou alguns objetos e acabou descontando em sua mulher toda a sua fúria.

Ilara e Gustavinho tentaram impedir o seu pai, no entanto, o senhor era severo demais e acabava ameaçando os seus filhos.

A noite passou nem um pouco tranquila naquela casa. Os olhos estavam vermelhos...Vários objetos estavam quebrados.

—Hoje vou chegar mais cedo do trabalho—Augusto falou e todos o olharam—Vamos a um jantar e quero todos vocês arrumados às 7:00 horas em ponto—Avisou enquanto tomava o seu café.

Todos se olharam... Ainda estavam tentando voltar a normal depois da noite horrível que haviam tido, mas era difícil.

Helena fazia o seu trabalho naquela manhã quase mecanicamente. Não conseguia encarar os olhos de seus filhos em nenhum momento. Sentia vergonha. Vergonha da situação da qual se encontrava.

Ilara tentava entender o porquê de sua mãe se sujeitar a toda aquela situação, mas era muito difícil. Muito difícil... Ela também se sentia uma incapaz, pois não fazia nada para ajudar a sua mãe. Ela era a filha mais velha deveria fazer algo. Mas o quê?

—Jantar onde, Augusto?— Helena se aproximou do marido para poder colocar mais café na xícara do mesmo.

—Comemorar a chegada de Ester— Augusto falou e logo em seguida sentiu um líquido quente lhe queimando a pele— Droga, Helena, você me queimou— O homem se levantou da cadeira as pressas.

—Me desculpa, Augusto—Helena tentou se aproximar do marido.

—Não se aproxime... Por que toda vez que falo da Ester você fica assim?—Augusto perguntou e todos passaram a encarar Helena, que estava com as mãos trêmulas. Não queria pensar na possibilidade de se encontrar com Ester.

—Eu... Eu... —Helena não sabia o que dizer. Se sentou em uma cadeira e tentou se acalmar. Augusto e seus filhos continuavam lhe encarar— Não gosto dela— Mentiu, queria que seu marido não viesse com mais perguntas.

Augusto fecha a cara, mais do que já estava fechada— Ainda bem que não gosta... E estou avisando logo a vocês dois, não quero que vocês tenham contato com aquela mulher.

Ilara e Gustavo se entreolharam.

—Vão para o colégio! Já está passando do horário—Augusto e os seus filhos se levantaram, mas antes de ir para o colégio, Ilara deu uma breve olhada para sua mãe e abaixou a sua cabeça logo em seguida.

A caminhada até o colégio foi feita em completo silêncio. Os irmãos não conversaram. Talvez os dois estivessem com a mesma dúvida. Como Helena ainda aguentava o pai deles?

Chegando a seu colégio, a primeira coisa que Ilara sentiu foi o braço de Milena sobre o seu ombro.

—Como você tá?— Milena perguntou toda animada— Ontem você não veio.

Ilara apertou as alças de sua mochila com força e forçou um sorriso— Estou bem... Não estava me sentindo bem ontem—Falou ao olhar para a colega timidamente.

—Entendo... Que bom que está melhor—Milena tirou o seu braço do ombro de Ilara.

Ilara em resposta apenas abaixou a sua cabeça e começou a caminhar em direção a sua sala.

Michelle que de longe acompanhava aquela cena acaba sentindo um sentimento estranho lhe invadindo o peito. Talvez uma pontinha de ciúmes, mas aquilo não podia ser possível. Ilara não era nada dela e nem podia ser.

—Olá, professora— Uma aluna apareceu e Michelle a olhou.

—Algum problema?— Michelle perguntou.

—Sim, neste exercício que a senhora passou ontem. Não estou conseguindo responder está questão— A garota falou e Michelle coloca a sua mão no ombro da mesma.

—Na sala eu explico como responder está questão. Vamos?— Começou a andar lado a lado com a aluna para a sala do segundo ano e acabou se esquecendo um pouco de Ilara.

As aulas naquele dia passaram quase se arrastando... Agora seria a última aula... Aula de matemática da professora Michelle.

—O que essa professora tem de bonita, a matéria dela tem de difícil— Milena comentou e Ilara deu um leve sorriso.

—O que aconteceu ontem para você estar falando isso?— Ilara perguntou e Milena respira fundo ao lhe entregar uma folha, onde continha um questionário com 10 questões.

—Passou isso ontem?— Ilara arregalou os seus olhos e passou a ficar preocupada. No dia anterior não havia ido ao colégio.

—Sim e vale nota— Milena fala e coloca a sua mão sobre sua cabeça— Meu Deus, tô ferrada, não sei nadinha. Só um milagre mesmo para me tirar da recuperação.

—Calma!— Ilara entregou a folha para Milena— Não é pra tanto. As aulas começaram essa semana.

—Eu sei, mas... –Antes de Milena terminar a sua fala, Michelle entrou na sala.

—Bom dia, turma— Michelle falou enquanto olhava para cada rostinho que tinha naquela sala. Quando seu olhar se fixou em Ilara seu coração se alegrou de uma forma, que ela não entendeu o porquê— Alguém já conseguiu resolver o questionário?— Perguntou e todos disseram que não. Milena se sentiu mais aliviada, pois soube que não era só ela que estava sentindo dificuldades.

Naquela aula Michelle tentou de todas as formas findar com as dúvidas de seus alunos, no entanto, mesmo assim teve discentes que pareciam estar perdidos em uma galáxia desconhecida. E uma deles era Ilara, que não conseguia se concentrar de nenhuma forma. Tinha parado de pensar que pudesse estar gostando de sua professora, mas agora algo lhe atormentava ainda mais. As discussões em sua casa agora havia se tornado constantes. Ainda mais com a aparição da prima de seu pai. O seu pai estava mais rude que de costume e isso estava fazendo muito mal, principalmente para a sua mãe.

—Turma, espero que vocês tenham entendido— O sinal tocou e os alunos começaram a sair da sala. Michelle havia passado boa parte da aula olhando para Ilara, que parecia estar em uma outra dimensão.

Ilara ao ver seus colegas saindo começa a arrumar a sua mochila e acaba ouvindo uma pessoa lhe chamando.

—Ilara?— Michelle chamou a garota, que sentiu o seu coração quase sair pela boca naquele momento.

—Sim— Ilara sentiu uma mão sobre o seu ombro. Era Milena que estava saindo.

—Posso conversar com você?—Após todos saírem da sala, Michelle se aproxima de Ilara, que assente com a cabeça.

A cada passo que Michelle dava em sua direção, Ilara sentia a sua respiração falhar. 

—Você está com algum problema, Ilara?— Michelle pegou uma cadeira , colocou perto da de Ilara, se sentou e acabou sentindo a sua perna roçar levemente na da garota. Aquilo fez o seu coração bater em batidas fortes e seu corpo todo se arrepiou. O que estava acontecendo com ela?

Com Ilara ocorreu o mesmo e isso fez ela abaixar a sua cabeça. Estava novamente sentindo aquelas coisas estranhas.

Michelle respirou fundo e tentou se concentrar na conversa que ela queria ter com Ilara.

—Não quer falar sobre?— A voz de Michelle saiu suave. Parecia uma bela melodia que chega aos nossos ouvidos e nos faz sentir algo bom.

—Eu... – Ilara juntou as suas mãos e começou a apertá-las. Seria bom desabafar com uma pessoa, mas Ilara não conseguia se sentir segura com a sua professora.

—Pode confiar em mim— Michelle pegou uma das mãos de Ilara e começou a acaricia-la.

Ilara olhou para Michelle e não soube o que dizer. Estava se sentindo perdida. Uma confusão de sentimentos toma conta de seu ser e aquilo fez ela sentir uma grande aflição lhe invadindo o peito.

—Preciso ir embora— Ilara se levanta bruscamente e seus olhos começam a marejar.

Michelle nota e sente uma vontade enorme de abraçar aquela garota, dizendo-lhe que tudo iria ficar bem.

—Me conte o que está acontecendo com você, Ilara, quero te ajudar— Michelle se levanta da cadeira e pousa a sua mão no braço de Ilara.

A garota sente aquele toque e a vontade de chorar aumenta ainda mais. Queria se jogar nos braços de sua professora, mas por que isso estava acontecendo? Se afastou daquele toque de Michelle e saiu correndo da sala de aula, deixando a professora totalmente perdida.

Fim do capítulo