Capítulo 12
Já passava da metade do ano quando recebi uma ligação da Raquel. A namorada da Manu tinha sido transferida para Brasília e tinha deixado marido e filhos em Curitiba. A história dela era um pouco complicada. Casada com um homem há mais de 10 anos, descobriu-se lésbica com uma amiga e não podia se separar do marido por causa da família. Tinha três filhos, o mais velho com 11 anos. Seus pais não poderiam nem imaginar que se interessava por mulheres porque isso seria a morte para eles. Começou a se relacionar com a Manu virtualmente e logo nos tornamos amigas. Saía com ela para bares e ajudava a encontrar desculpas para ela poder se encontrar com a Manu. Conhecia toda a família dela e estávamos sempre juntas.
Naquela noite, ela tinha uma ideia:
- Venha morar comigo, Júlia? - disse ela empolgada.
- Como assim? E sua família? - perguntei confusa.
- Eles só poderão vir pra cá no final do ano. As crianças precisam terminar o ano letivo e o Flávio ficará com eles por enquanto. - Flávio era seu marido.
- Mas vou fazer o que aí? - perguntei começando a querer aproveitar a oportunidade. Durante toda a minha vida, dizia que aos 18 anos sairia de casa. Não por não gostar da minha família ou brigar, mas porque queria saber como era ser independente.
- Você não está fazendo nada aí. Não está trabalhando nem estudando. Eu pago sua passagem, você terá lugar para morar e pode fazer o supletivo aqui. - Ela respondeu com a segurança de quem já tinha pensado em todos os detalhes.
Hesitei por alguns segundos. Será que deveria arriscar? Estava eufórica com a possibilidade de poder ir para outra cidade, um lugar completamente novo, sem ninguém que eu conhecesse além dela.
- Vou falar com a minha mãe… Ver se ela deixa. - disse para Raquel que adorou a resposta.
- Ok! Me avise e eu compro sua passagem.
Desliguei o telefone sem saber o que pensar. Mandei um sms para Camila contando a novidade e outro para Sophia.
Sophia não ficou muito feliz, mas já estava encontrando problemas em casa por causa da nossa aproximação. Seu irmão tinha encontrado mensagens apaixonadas no celular da irmã e correu contar para seus pais. Imediatamente seus pais chegaram em Curitiba e ela estava vivendo um inferno em casa. Talvez a minha partida fosse uma boa resposta para seus problemas.
Apesar de ficar chateada em como as coisas estavam terminando, não era alguém com quem eu pensava em passar o resto da vida. Adorava ficar com ela, mas não estava apaixonada.
Tomei coragem e fui conversar com a minha mãe. Já estava tarde e ela estava deitada no sofá, assistindo TV.
- Mãe… - chamei-a enquanto sentava na poltrona ao lado. - A Raquel acabou de ligar e me fez uma proposta.
- Hum - murmurou desconfiada.
- Ela foi pra Brasília... foi transferida pra lá, lembra?
- Uhum - concordou com a cabeça.
- Ela perguntou se eu não quero passar 6 meses com ela. A família dela só vai no final do ano. Ela disse que paga minha passagem e posso terminar de estudar lá. Disse que tem uma escola com supletivo perto do apartamento dela. - Expliquei com calma e sem parecer muito eufórica.
- Não sei, não, Júlia! Vamos ver! - disse brava
Não insisti. Quando ela estava mau humorada, era melhor não insistir. Deixaria para perguntar novamente no dia seguinte. Talvez conseguiria convencê-la que a a minha distância também seria boa pra ela. Não sabia o que passava pela sua cabeça. Meu pai já estava longe há alguns meses, ela só via o Lucas uma vez por ano e eu saía o tempo todo para beber. Não devia estar sendo fácil pra ela.
No dia seguinte, voltei a tocar no assunto.
- O que você acha? - perguntei com medo
- Você vai estudar? - ela perguntou séria, me olhando com seus olhos verdes desconfiados.
- Vou - respondi rapidamente. - Não conheço ninguém além da Raquel, vai ser bom para eu me concentrar.
Ela continuou me olhando, pensando no que dizer:
- Você quer ir?
- Quero! Acho que preciso disso! - disse com segurança.
- Tudo bem... Mas, lembre-se: você precisa estudar!
Abri um sorriso largo, feliz com a possibilidade de me tornar uma mulher independente.
Em uma semana, estava embarcando para Brasília.
Fim do capítulo
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