Capítulo 11
Aos 18 anos, sem estudar e sem trabalhar, minha vida tinha se transformado. Já não morava no mesmo lugar. Havíamos mudado para o centro da cidade e minha amiga Camila estava fazendo cursinho a poucas quadras dali. Acordava todos os dias cedo e ia encontrar com ela no bar que havia ao lado colégio. Ela e meu irmão vivam brigando e voltando e eu separava bem a minha amizade do namoro deles. Conheci seus novos amigos e logo estávamos em bando no bar, tomando cerveja desde as 8h da manhã. Voltava pra casa na hora do almoço, bêbada e minha mãe só me olhava. E seu olhar me fuzilava.
Meu pai já não morava com a gente. Depois de perder o emprego, de novo, e ele insistir que o problema estava na cidade, minha mãe concordou em ele ir pra São Paulo novamente e encontrar um bom emprego. Caso ele conseguisse, voltaríamos todos pra lá. Já estava lá há dois meses e não tinha nenhuma novidade. Se hospedou na casa da minha avó e pode ficar perto do Lucas de novo.
Enquanto isso, eu curtia com a Camila e seus amigos. Manuela ainda namorava a Raquel, aquela menina que tinha conhecido pela internet. Nos encontrávamos no bar pela manhã, saíamos para o cinema a tarde e fazíamos festas particulares a noite. Jogos de verdade e consequência eram comuns, apenas para colocarmos para fora nossos desejos.
A ideia de fazer supletivo já havia ficado em segundo plano. Quando acordava inspirada, ia até o pólo, fazia algumas provas e eliminava algumas matérias, mas isso acontecia esporadicamente. Tanto que depois de um ano da matrícula, eu tinha concluído apenas 3 ou 4 disciplinas.
Tinha começado a frequentar bares LGBTs e conhecido outras mulheres iguais a mim. Nas noites que bebia tequila, perdia as amarras e beijava a noite toda e nem sempre era a mesma pessoa.
Quando comecei a ficar com a Sophia, uma das amigas da Camila, a Gabi não gostou muito. Ela percebeu que estava ficando de lado e começou a tentar me conquistar de novo. Como eu estava começando um "namoro" com a Sophia, achei que devia ser fiel e Gabi não concordava. Tentava me seduzir durante a noite e ficava brava quando eu a rejeitava.
Um dia, enquanto eu tomava banho, entrou no banheiro e se despediu. Pelo tom dramático, percebi que ela não estava indo pra casa, mas estava pensando em algo pior. Saí do chuveiro rapidamente e fui atrás dela. Não a encontrei e vi a janela da sala aberta. Morávamos no primeiro andar e havia um pavimento construído do lado de fora, sem proteção nenhuma. Apenas uma continuação do chão, sem paredes ou cerca. Usávamos apenas para colocar vasos de flores.
Olhei na pia e vi uma cartela de aspirinas vazia e a garrafa de vodka. Ri. Lembrei de mim mesma há alguns anos.
Olhei pela janela e lá estava ela, sentada, com um copo de vodka na mão. Eu estava sem paciência para aquilo. Ela não ia se matar, só queria chamar atenção. E eu estava atrasada para o curso de eletricista que estava fazendo, com ela, aliás.
Chamei meu irmão que estava dormindo e pedi para q ele fosse lá ve-la e tirá-la do lado de fora da janela. Eu precisava terminar meu banho. Matheus levantou rindo da situação e foi lá, tirar sarro da Gabi. Coisa que ele fazia com frequência.Convenceu-a entrar e mesmo brincando, cuidou dela. Pegou um copo d'água, levou-a para a cama e a cobriu.
Quando saí do banho, ela estava chorando e enjoada. A mistura da aspirina com vodka tinha começado a fazer efeito. Resolvi não ir para o curso. Passei a tarde com ela. Ela estava com ciúmes e não queria me ver com outra pessoa. Havia tentado disfarçar o que sentia nos últimos meses, mas não conseguia. Abracei-a e esperei que dormisse. Eu não tinha o que dizer, ela era minha amiga, apenas.
Fim do capítulo
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