Capítulo 10
Os três meses seguintes foram a realização de um sonho. Eu tinha conquistado o objeto do meu desejo. Deixava de ser platônico pra se transformar em uma paixão real. Nunca assumimos aquele período como namoro. Era muita informação pra processar. Mas estávamos juntas. Éramos íntimas, confidentes, melhores amigas e amantes. O mundo, de repente, passou a ter cor.
O Natal me guardava uma surpresa, e não era uma boa surpresa. Lucas chegou na véspera de Natal e como era de se esperar, queria ver a Gabi. Ele não sabia o que tinha acontecido entre nós e eu não sabia como contar. Quando Gabi chegou para a ceia, eu já esperava o pior. Sentia que ela iria voltar com ele no mesmo instante em que o visse. E foi o que aconteceu. Eles conversaram por horas, enquanto eu virava uma garrafa de champagne atrás da outra sozinha no meu quarto. Quando percebi, já era 4 horas da manhã e eles estavam indo dormir juntos, na minha cama.
Surtei!
- Enlouqueceu? - eu comecei a gritar com ela. - Você realmente acha que vai vir aqui, depois dos últimos 3 meses, voltar com ele e, ainda por cima, dormir com ele na minha cama? Você enlouqueceu?
- Meu irmão não entendeu o que estava acontecendo e tentou acalmar a situação... Em vão.
- Sai da minha casa, agora! - Eu gritei pra ela.
- A casa também é minha! - respondeu meu irmão nervoso - defendendo a namorada.
- Quem passa 365 dias do ano aqui, sou eu. Esse quarto é meu, essa casa é minha e se quiser ficar com ela, fique a vontade! Pode ir embora com ela.
Minha mãe que ouviu a discussão, interferiu:
- Melhor vocês conversarem amanhã. Lucas, pode ficar...
- Só se for sozinho...- interrompi.
- Não vou ficar! Se a Gabi não pode ficar, eu também não posso.
Os dois saíram e eu chorei. Chorei de raiva, de vergonha, de dor. Me sentia humilhada, traída. Como ela pôde fazer isso? Como ela pode me trocar tão rápido? Os últimos 3 meses não tinham significado nada pra ela?
Senti uma dor que parecia me despedaçar por dentro. Meu coração tinha se partido. Essa era a sensação de um coração partido. E era horrível.
As semanas que se passaram foram vazias. Me lembro de um período branco, como se fosse inverno, um período de inanição, um período em que senti que morria por dentro.
De fato, nos dois meses seguintes, matei o que sentia pela Gabi e perdi a alegria que tinha tido nos meses anteriores.
Ela e meu irmão voltaram a namorar por mais algumas semanas, mas não durou até o final do verão. Embora tenhamos brigado naquela noite de Natal, antes de voltar para São Paulo, eu e ele conversamos e decidimos que não iriamos brigar por causa de uma mulher.
Depois de quase 3 meses sem conversar, a Gabi apareceu lá em casa. Minha raiva já tinha passado, embora já não fosse mais a mesma pessoa que ela tinha conhecido, prestativa e apaixonada.
Ela estava quieta, parecia envergonhada, mas tentava disfarçar.
Eu sentei no computador e ela se sentou na cama atrás de mim. Ela contou que tinha ido para a praia com a família e tido tempo para pensar sobre tudo que aconteceu. Que ela não agiu direito e estava confusa.
Parei de jogar e me virei pra ela. Não sabia exatamente onde ela queria chegar.
-Tá tudo bem, Gabi! Já passou! - eu disse.
- Não, não é isso! O que eu to tentando dizer é que… - ela parou por alguns segundos, procurando as palavras certas - é que eu percebi o quanto você é importante na minha vida.
- Eu sei - brinquei.
- É sério! - ela disse sem paciência - Esse tempo todo não era o seu irmão que eu queria…
Eu congelei.
- Eu estava confusa e percebi que eu quero ficar você. - Ela finalizou com a cabeça baixa.
Eu não sabia o que dizer, apesar de tudo, eu não queria magoá-la. Já tinham se passado alguns meses e aquilo que eu senti por tanto tempo tinha sido morto dentro de mim. Ela matou o que eu sentia. E era tudo que eu tinha a dizer:
- Você sabe que as coisas mudaram desde a última vez que nos vimos, né? - perguntei
Ela apenas assentiu com a cabeça.
- Você não imagina como quis ouvir isso de você nesses quase dois anos que a gente se conhece… Mas agora, as coisas estão diferentes. Não sei se eu conseguiria sentir novamente o que sentia… - era o melhor que poderia dizer.
Ela mudou de assunto, como sabia fazer muito bem e fingiu que nada tinha acontecido.
Apesar de tudo, lá no fundo, eu estava lisonjeada e vingada.
Sabia que o sentimento de vingança não era bom nem certo, mas depois de tanto sofrimento, depois de desacreditar no amor, de me sentir traída, de passar meses tentando entender porque aquilo tudo estava acontecendo comigo e, por fim, depois de conseguir tirar toda aquela paixão de dentro de mim, ela voltar, decidida a ficar comigo, era um sentimento que eu não podia ignorar. Lá no fundo, era como se ela estivesse sendo punida pela forma como agiu. E eu tive minha desforra.
Ela voltou a frequentar a minha casa e voltamos a ser amigas, mas agora seu sol em sagitário e a minha vênus também, transformou nossa amizade em algo mais colorido.
Sem compromisso, mas sempre por perto, fomos nos tornando um relacionamento aberto, sem rótulos.
Fim do capítulo
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