Oi Barbara,

Antes de tudo desculpe a demora em responder o seu e-mail.

Você sabe bem como andam as coisas aqui na empresa, ainda mais depois da demissão em massa do último mês e principalmente do seu desligamento as pressas depois do falecimento da sua mãe.

Não vou mentir, estou muito triste com você, comigo, com o rumo que as coisas tomaram, sei lá... Estou triste porque você não me disse que ia embora, porque não me deu a chance de saber a tempo o que sentia a meu respeito.

Minha cabeça está a mil aqui, peço desculpas pelos pensamentos soltos e a mistura de sentimentos. Você sabe o quão intensa eu sou, ainda mais depois de ler tudo isso, nossa.

Mas calma lá, vou tentar retomar as rédeas da situação e responder seu e-mail como se deve.

Você começou falando da nossa principal afinidade, o amor que temos pelas nossas famílias.

De fato sempre admirei o amor que tem pelos seus pais, não cheguei a conhecer o seu pai, quando a conheci ele já tinha falecido, mas você sempre falou dele com muito amor e vi o quanto sofreu pela perda da sua mãe, realmente foi como se você tivesse perdido o seu norte, o seu rumo. E me encanto pelo jeito que trata seus sobrinhos, são mesmo seus filhos né, Bah? Tenho a galeria do celular lotada de fotos de vocês nas mais diversas e divertidas situações. Também enchi sua galeria com um monte de fotos minhas com o Juninho, meu irmão caçula de 6 anos, que mora comigo desde os 3, quando meus pais tiveram um doloroso divorcio recorrente de uma traição cometida por ela. Pois é, hoje ele também me chama de mãe.

Desde que li seu e-mail pela primeira vez (de lá pra cá já foram dezenas), me pergunto por que você não arriscou só um pouco mais? Porque não disse tudo o que escreveu olhando nos meus olhos e ao alcance das minhas mãos!

Eu tinha tanta coisa pra te dizer, sabe? A nossa amizade me fez um bem enorme. Não só porque foi em seu colo que encontrei abrigo pra crise do meu casamento, mas porque foi ao seu lado que me redescobri, que voltei a sorrir, a querer viver. Foi um lance de amor próprio sabe? Algo que nunca tive. Você me viu com olhos que ninguém nunca viu.

Andressa sempre foi a mulher da minha vida. Aquela pra ficar velhinha junto mesmo. A gente sempre foi muito parceira pra tudo e vivemos mais de uma década em harmonia plena. Mas, desde que assumi a criação do Junior ela surtou. Mudou muito, o jeito, os pensamentos, as atitudes.

Ela até gosta dele, mas perdemos a privacidade e ainda por cima ele é muito apegado a mim.

Usando esses motivos ela passou a sair sozinha a noite, beber mais que o normal e até a questionar o sentimento dela por mim. Passamos a brigar diariamente. Foi um momento difícil e eu só não pirei porque você estava lá. Você me fez companhia em quase todas essas noites de surto da minha esposa, ficava lá conversando comigo pelo skype até altas horas da madrugada. Geralmente no mesmo ritual, eu conectava chorando e horas depois desligava leve e sorrindo.

Acho que lá no fundo, com o passar do tempo, eu sentia que mexia com você. Sei lá, varias foram as vezes que você deixou suas "peguetes" na mão nas baladas mais tops da cidade pra ficar conectada comigo falando sobre tudo e sobre nada. E sempre era incrível.

O foda é que quando me dei conta eu tive medo e fui egoísta. Eu sabia que se te questionasse a respeito dos seus sentimentos você se afastaria por respeito a minha relação. E eu não queria perder você.

Olha eu chorando de novo e cadê você pra me fazer sorrir? E por ironia do destino hoje você é responsável por cada lágrima que derramo aqui.

Sei lá o que eu faria se você tivesse ousado se declarar, mas confesso que eu queria que você o tivesse feito. Queria ao menos ter tido a oportunidade de te abraçar e dizer: "não sei como, nem quando, nem porque, mas eu também amo você" antes de você partir.

Com carinho

Clarice Munhoz

Fim do capítulo