Sabe aquela música que colocamos para repetir sem parar? Aquele sentimento que nos preenche com água nos olhos? A sensação de que poderia ouvi-la para sempre? É assim que Carolina se sentia... Mesmo quando o sono chegou... Á dona de seu coração continuava a acompanha-la em outra realidade.

Carolina havia ido direta para seu refúgio, lá tomou banho e deitou-se, nem ao menos aceitou a comida de Joana. Seu corpo estava esgotado pela viagem e sua mente lhe pregando peças, que lhe levavam na mesma direção...

Não fazia noção de que horas eram quando sentiu um corpo sobre o seu... Mesmo de bruços sentiu um belo par de seios pressionados contra as suas costas. Nem mesmo abriu os olhos, pois o cheiro era inconfundível.

- Se você demorar mais um pouco para abrir os olhos Carolina... Vou achar que está gostando de sentir meu corpo sobre o seu! O que seria uma pena, pois não estou a fim de ter que te refrescar! – Carol sorriu ao ouvir aquela voz charmosa ao seu ouvido.

- E como a Doutora pretende me refrescar? – Virou-se ficando cara a cara com Ana ainda sobre si.

- Do modo tradicional... – Ana piscou e levantou vagarosamente até ficar sentada sobre Carol.

- Ana... – Carol não conseguiu terminar a frase e sentiu o travesseiro bater contra sua face.

- Nada de Ana! Eu vou te jogar naquela piscina em dois minutos se você não levantar dessa cama! Carolina!

Não demorou muito e Carolina saiu do banheiro enrolada em uma toalha. Sorriu para Aninha que lhe virou a cara... Como se Carolina não há conhecesse! Sabia que Ana a estava chantageando por ela ter chegado e não ter tido tempo de ligar para a amiga.

- Ok! Me desculpa... – Disse enquanto se vestia. – Mas em minha defesa eu estava exausta Ana. Olha eu ia te ligar assim que acordasse.

- Mas não ligou! – Retrucou cruzando os braços.

- Claro você veio me acordar feito um furacão! Não tinha como te ligar... Aninha... – Olhou para Ana com olhos de cachorro que caiu da mudança.

- Ai meu Deus! Quem resiste a essa carinha...  – Carol abraçou a amiga depositando um beijo estalado em sua bochecha. – Mas a comida é por sua conta!

- Há não! De novo? – Ana observou a bela mulher que fazia birra em sua frente, estava com uma calça jeans rasgada e uma regata branca, Carolina estava simples, mas atraente.

- Claro! Até segunda ordem. E só pra reforçar... Você está muito gostosa! As corridas matinais te fazem muito bem!

- Hum... Analisando o produto? Tá querendo comprar é? – A gargalhada de Ana foi gostosa.

- Se eu não soubesse o quanto gosto do meu lado... Você seria minha Senhorita Portman! – Carolina franziu o cenho.

- Como pode ter tanta certeza?

- Porque ao contrário da Manu eu não deixaria você á solta! Sem contar que a Manu não é páreo, né? – Agora as duas riram juntas.

- Vou ter que discordar. – Sorriu para a amiga.

- Até agora nada de novo! Bom, já são quase quatro horas da tarde... Você praticamente hibernou e amanhã já é sexta-feira, ou seja, vamos logo para o café.

- Como desejar Doutora! – Carol bateu continência, mas antes de saírem Ana observou o peito de sua amiga.

- Carol onde está o medalhão? Você não o tira para nada!

- É uma longa história, mas resumindo pulei de uma cachoeira...

- Você perdeu? – Perguntou indignada.

- Não! Claro que não. Eu o guardei antes de entrar na água e não o coloquei mais. – Carol saiu e em poucos minutos voltou com ele no peito. – Pronto! Todos felizes. – Ana sorriu balançando a cabeça.

- Ótimo... Vamos comer!

Assim que entraram no Jeep de Ana, um latido lhes chamou a atenção. Como deixar aquele ser tão meigo ali... Só havia uma coisa a ser feita, Carolina abriu a porta de trás e Alfa entrou sem pestanejar.

- Agora sei onde você aprendeu a fazer aquela carinha... Né Alfa! – Alfa apenas latiu em resposta.

- Mas é uma traidora... – Carolina fez carinho na orelha dela. – Parece que gosta mais da Ana do que de mim! – Alfa latiu duas vezes e Ana não perdoou.

- Acho que isso foi um sim! – Ana riu da cara de Carol, dando partido no carro em seguida.

§

Ao contrário de sua chefe, Manuela já estava há um bom tempo na casa dos pais. Estava morrendo de saudades de Miguel. Aquela criança era sua alegria! Eles conversavam o tempo todo, era como se o assunto nunca acabasse. Junto com eles estava Francisco, o homem admirava como os irmãos, apesar da diferença nas idades, se relacionavam tão bem.

Manu não conteve o sorriso por saber que sua mãe havia ido fazer uma viagem. Estranhou o fato, pois Malvina raramente saia de Coronado sozinha, mas estava sendo bom adiar a discussão que ocorreria por conta da viagem a Manaus. Contudo por algum motivo esse sumiço repentino de Malvina á incomodou...

Francisco notou o semblante de sua filha mudar. Era óbvio que algo há estava incomodando. Sorriu para a filha quando esta notou que ele estava lhe olhando... Não soube o motivo, mas levantou-se da cadeira e sentou ao lado deles na grama. Envolveu os dois em seus braços, ficando assim por longos minutos.

- Eu queria estar sempre ao lado de vocês dois... – Disse apertando-os mais. – Queria protege-los de tudo de todos... Queria sentir suas dores e torna-las somente minhas... Queria poder voltar no tempo para colocar uma proteção na piscina – beijou o topo da cabeça de Miguel - e não ter deixado você entrar naquele carro... – Manu sentiu uma lágrima caindo em sua testa. – Eu amo vocês!

Nesse momento os três estavam emocionados. Mas foi o menor que se pronunciou.

- Uma amiga me disse uma vez que... Certas coisas só acontecem com pessoas que são fortes o suficiente para supera-las, mesmo que elas não tenham o conhecimento disso! – Falou sorrindo lembrando-se daquele momento.

- É papai... Parece que a sabedoria está nos mais baixinhos! – Brincou com Miguel, pois sabia que ele não gostava muito de ser o menor.

- Sorte sua que nasceu antes! Se bem que não demora muito e já passo você fácil, fácil... – Francisco riu alto limpando os vestígios das lágrimas.

- Bom... O que acham de fazermos um passeio? – Mas antes que algum dos dois respondesse, a atenção foi voltada para o homem que se aproximava.

- Acho que será muito divertido! – Sorriu para os três que lhe retribuíram o gesto. – Como foi à viagem? – Deu um breve selinho em Manu que correspondeu, afinal ainda eram noivos e o rapaz não tinha culpa de nada.

- Então vamos ao parque? – Miguel perguntou animado, ele adorava aquele lugar.

- Claro campeão, mas só se você buscar a bola! – Félix disse divertido.

Naquele momento Manuela se lembrou de um dos motivos de estar com ele... Era um homem amoroso. Assim que tivesse uma oportunidade Manuela falaria com ele, não suportava estar nessa situação, ainda mais sabendo que havia traído seu noivo, fisicamente, pois seu coração sempre foi de uma só pessoa... Cada dia tinha mais certeza disso.

Manuela foi em direção da cozinha arrumar os mantimentos para fazer um piquenique. Estava terminando de ajeitar a cesta quando o menino apareceu na porta.

- Mana só falta você. – Falou apressado.

- Calma que o parque não vai sair correndo! – Sorriu para ele.

- Quer que eu te ajude? – Manu olhou para aqueles olhinhos felizes e disse:

- Já terminei! Vamos? – Manu pegou a mão dele.

Félix guardou a cesta e entrou no carro sendo seguido por Francisco. Antes que Miguel entrasse Manu lhe fez uma pergunta, sem que os outros dois á ouvissem.

- Miguel quem foi a sua amiga que lhe disse aquela frase? – Estava curiosa para conhecer aquela pessoa e o porquê de ter falado aquilo para o menino.

- Foi a Carol, Mana... – Sorriu sapeca para a irmã, que ficou sem entender nada.

- Como? – Mas não puderam continuar a conversa.

- Ei, vocês dois é pra hoje? – Francisco perguntou no banco de trás.

O caminho foi longo para Manuela que não parou de pensar nas palavras do irmão. Provavelmente ele tinha contato com a Carolina por causa da Bia, mas em todos esses anos porque nunca ouviu falar delas... Nem mesmo seu irmão nunca havia mencionado o nome da amiguinha. Lembrou que ás vezes Miguel saia somente com o pai e quando voltava estava radiante, só viu seu irmão nessa euforia quando encontrava a Bianca.

§

Assim que chegaram no parque, Ana estacionou o Jeep abrindo a porta para que Alfa descesse. Carolina já havia contado tudo que ocorreu na viagem para o Brasil e Aninha ficou feliz pela tal de Gabrielly ter aparecido na história. Ana debochava de Carolina quando o vento mudou de direção, atraindo a atenção da Alfa.

- Você quer parar de ficar feliz nas minhas tragédias? – Disse uma Carolina divertida.

- E com quem vou me divertir? – Retrucou. Estavam rindo quando Carol começou a olhar para os lados, preocupada. – Que foi?

- A Alfa sumiu Ana!

- Que!

Carolina e Ana pareciam duas loucas andando de um lado para o outro. Até que Aninha resolveu usar o cérebro e perguntar para as pessoas se haviam visto a cadela, rapidamente foram lhe apontando a direção. Direção esta que Carolina fez voando!

Ao longe Manu ouviu um latido familiar e quando deu por si, Alfa já estava em seus braços. Sentiu seu coração estremecer no peito, pois com certeza Carolina estava próxima. A cadela ganhou carinho e atenção de todos os presentes, mas assim que Carolina a avistou não foi bem carinho que a cadela recebeu.

- Alfa! – Carol gritou num misto de preocupação e repreensão, nem notou quem eram as pessoas que estavam ali. – Como você pode sair desse jeito! – Alfa caminhou até ela e baixou a cabeça, sentiu que sua dona não estava nada feliz. – E se alguma coisa te acontecesse? Heim! – Carolina se ajoelhou e abraçou a cadela. – Não faça mais isso... – Disse docemente, pois não suportaria ficar sem a Alfa também.

Ao contrário de Carolina, Ana percebeu a presença de todos. Que pareciam hipnotizados pelo gesto da amiga. Ana cutucou levemente Carolina, que finalmente percebeu a presença dos demais.

- Olá... – Foi à única coisa que Carolina conseguiu falar, mas seus olhos diziam muito mais.

- Oi... – Manu respondeu com a mesma emoção. Ana notando quão constrangedor estava aquele momento interveio.

- Olá Manu, Miguel, Senhor Fernandes e por último e menos importante Senhor engomadinho! – Sorriu satisfeita da cara de indignado de Félix. Todos responderam com um oi, menos é claro, o Senhor engomadinho.

- E ai Carolina tudo bem?

- Sim e você?

- Estou ótimo! – Olhou fixamente para Ana, que estava radiantemente linda com os olhos num azul profundo. – Como está “Miss bumbum”? Muitos compromissos?

- É... Sabe como é... Uma mulher como eu só tem os melhores compromissos! – Sorriu debochada.

- Imagino quais devem ser... – Estreitou os olhos. Parecia que estavam prestes a se matarem.

- Miguel tem lugar pra mais uma no time? – Carolina sorriu para o menino, que não perdeu a deixa.

- Claro! O time vai ser: Eu, você e Félix. Contra o papai, a Ana e a Manu! A Alfa joga nos dois times, porque ela é a melhor e não tem como ficar só de um lado.

Todos riram da constatação de Miguel. Os times estavam formados, enquanto um casal soltava faíscas de assassinato pelos olhos o outro conversava carinhosamente. Cada um dos lados organizava o seu time. Miguel e Francisco eram os goleiros, Félix e Manu jogavam como zagueiros, Aninha e Carol estavam como atacantes. Claro que na hora virou um bolo só, mas gostavam de achar que eram profissionais!

- Deixa a “Miss bumbum” pra mim! Quero ver ela passar! – Falou sem tirar os olhos de Ana que lhe lançou um sorriso vitorioso.

- Como quiser... – Carol respondeu percebendo as faíscas nos olhares. – Ei Manu vamos ver se sua marcação é forte! – Piscou provocativa, recebendo um olhar contrariado.

- Vou mostrar pra ela como funciona uma marcação cerrada! – Falou para Ana.

- Finalmente Manuela! – Sorriu para a moça.

O jogo transcorria animado apesar dos quatro estarem levando a sério. Mas a grande jogada seria de Alfa, que se escorou em Manuela, fazendo que a jovem perdesse o equilíbrio, contudo Carol rapidamente a segurou para que não caísse. E o jogo continuava...

- Obrigada... – Manu disse ficando vermelha, pois seu corpo arrepiou ao toque de sua chefe. Assim que olhou nos olhos de Carolina teve a certeza... Não há deixaria escapar, não mais! – Carol... – Os olhos de Manuela foram atraídos pela peça que estava nos peitos da morena.

- Que foi Manu?

- O medalhão... – Manu o pegou nas mãos e olhou nos olhos de Carolina. Como num raio seus olhos foram invadidos por inúmeras imagens, seu corpo sentia sensações... Carolina não viu que Félix corria em sua direção, mas olhava para a bola e não para as moças paradas. Foi um impacto forte que fez Carolina cair por cima de Manuela, mas a jovem conseguiu proteger o corpo de Manu com os braços. Assim que Manuela sentiu seu corpo tendo um impacto, foi como se tudo estivesse claro... Como se a nevoa que estava em sua mente tivesse sido removida.

- Manu você tá bem?  - A voz de Carol era preocupada. – Fala comigo Manuela! Manu... – Os olhos de Manu estavam fixos no medalhão que se encontrava em cima de seu peito. E a voz de Carol a despertou.

- Poderia sair de cima de mim? – Os olhos de Manuela estavam diferentes.

Carolina levantou aos poucos enquanto era observada pelos outros. A atitude de Manu impressionou-os, o jeito frio com que falou assustou Carolina.

- Manu... – Tentou falar, mas foi em vão.

- É melhor irmos, já está tarde. Outro dia terminamos o jogo. – Em nenhum momento olhou para Carolina.

Ninguém entendeu absolutamente nada! Mas se despediram. Miguel deu um longo e carinhoso abraço em Carol, o que não passou despercebido por Manuela.

- Não fica triste... – Sussurrou no ouvido da morena. – Ela te ama... Eu sei! E eu também. – Sorriu para Carolina que lhe fez um carinho no rosto.

- Eu também te amo... Muito!

Miguel seguiu em direção ao carro. Manuela ai atrás dele quando Carolina segurou sutilmente seu pulso. O calor daquele toque era tão conhecido por Manuela, que sentiu como se estivesse passado uma eternidade sem senti-lo...

- Manu olha para mim... – Os olhares estavam voltados para elas.

- Já que faz tanta questão! – Aqueles olhos verdes congelaram a alma de Carolina, que sentiu como se o inverno estivesse envolvendo seu coração. – Nos vemos amanhã Senhorita Portman!

Carolina estava estática e desta fez Alfa não saiu de seu lado, nem quando Manu fez um carinho em sua orelha.

O carro já estava longe quando Ana tocou delicadamente o ombro da amiga...

- Que foi Carol... – A expressão de Carolina a estava preocupando.

- Ela... Ela me olhou da mesma forma...

- Que forma Carol?

- Da mesma forma que me olhou, pela última vez, há quatro anos... – Ana quase não conseguiu ouvi-la, tão baixo que saiu a voz de Carol.

Fim do capítulo