Depois de dormir praticamente o dia todo, Juliana sentia seu corpo menos dolorido, embora o nariz ainda estivesse escorrendo da forma mais irritante possível. Olhou ao seu redor e viu que o quarto estava com as janelas abertas, mas como já era noite, estava tudo escuro. Ao acender o interruptor, viu que Daniela dormia aos pés da cama, encolhida, aparentemente com frio.  A ruiva sorriu e ficou por uns segundos reparando em como ela parecia sonhar com algo extremamente agradável.

 

Daniela acordou devagar, com dor nos olhos por causa da claridade.

 

- Te acordei? Desculpa pela luz!

 

Dani abriu os olhos finalmente.

 

- Você tá melhor? – colocou a mão direita na testa da ruiva, aproximando-se

 

- Acho que sim. – fez uma careta por causa da coceira no nariz

 

- Você dormiu bastante. – sentou-se na beirada da cama – Dormir é o melhor remédio! – sorriu

 

Juliana acompanhava os movimentos de Daniela como se fossem em câmera lenta. Ela era, sem dúvida alguma, a mulher mais doce que já conhecera em toda sua vida.

 

- Você colocou no currículo a sua habilidade de cuidar de convalescentes? – arqueou uma sobrancelha

 

- Não.. – as bochechas coraram – Até onde eu sei, só sou boa na cozinha.

 

Daniela percebeu que Juliana parecia querer espirrar e entregou os lenços a ela.

 

- Olha, pra mim você também é uma incrível enfermeira. – assoou o nariz – E uma ótima companhia.

 

Aquele comentário fez com que Daniela se sentisse algumas borboletas indevidas no estômago.

 

Juliana resolveu levantar e “se recompor”. Por algum motivo estava se sentindo muito feia e mal arrumada daquele jeito, jogada na cama e suada por causa da febre que ia e vinha.

 

Daniela desceu e preparou uma canja para jantarem.

 

Logo depois de vestir as roupas íntimas e um robe, Mário ligou. Falaram por alguns minutos e ele foi dormir admitindo cansaço por causa da viagem abrupta.

 

Juliana jantou sobre os olhares cuidados de Daniela, que verificou a febre da patroa mais uma vez. Depois, recolheu a louça, lavou, secou e guardou, não se esquecendo de limpar o fogão. E agora era Juliana que acompanhava os movimentos de sua empregada. Ou melhor, sua doce empregada. Era isso o que Juliana era: um doce.

 

- Vamos?

 

Juliana foi despertada de seus pensamentos.

 

- O que?

 

- Assistir um filme? Juntas?

 

- Claro!

 

A ideia era ótima, mas elas ficaram meia hora só para decidir qual tipo de filme assistir e depois mais vinte minutos para decidir o filme. Optaram por algo leve, divertido e que não desse sono.

 

O filme terminou e era quase meia noite. Ju percebeu que seu corpo começava a doer novamente e Daniela mandou que ela fosse deitar naquele mesmo instante.

 

Depois de um antitérmico e uma bolsa de água quente na nuca, Juliana foi liberada para dormir, mas não sentia sono. Daniela foi fechar toda a casa e depois tomou um banho quente.

 

- Não dormiu ainda? – sentou-se na cama – Tá sentindo dor, Ju? – segurou no braço da ruiva

 

A ruiva sorriu ao perceber a preocupação de Daniela.

 

- Só estou sem sono...  – falou tirando as cobertas – E com calor!

 

Daniela riu e ajudou a patroa a tirar as mil cobertas que tinha colocado para aquecê-la. Mas Juliana também resolveu tirar o Robe branco de seda que a envolvia, ficando apenas de calcinha e sutiã.

Daniela sentiu “coisas estranhas” acontecerem embaixo de sua calcinha. Uma onda de calor a invadiu e ela sentiu vergonha por estar com pensamentos tão nefastos.

 

- O que foi? – arqueou uma sobrancelha

 

- Nada. Acho que já está melhor, né? Vou pro meu quarto dormir. – levantou-se

 

- Não, espera! – sentou-se na cama

 

O cabelo longo e vermelho de Juliana caia sobre sua pele branca com sardas, deixando Daniela desnorteada. Ela parou na porta, pensou dez vezes em simplesmente sair e não acatar ao pedido da patroa, mas era impossível não atende-la. Então, em maio a tantas confusões, Daniela voltou para perto.

 

- Dorme aqui comigo...

 

Ju pediu se encostando mais para o lado, deixando um espaço vago para Daniela, que deitou-se lentamente.

 

Daniela podia sentir o cheiro do perfume da ruiva e isso a deixava mais nervosa ainda. Virou-se para o lado oposto e fechou os olhos.

 

- Nós vamos dormir agora?

 

Juliana estava acordada, acesa e queria conversar, conhecer mais Daniela. Tinha tanta coisa sobre a morena que ela ainda não sabia...

 

- Vou fazer você contar uma historinha... – disse rindo

 

Daniela riu, mas disfarçou. Não poderia arcar com as consequências daquilo que estava sentindo.

 

- Melhor você dormir, precisa repousar. Conta carneirinhos! – disse ainda virada para o outro lado

 

- Tá. – virou-se também – Mas eu vou querer um milk-shake amanhã.

 

Juliana logo dormiu, era bem óbvio que aconteceria por causa dos remédios. Mas Daniela sentia-se completamente acuada com o que tinha acabado de sentir. Então era isso, ela desejava Juliana intensamente. A propósito, desejou ela desde o primeiro dia, quando leu aquelas palavras tão pervertidas e delicadas, ao mesmo tempo. Mas o aquilo, para ela, era um descontrole, porque ia além de um simples desejo sexual. Ela estava cuidando de Juliana de um jeito desproporcional ao que normalmente fazia até com suas amigas. Ela se importava. Se importava muito! E isso não estava certo.

 

Uma chuva forte caia quando Juliana desceu as escadas, procurando por Daniela. Ao chegar na cozinha, a mesa estava posta e um lindo copo de milk-shake de morando estava a esperando na mesa. Ela não podia acreditar naquilo... Daniela era perfeita! Suspirou, ignorando o milk-shake e procurando a morena. A encontrou na varanda com uma tesoura de jardim, podando algumas plantas que cresciam além da conta.

 

- Dani! Porque não me acordou?

 

Aproximou-se. Daniela continuou o que fazia.

 

- Não acredito que você fez mesmo o milk-shake! Como você consegue ser assim? – cruzou os braços, sorrindo

 

- Assim como? – abaixou a tesoura e encarou a ruiva

 

- Tão linda...

 

Juliana falou sem pensar, mas era aquela a melhor definição que ela poderia dar, embora pudesse soar estranho. A propósito, era estranho mas não era tão ruim assim. Por vários momentos Juliana pensava na possibilidade de se envolver com outra garota, mas se deu conta, naquele exato instante, que era Daniela que estava provocando isso nela. E por mais louco que parecesse, não era algo ruim, muito pelo contrário. Juliana estava sentindo uma coisa nova que nunca sentiu antes na vida, uma vontade de viver acompanhada de uma satisfação enorme por compartilhar uma sintonia tão grande com ela.

 

- Ju, eu não posso continuar trabalhando aqui.

 

Juliana assustou-se, sentiu seu coração bater de forma disparada.

 

- Como assim? – foi pega de surpresa

 

- Não dá. Eu não posso! – colocou a tesoura de jardim em uma cadeira – Eu peço demissão. – encarou o assoalho a sua frente, ao  mesmo tempo que uma lágrima rolava do seu rosto.

 

- Você não pode! – praticamente gritou – Porque está fazendo isso? Do nada?

 

Daniela respirou fundo, tentou contar até dez, mas não deu conta.

 

- Porque? – repetiu aproximando-se de Juliana – Por isso!

 

Sua boca colou-se na de Juliana. Podia sentir a maciez dos lábios da ruiva que se entreabriram, fazendo as línguas se encontrarem em uma dança lenta e apaixonante. O beijo foi rápido, mas durou uma eternidade para Juliana, que jamais esperava por aquilo. Não hesitou em momento algum, mas demorou a dar-se conta do que estava acontecendo. Já estava colocando a mão direita na nuca de Daniela, chamando-a para mais perto de seu corpo, quando a outra se afastou.

 

- Tenho que ir!

 

Dani respirava com dificuldade quando pegou sua bolsa na entrada da sala em uma poltrona e saiu pelo portão, sem olhar para trás, para não se arrepender. Deixou para trás uma Juliana confusa, nervosa e muito molhada. 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Fim do capítulo