Acordei com o barulho das gotas de chuva batendo com força contra o vidro da porta da sacada. Tentei espantar a preguiça e olhei para o relógio e o mesmo marcava oito e meia da manhã. Segui para o banheiro, tomei um banho rápido e fiz minha higiene matinal. Vesti uma calça e uma blusa de moletom. Desci as escadas, passando pela sala e cheguei à cozinha. Mike estava com a cabeça baixa, enquanto Ângela estava parada na porta, chorando. Franzi o cenho, assustada com aquilo.

- O que tá acontecendo? – perguntei para Mike. Ele me olhou e sua face estava triste. – Alguém pode me dizer o que tá acontecendo aqui? – Ângela nem se mexeu.

- A menina Fernanda tá lá fora. – ergui a sobrancelha. – Desde que chegamos, ela tá lá. Debaixo dessa chuva. Tentamos faze-la entrar, mas ela parece em outro mundo.

- O que... – um nó se formou em minha garganta.

      Andei até ficar ao lado da Ângela e senti meu coração ser esmagado, como se um rolo compressor estivesse passando por cima dele. Não imaginei que um dia veria Maria Fernanda daquela forma. Ela estava lá, sentada na beira da piscina, debaixo daquela chuva forte e fria. Ela parecia em outra galáxia, enquanto seu corpo tremia. Não sei em que momento, mas só me dei conta que havia saído debaixo daquela chuva quando senti as gotas geladas se chocarem contra o meu rosto. 

- Fernanda... – a chamei, mas não tive resposta. Fechei um dos meus punhos e naquele momento desejei passar toda sua dor para mim. Queria dizer que a entendia porque sentia o mesmo em cada data, cada dia e hora que passava sem a minha mãe. – Nanda... – finalmente ela me olhou. Seus lábios estavam roxos e sua pele ainda mais pálida. Eu já estava encharcada. Era a primeira vez que chamava por seu apelido desde que erámos duas adolescentes. – Vem... 

      Estendi minha mão para ela, que me analisou por vários segundos até finalmente juntar as nossas mãos. Fernanda levantou e ficamos de frente uma para a outra. Senti uma necessidade louca de cuidar daquela mulher que naquele momento mais parecia uma menina indefesa. A puxei e colei o meu corpo ao dela em um abraço forte, apertado, necessário. Meu coração batia de forma descontrolada e acho que podia sentir o dela também, juntos em uma mesma melodia triste e intensa. Ela estava trêmula, gelada e chorava baixinho, fazendo meus olhos arderem e as lágrimas se misturarem com as gotas de chuva.

- Vamos entrar... – sussurrei em seu ouvido. Nos afastamos, a contra gosto, pois meu corpo quis manter aquele contato tão íntimo. Ela me encarou e eu sorri para ela. – Vem...

      Envolvi os ombros de Fernanda, que se aconchegou a mim. Olhei para a porta e Ângela e Mike nos observavam. Passamos a caminhar pelo quintal até a entrada, onde os dois deram passagem.

- Ângela, você pode levar uma roupa pra ela no meu quarto? – Ângela apenas concordou com um acenar de cabeça. Seus olhos estavam molhados e vermelhos. Olhava carinhosa para a mulher ao meu lado. A apertei mais contra meu corpo ao sentir o seu tremer mais forte.

      Por onde passávamos, uma trilha molhada ficava. A levei para o meu quarto, fechei a porta e seguimos para o banheiro. A fiz entrar no boxe e ela me olhou demoradamente. Parecia buscar algo para dizer, mas nada saiu de seus lábios.

- Vou deixar você... – limpei a garganta. – Se trocar. Vou te esperar no quarto.

- Tá bem... – ficamos nos fitando no que me pareceu uma eternidade. Senti meu estomago se contrair.

      Sai do banheiro, mas antes peguei um roupão e uma toalha. Me despi no quarto, enxugando meu corpo em seguida. Troquei a calcinha, o sutiã e o conjunto de moletom. Enrolei a toalha em meus cabelos.

- Aqui estão as roupas... – Ângela me olhou nos olhos. Colocou a mão sobre o meu rosto. – Você é um anjo, Alice. – Ela sorriu. – Cuida dela...

 - Tudo bem... – foi somente o que consegui dizer. Ângela saiu do quarto e fechou a porta. Olhei para as roupas em minhas mãos e segui até o banheiro. Engoli em seco quando vi o corpo nu de Fernanda, mesmo com o vidro do box embaçado. Reuni todas as minhas forças, deixei as roupas sobre o mármore da pia e sai daquele espaço, coloquei as minhas molhadas em um cesto, voltando para o quarto.

      Sentei na beirada da minha cama, ouvindo a chuva lá fora que não dava descanso. Olhei para as minhas próprias mãos e meus dedos estavam enrugados. Esfreguei uns aos outros, depois os enrolei na ponta da toalha. Ouvi a porta sendo aberta e levantei meu olhar para encontrar com aquela imensidão em tom de mel. Ela estava envolvida com o roupão e a toalha em volta do pescoço.

- Deixa eu enxugar pra você... – Fernanda me olhou por alguns segundos e passou a caminhar até a mim. Ajeitei-me na cama e ela sentou, ficamos de frente uma para a outra. Levei as minhas mãos até a toalha, tirando de onde estava.

- Obrigada... – a voz dela saiu em um sussurro, fazendo meu coração errar a batida. Seus olhos não desviavam dos meus nem por um segundo. Passei a enxugar os longos fios castanhos, quase loiros.

      Estávamos tão próximas, que eu podia sentir sua respiração quente bater de leve em minha face. Fernanda levou uma de suas mãos até o meu rosto e eu parei o que estava fazendo e esquecendo até mesmo como se respirava. Seus dedos tocavam a lateral da minha face. Deixei a toalha sobre minha coxa e cobri sua mão com a minha.

- Você é tão linda, Alice... – meu peito subia e descia rapidamente. Ela respirou forte. – Linda... – apertei a sua mão, beijei sua palma, fechando meus olhos. – Abre os olhos. Gosto deles... – fiz o que ela pediu. As palavras estavam engasgadas em minha garganta. – Quero muito beijar você, Alice... mas, tenho medo de não consegui parar...

- Então não para... – minhas duas mãos foram para o seu rosto. – Me faça sua... eu quero ser sua, Fernanda... – nunca disse palavras tão sinceras como aquelas.

“Foda-se qualquer coisa... Eu a quero!”

      Fechei meus olhos e grudei minha testa na dela. Agora nos duas estávamos com as respirações desordenadas. Cobri os lábios trêmulos de Maria Fernanda, sentindo a textura somente naquele tocar de pele. Suas mãos seguraram firmes na lateral do meu moletom, parecendo não querer que eu fosse a lugar algum, mas eu não queria sair dali por nada nesse mundo. 

      Nossas bocas passaram a se movimentar lentamente, iniciando um beijo que me fez ir ao céu. Aquele beijo não havia explicação. Beijar a Nanda não tinha explicação e eu me acostumava cada vez mais com a sensação de torpor que era me perder naquela boca, no gosto, na loucura. Fernanda, em um movimento rápido, me fez sentar em seu colo. Enlacei minhas pernas ao seu redor, grudando completamente nela. 

      Seus braços me agarravam de forma possessiva e eu me senti tão dela. Aquilo não me parecia errado ou estranho. Ao menos, não mais. Eu me sentia uma fortaleza, mas nenhum pouco inume aquele vendaval que devastava o meu interior quando estava nos braços dela, no vendaval que era Fernanda. Não havia resistência e eu estava mais do que entregue. 

      Senti meus cabelos sendo libertos da toalha, o zíper da minha blusa sendo aberto, me deixando com o sutiã vermelho amostra. Eu precisava de ar, nós precisávamos, mas não queríamos cessar o beijo. Deixei Fernanda tirar o moletom, para logo em seguida tocar de forma tão delicada as minhas costas. Podia jurar que seus dedos queimavam a minha pele por onde passavam. Ofeguei, colando nossas testas e puxando o ar com força. Abri meus olhos e os castanhos adentraram no mais profundo da minha alma. Eu podia jurar que Fernanda via mesmo através de mim.

- Eu te quero... – beijei o canto da sua boca. – Quero muito... – ela me apertou.

- Tem certeza? – desamarrei o nó do seu roupão. Deixei escorregar pelos ombros pálidos e senti meu centro pulsar ao ver que ela usava apenas uma calcinha preta. Mordi meu lábio e quase senti o gosto de sangue. – Não faz assim... 

      No minuto seguinte, eu estava deitada, vendo Fernanda com o corpo quase todo exposto, ao não ser pela pequena calcinha. Os seios de bicos rosa, a barriga sequinha, a tatuagem que a deixava ainda mais sexy.  Minha calça foi tirada e agora estávamos em situação igual. Eu via a luxuria queimando em seus olhos, mas havia algo a mais. Algo que fazia não só meu corpo, mas meu coração vibrar em contentamento. 

      Foi quando ao fechar meus olhos, pude sentir os lábios macios beijarem com carinho o início da minha perna e arrasta-se despreocupadamente ao longo da mesma. Ofeguei, segurando os lençóis, com um sorriso besta em minha face. A trilha de beijos passou ao lado de meu sex*, por todo o meu abdômen, entre meus seios e reascendeu em minha boca, em um beijo faminto. Gemi sem pudor, quando os seios de Maria Fernanda se chocaram com os meus. 

      Arranhei com um pouco de força as costas dela, quando senti a quentura e humidade de sua intimidade ainda coberta sobre a minha coxa. Uma de suas mãos estava em meu pescoço e passou a descer vagarosamente por meu colo e chegou ao meu seio esquerdo, enquanto Fernanda me fazia perder o ar com o seu beijo. Paramos para respirar, mas logo fiquei sem ar em meus pulmões novamente quando senti a boca e língua, mornas em meu seio que antes era explorado por sua mão.

- Oh, isso é... – Não consegui completar.

      Meus dedos se perderam em seus fios ainda molhados.  Fechei meus olhos para receber o prazer que a boca experiente me fazia sentir. Um vazio se fez presente quando sua boca o abandonou, mas logo essa sensação deu lugar a outra quando ela se colocou sobre minhas pernas. Abri meus olhos, para ter a visão mais perfeita e que passou a ser secretamente a minha favorita. Ela sorria de forma travessa, enquanto seus dedos estavam segurando a lateral da minha calcinha. Ela me pedia permissão com os olhos e eu a dei com um acenar de cabeça.

       Agora estávamos nuas, sem nenhum tipo de barreira que impedisse o que viria a seguir. Fernanda deitou-se sobre mim, grudando nossos sex*s. Mordi meu lábio com força, mas não fechei meus olhos, pois os dela estavam vidrados neles. Um movimento leve iniciou entre nossos quadris, facilitado pelo estado vergonhoso do meu sex* encharcado, mas eu vibrava por sentir o dela da mesma forma. O deslizar estava me deixando louca, gem*ndo baixinho, enquanto ela ofegava sobre mim com a boca entreaberta. 

      Rebolávamos agora em ritmo acelerado, louco. Os gemidos dela eram como uma melodia deliciosa que adentrava os meus tímpanos. Apertei com força as suas nádegas, pois eu queria ainda mais contato. Queria colar nela e nunca mais largar. O meu prazer estava a poucos segundos de transbordar e ela pareceu perceber e aumentou ainda mais a fricção. G*zei e gritei seu nome quando o meu liquido escorregou por meu sex* e o dela veio segundos depois. Não tive tempo de pensar quando ela se pôs entre minhas pernas e passou a sugar todo o meu gozo. Fechei meus olhos com força e levei minha mão até seus cabelos, enquanto a outra quase rasgava o tecido da colcha.

- Oh, Fernanda... – meu peito subia e descia. – Isso é... Oh...

      Não tive tempo de concluir, pois meu corpo sentiu o efeito avassalador do segundo orgasmo. Controlei a vontade de gem*r alto, pois somente naquele momento lembrei de Ângela e Maicon. Fernanda se colocou parcialmente sobre mim, segurou meu rosto com delicadeza e me beijou da mesma forma, fazendo eu sentir o meu gosto em sua língua quente. A abracei, para não correr o risco de ter o corpo quente me abandonando.

“Eu necessito dela.”

“Eu tô apaixonada por ela... Deus!”

      Sua cabeça repousava sobre o travesseiro, enquanto nos olhávamos. Minhas mãos ainda estavam possessivamente em sua cintura.  Fiquei com medo de dizer algo e quebrar aquele clima tão bom que estava entre nós. Minha cabeça estava uma confusão, mas eu não sentia arrependimento. Eu queria estar ali e não iria negar. Fiz ela deitar de peito para cima e me coloquei sobre seu corpo. Ela parecia surpresa com a minha atitude. Segurou minha cintura e passou a fazer carinho em minha costa com os dedos.

- Eu não sei o que pensar, Fernanda... – senti quando ela puxou o ar com força.

- Você tá arrependida? – seus olhos desviaram dos meus por alguns segundos.

- Nenhum pouco... – ela voltou a me olhar. – Isso não te parece surreal? – ela sorriu e em reflexo, sorri também.

- Essa é a última coisa que eu imaginei que pudesse acontecer, Aly... – quase desfaleci quando ela disse o meu apelido daquela forma tão doce. – Mas, me parece tão certo... – beijei de leve os seus lábios.

      Suguei seu lábio inferior e o prendi. Fixei meus olhos nos dela, enquanto passei a rebol*r sobre seu quadril, fazendo nossos sex*s se tocarem novamente. Lá fora estava frio, mas eu sentia que meu quarto estava excessivamente quente e não era o aquecedor. Fernanda desceu as mãos e segurou firme minhas nádegas. Eu adorava a forma que ela me pegava, quase g*zei somente com aquele gesto. Os gemidos dela saiam abafados aos meus pois eu ainda ch*pava seu lábio. Quando senti que iriamos goz*r, parei o que estava fazendo, levei a minha mão até o seu centro e comemorei por ele está tão molhado, facilitando o ato a seguir. Soltei seu lábio e penetrei Fernanda com dois dedos.

- Porr*... Alice... – sorri.

      Meus movimentos em seu sex* eram os mais lentos possíveis. Queria ouvi-la pedir para que eu a devorasse, a fizesse minha. Ela me deu um beijo intenso, quase me fazendo perder o controle.

- Aly... – ela reclamou, grudando nossas testas.

- Pede, Nanda... – aumentava o ritmo, mas logo voltava a deixa-lo lento.

- Porr*... Aly... – ela rosnou. – Mais rápido...

- Assim... – Aumentei nas estocadas. Estava sendo guiada somente por meus instintos.

- Assim... Ai, merd*. – Ela fechou os olhos. Era uma sensação totalmente nova e muito prazerosa. Ela estava daquela forma por minha causa e isso deixaria meu ego muito inflamado. – Oh...

      Acelerei, vendo-a se desmanchar poucos segundos depois embaixo de mim. Mantive meus dedos dentro dela até vê-la se acalmar. Fernanda abriu os olhos e ficamos não sei precisar quanto tempo, apenas nos beijando. Abraçadas, suadas e em um mundo somente nosso...

Fim do capítulo