Capítulo 50

 

 

Uma semana se passou, nesse tempo muitas coisas aconteceram. Rebecca foi visitar Carol que ficou feliz com a visita da ruiva. As duas conversaram bastante. Carol percebia de longe o amor que Rebecca nutria por sua irmã e ficava muito feliz em saber que as duas finalmente estavam vivendo esse amor. Rebecca também percebia o grande amor que a baixinha sentia por Victoria, era até engraçado. Torcia para que Vick ficasse logo boa e as duas pudessem se entender. Para o desgosto de Carol e Érika, Elise foi ao hospital várias vezes para saber de Vick. Nutria um grande sentimento pela a jovem pediatra e sentiu bastante o que aconteceu com a menina.

 

Érika e Luiza se revezavam para cuidar de Victoria, que ainda era mantida em coma, o inchaço começava a diminuir e isso era muito bom. Todos ainda estavam por lá, a espera de alguma melhora de Victoria. A mãe da jovem esperava ansiosa, não conseguiria suportar a dor de perde sua menina. Quando ela foi visitar Carol as duas se abraçaram e choraram emocionadas. Suzana sempre soube do amor que Vick nutria pela prima, ela conhecia a filha melhor do que ninguém. Simplesmente adorava a baixinha e ficaria muito feliz se as duas ficassem juntas, só esperava que Rafael pensasse o mesmo e fosse parecido com seu irmão Pedro e não tivesse o jeito ruim de Júlio.

 

Daniela soube de tudo que havia acontecido. Achou uma pena nenhuma das duas não terem morrido. Soube da morte de seus comparsas no acidente e ficou deveras feliz. Tudo estava dando certo para ela. Nunca iriam descobrir o seu envolvimento com aqueles bandidos. Soube que Vick estava muito mal e torcia para que a jovem não resistisse. Adoraria ir em um funeral, seria magnífico ver todas elas sofrendo. Sorria todas as vezes que pensava nisso. Não havia esquecido de Rebecca e Luiza, essas duas iriam ter o que mereciam e ela iria esperar o momento certo para atacar, por enquanto ficaria apenas observando as coisas. Sabia que elas suspeitavam de si, e todos estavam em alerta. Iria esperar a poeira abaixar, por enquanto, não tinha pressa.

 

O apartamento das jovens estava super lotado. Os pais de Luiza dormiam  no quarto da médica, os de Vick no dela. Os pais de Érika preferiram um hotel e Letícia e Felipe dormiam no de hospedes.

 

Um dia Carol recebeu uma visita inesperada.

 

-- Oi karina... - Carol disse com sorriso triste. 

 

A loira aproximou-se e depositou um beijo em seu rosto.

 

-- Fiquei sabendo o que aconteceu e mesmo com receio de não ser tratada tão bem, eu resolvi vim te ver. Fico feliz em saber que você está bem. 

 

Carol abaixou a cabeça tristemente.

 

-- Pena não poder falar o mesmo da Vivi... – sussurrou.

 

Karina suspirou. 

 

-- Sinto muito por tudo isso - disse sincera. 

 

Carol a encarou. 

 

-- Você sabe que a culpa de tudo isso é daquela vadia da Daniela, não é? - falou revoltada. 

 

-- Sim, eu sei – disse baixinho.

 

-- Essa é a verdadeira garota que você ama, Karina... Daniela não passa de um monstro! Aquela maldita! Eu vou acabar com ela... Quando eu puder levantar daqui...  

 

-- Carol você precisa ficar calma - a loira percebeu que a baixinha estava ficando agitada - Agora eu percebo o quando a Daniela é ruim. Eu fui cega por muitos anos, mas agora sou livre de todas aquelas amarras e uma das pessoas que eu devo agradecer é você. Obrigada pelas suas palavras sábias. Eu te agradeço muito... Nunca imaginei que a Daniela fosse capaz de tanto, fico feliz de não ter mais qualquer envolvimento com ela. 

 

-- Você tá livre, Karina... Aproveita! - Carol falou um pouco mais calma. 

 

Karina ficou pensativa e suspirou algumas vezes. 

 

-- Sabe o que a dona Sandra me disse uma vez... 

 

-- Eu talvez imagino o que seja - disse a baixinha atenta. 

 

-- Ela falou que era melhor eu me afastar da Daniela... Era a única maneira de eu ficar bem comigo mesma - disse pensativa - E ela tinha razão. 

 

-- Dona Sandra não merece a filha que tem. Pena que a Daniela não herdou o caráter da mãe... Ela é toda o pai. 

 

-- Você sabe quem é o pai dela? - perguntou surpresa. 

 

-- Sim... Eu conversei com a mãe dela há alguns anos... Ela disse que o pai dela era um louco psicopata... Dona Sandra teve que fugir para se ver livre dele. Ele morreu faz um tempo, mas antes disso aterrorizou a vida de muita gente. Dona Sandra me disse que ele era um homem de muitas poses, mas completamente insano. Ela não queria que a filha tivesse o mesmo destino... Mas veja o que aconteceu... Eu tenho pena daquela pobre senhora que não merece nada disso. 

 

-- Você tá dizendo que o pai da Daniela era louco? 

 

-- Sim... E que ela é tão louca quanto ele. 

 

-- Nossa... Isso é muito... Louco! - disse pasma. 

 

-- O horário de visita terminou - Érika disse entrando no quarto - Vem comigo, Karina. 

 

A loira de olhos de mel deu um beijo na cabeça da baixinha e a abraçou. Prometeu voltar em outra oportunidade. Quando saiu do quarto, Érika a esperava escorada na parede e com os braços cruzados. 

 

-- Muito me admira você está aqui - disse séria.

 

-- Eu gosto da Carol. 

 

-- Sei... Você não tem vergonha? 

 

-- Do que? - perguntou confusa. 

 

-- Você é amante da Daniela, que por sinal é a culpada de tudo que está acontecendo! 

 

-- Olha Érika... Eu não sou mais amante da Daniela... E eu sinto muito... De verdade... Com toda a sinceridade. 

 

Érika percebeu que a jovem falava a verdade. 

 

-- Tudo bem, esquece... Desculpa por eu ter sido grossa. 

 

-- Sem problemas - Karina disse sorrindo - Espero que tudo se resolva. 

 

-- Eu também. 

 

-- Tudo ficará bem... É só você acreditar - disse se afastando.

 

-- É tudo que eu mais quero - Érika sussurrou para si mesma. 

 

************

 

Carol andava agitada, não teve nenhuma oportunidade de ver Victoria. Luiza não deixava de forma alguma, além disso, tinha a perna que ainda doía bastante, mas nada disso fez a jovem mudar de ideia. Iria ver Vick de qualquer jeito nem que fosse se arrastando. Estava decidida. Para sua total surpresa Luiza chega falando que a jovem poderia ir ver Vick, desde que obedecesse tudo que ela diria. Carol concordou toda feliz.

 

-- Carol você não pode tocar nela e muito menos tentar se levantar da cadeira.. Sua perna ainda não tá boa... Sei que você é bem teimosa, mas eu to falando sério. Entendeu?

 

Carol fez uma carinha de anjo.

 

-- Entendi Luh - disse sorrindo tranquilamente.

 

Luiza a encarou desconfiada por um tempo, mas depois sorriu.

 

-- Vou arrumar uma cadeira pra você... Já volto.

 

Érika não havia concordado com o que Luiza queria fazer, mas achou melhor não contrariar, pois sabia que seria pior. Conhecia Carol muito bem e sabia que a garota poderia aprontar das suas, era melhor assim. As duas ajudaram a pôr a baixinha na cadeira e Luiza foi empurrando a cadeira pelo enorme corredor, sendo seguida por Érika que vinha logo atrás. Carol logo viu a plaquinha que indicava a UTI. A jovem foi ficando nervosa e de seus olhos já brotavam lágrimas de tristeza, seu coração estava apertado, mas o que ela mais queria, era ver Victoria. Luiza entrou na sala empurrando a Cadeira e parou a alguns metros da cama de Victoria. Havia outros pacientes ali, tão ruins quanto Vick. Carol estava com os olhos fixos na cama de Victoria. Luiza encarou a irmã por alguns segundos.

 

-- Carol... Você tá bem? - falou preocupada, vendo que a baixinha chorava silenciosa.

 

-- Sim... - sussurrou e Luiza fez um esforço para escutar.

 

-- Ok, vamos te deixar sozinha com ela. Você terá dez minutos. Lembra-se do que eu disse.

 

Luiza empurrou a cadeira para perto da Cama de Victoria e Carol logo segurou a mão direita da jovem. Érika ergueu uma sobrancelha e Luiza apertou os olhos, mas nenhuma disse nada. E saíram deixando Carol sozinha com Vick. A baixinha não conseguia olhar a médica direito, pois a cama era alta e Carol era uma tampinha em uma cadeira de rodas. A baixinha colocou o pé esquerdo no chão e apoiou-se na cama e fez um grande esforço pra se levantar. A perna direita ainda doía e todo o seu peso foi apoiado apenas na perna esquerda. Carol fez uma careta de dor e encarou Vick. A baixinha fechou os olhos apertando e respirou fundo várias vezes. Tentando conter de todas as maneiras a vontade que tinha de gritar.

 

Victoria parecia apenas dormir, mas os vários aparelhos que a jovem tinha pelo corpo desmentiam essa pensamento. Carol sentia dor, mas não se importou com isso. Olhou para a jovem e tocou levemente em seu rosto, deslizando a mão pelo cabelo negro e parando próximo ao local onde o tiro havia atingido. Havia um enorme curativo. A baixinha não aguentou e chorou, apertou forte a mão da prima e tentou se acalmar para poder conseguir falar. Foram alguns minutos assim até conseguir falar alguma coisa.

 

-- Vi... - sussurrou - Eu não sou boa pra falar as coisas e você sabe disso mas... Eu só queria te dizer o quanto você é importante pra todos nós. Sua mãe te ama muito... Todos estão esperando que você abra esses seus lindos olhos e que seu sorriso volte a iluminar nossas vidas. Eu vejo o enorme esforço da Luh e da Érika pra você ficar bem. Você é muito amada por todos... Ainda lembro de quando te vi pela primeira vez. Quando seus pais mudaram pra nossa cidade, você tinha sete anos e eu seis... Você não mudou nada... Continua aquela mesma menina de sorriso doce e olhar tranquilo, a mesma tímida... Tão diferente de mim que sempre fui uma falante... Seus cabelos continuam tão pretinhos como antes - Carol fez uma leve carícia no cabelo da prima - Seus olhos tão escuros... É a parte que mais gosto em você... O seu olhar... Nele eu posso ver e saber tantas coisas... Daria tudo pra olhar em seus olhos agora... Sua pele branquinha - fez uma leve carícia no braço da jovem - Credo Vick tu tá precisando de um sol... Demora vão te confundir com um lençol ou com a Samara Morgan... Quando você acordar vou te levar pra tomar uma cor e eu também tô precisando – disse observando os próprios braços e depois voltou a encarar a jovem -Eu não acreditei quando você disse que me amava... Fiquei confusa perdida... Mas sabe... Eu adorei... Sempre senti que gostava de você de uma maneira diferente, mas nunca parei para pensar sobre isso, tinha medo do que ia descobrir... Quando você arrumou aquele seu namoradinho sem graça - Carol fez uma careta - Todos seus namorados eram babacas... Agora eu sei que era ciúme que eu sentia... Ninguém merece nenhum daqueles bundões... Sou muita mais gata - riu - Quando você acordar vamos conversar direitinho sobre a gente... - abaixou-se ficando mais próxima de Vick - Eu quero ficar com você, Vivi... Eu não sei quase nada sobre o amor... Mas quero descobrir junto com você... Eu quero você... Eu sempre quis... Eu amo você, Vi... Amo desde sempre... Se você tivesse morrido eu não ia suportar... Dói - Carol já chorava - Volta pra mim, meu amor... Eu ainda quero te encher bastante... Você é a menina mais perfeita e chata de todas... Você é minha luz - Carol beijou levemente a testa da prima - Seja forte e volte para mim..... Vou estar te esperando... 

 

-- Carol!

 

Luiza se aproximou da irmã a ajudando a se sentar novamente. Carol fez uma careta de dor e ainda segurava a mão de Vick. Luiza pôs as mãos na cintura e apertou os olhos e olhando para a baixinha falou.

 

- Ana Carolina você é mesmo teimosa - a voz tinha o tom de censura.

 

Carol fez uma careta ao ouvir seu nome.

 

-- Ora Ana... Rum... Eu não tava conseguindo ver a Vick direito.

 

-- Sei... Vamos indo... - Luiza já se preparava para empurrar a cadeira, mas Carol ainda segurava a mão de Vick.

 

-- Você é incrível, Luh.

 

Luiza sorriu.

 

-- Você também é incrível, Carol.

 

-- A Vick vai sair dessa.

 

-- Eu não tenho dúvidas.

 

Carol apertou um pouco mais forte a mão de Victoria.

 

-- Não demore a voltar pra nós...

 

Soltou a mão da jovem e Luiza a levou para longe do seu amor. Carol não queria deixar Vick sozinha, mas sabia que não podia ficar ali. Estava feliz por poder ver a menina. Sentia bem lá no fundo que tudo ia ficar bem. A baixinha ficou mais aliviada. Agora só restava esperar por Victoria.

 

***********

 

Luiza observava a prima, que parecia dormir tranquilamente. Já havia se passado duas semanas. Vick ainda precisava dos aparelhos para respirar. Luiza aproximou-se mais da prima e sussurrou. 

 

-- Vamos Vick... Acorda... Abre esse olho... Volta a sorrir... Enche nossas vidas de brilho novamente - disse fazendo carinho no rosto da jovem. 

 

-- Parece fácil para as pessoas que estão de fora. 

 

-- Sim - sussurrou ainda tocando no rosto da prima. Vick estava pálida. 

 

-- Eu admiro você ainda mais Luiza. 

 

-- Pelo o que? 

 

-- Essa força que você tem.. Você e a Érika são incríveis. 

 

-- Nós temos que ter essa força, Poliana. Temos que ajudá-la. 

 

-- Sei que a gente nem teve tempo de se falar... Eu só queria te dizer que eu sinto muito... Já passei por algumas tragédias em minha vida, mas nenhuma comparada a essa que estão vivendo. Se vocês precisarem de qualquer coisa. Pode contar comigo - disse sincera. 

 

-- Obrigada - Luiza falou a encarando e sorrindo triste. 

 

-- Agora preciso ver outros pacientes - disse se afastando. 

 

Poliana escutou quando as meninas falavam da suspeita de que Daniela havia armado aquela emboscada para Érika. A enfermeira ficou perplexa e decidiu cortar qualquer ligação entre ela e a morena. Ela só queria distância de pessoas do tipo de Daniela. Havia desistido de qualquer plano contra o relacionamento de Luiza e não atendia mais as várias ligações de Daniela. Poliana só queria naquele momento curtir ao máximo a sua vida e esquecer de toda aquela história.

 

-- O que essa cobra queria com você? - Érika perguntou se aproximando. 

 

-- Apenas dizer que sente muito. 

 

--Uhum – disse entendiada.

 

-- Como foi na delegacia? 

 

-- A mesma bosta de sempre! Nesse país não tem justiça! É impossível provar qualquer coisa contra a Daniela... Mas quando eu pegar essa garota... Acabo com a cara dela. 

 

-- Não podemos agir por impulso. 

 

-- Impulso será o soco que vou dar no meio das fuças dela - disse irritada. Érika observou a prima -  E aí? 

 

-- Nada - as duas encaravam Vick, que permanecia com os aparelhos. 

 

-- Sabíamos que isso poderia ocorrer. 

 

-- Sim... Nesse momento eu só quero que ela acorde – Luiza tinha um semblante preocupado.

 

-- Só espero que quando isso acontecer, ela lembre da gente - disse pensativa. 

 

-- Eu também espero por isso, Érika. 

 

-- Existe muitos "poréns"  nesse momento, mas o mais importante e ela acordar e o segundo mais importante... 

 

-- Que a memória dela esteja intacta - completou Luiza. 

 

-- Sim. 

 

As jovens ficaram por mais algum tempo observando Victoria e conversando sobre o estado dela. Tudo naquele momento era considerado delicado.

 

Fim do capítulo