Capítulo 10
O Jardim dos Anjos -- Capítulo 10
Lorraine olhou de longe a multidão que praticamente se amontoavam próximo ao palco, onde seria feita a contagem regressiva. Arregalou os olhos e abriu a boca, assustada.
-- Mudei de ideia -- virou-se para sair -- Só um louco se aventuraria a se misturar a esse bando de bêbados e baderneiros -- Felipe segurou-a pelo braço.
-- Mas, não mesmo! -- falou irritado -- Tá pensando o que?
-- Estou pensando que prefiro subir para o hotel e assistir a queima dos fogos lá de cima, juntamente com papai e a Nádia. De preferencia a beira da piscina, com uma visão privilegiada para a praia, com direito a champanhe, lagosta e tudo mais!!!
Felipe fez uma careta.
-- E ficar escutando o seu Marcos falando a noite inteira sobre sua campanha política? Tem dó, Lô. Ninguém merece um castigo desses.
Lorraine bufou olhando desanimada em direção à praia.
-- Então me diz. Como chegaremos até lá sem sermos estrucidados?
-- Andando pela praia. Qual outra forma poderia ser? -- balançou a cabeça e saiu caminhando -- Vem logo e deixa de frescura.
Lorraine fez um trejeito com a boca e seguiu-o.
-- Trouxe frango e farofa também? -- debochou.
-- Engraçadinha. Fique sabendo que quando eu namorava o... -- seus olhos imediatamente ficaram tristes -- Você sabe quem né? Volta e meia vínhamos fazer um piquenique na praia.
-- Em uma praia cheia de gente? Que horror -- indagou, desconfiada.
-- Bem. Durante a semana não fica muito cheia.
Lorraine riu discretamente enquanto cruzavam a praia abrindo caminho entre a multidão.
-- Provavelmente era em uma praia deserta.
-- Quase -- Felipe deu uma risadinha safada.
-- Era uma praia deserta -- Lorraine concluiu -- Seu safado.
A médica observava as pessoas sentadas nas toalhas, bebendo, comendo, namorando. Tentou não invejar a felicidade que eles demonstravam. A irritação ao lembrar da cena de Silvana entrando no carro com outra mulher, a fez aumentar o ritmo dos passos. Precisava se animar. Aproveitar a noite ao máximo, dar o troco à Silvana. Afinal, não era para isso que estava naquela praia? Precisava provar a si mesma e a Silvana que era capaz de dar a volta por cima.
-- Que tal se ficarmos por aqui mesmo? -- Felipe olhou as horas no relógio de pulso -- Falta pouco para a virada.
-- E a champanhe? -- Lorraine ficou olhando para ele a espera de uma resposta -- Então?
-- Eu não trouxe -- disse Felipe baixinho, mantendo a cabeça baixa -- Esqueci.
-- Como assim esqueceu? Réveillon sem champanhe? -- balançou a cabeça, irritada com a falha do irmão.
Inconformada olhou ao redor. Os bares e restaurantes que ficavam do outro lado da avenida estavam com as portas abertas.
-- Vai até lá e compra -- falou, sentando-se na areia como uma menina birrenta, enlaçando os joelhos com os braços -- Réveillon sem champanhe não dá né Felipe? Faça o favor.
Felipe acomodou-se no chão, ao lado dela, brincando com a areia branca.
-- Olha a multidão dentro daqueles bares, Lorraine. Só vou sair de lá às seis da manhã. Dá uma chance.
-- Te vira, meu querido -- disse, amassando a areia fofa e alva com os pés -- Não sei onde estava com a cabeça quando aceitei o seu convite.
Felipe bufou alto e se levantou.
-- Sua chata! -- resmungou -- Fica ai e aproveita para encontrar uma trouxa pra te fazer companhia.
Lorraine deu de ombros.
-- Aqui nesse lugar? Vai ser difícil.
-- A cabeluda está aqui! -- Beca, levantou-se empolgada -- É hoje que me dou bem.
-- Onde ela está? -- Fael também levantou-se.
-- Na água, brincando de pular as ondas -- Beca comemorava dançando na areia -- Vamos até lá comigo, Fael?
-- Vamos! Guarda os meus documentos e o meu dinheiro no seu bolso, Alisson? Tenho medo de molhar.
-- Claro, manda aí.
Alisson pegou o dinheiro da mão de Fael e guardou no bolso da bermuda.
Silvana gem*u, ofegou e tremeu em reposta aos toques de Patrícia. A essa altura se deu conta de que não tinha mais volta. Não restava nada mais senão se entregar e responder com a mesma intensidade.
Patrícia abriu os olhos castanhos. Seus cabelos lisos caindo-lhe nos ombros, a boca rosada, os cílios compridos, faziam-na parecer ainda mais linda.
Deitando-se na cama, Patrícia a beijou e a cobriu inteira com o próprio corpo, interrompeu o beijo para olhá-la nos olhos.
-- Você foi feita para mim, Silvana -- disse baixo e um pouco rouca -- Para mais ninguém.
Silvana sorriu cheia de paixão, ajustando o corpo intimamente ao dela.
-- Não tenho mais dúvidas quanto a isso -- tomou posse da boca de Patrícia num beijo urgente e apaixonado. Quando finalmente levantou a cabeça, estava trêmula -- Me possua Pati, me possua, sou toda sua -- ela fechou os olhos e gem*u baixinho.
Fael retornou para junto de Alisson. Parou diante dela sacudindo o cabelo molhado do rosto.
-- Estou com uma fome danada -- falou ofegante -- Acho que vou comprar algo para comer. Falta quanto?
-- Quarenta e cinco minutos. Será que vai dar tempo? -- levantou a cabeça para olhá-lo. Os bares estão todos lotados.
-- Vou num pé e volto noutro. Não sai daí.
Beca saiu da água puxando a cabeluda pela mão. A música alegre do conjunto combinava com a atmosfera alegre que se formara entre as duas. Alisson teve que admitir que a cabeluda até que era bem bonitinha. Ela tinha aproximadamente vinte anos, era simpática e Beca parecia babar por ela.
As duas sentaram-se e engataram um papo tão animado que nem perceberam quando Alisson se levantou, pegou uma cerveja e saiu.
Definitivamente segurar vela, fósforo, castiçal, lâmpada, abajur ou qualquer coisa que acenda não era o forte de Alisson.
Fael pediu uma coxinha, uma empadinha e um refrigerante, mas na hora de pagar...
-- Você pensa que eu sou bobo? Me diz. Está escrito na minha cara: Bobo? -- o dono da lanchonete falava alto e estava muito bravo.
-- Mas moço, estou lhe dizendo que esqueci o meu dinheiro com a minha amiga -- Fael estava muito pálido e repleto de vergonha -- Eu vou até lá pegar o dinheiro e trago em um instante.
-- Tá me chamando de otário é?
Felipe assistia a cena com curiosidade e indignação. A situação era constrangedora e sentiu pena do rapaz. Ele era um homem bonito, com olhos expressivos, feições leves, um nariz perfeito e um maxilar bem desenhado.
As aparências enganam, mas Felipe não conseguia acreditar que aquele rapaz fosse um malandro tentando dar um golpe.
Pedindo licença, abriu caminho, foi ao encontro dele e estendeu-lhe a mão.
Fael pegou-a automaticamente mesmo não entendendo o gesto do desconhecido.
-- Cara que legal te ver -- Felipe deu uma piscadinha para ele -- Está de férias, eu presumo -- o sotaque catarinense era refinado.
-- Sim, estou -- Fael estava pasmo.
O dono da lanchonete franziu a testa.
-- Você está com problemas? -- indagou ele aproximando-se mais ainda de Felipe.
-- É que esqueci o meu dinheiro com uma amiga e acabei comendo e bebendo sem ter como pagar.
-- Isso acontece -- Felipe sorriu -- Deixa comigo.
Enquanto Felipe pagava a sua conta, Fael lhe lançou um breve olhar de admiração. Havia um brilho naquele homem que fez sua mão tremer levemente. Ele era deslumbrante com seus belos traços de Deus Grego, sua pele morena e seu belo corpo atlético!
-- Pronto! Vamos? -- Felipe arqueou uma sobrancelha e olhou para Fael, com um sorriso provocante.
-- Vamos.
Assim que se afastaram um pouco do bar, Fael pode enfim matar a sua curiosidade.
-- Porque me ajudou? -- Fael parou de andar e esperou até que seu salvador se virasse para ele.
Felipe se voltou colocando as mãos nos bolsos traseiros da bermuda jeans. A lua iluminava seu rosto e Fael pôde perceber sua expressão zombeteira.
-- Porque acreditei na sua história. E também porque modéstia a parte, sou uma cara muito legal -- completou, sorrindo.
-- Obrigado! -- realmente agradecido, Fael fitava o médico -- Como se chama? -- perguntou o rapaz, quando se aproximou um pouco mais.
-- Felipe Fernandes -- respondeu ele.
-- Meu nome é Fael -- ele murmurou, ruborizando-se -- Acho melhor nos apressarmos, já é quase meia noite.
Lorraine estava praticamente sendo pisoteada pela multidão enfurecida. Irritada com Felipe decidiu sair dali e caminhar para um lugar mais tranquilo.
-- Nesse momento, tentando ajeitar os cabelos revoltos devido a brisa que vinha do mar, ela se lembrou de Silvana -- sentou-se chateada odiando-se por ainda pensar na esposa. Estava decidida a não estragar mais aquela noite pensando nela. Já tinha perdido bons momentos por causa dessa relação falida. Estava mais do que na hora de esquecer Silvana de uma vez por todas e começar a viver de novo.
Alisson olhou no relógio e sorriu. Últimos minutos do ano e passaria sozinha. Mas tudo bem, aproveitaria para fazer uma oração em agradecimento ao Senhor, por todas as bênçãos que recebeu no ano que estava terminando. Ela olhou para o mar e o vento jogou seus cabelos para trás.
Suspirou surpresa pelo repentino mal-estar que sentia, tristeza em um momento como esse não era do seu feitio.
Ficou um momento contemplando o mar, pensando na estranha reação que acabava de ter. Ultimamente sentia falta de algo que não sabia explicar. Sempre gostou da superficialidade de sua vida e de suas relações sempre alegres e sem compromissos. Nada complicado e aborrecido, mas agora sentia falta de algo mais profundo; algo mais sincero, franco.
De repente um sorriso esboçou-se em seus lábios. Piscou várias vezes pensando ter uma visão. Ainda incrédula, esfregou as mãos nos olhos e olhou novamente. Lorraine estava ali. O choque de vê-la foi tão grande, tão inesperado, que ela tropeçou e caiu com a cara na areia.
Levantou-se com rapidez e limpou a roupa antes que ela a visse.
Lorraine desviou o rosto em sua direção e sentiu-se empalidecer quando seus olhos se encontraram aos dela. Era como uma miragem no deserto escaldante.
Ela estava tão deslumbrante com aquela bermuda jeans e uma camiseta branca, que provocou uma descarga hormonal em Lorraine. Sua beleza sempre a deixava com a garganta seca e dominada de uma emoção desconhecida que arrebatava-lhe o coração.
Sem pedir licença, Alisson sentou-se ao seu lado na areia. Pôs os cotovelos sobre os joelhos dobrados e olhou para Lorraine.
Era uma esbelta e calma garota com lindos cabelos loiros encaracolados e olhos azuis molhados, totalmente diferente de Lorraine.
-- Que surpresa agradável. Está sozinha?
-- Meu irmão saiu para comprar um champanhe, mas acho que deve haver uma fila enorme no bar.
-- Meu amigo também deve estar lá até agora -- olhou-a nos olhos e ergueu as sobrancelhas com aquele jeitinho suave e gentil -- Você está pálida!
-- Eu... estou bem. Não é nada -- parecia em estado de choque. Não esperava encontrá-la outra vez. Muito menos naquele momento.
-- Não está pensando em entrar no mar e se afogar no último dia do ano. Não é mesmo?
Lorraine não resistiu à um comentário divertido.
-- Você só pensa nisso? Quem é você? Por acaso seria um anjo protetor? Ou uma caçadora de almas-aflitas?
Alisson deu uma gargalhada.
-- Só estava brincando. Eu sei que não estava pensando em suicídio. Não sei como, mas sinto-lhe bem mais tranquila hoje -- Alisson tomou as mãos de Lorraine entre as suas, os olhos azuis brilhando. Ela encostou as mãos da cardiologista em seu rosto enquanto olhava maravilhada para seus olhos verdes e seus lábios sensuais -- Vamos começar o ano sem brigas? Sem insultos ou deboches?
O toque de suas mãos naquele rosto macio provocou um frio em sua pele e fez o seu pulso acelerar, sentiu perder o ar dos pulmões e teve a certeza que nenhuma mulher devia ser tão irresistivelmente linda como Alisson.
-- Sem insultos e deboches -- Lorraine concordou. Não gastaria sua energia lutando contra o desejo ardente que sentia por ela.
A música parou e alguém ligando o microfone, anunciou a atração seguinte:
-- Está quase na hora da contagem regressiva, pessoal!
Rapidamente, toda a praia foi envolvida por absoluto alvoroço. O povo correu alucinado para a beira do mar.
Alisson se pôs em pé e inclinou levemente a cabeça em despedida.
-- Onde você vai? -- Lorraine perguntou desapontada -- Se você está indo embora... eu preferia que não fosse -- triste, ela observou Alisson se afastar.
Um pouco adiante ela virou-se sorrindo.
-- Eu já volto. Não sairia daqui por nada nesse mundo.
E, então, Lorraine começou a ouvir o toque inconfundível de uma bateria. O barulho parou. Em seguida, ela ouviu a voz masculina: -- Dez...
-- O nosso brinde está garantido -- disse Alisson, retornando com uma garrafa de Champanhe na mão -- Vem! Vamos participar da contagem.
-- Cinco...
A vista de onde estavam era linda, as luzes dos prédios, o palco das bandas na areia da praia iluminado. A Avenida Beira Mar estava com todos os prédios enfeitados e iluminados.
A volta delas, as pessoas faziam a contagem regressiva para a chegada do Ano Novo. Ali, em meio à multidão que lotava a praia, só enxergavam uma a outra.
-- Três... Dois... Um...
-- FELIZ ANO NOVO!!!
Toda a praia rompeu numa explosão de alegria. Fogos de artifícios subiam aos céus ao som de palmas, pedidos, promessas...
Alisson fez a rolha voar longe e entregou a garrafa do champanhe para Lorraine.
-- Feliz Ano Novo, Lorraine.
-- Feliz Ano Novo, Alisson.
Entre fogos de artifícios, banhos de champanhe e gritos de alegria, elas se abraçaram, trocando um beijo que era o primeiro entre elas, o mais doce e mais profundo de suas vidas. As bocas estavam frescas e tinham sabor de champanhe, os corpos quentes, e uma onda de desejo as invadiam. Era mais que uma atração sexual. Era algo divino, de alma, não era a união de dois corpos, mas sim a união de duas mentes.
https://www.facebook.com/ojardim.dosanjos.5
Fim do capítulo
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Mille
Em: 09/01/2017
Olá Vandinha
Fael e Felipe gostei, Alisson e Lo e trocando o primeiro beijo e muitos no próximo ano, espero que sem discussão e brigas como sempre existe quando a morena volta a realidade.
Bom a Beca com a cabeluda kkkk, o início do ano trouxe amor para os seis, mais ainda teremos muitas dificuldades a ser vencida, a Andras não deixara tudo na paz, para a Ali, Lo e Silvana.
Bjus e até o próximo
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