O Jardim dos Anjos -- Capítulo 9 

 

Pâmela ficou boquiaberta, em choque. 

-- Impossível. Rejaine estava bem. Eu mesma a examinei hoje pela manhã e estava até pensando em dar-lhe alta amanhã -- Pâmela estava incrédula. 

-- Segundo o doutor Clóvis, que estava de plantão, a jovem sentia fortes dores na região abdominal. Foi internada na UTI e ele informou que ela estava com esofagite (uma inflamação no esôfago). 

-- Ela era uma garota saudável que nunca teve problemas de saúde. Pesava 117 kg e tinha 1,68m, mas não tinha problemas de saúde relacionados à obesidade. Ela decidiu fazer a cirurgia porque estava se sentindo sem amigos, estava desconfortável com a situação -- Pâmela estava com a fisionomia apreensiva e passava as mãos pelos cabelos como se fosse um tique nervoso -- Qual foi a causa da morte? 

-- Embolia pulmonar -- com um suspiro, Afonso gesticulou nervosamente -- A tia afirmou que a família pretende tomar medidas cabíveis quanto ao caso e avalia acionar o hospital ou você na Justiça. A família pretende entrar com uma ação e investigar o que aconteceu.  

-- Não consigo entender, a cirurgia transcorreu dentro de sua normalidade segundo os protocolos médicos que o caso exigia. Ela era uma paciente indicada a fazer a cirurgia e passou por um pré-operatório adequado. 

-- Você sabe que qualquer pessoa que faz uma cirurgia desse tipo corre riscos, Pâmela -- Afonso procurou acalma-la -- Vamos tomar as devidas providências para a sua defesa. 

-- Claro. Obrigada, Afonso -- ela falou, finalmente, quando conseguiu ordenar os pensamentos.  

 

Lorraine estava impaciente e nervosa. Olhava para o precioso relógio de pulso a cada cinco segundos. Sentia vontade de esganar Silvana.  

Não entendia esse sentimento pela esposa. Não era amor, não era ciúme, não sabia se odiava ou temia. Só tinha vontade de mata-la quando pensava na possibilidade de estar sendo traída. 

A porta se abriu no exato momento em que o celular tocou. 

-- Droga! -- Lorraine esbravejou pegando o celular para atender -- O que foi Afonso? -- perguntou olhando com cara de brava para Silvana -- O QUE? -- ela caminhou impacientemente pela sala apertando o celular contra o ouvido -- Eu não acredito que teremos que responder a mais um caso de negligência médica em tão pouco tempo? 

Lorraine sentia a pele arder e o corpo suar. Passou a mão pelos cabelos negros, para tirá-los do rosto. 

-- Em meia hora estarei aí -- falou para Afonso e desligou o celular. 

-- Acho que o Hospital Leonor Hernandes não é mais o mesmo. Caso precise procurarei outro. Não quero entrar com uma simples gripe e sair morta devido a uma infecção hospitalar -- Silvana comentou de forma provocativa.  

-- Que pena, pois nós temos um ótimo Cirurgião Buco-Maxilo-Facial. Que está apto a tratar dos casos mais complexos de reconstrução facial -- Lorraine pegou a bolsa e a chave do carro e caminhou até a porta -- Se abrir a boca novamente para falar mal do meu hospital, vai precisar dele. 

Silvana ficou olhando para a porta fechada com brutalidade.  

-- Grossa! Você não perde por esperar. 

 

Alisson deitou-se sobre Agnes beijou-lhe o pescoço, depois, a boca. As mãos acariciaram os seios da enfermeira, e ela fechou os olhos gritando palavras incompreensíveis. Agitava os quadris loucamente e Alisson penetrou-a de novo e de novo com crescente velocidade. 

Agnes gritou o nome dela e, finalmente, Alisson perdeu o controle. 

Com um gemido, penetrou-a profundamente e quase ao mesmo tempo chegaram ao orgasmo.  

Permaneceram nuas na cama, com Alisson segurando-a junto ao peito. Ternamente, a médica debruçou-se e beijou-lhe a boca. Agnes protestou quando os lábios abandonaram os delas. 

-- Hummm... Estava tão gostoso. 

-- Deus você é linda -- disse Alisson com a respiração agitada. 

-- Por mim repetiria a dose por mais umas três vezes. 

Alisson olhou para ela e sorriu. Os olhos eram de um azul brilhante, queimando-a com sua intensidade. 

-- Por mim também, mas infelizmente preciso acordar cedo -- disse com sinceridade. 

-- Compreendo -- Agnes fechou os olhos. 

Apenas se abraçaram e dormiram. 

 

Lorraine esfregou a mandíbula e deu um passo em direção a Pâmela. Olhou para ela por cima dos seus óculos de aros de ouro e pediu muito séria. 

-- Fale-me sobre a infeliz que morreu. 

-- O nome dela é Rejaine, vinte anos. A garota foi submetida a uma cirurgia bariátrica, O atestado de óbito apontou embolia pulmonar e parada cardíaca.  

-- Segundo a Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica, no mundo, a cada 100 pacientes operados, estima-se que 13 sofram algum tipo de complicação. Já o índice de óbitos é considerado muito baixo, 0,16%. O que me diz disso doutora? 

-- Que estou sem palavras, Lorraine -- Pâmela estava atônita -- Ela estava bem demais. Realizou todos os exames e os resultados estavam além do esperado. 

-- E a imprensa doutor Bastos? -- Lorraine perguntou para o advogado. 

-- Informamos, por meio de nota, que o Hospital Leonor Hernandes se solidariza com a família da paciente e afirma que não houve erro médico e nem falta de estrutura hospitalar necessária ao atendimento. Segundo o hospital, a cirurgia transcorreu dentro de sua normalidade segundo os protocolos médicos que o caso exigia e que a morte ocorreu por consequências pós-cirúrgicas. Também informamos que o caso está sendo averiguado pela Comissão Interna do Hospital. 

-- Eu afirmei por telefone a uma TV local que lamentava a morte, mas que qualquer pessoa que faz uma cirurgia desse tipo corre riscos, tanto que assina um termo de responsabilidade. Ainda falei que Rejaine era uma paciente indicada a fazer a cirurgia e passou por um pré-operatório adequado. 

-- Você sabe que enfrentaremos uma guerra não é mesmo? -- Lorraine sabia que algo tinha de errado. As acusações eram graves, mas tinha toda certeza da competência de Pâmela. Não conseguia acreditar que a grande cirurgiã houvesse cometido um erro tão grave, a ponto de levar a paciente a óbito. 

-- Sei sim, e estou pronta -- Pâmela disse com firmeza, mas na verdade sentia vontade de correr para casa e se esconder debaixo das cobertas.  

 

 
Os braços de Alisson doeram e ela ouviu seu estômago roncar alto. Olhou para Agnes e se surpreendeu por ela não ter se acordado com o som. Com um suspiro e muito cuidado para não acordar a enfermeira, Alisson tirou o braço que estava sob a cabeça dela e com cuidado se levantou, vestiu-se e saiu do quarto. 

Quando Augusta entrou na cozinha, encontrou Alisson em pé na frente da geladeira. 

-- Bom dia! Está usando seus poderes telepáticos para preparar o café da manhã? 

-- Bom dia, Gugu! Queria surpreender minha convidada com um café da manhã magnifico. 

Augusta ligou o fogão e preparou ovos mexidos com bacon, torradas, suco e frutas. Pegou dois pratos no armário, arranjou-os numa bandeja e colocou sobre a mesa. 

-- É assim que se faz um café da manhã magnifico.  

-- Eu estava pensando em levar uma maçã e um Toddynho, mas já que insiste em algo mais calórico.  

-- Quanta inspiração romântica, doutora.  

-- Junto com a maçã e o Toddynho eu levaria uma rosa -- apanhou uma rosa de um pequeno vaso e colocou sobre a bandeja -- Viu que romântico Gugu? 

-- Muito. 

-- Vou tomar café e depois ir até o orfanato. Hoje é dia de atender as crianças.  

-- Vai passar o Réveillon aonde? -- Gugu colocou a louça na pia e começou a lavar. 

-- Vou com a Beca e o Fael ver os fogos lá na praia, e você? 

-- Vou passar com meus irmãos. Como todos os outros anos. 

-- Você faz bem Gugu. Nada melhor que estar rodeado de parentes e amigos para comemorar um novo ciclo. 

 

-- Você já leu a principal manchete de hoje, Patrícia? -- Andras não conseguiu desviar o olhar do jornal enquanto ria. Os olhos brilhantes, os dentes brancos, o som alto da risada. 

-- Não Andras. E qual é a manchete? 

"Uma jovem de 20 anos morreu na noite desta segunda-feira, após se submeter a uma cirurgia bariátrica, conhecida como redução de estômago. Segundo a família, ela teve complicações médicas depois de passar pelo procedimento na última quarta-feira no Hospital Leonor Hernandes. A mãe da jovem acusa o hospital, responsável pela cirurgia, de negligência durante o processo cirúrgico. 

A Polícia Civil iniciou hoje as investigações. O corpo da jovem foi velado nesta terça-feira na capela Santa Barbara e o enterro será realizado no início da tarde de quarta no Cemitério Municipal".  

 

 
-- Eu acho que você vai querer dar uma olhada nos jornais de hoje -- Marcos jogou o jornal pra ela, que tirou as mãos dos bolsos do jaleco. 

Já fazia ideia qual seria a notícia, mas mesmo assim folheou as páginas até se deparar com a manchete: 

"A Polícia Civil iniciou hoje as investigações. O corpo da jovem foi velado nesta terça-feira na capela Santa Barbara e o enterro será realizado no início da tarde de quarta no Cemitério Municipal". 

-- E agora? Qual é a desculpa? -- levantou a cabeça e disse, irritado: -- Você vai levar o nosso hospital à falência Lorraine e de quebra a minha candidatura. É uma desgraça atrás da outra. 

-- Não sei o que dizer -- Lorraine sacudiu a cabeça. 

-- Você nunca sabe -- o olhar irritado de Marcos atrás da imensa mesa caiu frio sobre ela -- Não queria, mas vou ter que tomar atitudes drásticas.  

Lorraine saiu arrasada da sala do pai. Não tirava a razão dele. Sua vida particular passava por uma fase horrorosa e estava a um passo de transformar o hospital na mesma porcaria.  

-- Ô meu Deus! Que fase! -- levantou as mãos aos céus. 

 

 
Alisson sentiu de longe o cheiro do mato e do café fresco que tomava conta do orfanato pela manhã. 

-- Bom dia mãe -- Alisson inclinou-se para beijá-la na testa -- Tenho quantas crianças para atender hoje? -- colocou a maleta sobre a mesa e retirou o estetoscópio pediátrico de dentro.  

-- Dez crianças, mas antes eu preciso falar com você -- disse Helena Burnier e sentou-se na cadeira mais próxima -- Um casal está interessado em adotar a Priscila. 

-- O que? -- perguntou Alisson do outro lado da mesa, cruzando os braços sobre o peito -- Isso é incrível. 

-- Estou tão surpresa quanto você, meu anjo -- Helena falou -- Me ligaram à pouco querendo agendar a visita. 

-- E foi agendada para quando? 

-- Foi marcada para amanhã de manhã. 

-- Que noticia maravilhosa mãe -- reagiu com entusiasmo -- Como é bom quando uma criança recebe a oportunidade de viver no seio de uma família. Que ela seja feliz. 

-- É o que eu mais desejo -- ela disse, sem disfarçar a falta de entusiasmo. 

 

Lorraine sentiu que a cabeça começaria a doer, assim que desligou o telefone. Ela não havia dormido nada na noite anterior, estava sentindo-se cansada e desanimada. 

-- Com licença doutora. O que deseja? -- Sandy apesar da idade era uma mulher bonita, baixinha e simpática. Morena dos lábios carnudos e de olhos negros. 

-- Verifique se tenho algo intransferível para hoje -- Ela ergueu os olhos da tela do computador para fitá-la -- Estou precisando descansar. Passei a noite em claro resolvendo assuntos importantes -- tirou os óculos e colocou sobre a mesa -- Quero passar a virada do ano na praia com Silvana e Felipe, mas se não descansar, acabarei dormindo antes da meia noite e acordando só pela manhã.  

-- Deixe-me checar a sua agenda e ver o que temos -- disse Sandy olhando para o tablet em suas mãos -- Cinco consultas que posso transferir para o dia dois, reunião com a Vivian do setor de geriatria e uma visita à oncologia. 

Lorraine levantou-se num pulo e foi até o armário pegar a sua bolsa. 

-- Nada que não possa ficar para outro dia. 

Sandy concordou, fazendo um gesto com a cabeça. 

Enquanto Lorraine voltou para trás da mesa, Sandy se encaminhou para a porta. 

-- Feliz Ano Novo, doutora. Fique tranquila que eu resolvo tudo -- E, fazendo um gesto de despedida com as mãos, deixou a sala. 

 

 

 

Alisson guardou seus instrumentos de trabalho na valise, abriu os braços e sorriu largamente para Helena. 

-- Vem aqui coroa. Quero te dar um abraço bem gostoso. 

Helena também sorriu, aconchegando-se bem entre os braços da filha, por um longo tempo. 

-- Feliz Ano Novo! Que Deus continue olhando por você minha mãe como sempre olhou. Ele colocará em suas mãos e em seus caminhos as graças que seu generoso coração tanto espera e merece. 

-- Este Ano Novo tem tudo para ser maravilhoso! Só depende de você. Acredite nas suas capacidades. Ame-se como nunca se amou! Cuide de ser feliz e não desista de correr atrás dos seus sonhos.  

Alisson abaixou a cabeça e deu um beijo rápido na bochecha dela. 

-- Nunca desistirei, mãe. 

 

 

-- Olá! Como vai a mulher mais linda do Brasil? -- Patrícia parou o carro no acostamento, a alguns centímetros de onde estava Silvana. 

Silvana voltou o rosto e abriu um sorriso lindo. 

-- Agora estou bem melhor. 

Patrícia abriu a porta e saiu do carro. 

-- Entra no carro, vamos dar uma volta. 

-- Agora? -- Silvana encostou-se a porta do carro -- Estou com essa roupa imprópria para sair por aí. 

-- Você está linda, alias você não está linda, você é linda -- curvou-se e beijou o rosto de Silvana -- "Você é linda, mais que demais, você é linda sim, onda do mar do amor que bateu em mim" -- cantou passando a mão pelos cabelos macios da morena.  

De dentro do seu incrível e moderno veículo de vidros escuros, Lorraine observava toda a cena como se não fosse nenhuma novidade. 

-- Então é isso que você faz enquanto eu trabalho? Sua piranha! -- suas mãos tremiam quando as tirou do volante -- Agora tenho certeza. 

A médica ainda viu a esposa entrar no carro popular vermelho, sentar no banco do carona e colocar o cinto. A motorista ligou o veiculo e seguiu pela avenida arborizada.  

 

 

 

-- Gugu? Guguuu...? -- Alisson procurou pela empregada na cozinha e nada. Na lavanderia e nada. Foi até a varanda e nada -- Gugu? 

Entrou no quarto e encontrou Augusta nua em frente ao espelho. 

-- Misericórdia, senhor -- resmungou aterrorizada. 

-- O que você está fazendo aqui? -- Augusta tentou tapar as partes intimas com as mãos, mas foi inútil -- Sai daqui agora! 

-- Não tenho culpa se você gosta de ficar sensualizando pelada na frente do espelho -- falou rapidamente e protegeu a cabeça com os braços. 

Para sua surpresa, Augusta caiu na risada. 

-- Eu não estava sensualizando coisa nenhuma -- passou por Alisson rebol*ndo e entrou no banheiro para se vestir -- Estava tentando tirar um cravo que está me deixando incomodada -- disse ela, enxugando os olhos. 

Alisson levantou as mãos pedindo desculpas, com uma expressão conciliadora. 

-- Como você consegue ser tão sexy até mesmo tirando um cravo? 

-- Ser sexy é um dom natural de algumas poucas mulheres -- fez meia-volta como se fosse uma modelo na passarela e deu as costas para Alisson -- Vai para a academia? 

-- Pra que fazer academia e ter vida longa, se a tartaruga vive 200 anos e não faz nenhum exercício e ainda tem a barriguinha dura. 

-- Engraçadinha! 

-- Falando sério, Gugu. Vou tomar um banho e depois me preparar para ir à praia. 

-- O Fael ligou perguntando por você. Eu disse que você ligaria para ele assim que chegasse. 

-- Vou ligar já, para combinar a hora. Esse ano quero chegar cedo para não ter problemas com o trânsito. 

 

Assim que entrou no apartamento e fechou a porta, Lorraine sentiu-se imensamente cansada. Apesar das luzes acesas no apartamento, não havia mais ninguém. Havia dado folga à Lucia para que ela fosse passar o Réveillon com a família. 

Sozinha no apartamento, a médica encostou-se na porta ouvindo o barulho de alguns fogos que já explodiam. 

Depois, ela jogou o casaco e a pasta sobre um dos sofás de couro e foi para o quarto.  

Parou diante da imensa cama e sacudiu a cabeça. De que adiantava continuar? Estava claro que ela e Silvana não se amavam mais. 

-- De que me adianta isso? Eu e Silvana nunca mais seremos felizes juntas.  

A morte de sua filha fora um golpe duro. Durante muito tempo havia chorado, revoltada com o seu destino. Aos poucos, acabara conformada, tentando convencer-se de que, apesar de tudo era uma mulher normal, rica e digna de ser feliz. Viveu com esse pensamento por um longo tempo, mas a verdade é que tudo estava adormecido dentro dela e só porque era rica e poderosa não significava que fosse imune ao sofrimento. Sangrava como todo mundo. Claro que esconderia de todos o seu sofrimento, principalmente de Silvana e seu pai. 

 

 
A praia estava lotada, mas Alisson, Fael e Beca conseguiram achar um lugarzinho para ficarem. Várias pessoas aguardavam ansiosamente a queima de fogos que anunciaria um novo ano.  

A noite estava quente, a lua cheia e os fogos à distância iluminavam o céu. 

-- Dez horas ainda e eu já estou com fome -- Beca sentou-se na areia e esticou as pernas. 

-- Quer um espetinho? Eu compro para você -- disse Fael, colocando a caixa térmica com bebidas no chão. 

-- Carne de gato? Tô fora! 

-- Esse ano a prefeitura caprichou mesmo nos fogos, serão 16 minutos de fogos sincronizados com música clássica. Será lindo de viver! -- Fael estava empolgado. 

Alisson abriu a caixa, pegou uma latinha de cerveja e sentou-se ao lado de Beca. 

-- Antes que a bebida comece a fazer efeito, quero desejar a todos um feliz aniversário, e que o coelhinho de Natal, realize os sonhos deste Carnaval que está acabando e um 2018 repleto de realizações e viva os noivos! -- Alisson levantou a latinha para um brinde. 

-- Lembra Alisson? No início do ano eu disse: "Que esse ano me surpreenda!" Mas era melhor não ter dito nada. 

-- Lembro, Beca -- Alisson deu uma gargalhada -- 2014: Esse ano vai ser diferente. 2015: Esse ano vai ser diferente. 2016: Esse ano vai ser diferente. 2069: Esse ano vai ser diferente. 

-- Não ter ganhado na Mega-Sena da virada acabou com todos os meus planos para o próximo ano -- Fael falou chateado. 

-- Conseguiu retirar o seu carro do pátio do DETRAN? -- Beca perguntou abrindo uma latinha de cerveja. 

-- Retirei ontem. Levei uma baita de uma bronca, tudo por causa daquela Siriema do Cerrado -- tomou um gole de cerveja e continuou -- Sem contar com a grana que tive de desembolsar. 

-- O importante é que recuperou o carro antes de depenarem. 

-- Verdade! -- tomou mais um longo gole e amassou a latinha -- lembrei-me de uma piada mega- engraçada. A última do final de ano: 

Uma mulher é transferida para trabalhar em outra cidade. Após alguns dias, ela manda um telegrama enigmático ao marido: 

-- "Suplico enviar urgente documentos para o divórcio. Encontrei companheiro ideal. Tem as mesmas características do novo modelo Vectra da Chevrolet" 

O marido desesperado, corre à uma concessionária Chevrolet e pergunta ao vendedor, quais são as características do carro Vectra novo. 

O vendedor responde: 

-- Tem um motor mais potente, é mais comprido, portanto mais rápido na subida, é mais bonito e não bebe muito.  

O marido imediatamente compreende o que sua mulher quis dizer. 

Duas semanas mais tarde, é ela quem recebe um telegrama do marido: 

-- "Enviei os papéis para o divórcio, assine rápido. Encontrei companheira ideal. Reúne todas as qualidades do novo Jeep". 

A mulher tomada de curiosidade vai até a concessionária Jeep e pergunta sobre o novo modelo. 

O vendedor explica: 

-- O novo Jeep é mais resistente, suporta mais peso e tem lubrificação automática. A carroceria nova é mais lisa e arredondada, o design é mais bonito e o interior é mais confortável. Possui duplo air-bag, é mais silencioso, não vaza óleo, o consumo é aceitável e aceita engate na traseira" 

 

 

Felipe encostou o ombro contra o batente da porta do quarto e ficou olhando enquanto Lorraine ajeitava o cabelo. 

-- São só dez horas, Mana. Coloca uma roupa qualquer e vamos -- caminhou até o guarda-roupas e abriu as porta -- Eu espero. 

-- Não vou! Nem adianta insistir -- Lorraine olhou para ele de cara feia -- Tenho vontade de dormir e só acordar com os fogos do réveillon. 

-- Pare com isso. Você quer que a Silvana chegue em casa e veja que você ficou aí jogada na cama, sozinha, parecendo uma coitada? Onde está aquela Lorraine orgulhosa e poderosa? 

Felipe mexeu profundamente com os brios da irmã. A cena descrita pelo irmão lhe causava tamanha aversão que Lorraine não conseguiu controlar a expressão de dúvida. Porém ao perceber a aproximação dele, virou-se imediatamente de costas. Não queria ser vista assim, vulnerável e frágil, quando sempre soubera enfrentar qualquer situação de cabeça erguida. 

-- Que foi, minha Deusa? -- Felipe indagou baixinho.  

Lorraine sorriu amarga, a voz voltou ao tom normal de raiva e desprezo. 

-- Você tem razão. Silvana não vai ter esse gostinho -- num gesto irritado, pegou um vestido do cabide e foi para o banheiro. 

-- Assim que se fala. Você deve... 

-- Nem começa! -- Impaciente, a médica cortou-o no meio da frase -- Eu vou, mas apenas para beber e assistir os fogos. Não queira ficar me empurrando pretendentes maravilhosas. Ainda sou casada. 

-- Sua mulher está... 

-- Chega, Felipe -- Lorraine tornou a avisar -- Pare com essa conversa ou não vou mais. 

-- Quando você vai tomar uma decisão com sabedoria, usando a cabeça em vez do mau-humor? 

Lorraine sorriu de leve. 

-- Se tivesse tomado uma decisão usando o mau-humor, teria seguido aquele carro e matado as duas -- por alguns segundos Lorraine ficou relembrando o flagra que havia dado em Silvana e uma ideia veio-lhe a cabeça. 

Felipe ficou horrorizado com o que acabara de ouvir. 

-- Pensando bem, retiro o que falei. 

Lorraine saiu do banheiro deslumbrante, num vestidinho branco, leve e curto. 

-- Então? -- perguntou dando uma voltinha. 

-- Simples e maravilhosa.  

-- Enquanto me vestia, estive pensando em colocar em pratica um plano. 

-- Oh, Deus tenha piedade de nós! -- Os anos de experiência haviam ensinado à Felipe que os planos da irmã sempre acabavam em grandes confusões -- Não faça besteira Lô -- juntou as mãos numa súplica angustiada. 

-- Estou apenas aceitando o seu conselho -- ela respondeu com um brilho malicioso no olhar. 

-- O que vai fazer? 

-- Uma vingançazinha -- fez uma pausa, ignorando a expressão confusa do irmão -- Se, Silvana pensa que vou ficar por baixo, está muito enganada. Quero ver a cara que ela vai fazer quando ver que eu também tenho os meus casos extraconjugais -- Um sorriso vitorioso iluminou o rosto bonito da médica. 

Isso não era bom sinal, Felipe pensou temendo pelo resultado. 

 

 

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Fim do capítulo