Abri meus olhos, e uma dor terrível atingiu minha cabeça, imediatamente fechei meus olhos novamente. Pra que em seguida, sentisse alguém se mexer na cama, pondo o braço em minha cintura. Virei-me na direção da pessoa e abri novamente os olhos, dando de cara com uma loira que dormia feito anjo, sorri.  - Então foi com ela que passei a noite? – Pensei comigo.

Tentei forçar a memória, mas não lembrava dela.

- Pensando bem, onde estou? – Perguntei pra mim mesma. Levantei a cabeça e senti mais uma vez minha cabeça latejar, mas dessa vez, persisti.

O quarto estava escuro, mas podia ver que já fazia sol lá fora, pois pequenos raios de sol atravessavam uma persiana pesada, que cobria a janela. O pouco que dava para ver do quarto é que parecia meio... Sinceramente não sei definir.  A cama tinha aqueles mosqueteiros como aquelas camas de filmes de pricesas, um guarda roupa antigo de madeira, uma penteadeira antiga, o quarto era grande demais e com o espaço muito mal usado, não encontrei nenhuma TV ou objetos eletrônicos. – Estranho. - pronunciei alto o bastante para que a loira acordasse.

A vi se espreguiçar vagarosamente, e em seguida se sentar na cama de supetão, me fazendo quase cair, e sentir náuseas com sua com sua voz aguda.

- TU ACORDASTE!!! – Ela berrou.

- Não grita, minha cabeça vai explodir! - Ela me olhou assustada, o que seria cômico se não fosse trágico.

- Estais bem? O que tu queres dizer? Não compreendo. - Disse visivelmente     preocupada e confusa

Que mundo essa garota vive?!

Resolvi ignorar, levantar da cama e ir embora. Quando finalmente de pé, noto que estava vestida com algo que deveria ser, eu acho, uma camisola gigante cheia de frufrus esquisitos. Estou vestida de balão!?

Ouço batidas na porta, interrompendo aquele momento extremamente estranho.

- Sinhá? - Uma voz feminina se pronunciou. (Que merd* é essa de sinhá?!)

- Zendaia, entre. - A loira disse alto.

- Bom dia, minha senhora. – Disse a moça ao entrar, e abrir as cortinas.

- Zendaia, olhe! Ela acordou! – A loira berrou, enquanto meus olhos tentavam se acostumar com a claridade ofuscante.

Querem me matar, só pode.

- QUE PORRA É ESSA! – Foi a única coisa que consegui pronunciar, quando finalmente voltei a enxergar.

O que vi foi uma mulher mulata, de cabelos cacheados, alta. Que trajava um vestido balonê.

Ela se curvou em minha direção, enquanto eu, confusa, tentava entender o que tava rolando. Algo errado tem.

- Fico feliz que tenhas acordado bem, senhora.

- Olha, moça. Não sei o que ta rolando aqui, mas to dando o fora. Só preciso das minhas roupas de volta. – Disse, enquanto procurava de baixo da cama.

A loira se aproximou da ponta da cama, virando-se de cabeça pra baixo, e olhando pra onde eu estava. Logo em seguida me sorrir tolamente, de um jeito extremamente lindo, que me fez parar o que estava fazendo para admirar os seus olhos cinzas brilhantes, e seus lábios rosados sorrindo. Então ela saltitou para o meu lado, e se pôs a dizer.

- Me chamo Elizabette, é um prazer conhecê-la. – Ela sorriu novamente. – Bom dia!

- Me chamo Maria Clara, como deve saber, pois devo ter me apresentado em algum momento, enquanto estava bêbada, ontem a noite. – Respondi com cinismo, ao modo estranho que ela falava. - Bom dia. Mas onde estão minhas roupas!?

Nesse momento, ela parou de sorrir e arqueou a sobrancelha, de um modo que mostrou confusão e raiva.

- Olhe, senhorita Maria Clara. - Disse em tom seco. – Eu não lhe conheço não. Lhe achei quase morta durante a chuva, em frente ao meu celeiro, e a trouxe para cá! – Dizia furiosa. - E suas vestes, diga-se de passagem, mais parecem com as vestes de um homem. Estão molhadas, mas assim que minhas escravas as lavarem e estiverem secas, a minha querida Zandaia ira nos comunicar. Então as devolverei, até lá, podes usar um dos meus vestidos. – Terminou se levantando do meu lado, e caminhando até Zandaia. Me deixando completamente assustada e confusa.

Que merd* eu fiz ontem a noite!? Onde vim parar!?

Puta que pariu, isso só pode ser um pesadelo. E também minhas roupas não parecem de homem, minha calça é justa de mais pra isso, e minha regata tem um decote que deixa meus peitos maravilhosos.

Do que essa doida ta falando!?

- Zandaia, prepare meu banho, e se a nossa convidada quiser, prepare o banho dela em seguida. E por favor, encontre vestes adequadas de uma dama para que ela vista.

 Ela continua com a história de que me visto como um homem?

Levantei-me indo em direção a Elizabette, estava morrendo de dor de cabeça e exausta desse filme bizarro. O que ela pensa? Que estamos na idade da pedra?

Isso é ridículo, toda essa seninha de escrava e sinhazinha, além desse quarto sem vida.

- Elizabette. - Disse impaciente. - Olha me arruma qualquer coisa pra vestir, e me devolva meus pertences do jeito que estão. - Queria sair logo dali, e ela nem olhava para mim, continuava escovando seus longos cabelos loiros, sentada de frente a penteadeira. E Zandaia já tinha desaparecido pela porta, pra provavelmente cumprir as ordens da “patroa”.

– Olha se o que diz é realmente verdade, e você me ajudou ontem á noite, sou extremamente grata. Mas tenho que e ir trabalhar, e dar sinal de vida aos meus pais, então, por favor, me entregue minhas coisas para que eu possa ir. – Disse quase suplicando.

Elizabette então parou o que estava fazendo, colocou a escova novamente na penteadeira, se virou para mim e se aproximou.

- Então queres dizer que não são só as vestes de homem que tu usas, também trabalhas? Tu és peculiar se me permites dizer, senhorita. Porem o que mais me intriga é que tens que dar noticias a teus pais, e não a teu marido. Como ainda não casaste?! Será que fora desonrada?! – Disse em tom provocativo.

O que me fez pensar, em que mundo essa garota vive? Estou me sentindo em uma peça de teatro.

Esperei para ver o que essa garota quer. No fundo, estava me divertindo com a manhã peculiar que estava tendo.

Ela se virou novamente de costas pra mim. Agora não via mais seus olhos cinzas, nem sua sobrancelha, que arqueava conforme me fala suas estranhezas.

– Mas se tu queres ir-te, Zandaia lhe entregará teus pertences . – Virou-se novamente em minha direção, mas não demonstrou nenhuma emoção.

Nesse mesmo momento, Zandaia entrou no quarto, junto a outra empregada negra, que parecia ter uns 50 anos. Sua pele enrugada e seu vestido surrado lhe dava uma aparência melancólica, que me dava pena, ao observa-la carregar os baldes até onde supus ser o banheiro.

Elizabette nada disse depois disso, só caminhou ate o banheiro e não retornou, Zandaia e a outra empregada saíram de lá. E eu já estava puta com essa enrolação, então fui até a janela que era grande e sentei na ponta dela, ao olhar para fora, levei um choque com o que vi.

Creio que estava no segundo andar de uma casa em uma fazenda, dava pra ver também plantações de alguma coisa que não consegui distinguir bem ao longe, e tinha vários negros de um lado para outro, não os dava para ver bem.

Olhei pra mais próximo da casa e vi a movimentação de uns três homens, que carregavam e cortavam troncos de arvore, parecia lenha, mas o que me chamou a atenção foi que dois deles usavam camisas sujas e rasgadas que acho que um dia foram brancas, e o homem sem camiseta parecia o mais forte pelo ângulo que observava, dava para ver groças cicatrizes em suas costa.

Senti um arrepio subir pela minha espinha. Meu Deus, esses homens parecem escravos!

Levantei da janela, e senti a dor na cabeça aumentar e minha vista escurecer, fui caminhando para longe da janela, em direção ao banheiro precisava saber onde estava.

Quando cheguei a porta só tive tempo de dizer.

- Onde estou? – Então apaguei.

Fim do capítulo