Capítulo 1

Ao acordar de manhã, Ilara, logo se deparou com a claridade invadindo o quarto. Ali começava um novo dia... Dia ao qual algo novo surgiria em sua vida.

Levantando-se da cama preguiçosamente, Ilara vai até a frente do espelho e começa a reparar em cada detalhe de seu corpo. Era magra, cabelos cacheados, pele negra, olhos castanhos e lábios volumosos aos quais nenhuma boca ainda havia experimentado.

Olhava para si e se tocava bem levemente, não se achava bonita... Se achava normal, como qualquer outra garota de 18 anos, que agora acabava de ingressar no último ano do ensino médio, em um novo colégio.

Estando completamente alheia ao que se acontecia ao seu redor, Ilara, leva um susto ao ver a imagem de sua mãe lhe observando.

Sua mãe era tão bela, tanto no interior com no exterior... A beleza daquela mulher, não poderia ser comparada a nenhuma outra, pois aquela era sua mãe, por mais belas que fossem as outras mulheres, a beleza daquela mulher de 42 anos sempre seria superior.

—Até quando você não vai acreditar no quão bela tu és? —Sua mãe aproximou-se com um sorriso largo, totalmente encantador—A cada dia te vejo mais linda, e só você não percebe isso—ficou atrás de Ilara e colocou as suas mãos nos ombros da mesma—Você é bela, minha filha!

Ilara com aquelas palavras de sua mãe, encara novamente o espelho e repara no quanto elas eram parecidas... As feições eram as mesmas, no entanto os olhos as diferenciavam.

Aqueles olhos para Ilara lhe trazia lembranças de fatos que vivenciava quase todos os dias... Encarando os seus olhos, ela se lembrava do olhar de uma pessoa que a machucava, não fisicamente, mas a feria muito e essas feridas nunca seriam curadas.

—Por que você se rejeita a isso, Mãe?—Ilara olha nos olhos de sua mãe, pelo o espelho.

Com a pergunta de Ilara, Helena dá um longo suspiro, não queria falar novamente sobre aquele assunto com sua filha.

—Você é bela, uma mulher nova ainda e por que continua nessa vida?—Ilara continuou, com a voz carregada de tristeza.

Após Ilara se calar, Helena vira suas filha de frente para ela, fazendo assim com que os olhares se encontrassem.

—Minhas escolhas foram essas minha filha, agora tenho que arcar com as consequências—Helena respondeu enquanto passava a sua mão direita no rosto de sua filha.

—No entanto, você pode fazer novas escolhas, que podem te fazer feliz—Com o carinho de sua mãe, Ilara fecha os seus olhos por alguns instantes e depois os abrem novamente—Isso que você está vivendo aqui, Mãe, não é amor... Ele te machuca, te fere e você não faz nada, mesmo ele sendo meu pai, eu não posso aceitar isso.

—Meu amor, eu que escolhi isso... Agora é tarde demais—Respira fundo e se senta na cama, que ficava logo atrás de dela.

Ilara que ficou de pé em frente ao espelho, acaba sem ter o que dizer. A sua mãe se conformava com aquela vida que tinha e isso a deixava inconformada.

—Como uma mulher aceita sofrer uma violência?— Pensou enquanto encarava a sua mãe, que estava sentada em cima da cama...

—Filha, sente-se aqui!—Helena dá leves batidas no colchão.

Sem dizer nenhuma palavra, Ilara sai de onde estava e se senta ao lado direto de sua mãe.

Vendo a sua filha já ao seu lado, Helena respira fundo e em seguida segura a mão direita de sua filha.

—Ilara, vejo muito de mim em você, às vezes acho que você vai passar por tudo que eu passei— Respira fundo e Ilara que estava ao seu lado a encara parecendo estar confusa—Tenho medo de que você sofra como sofri, por isso que quero ter essa conversa com você.

Ilara sem entender o rumo daquela conversa, pergunta:

—O que está acontecendo, mãe?

—Nada meu amor!—Olha com carinho para a sua filha—Mas quero te falar algo que não me falaram, e acho que se tivessem me falado, hoje minha vida seria diferente!

Sem ter a mínima ideia do que a sua mãe queria lhe dizer, Ilara fica em silêncio apenas observando a mulher ao seu lado.

—Você acha que eu gosto dessa vida?— Helena disse com lágrimas nos olhos—Não me responda, apenas pense!— Avisou após perceber que sua filha iria falar algo— Eu não gosto de apanhar, eu não me orgulho nem um pouco dessas marcas que estão em meus braços— Olhou para os seus braços e Ilara fez o mesmo.

—Então, me diga mãe, por que você aceita isso?—Ilara perguntou com desespero, enquanto chorava.

—Eu escolhi errado, minha filha!— Helena abaixa a sua cabeça—Tive medo de enfrentar o mundo, tive muito medo e esse medo me fez parar aqui—Levantou a sua cabeça e olhou a sua volta.

—Mãe... — Começou a soluçar— Você não merece isso... Nenhuma mulher merece o q você está passando— Ilara aperta a mão de sua mãe e fala quase implorando—Não faça mais isso com a senhora!

— Filha, eu entrei em um beco sem saída. Eu fiz as minhas escolhas, agora não posso voltar atrás— Helena olhou para sua filha e pediu: Não tenha medo de ser feliz. Faça o que você achar certo e não o que as outras pessoas acharem.

—Por que você diz isso, mãe?— Ilara investigou ao olhar para o rosto de sua mãe, que estava banhado de lágrimas.

—Porque eu desisti de algo, por ter medo de enfrentar o mundo... Hoje sei que não tem mais volta o que fiz!—Olhou para sua mão com os olhos cheios de lagrimas e depois olhou para sua filha, que estava ao seu lado— Ame sem medo, não tenha medo de ser feliz, meu amor!— Disse com carinho.

Logo ao Helena parar de falar, surge no quarto de Ilara um garotinho.

—Mana?—Gustavo chamou Ilara— Estamos atrasados—olhou para o rosto de sua mãe e de sua irmã— Vocês estavam chorando?—perguntou.

Com a pergunta de seu filho, Helena puxa o mesmo pela mão e o faz se sentar em seu colo: Estamos só emocionadas, meu amor—olhou para Ilara—Vamos sair para a sua irmã se arrumar?—indagou e o menino assentiu com a cabeça.

Após o garoto assentir, o mesmo se levanta do colo de sua mãe que depois fica de pé: Depois nos falamos, filha—Deu um beijo no topo da cabeça de sua filha— Vá se arrumar... Que depois eu levo vocês para o colégio— Helena pega na mão de Gustavo.

—Não precisa nos levar, mãe, eu e o Gustavinho vamos sozinhos... Né, Gu?—Se levantou da cama e depois perguntou ao seu irmão.

O garoto olha para sua mãe e responde: É mãe, não precisa nos levar não... E também não somos mais bebês... Já sou um homem grande mãe se você me levar pra escola vai ficar feio— Como o comentário de Gustavo, Helena e Ilara começam a rir.

—Então quer dizer que você é um homem grande?—Helena desafiou em meio a risos.

—Sou... Já tenho 10 anos... Sou homem grande!—Disse todo orgulhoso.

—Não tem nem bigode e já acha se acha o senhor—Zombou da cara do irmão.

Vendo que os dois irmãos iriam brigar, Helena diz: Melhor pararmos com as brigas... Vamos, Gu, sua irmã precisa se trocar— Começa a andar em direção a porta ao lado de Gustavo.

***

Estando novamente sozinha em seu quarto, Ilara se senta em sua cama, tentando procurar forças para começar a se arrumar para ir ao colégio.

Hoje seria o seu primeiro dia de aula... E isso não a deixava nem um pouco animada... Todas as vezes que se mudava de colégio era sempre a mesma coisa, nunca conseguia fazer amizades.

Já vestida o uniforme do colégio, Ilara vai até a sala de sua casa e encontra vestígios da noite anterior... Como sempre os seus pais haviam brigado...

—Cadê o papai, mãe?—Ilara perguntou a sua mãe depois de ter entrado na cozinha.

—Está dormindo, filha, você sabe que quando ele bebe não consegue nem se levantar da cama! — Helena disse enquanto colocava mais leite no copo de Gustavo.

—Mana, venha tomar seu café logo, porque estamos atrasados —Gustavo falou com a boca cheia de bolo.

—Também não precisa ficar falando com a boca cheia, Gustavinho!—Helena riu do jeitinho de seu filho.

—Gustavo é muito comilão— Ilara se sentou em uma cadeira e pirraçou seu irmão.

—Ilara,  melhor parar com essas brincadeiras — Helena repreendeu a sua filha.

****

Já estando os dois prontos, Ilara e Gustavo assim seguem para o primeiro dia de aula em seus novos colégios.

CONTINUA...

Fim do capítulo