Capítulo 1
O Jardim dos Anjos -- Capítulo 1
Lorraine deu um passo em direção ao seu triste fim e, inesperadamente, uma mão lhe agarrou o braço, detendo-a.
-- Não faça isso.
Ela olhou a mão e depois tentou olhar o rosto da dona daquela voz tão suave e doce, mas só conseguia ver luz. Uma luz forte que fazia seus olhos doerem.
-- Solte-me! -- começou a debater-se em desespero -- Quero morrer, deixe-me -- insistia convulsivamente.
Mas, em vez de soltá-la, o ser iluminado murmurou algo docemente, umas palavras que lhe resultavam parecidas com: -- Eu nunca permitirei que você faça isso.
Então, como hipnotizada, Lorraine fechou os olhos, e lábios macios capturaram os seus.
A principio Lorraine pensou que deveria resistir; depois, uma outra ideia apoderou-se dela: Entregar-se de corpo e alma. Nunca alguém lhe tinha atraído tanto, incluído Silvana, a mulher com quem estava casada há anos.
-- Você é tão linda Lorraine! Linda e boa.
-- Não! Eu não sou boa -- berrou -- Eu mereço morrer.
O último pensamento a feriu tanto que, Lorraine acordou chorando. Estava consciente de que não era uma pessoa boa. Principalmente com Silvana. A cada dia que passava, ela saia um pouco mais de sua vida. Naturalmente ela estava esperando um momento oportuno para lhe dizer que estava tudo terminado entre elas.
Fechou os olhos e tocou ligeiramente os lábios com as pontas dos dedos. Podia sentir a suavidade, o sabor, o desejo, embora não soubesse como um sonho parecesse tão real.
O clima festivo de Natal tomava conta da cidade. Luzes coloridas ornamentavam as ruas e avenidas, bem como as vitrines das lojas. Músicas natalinas eram ouvidas por toda parte. Aquela confusão de sons chegava a ser engraçado.
O clima de paz e harmonia invade o coração das pessoas nessa época do ano.
Nos hospitais não é diferente. Profissionais de saúde, pacientes e acompanhantes alteram suas rotinas para participar das festas em casa e na unidade de saúde.
Além da movimentação para as comemorações, algumas mudanças estratégicas foram colocadas em prática para adaptar a rotina do Hospital, como escalas das equipes o prolongamento dos horários de visita, para que as pessoas internadas pudessem passar a noite de Natal e de ano novo com seus familiares.
Pelos corredores do Hospital Leonor Hernandes, a decoração com enfeites coloridos e mensagens especiais por todos os cantos deixava o ambiente hospitalar mais descontraído.
Para muitos pacientes, que estão internados no hospital, a data tão especial não é simplesmente mais uma, e sim época de renovar a esperança por dias melhores, de preferência, com muita saúde.
Doutora Pâmela Francelino, médica cirurgiã, parou ao lado da enfermeira Agnes e tocou-lhe de leve o ombro.
-- Quem é a loira linda de cabelos encaracolados? -- apontou com a cabeça em direção a mulher com jaleco branco encostada no balcão de enfermagem.
-- Ahhh... Aquela é a doutora Alisson -- respondeu virando-se para também olhá-la -- Linda né? Ô tentação meu Deus! Ela está começando hoje. De agora em diante nossos plantões serão bem mais emocionantes.
-- Tira o olho dela -- Pâmela empurrou o ombro de Agnes dessa vez com força -- Não é para o seu bico.
-- Porque não? -- perguntou enfiando as mãos nos bolsos do jaleco e arqueando as sobrancelhas -- Só porque sou enfermeira?
-- Claro que não. Não é por questões profissionais, e sim físicas. Só eu estou à altura da beleza daquela deusa. Olhe para mim: cabelos negros, o rosto de uma forma esplêndida, as maçãs do rosto magistralmente desenhadas, a fina linha do nariz, o queixo perfeito.
-- Eu mereço! -- Agnes revirou os olhos e ergueu a mão ao alto -- Nossa! Como você é convencida, hein?
-- Não sou convencida, eu apenas confio no meu talento -- Pâmela colocou as mãos na cintura e mexeu o quadril -- fica só olhando que eu vou até lá jogar o meu charme para cima dela.
-- Vê se não vai assustá-la logo no primeiro dia -- Agnes riu.
-- Só se for com a minha beleza impar, minha querida -- passou a mão pelo jaleco e ajeitou a gola -- Já convidou o nosso anjinho platinado para o jantar de confraternização?
-- Ainda não. Porque você não a convida? Quem sabe com todo esse seu charme, ela além do jantar, aceite também o café da manhã?
-- Será? Posso até tentar... -- esfregou o queixo, pensando que seria uma ótima ideia -- Pois é bem isso que eu vou fazer. Me aguarde -- falou decidida.
Pâmela caminhou calmamente até o balcão, debruçou-se pesadamente sobre o mármore e encarou a jovem médica.
-- Bom dia! Sou a doutora Pâmela Francelino, cirurgiã e apaixonada por cabelos loiros encaracolados -- disse ela com um sorriso meio sem-vergonha e estendeu a mão para Alisson -- A sua disposição.
Alisson após alguns segundos sorriu para ela com uma expressão divertida e estendeu a mão para retribuir o cumprimento.
-- Bom dia! Sou a doutora Alisson Burnier, pediatra e apaixonada por cabelos negros lisos -- disse ela, sorrindo alegremente -- Ao seu dispor.
Pâmela entendeu o comentário de Alisson como: Sim, o seu gaydar está funcionando perfeitamente.
-- É o seu primeiro dia. Não é mesmo? -- perguntou olhando nos olhos de Alisson, que mordeu o lábio imitando o gesto de Pamela.
-- Sim -- Alisson voltou a olhar as fichas que estavam na prancheta -- Na verdade hoje só estou conhecendo a rotina do hospital. No período da tarde vou atender no PS.
-- Entendo -- sussurrou -- O hospital vai oferecer um jantar de confraternização para os funcionários. Será uma boa oportunidade para você conhecer melhor o pessoal -- contemplava-a, agora, completamente esparramada sobre o balcão, as feições linda e angelical da pediatra, era uma visão encantadora.
Se não tivesse em um ambiente hospitalar, teria a puxado pela roupa, fazendo-a passar por cima do balcão. E suas mãos ansiosas teriam percorrido todo o corpo daquela linda mulher.
-- Quando será? -- Alisson a tirou do devaneio.
-- Dia vinte e três. Em um dos melhores restaurantes da cidade. A comida de lá é magnifica.
-- Que pena! É a noite de entrega dos presentes para as crianças do orfanato e eu todos os anos me visto de mamãe Noel.
-- Que fofa! Faz trabalho voluntário no orfanato?
-- Mais que isso, eles são a minha família -- disse sorrindo com meiguice e sinceridade.
-- Você parece uma princesa -- Pâmela falou, dando voz ao seu pensamento. Nem se incomodou em esconder a admiração que havia em sua voz.
Voltou a observar os atrativos físicos da jovem médica. Aquele cabelo louro, aqueles olhos azuis, e a boca suave.
Alisson a olhou sem jeito. Sentia-se uma presa pronta a ser devorada.
-- É sério. Você parece -- a cirurgiã insistiu.
-- Obrigada! Suas palavras chegam a me deixar desconcertada -- respondeu Alisson sorrindo, antes de fazer algumas anotações no prontuário de um paciente.
Pâmela olhou no relógio e arregalou os olhos -- Minha nossa! Já é meio dia. Como o tempo passa! -- a médica disfarçou, deu a volta no balcão e ficou de frente para a pediatra -- Estou disposta a mostrar o nosso refeitório para você. Que tal?
Alisson a olhou rapidamente antes de voltar a atenção para a prancheta que segurava.
-- Aproveita que hoje estou livre. Não é sempre que tenho tempo para essas gentilezas -- pegou uma caneta e a girou entre os dedos -- Então? É pegar ou largar.
Alisson pensou por algum tempo, não estava com fome, mas Pâmela estava sendo tão gentil que resolveu aceitar.
-- Eu aceito -- Alisson sorriu para ela com uma expressão suave -- Não gosto de almoçar sozinha.
-- Nem eu -- a cirurgiã admitiu sorrindo -- Termina logo isso aí e vamos.
Perder um filho é cair em um vazio absoluto. Ficar sem chão, teto ou paredes. É ir ao fundo do poço. Ficar sem ar. Entrar em completo desespero. Perder as esperanças.
A morte do filho ao nascer, deixou cicatrizes eternas em Lorraine. Ela morreu junto. Seu casamento morreu junto!
Lorraine e Silvana enfrentavam um drama. Após a perda do filho não conseguiram mais conversar. Lorraine não queria falar a respeito porque doía demais e Silvana precisava falar porque ajudava a amenizar a dor.
Lorraine sofria. Sofria pelo sonho destruído. Sofria por Deus ter arrancado dela o que tinha de mais precioso. Porque ele fez isso comigo? Fazia essa pergunta para si todos os dias, desde então.
Lorraine caminhou até a porta, abriu-a. Antes de sair virou-se para a mulher morena, bonita e elegante que permanecia impassível no centro da sala.
-- Você me conhece Silvana. Sabe muito bem que eu não sou mulher de levar desaforo pra casa, muito menos deixar me fazerem de boba. Portanto, se quiser continuar casada comigo vai ter que seguir as minhas regras -- Lorraine encarou a esposa firmemente esperando por uma resposta.
Silvana abriu a boca para dar uma resposta raivosa, mas pensou melhor, respirou fundo, controlou-se e então disse de forma surpreendentemente controlada:
-- Você está certa Lorraine -- cruzou as pontas dos dedos na nuca e apertou os olhos -- Não tenho me comportado de forma correta. Desculpe-me -- ela sussurrou se sentando no sofá -- Eu prometo que vou mudar -- disse por fim sentindo-se extremamente cansada.
-- É o que realmente espero -- disse Lorraine momentaneamente satisfeita -- Você me envergonha com suas atitudes -- falou em tom seco e saiu sem se despedir.
Silvana soltou o ar dos pulmões e fez uma careta desolada. Não tinha mais o que mudar. Já havia deixado tudo de lado por causa de Lorraine. Não se encontrava mais com os amigos, não visitava mais a família. Não suportava mais a vida que estava levando.
Até alguns anos atrás, se considerava uma pessoa feliz e realizada, Lorraine era maravilhosa e ela a amava muito. Enfim, tinham uma vida normal como tantas outras. Nunca teve dúvidas quanto à sua escolha.
Lorraine não conseguiu lidar com a dor da perda. Alienou-se da vida, inclusive com sintomas de enlouquecimento. Ela ficou presa ao filho que sequer teve em seu colo. O eco daquele choro ao nascer, ecoava até hoje em seus ouvidos.
O amor entre elas foi morrendo, e hoje, infelizmente, o único sentimento que Lorraine demonstrava era o de posse e controle.
-- Você ainda vai implorar o meu amor, Lorraine -- sussurrou tristemente olhando para a porta fechada -- E eu não estarei mais aqui.
No período da tarde como planejado, Alisson foi atender no PS. Melissa a técnica de enfermagem entrou no consultório empurrando uma cadeira de rodas.
-- Doutora, tenho um paciente para você -- estacionou a cadeira próximo a mesa -- Foi a professora quem o trouxe, ela está na recepção terminando de preencher a ficha.
-- Obrigada, Melissa. Pode deixar ele comigo.
Melissa saiu e Alisson agachou-se diante dele.
-- Olá. Como é o seu nome? -- Alisson perguntou para o garoto magrinho encolhido na cadeira.
-- Rodrigo -- respondeu trincando os dentes de dor -- Me machuquei jogando futebol.
-- Então você deveria procurar uma marcenaria e não um hospital.
O garoto olhou para ela sem entender.
-- Não entendi. Porque uma marcenaria?
-- Porque você deve ser um, grande perna de pau -- caiu na gargalhada, mas parou quando percebeu que ele permanecia sério -- Piadinha sem graça né?
-- Muito -- ele deu de ombros.
-- Posso lhe contar um segredinho? -- Alisson falava enquanto examinava a perna de Rodrigo.
-- Claro.
-- Na sua idade eu vivia quebrada. Luto judô desde pequena. Já fraturei braço, perna, nariz, costelas, se bobear até a orelha -- falou sorrindo.
-- Carácassss... Que demais! -- os olhos do menino brilharam -- Que Dan é o seu?
-- Quinta graduação.
-- Nooosssaaa... Você é faixa preta. Deve ter dado umas belas surras em muita gente.
Alisson tocou o nariz dele com a ponta do dedo.
-- A faixa na cor preta representa humildade, autocontrole, maturidade, serenidade, disciplina com responsabilidade, dignidade e conhecimento. É a cor do poder, induz a sensação de elegância e sobriedade. Não devemos aprender artes marciais com o pensamento em bater nas pessoas e sim para defender a si mesmo e aos outros. Por isso chamamos, "defesa pessoal".
-- Mas eu queria ser o melhor do mundo -- falou chateado.
-- Sempre terá alguém melhor que você. Pra você eu não sou a melhor judoca do mundo, mas pergunta pra garota que eu defendi de uns caras mês passado. Ela me acha o máximo.
-- Você foi a melhor médica que me atendeu até hoje.
-- E é o que basta Rodrigo. Ser a melhor médica pra você, para o seu Pedrinho, o vovô, para todos que precisarem de mim.
-- Entendi. Eu posso ser o melhor para os meus pais, meus irmãos, meus amigos. Não preciso ser o melhor para todo o mundo.
-- É isso aí cara. Toca aqui -- tirou a mão -- Deixa que eu toco sozinhaaaa...
-- Sem graça.
-- Eu sei que sou. Agora vai lá fazer o RX. A Melissa vai te levar.
Assim que Rodrigo saiu da sala, levado pela técnica, Pâmela bateu palmas da porta.
-- Doutora do amor e paz.
-- Está aí desde quando? -- Alisson deu-lhe as costas e caminhou até a pia para lavar as mãos.
-- Desde o começo -- Pâmela se encostou a mesa e cruzou os braços -- Além de ser mamãe Noel e faixa preta em judô, tem algo a mais sobre você que eu deva saber?
-- Trabalho como voluntária em uma comunidade e estamos precisando de mais uma médica -- Alisson parou diante dela.
-- Sinto muito, mas ainda não cheguei a esse nível de bondade, porém se você quiser fazer um voluntariado lá em casa... -- Ela colocou as mãos na cintura da pediatra, inclinou-se e sussurrou em seu ouvido:
-- Estou tão carente doutora.
Alisson ergueu uma sobrancelha e esperou ela continuar.
-- Não faça essa cara, doutora paz e amor. Meu gaydar é superdesenvolvido -- Pâmela disse sem deixar de olhar para a boca de Alisson próxima à dela.
Alisson não pôde conter o riso diante daquela mulher tão linda e sedutora.
-- Considero receber e dar carinho tão básico como comer e respirar -- sussurrou no ouvido da cirurgiã depois de puxá-la para mais perto -- Te pego domingo a que horas?
-- A noite inteira se tudo der certo -- Pâmela pôs-se a rir e sacudir a cabeça.
Silvana entrou na cafeteria e sentou-se em uma mesa disponível no fundo do salão.
-- Uma xícara de café e uma fatia de torta de maçã, por favor -- pediu para a garçonete.
Enquanto aguardava pelo seu pedido, Silvana pegou o jornal e abriu na coluna social.
Novamente Lorraine era o assunto que dominava. Era a protagonista, aquela que ofuscava o próprio aniversariante. De súbito foi tomada por um sentimento forte de ódio.
-- Como pode o amor e o ódio estarem tão próximos um do outro?
Em sua direção, lá do outro lado do salão, veio caminhando uma mulher. Parou do outro lado da mesa e inclinou os olhos para o jornal.
-- Sua esposa é uma mulher extremamente linda e sensual.
-- O que? -- Silvana perguntou assustada -- O que você falou?
-- Não é a foto de sua esposa no jornal?
Silvana perdeu a fala por um momento. Seus olhos caíram novamente na reportagem do jornal.
-- Quem é você? -- Aquela mulher tinha algo muito sinistro -- Como você sabe?
-- Me chamo Andras... Andras Barcelos, e você é a Silvana Santos -- sentou-se ao lado de Silvana e sorriu para ela -- Lorraine é sempre citada em colunas sociais, ela ostenta um círculo de amizades invejável -- deu um sorrisinho sínico que irritou Silvana -- Essa festa aí, por exemplo, era o aniversário do prefeito. Você não foi convidada?
-- Você é repórter? -- perguntou Silvana, parecia um pouco desconfortável e preocupada. Lorraine a mataria se sonhasse que ela estava falando com alguém da imprensa.
-- Não! -- gargalhou baixo -- Longe disso.
Foram interrompidas pela garçonete que retornou com a bandeja na mão, uma xícara fumegante e um prato com uma fatia de torta de maçã.
-- A senhora deseja algo? -- perguntou sorridente para Andras.
-- O mesmo que Silvana, por favor. Essa torta parece estar deliciosa -- Andras agradeceu com um gesto de cabeça e a moça após anotar o pedido, afastou-se rapidamente.
-- Você não respondeu à minha pergunta -- Silvana insistiu -- Quem é você?
-- Sou uma amiga que atendeu ao seu chamado -- falou olhando nos olhos de Silvana, que perturbada, desviou os olhos para o pedaço de torta de maçã -- Talvez você não se lembre, mas me chamou. O relacionamento de vocês está insuportável e eu apenas atendo aos pensamentos doentios, a desejos ocultos, as paixões violentas, a toda espécie de vícios e ódios das pessoas.
Silvana ficou olhando para Andras, incapaz de acreditar nas palavras que saíam dos lábios dela.
-- Você é louca. Só pode -- ameaçou levantar-se, mas mudou de ideia. A curiosidade era maior -- Como você sabe que eu e Lorraine não estamos bem?
-- Relaxa Silvana -- falou calmamente olhando para a garçonete que retornava com o seu pedido -- Obrigada querida -- agradeceu à moça e continuou a falar -- Não importa como eu fiquei sabendo. O que realmente importa é que você está odiando tudo isso. A maneira como está sendo tratada, a sensação de abandono, de submissão, humilhação -- tomou um gole de café -- Você tem motivos de sobra para odiá-la.
-- Eu não odeio a Lorraine -- falou quase em desespero -- Eu a amo!
-- A quem você está querendo enganar? -- Andras colocou um pedaço da torta de maçã na boca e sorriu -- Hummm... Que delicia essa torta!
Lorraine tirou as sandálias e sentou-se no sofá com os pés para cima. Sentia-se cansada. O hospital sugava-lhe praticamente todas as energias.
-- Lucia, por favor, prepara uma bebida para mim? -- pediu para a governanta -- Pode ser um Dry Martini.
-- Sim senhora -- Lucia preparou a bebida e levou até a patroa.
-- Silvana está em casa? -- perguntou pegando o copo da mão de Lucia, levando lentamente aos lábios.
-- Dona Silvana saiu logo cedo e não voltou até agora.
-- Que novidade! -- Lorraine sussurrou -- Não falou aonde ia?
-- Não senhora -- a mulher educadamente pediu licença e saiu do cômodo.
As luzes do tradicional pinheiro montado todos os anos por Lucia, piscavam de maneira rítmica e iluminavam a penumbra da sala.
Os olhos de Lorraine se fixaram no porta-retratos com a foto de Silvana e ela abraçadas.
-- Bons tempos esses -- sorriu com tristeza -- Em que lugar do passado nosso amor morreu Silvana?
Sabia a resposta, mas fingia doentiamente não saber, para não sofrer.
Lorraine continuava olhando para a foto. Parecia hipnotizada.
De repente lembrou-se do sonho. O que seria aquele ser perfeito como um anjo? Mas não um anjo como os do catecismo ou aqueles para quem orava quando criança. Era um anjo diferente. Era quente, sedutor.
E, então, ela ouviu um ruído familiar de passos no corredor, passos que ela reconheceria em qualquer lugar. A médica se preparou para recebê-la, afastando os traços de cansaço do rosto e substituindo-os pela expressão de arrogância e soberba. Quando a porta abriu e ela viu a face bela e feliz da esposa, não conseguiu segurar a irritação.
-- Onde você estava, sua vagabunda?
Silvana sentiu um arrepio ao ouvir a voz carregada de ódio.
-- Com que direito você fala desse jeito comigo? -- ela disse depressa, enquanto automaticamente pegava o belo casaco e o pendurava.
-- Ah! Agora eu não tenho mais direito algum sobre você? A pessoa que lhe deu um emprego em um dos melhores hospitais da América Latina e praticamente deu sentido a sua vidinha medíocre não tem...
O toque insistente do celular interrompeu-a.
-- Inferno! Quem será a essa hora? -- Lorraine olhou rapidamente no visor e admirou-se ao ver quem era -- Pai? Aconteceu algo?
Silvana aproveitou o momento, correu para o quarto e trancou a porta.
Alisson podia ver o sol brilhando fortemente entre os prédios do Centro da cidade. Via com nitidez a rua das palmeiras, a catedral com suas cúpulas em formato de concha e seus vitrais coloridos. As pessoas caminhando pelas calçadas rumo a algum destino que só elas sabiam.
Alisson olhou no relógio: 08h55min. Começou a caminhar e em pouco tempo a correr em direção a uma mulher de terninho branco que estava do outro lado da rua. Alisson corria desesperadamente, e quando chegou perto... Uma caminhonete preta a acertou em cheio. Com o impacto ela foi jogada violentamente contra um muro. Olhou novamente para o relógio: 09h00min.
A pediatra acordou assustada e com medo. Sentiu vontade de se esconder debaixo do cobertor, mas em vez disso, levantou-se rapidamente e acendeu a luz.
Sua respiração estava ofegante e todo o seu corpo tremia. Parecia até estar cansada de correr. Era como se estivesse passando um filme. O sonho foi longo e assustadoramente real. Olhou para o relógio na cabeceira: 07h00min.
-- O que significa isso meu Deus? O que está querendo me mostrar com esses sonhos? Quem será essa mulher?
Entrou no banheiro ainda ruminando todas as questões sem respostas. Inclinando-se na pia, jogou água pelo rosto e pescoço. Ergueu o olhar e vendo a própria imagem refletida no espelho, sorriu.
-- Tenho a sensação que hoje será o grande dia, doutora Alisson. O dia de separar meu pensamento racional de minha imaginação. Descobrir se tudo é fantasia ou realidade.
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Fim do capítulo
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Thaci
Em: 21/06/2017
Bom dia,Vandinha!!
Primeiro você está de parabéns seus contos como sempre são maravilholhosos. Será a Alis,vai voltar pra Lo? Pelo que eu estou acompanhando da estoria a pequena Priscila é filha da Lo. E que foi a sua mãe que tirou dela. E tenho certeza vai surgir 2 novos casais: Nádia e Patricia e Agnes e Becca. E essa Andras,quero vê-la de 4 pela Pâmela. Não dou 20 pq não tem essa nota. Tenha um bom dia.
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Van Rodrigues
Em: 15/01/2017
Oie^^
Começando a acompanhar a sua história!
Achei muito interessante!
A Pâmela parece ser leonina viu rsrs
Parabéns pela história!
Beijoss
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cidinhamanu
Em: 25/12/2016
Olá Vandinha.
Passando aqui para dizer que já me apaixonei e estou animadissíma para embarcar junto com você nessa nova aventura romântica amiga!!
Caraca, essa Alisson é linda e por isso não escapou aos olhos de Pamela, que já foi caindo de paraquedas. kkkk
Lorraine com toda essa arrogância e soberba vai ser osso hein.
Perder um filho é doloroso demais, imagino muito bem como a Lorraine está sentido, sem sombra de dúvidas eu que o diga... É como se também tivesse morrido... Perde todo o sentido da viver.
Esses sonho da Lorraine e Alisson será que estão interligados?!
Preparadissíma para acompanhar Alisson, Lorraine e sua turma de amigos...
Que venham os próximos capítulos.
Beijos.
Cidinha
Resposta do autor:
Olá Cidinha.
Obrigada por comentar.
Conto contigo Hein. Comente sem moderação.
Beijão garota.
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annagh
Em: 24/12/2016
Olá minha doce Autora..
Primeiro que tudo quero que saiba o quanto te admiro...o quanto amo tuas histórias cheias de romance, sensualidade, humor e com essa temática que é o espiritismo (já fui espírita). Acompanhei todas as tuas histórias, porém, somente agora deu vontade de comentar, talvez pelo fato de ter lido as outras já completas...rsrrsrsrs...e O Jardim dos Anjos tá no primeiro capítulo né...então fica mais fácil pra comentar. Vou logo avisando que você ta ferrada com essa leitora que vos fala...kkkkkkkkkkkkk...brincadeira...sou boazinha viu...
Então, vamos falar desse primeiro capítulo...adoro histórias com médicas. Já senti logo de cara que a tal Pamela vai dá um pouquinho de trabalho, ousadia não lhe falta. Alisson parece que também não fica atrás...rsrsrrsrs...até por que correspondeu de boa às investidas da morena né. Isso significa que teremos cenas bem picantes do jeitinho que gosto e disso (cenas de sexo) já deu pra perceber que você Vandinha entende muito bem. Adooooorooooo as cenas que você escreve de sexo...kkkkkk...só lembrando que não sou nenhuma tarada e nem pervertida hein. Tenho um dúvida: Alguma coisa contra as ruivas??? Tuas personagens são sempre loiras e morenas.
Alisson é pediatra então teremos muitas crianças...amo demais!!!
As piadas como sempre presentes em suas histórias né? Deixando sua marca registrada....rsrsr...posso ser sincera sobre as piadas??? Obrigada...vou ser...acho as piadas super sem graça, porém, sem elas tuas histórias perderiam totalmente a graça...kkkkkkkkk...deve ta me achando uma doida...mas acho que você me entendeu, o que importa é que amo tudo que você escreve (até mesmo as piadas sem graça). Por tanto, pode continuar.
Cara, o jeito prepotente e arrogante de Lorraine com Silvana me assustou. No início da história achei que ela fosse uma pessoa amargurada, deprimida, frágil, amorosa...porém, me enganei. Já deu pra entender que esse comportamento dela tem uma causa que vem lá do passado (perder um filho é doloroso sem sombra de dúvidas...é como morrer...perder o sentido da vida). No entanto, doeu vê-la tratar sua parceira dessa forma.
Os sonhos...sempre têm um significado.
Por enquanto é isso...aguardo ansiosa os próximos capítulos (espero que o encontro entre Lorraine e Alisson não demore muito como nas outras histórias...kkkk). E aproveito a oportunidade para desejar um Natal de muita luz pra você e toda sua família Vandinha.
E me desculpe pelos erros e se falei demais.
Você é incrível!!!
Beijo...
P. S. 1 - Fui no face...Uau!!! Alisson é belíssima!!! Andras me deu medo...ui!!!!
P.S 2 - . A história que mais amei foi Construindo o Amor!!! Tenho um carinho imenso por aquelas personagens lindas!!! E A última noite de amor foi a que mais dei risadas...kkkkk...
P.S. 3 – Adorei a capa.
Resposta do autor:
Uau! Eu amo comentários longos. Fique a vontade para escrever quilometros.
Desejo que neste Natal a luz do Menino Jesus ilumine seus caminhos para que jamais se sinta sozinha ou perdida nessa maravilhosa jornada que chamamos de vida.
Beijão garota.
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Maria90
Em: 23/12/2016
Nossa, perder um filho não é fácil, muda demais a vida de um casal. Eu espero que esse anjo as ajude. Eu adoro histórias com médicas. Bjs e sucesso.
Resposta do autor:
Olá Maria90
Obrigada por comentar. Será um prazer enorme ter a sua companhia em todos os capítulos. Não deixe de dar a sua opinião, pois a respeito muito.
Beijão garota. Paz e Luz, sempre.
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NovaAqui
Em: 23/12/2016
Uau!
Primeiro capítulo com muitas informações interessantes.
Alisson é linda. Já vi que vai receber cantandas o tempo todo de Pâmela.
Gostei muito.
Agora é acompanhar e ver como esse anjo vai fazer para ajudar.
Abraços fraternos para você, anjo!
Resposta do autor:
Olá.
Obrigada por comentar. Conto com você em todos os capítulos. é sempre um prazer conhecer a opinião das leitoras.
Beijão. Paz e luz.
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Rita
Em: 23/12/2016
Yes adorei este início :)
Resposta do autor:
Olá Rita.
Seja bem-vinda a mais uma aventura romantica. Tenho certeza que será muito agradável
acompanhar Alisson, Lorraine e sua turma de amigos.
Que venham os próximos capítulos. Beijos e até amanhã.
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Mille
Em: 23/12/2016
Ola Vandinha
Muito bom o inicio, Silvana é o saco de pancada de Lorraine espero que a Lor mude seu jeito.
Pamela atacado a Alisson pensei que a loira iria dar um fora na Pamela na hora que ela fez o para consolar a carencia dela.
Esse sonho da Alisson parece ligar a Silvana ou Lorraime, espero que ela consiga transformar as duas, libertar e amenizar a perda do filho.
Bjus e até o próximo
Desejo um Feliz Natal repleto de muita paz, saúde e muito amor e inspirações, que Deus ilumine sua vida e de todos que lhe rodeia com tudo de bom. Abraço
Resposta do autor:
Estamos nós aqui de novo em mais uma aventura. Você minha querida que nunca me abandona.
Amanhã ainda nos falaremos, com certeza. Então... Até lá.
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NovaAqui
Em: 23/12/2016
Vandinha!
Passando aqui para dizer que assim que chegar em casa com certeza vou ler e favoritar.
Feliz Natal para você, Ana Maria e toda sua família!
Resposta do autor:
Olá minha querida.
Muito, mas muito obrigada mesmo.
Natal é tempo de alegria, partilha e fraternidade. Que este clima seja a base para que possamos encontrar a felicidade e a paz. Feliz Natal para você e a todos os seus entes queridos!
Beijão.
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